Saturday, September 30, 2023
VELHAS LEMBRANÇAS
O teu amor
Que é quase
como se fosse um estepe
É a única
coisa que me faz serelepe
Que me faz
sorrir e cantar
Ainda que
isto seja estragar outros ouvidos
E esgotar os
sentidos em tentativas de amar
mais do que
posso.
Todo o
entorno, porém, pouco importa
Se há ideias,
momentos, detalhes tão nossos
Que me sinto
tão feliz como te sentes
Por trás de
véus, de cortinas e de portas
E guardamos
estes segredos ternamente
Como um arco-íris
que a chuva levou ...
Há um tempo
em que haveremos de esquecer
Tanta coisa
que nos tornou tão felizes.
E nos dias em
que houver uma chuvinha
Em que os
pingos cantarem no telhado,
Ainda haverá
em ti um resto de memória
Que há de te
dar um vago sentimento de euforia
E dirás mesmo
sem pensar de onde viria
Que tudo
passou, mas, foi uma glória...
Sentirás que
fostes amada-tua maior vitória-
E rirás e
dançarás feito uma louca
E gemerás como
se beijada na boca!
Ilustração:
BBC.
Uma poesia de María Ángeles Maeso
María Ángeles Maeso
Quien, de primera mano,
nada sabe,
se levanta al verlo en
las películas
subtituladas. Hay tanta
gente
bailando en la oscuridad,
que es fácil
perder fechas o papeles.
Hoy nacen, de la alegría
del río,
el sol de la tarde y las
hormigas
que, a deshora, revisan
expedientes,
se sonrojan, nos llaman,
se disculpan,
nos dan nueva carpeta y,
en la bolsa
de las bodas de la noche
y el alba,
firmamos por cuatro
meses.
Quem, em primeira mão, nada
sabe,
se levanta quando vê-lo
no cinema
legendado. Há tanta gente
dançando no escuro, é
fácil
perder datas ou papéis.
Nascem hoje, da alegria
do rio,
o sol da tarde e as
formigas
que, na hora errada,
revisam expedientes,
ficam corados, nos ligam,
pedem desculpas,
nos dão uma pasta nova e,
na bolsa
das bodas da noite e do
amanhecer,
assinamos por quatro
meses.
Ilustração: Quizur.
Friday, September 29, 2023
ADEUS
Havia tanto luar
Que nem pensei em olhar
As estrelas que luziam
No brilho dos olhos teus
Volta sempre na lembrança
A vaga beleza da dança
Dos teus pés que iam e vinham
Na hora triste do adeus
E tuas lágrimas caindo
Doem mais com a saudade
E o arrependimento vindo.
Infelizmente é tarde!
Ilustração: Dephositos.
Thursday, September 28, 2023
Uma poesia de Lorenzo R. Garrido
Lorenzo Garrido
Tu ausencia es un viento
que me poda y desgasta,
como si yo fuera un árbol
al que arrancan todas las
hojas
y, desnudo y solitario,
viviera en un desierto
sin relojes ni cambios de
luz.
POSTAL PARA UM ANO NOVO
Tua ausência é um vento
Que me poda e desgasta
Como se eu fosse um
árvore
A qual se arrancam toas e
folhas
e, desnudo e solitário,
viveria em um deserto
sem relógios e sem
mudanças de luz.
Ilustração: BBC.
Outra poesia de January Gill O'Neil
IN THE COMPANY OF WOMEN
January Gill O’Neil
Make me laugh over
coffee,
make it a double,
make it frothy
so it seethes in
our delight.
Make my cup
overflow
with your small
happiness.
I want to hoot and
snort and cackle and chuckle.
Let your laughter
fill me like a bell.
Let me listen to
your ringing and singing
as Billie Holiday
croons above our heads.
Sorry, the blues
are nowhere to be found.
Not tonight. Not
here.
No makeup. No
tears.
Only contours. Only
curves.
Each sip takes back
a pound,
each dry-roasted
swirl takes our soul.
Can I have a
refill, just one more?
Let the bitterness
sink to the bottom of our lives.
Let us take this
joy to go.
NA COMPANHIA DE MULHERES
Faça-me rir bebendo café,
faça um duplo, faça espumoso
então ferva para nosso
deleite.
Faça meu copo transbordar
com sua pequena
felicidade.
Eu preciso vaiar e bufar
e gargalhar e rir.
Deixar sua risada me
encher como um sino.
Deixe-me ouvir seu toque
e canto
enquanto Billie Holiday
canta sobre nossas cabeças.
Desculpe, o blues não se
encontra em lugar nenhum.
Não esta noite. Aqui não.
Sem maquiagem. Sem
lágrimas.
Só contornos. Só curvas.
Cada gole leva de volta
meio quilo,
cada redemoinho torrado
leva nossa alma.
Posso ter uma recarga, só
mais uma?
Deixe a amargura afundar
em nossas vidas.
Deixe levarmos esta
alegria embora.
Ilustração: Cabo Branco
FM.
Wednesday, September 27, 2023
Uma poesia de Juan Herrero
pendientes en declive (18)
Juan Herrero
Supe
que el zapatero
fue testigo de crímenes
horribles en la
guerra.
Por eso no habla nunca,
lo sé, porque los
muertos
le jalaron el alma
y la culpa le cierra
la
boca y las entrañas.
Perdónalo, Señor.
Aún guarda del
ejército
las medallas, los trajes,
las botas de
montaña,
la mirada perdida.
PENDENTES EM DECLIVE
Aprendi
que o sapateiro
foi testemunha de
horríveis crimes de
guerra.
É por isso não fala nunca,
eu sei, porque os
mortos
lhe puxaram a alma
e a culpa lhe fecha
a boca e
as entranhas.
Perdoe-o, Senhor.
Ainda guarda do exército
as
medalhas, os ternos,
as botas de montanha,
o olhar perdido.
Ilustração: A Mente é Maravilhosa.
Uma poesia de Friedrich Nietzsche
BITTE
Friedrich Nietzsche
Ich kenne mancher Menschen Sinn
Und Weiss nicht, wer ich selber bin!
Mein auge ist mir viel zu nah –
Ich bin nicht, was ich she und sah.
Ich wollte mir schon besser nützen,
Könnt`ich mir selber ferner sitzen.
Zwar nicht so ferne wie mein Feind!
Zu fern sitzt schon der nächste Freund –
Doch zwischen dem und mir die Mitte!
Errathet ihr, um was ich bitte?
PERGUNTA
Eu
conheço
o espírito
de algumas pessoas
E não sei quem sou eu mesmo!
Meus olhos
estão muito perto de mim -
Não sou o que vejo e vi.
Eu
teria
melhor proveito
Se
pudesse
estar
mais longe de mim.
Não
tão distante
quanto meu inimigo, é
claro!
Já
o amigo
próximo está muito longe -
Mas entre nós
dois há
o meio!
Adivinhe
você o
que pergunto?
Ilustração: O Tempo.
Tuesday, September 26, 2023
AUSÊNCIA ETERNA
Tanta coisa de você ficou
comigo
que nem faz falta
as fotos que se perderam.
Há, em toda parte,
teu cheiro, teu perfume
que, no silêncio e na
ausência,
me seguem, me perseguem
como o gosto da tua boca,
que de mim não sai,
ou o calor da tua pele,
que parece com estes dias
terríveis de quarenta
graus.
De você ficou tanta coisa
bem mais do que posso
conter
e, por isto, choro
como louco,
e sempre pouco,
esta saudade tão doída de
você!
Ilustração: Facebook.
Anne Carson, pois.
SHORT TALK ON PAIN
Anne Carson
Lawns and
fields and hills
and wide old
velvet
sleeves, green
things. They stretch, fold, roll away,
unfurl and
calm the eye. Look
lush in paintings.
Battles are fought on
greens. Or you could spread
a meal and
sup. How secretly
they lie, floors
of
distant forests. Next
comes the grave, in
many a
poem about green. But
this is not a poem. This is a
billboard for frozen
green peas. Frozen green peas
are good for pain.
BREVE CONVERSA SOBRE A
DOR
Gramados
e campos e montanhas e largas velhas mangas de veludo, coisas verdes. Elas
esticam, dobram, rolam, desenrolam e acalmam os olhos. Visão exuberante em
pinturas. As batalhas são travadas nos verdes. Ou você pode espalhá-las entre uma
refeição e jantar. Como secretamente eles mentem, pisos de florestas distantes.
Próximo vem o túmulo, em muitos poemas sobre verde. Porém isto não é um poema.
Isto é um outdoor para ervilhas congeladas. Ervilhas verdes congeladas são boas
para a dor.
Ilustração:
Goumert a dois.
Guillaume Apollinaire rapidamente chega
QUE LENTEMENT PASSENT LES HEURES...
Guillaume Apollinaire
Que lentement passent les heures
Comme passe un enterrement
Tu pleureras l'heure où tu pleures
Qui passera trop vitement
Comme passent toutes les heures
AS HORAS PASSAM LENTAMENTE
Que as horas passam lentamente
Como o desfile de um enterro
Tu chorarás as horas em que choras
Que fugirão tão rapidamente
Como passam todas as horas
Ilustração: Blog Televendas & Cobranças.
Uma poesia de Natalia Litvonova
DISPARO
Natalia Litvinova
El tiempo se rompe como
un vaso.
Puedo juntarlo con las
manos y admirar
el mundo en sus cristales
rotos.
O juntar las manos como
quien reza.
No juntar más que mis
manos.
Apuntar con los dedos a
mi pecho
disparando sin darme
muerte.
Tan sólo acomodarlas allí
como a dos palomas
débiles y frías
después de una vida de
lluvia.
DISPARO
O tempo quebra como um
copo.
Posso juntá-lo com as
mãos e admirar
o mundo de seus vidros
quebrados.
Ou juntar as mãos como quem
reza.
Não juntar mais do que minhas
mãos.
Apontar com os dedos o
meu peito
disparando sem me matar.
Tão só acomodá-las ali
como duas pombas débeis e
frias
depois de uma vida de
chuva.
Monday, September 25, 2023
CAOS
Nada tem significado
Tudo é disperso, caótico, desorganizado
como se o meio fosse o começo
e, talvez, como seja o fim:
um caos!
Ilustração : Artmajeur.
Uma poesia de Fernando Merlo
ACLARACIONES
Fernando Merlo
todo tiene un significado
todo ha sido meticulosamente
preparado para la gran hora
todo está roto a la perfección
ESCLARECIMENTOS
tudo tem um significado
tudo tem sido
meticulosamente
preparado para a grande
hora
tudo está perfeitamente quebrado
Ilustração: Sindicontas/pr.
Sunday, September 24, 2023
RECADO PARA UM ATREVIDO
Você nem sabe o que fala,
moleque atrevido.
Tome tento
porque se não revido
é que estou em outro
plano.
De idade tenho muito mais
anos
e na cátedra e na boemia
não tenho que dizer quem
sou.
Agora se sou bom, ou não,
pelo menos, tenho
história,
e o que fiz tem
comprovação.
A minha glória
só discuto se você fizer
dez por cento do que fiz.
É melhor pensar no que
diz.
Não preciso de sua
aprovação
para, modestamente,
ter muito mais produção
e ser feliz.
É melhor se informar,
sem noção,
antes de na vida dos
outros
meter o nariz!
Uma poesia de Rocio Acebal Doval
EN EL ANDÉN
Rocio Acebal Doval
En el andén, tú
agitas los brazos mientras
todo se aleja.
En el asiento, yo
echo a volar mis besos con
las manos.
Las ventanas del tren están
tintadas
pero tú te acaricias la
mejilla.
NA PLATAFORMA
Na plataforma, tu
Agitas os braços enquanto
tudo se afasta.
No assento, eu
jogo pelo ar meus beijos
com as mãos.
As janelas do trem estão
escurecidas
Porém, tu te acaricias nas
bochechas.
Ilustração: Uol Notícias.
Saturday, September 23, 2023
Uma poesia de Erica Hunt
CONTEXT IS ALL
Erica Hunt
This me, not that me, that them, no, the other them,
that we, or this we, all we, both of them, and all of we, when there, not here,
but me then, before then, and before we,
when we, how we, when we spoke then,
never spoke back to them, then. Silent we, resilient we, existed, as an
existential us, observing with restraint and bemusement (terror), a noisy them,
childish them, and if we over-spoke, we spoke using our bodies to them, head
tilted or hand back at them, or facing
them with all our backs, never breaking face, so masked to all senses of them,
all tenses of we, over-prepared. We had
better. We had better be better than them. We had better be better beginning
and end, early and fitful. We had better be better beginning and in the middle, too. Be better
between life and death, better in the visible and sure better than them in the
places they overlooked, than them and their soundtrack. We had better be better
than them who draft and re-draft them-selves, “what destroyed me, created
them,” or so we thought mistaking the well off for well-being, enough to be
them, so some of us thought and thought better of. We had better be better
being draft selves than them even if it meant drowning in virtuous poison.
CONTEXTO É TUDO
Este eu, não aquele eu, que eles, não, o outro eles,
que nós, ou este nós, todos nós, ambos, e todos nós, quando lá, não aqui, mas
eu então, antes então, e antes de nós,
quando nós, como nós, quando falamos então, nunca respondi a eles, então.
Silenciosos nós, resilientes nós, existimos , como um nós existencial, observando
com moderação e perplexidade (terror), o barulho deles, infantis, e se falarmos
demais, nós falamos usando nossos corpos para eles, cabeça inclinada ou mão
para trás para eles, ou enfrentando-os
de costas, nunca quebrando a cara, tão mascarados para todos sentidos deles,
todos os tempos de nós, superpreparados. Temos que ser melhor. Melhor que
sejamos melhor que o melhor deles. É melhor sermos melhor no começo e fim, cedo
e intermitente. É melhor sermos melhores no começo e no meio também. Ser o melhor
entre a vida e a morte, melhor no visível e certamente melhor do que eles nos
lugares onde eles esqueceram, do que eles e sua trilha sonora. É melhor sermos
melhores do que aqueles que redigiram e reescreveram, “o que me destruiu, os
criou”, ou assim pensamos, confundindo a riqueza com o bem estar. ser, o suficiente para ser
eles, então alguns de nós pensamos e pensamos melhor. É melhor que sejamos
melhores sendo recrutados do que eles, mesmo que isto signifique afogar-se em
veneno virtuoso.
Ilustração: Stella Comunicação.
MALANDRO NÃO OFICIAL
Eu sendo como sou
acabei sendo o que posso,
com o corpo que me
deixaram ter
vivendo onde consigo
viver
da forma que é possível.
O impossível não sei como
pode ser.
Passado, presente, futuro
é só uma sequência,
que somente sei que existe
enquanto tenho consciência,
o que ocorre só num tempo
breve,
a vida é o vento leve,
o sorrir, o beber, o ser,
que não é o seu normal.
Estar adormecido,
inconsciente é o destino
fatal.
Afinal não passo de um
malandro,
nada oficial,
de um moleque do Brasil,
que nasceu bonito
e não rico, tenho que
trabalhar
senão não dá
e só posso tocar violão
quando há um feriadão
e pego minha sacola
para curtir uma praia
e ver se arranjo um rabo
de saia.
Sou um moleque bacana.
Sacoleiro não!
Nem vou te dar banana.
Sou um malandro de bom
coração!!
Ilustração: Globo.
Mais uma poesia de Kevin Cuadrado
LA PALABRA DICE COSAS QUE NÃO COMPRENDE
Kevin Cuadrado
La noche no es un objeto
al que podamos nombrar,
tampoco es un lugar para
el sueño.
Diremos de ella,
únicamente,
lo que ella ha dicho
acerca de nosotros.
La noche, decimos, es una
taza de café.
La noche, pensamos, no es
un árbol florecido.
La palabra es un límite
engañoso.
A PALAVRA DIZ COISAS QUE
NÃO COMPREENDE
A noite não é um objeto
que podemos nomear,
tampouco é um lugar para
o sonho.
Diremos dela, unicamente,
o que ela tem dito acerca
de nós.
A noite, dizemos, é uma
xícara de café.
A noite, pensamos, não é
uma árvore florescida.
A palavra é um limite
enganoso.
Ilustração: Spontaneum.
Friday, September 22, 2023
Uma poesia de January Gill O'Neil
HOODIE
January Gill O’Neil
A gray hoodie will not
protect my son
from rain, from the New
England cold.
I see the partial eclipse
of his face
as his head sinks into
the half-dark
and shades his eyes. Even
in our
quiet suburb with its
unlocked doors,
I fear for his safety-the
darkest child
on our street in the
empire of blocks.
Sometimes I don’t know
who he is anymore
traveling the back roads
between boy and man.
He strides a deep stride,
pounds a basketball
into wet pavement. Will
he take his shot
or is he waiting for the
open-mouthed
orange rim to take a
chance on him? I sing
his name to the night,
ask for safe passage
from this borrowed body
into the next
and wonder who could
mistake him
for anything but good.
CAPUZ
Um moletom cinza não protege meu filho
da chuva, do frio da Nova Inglaterra.
Eu vejo a parcial eclipse de seu rosto
como sua cabeça afunda na semiescuridão
e sombreia os olhos. Mesmo em nosso
subúrbio tranquilo com suas portas destrancadas,
Eu temo por sua segurança - a criança mais sombria
na nossa rua no império dos quarteirões.
Algumas vezes eu não sei mais quem ele é mais
viajando pelas vias secundárias entre menino e homem.
Ele dá um passo profundo, bate a bola de basquete
no pavimento molhado. Ele vai dar o seu lance
ou ele está esperando pela boca aberta
borda laranja lhe dar uma chance? Eu canto
seu nome para a noite, peço passagem segura
deste corpo emprestado para o próximo
e me pergunto quem poderia confundi-lo
para qualquer coisa, menos para o bem.
Ilustração: iStock.