Sunday, September 10, 2023

Lorca voltando

 

 


SONETO DE LA DULCE QUEJA

Federico García Lorca

Tengo miedo a perder la maravilla
de tus ojos de estatua, y el acento
que de noche me pone en la mejilla
la solitaria rosa de tu aliento.

Tengo pena de ser en esta orilla
tronco sin ramas; y lo que más siento
es no tener la flor, pulpa o arcilla,
para el gusano de mi sufrimiento.

Si tú eres el tesoro oculto mío,
si eres mi cruz y mi dolor mojado,
si soy el perro de tu señorío,

no me dejes perder lo que he ganado
y decora las aguas de tu río
con hojas de mi otoño enajenado.

SONETO DA DOCE QUEIXA

Tenho medo de perder a maravilha

de teus olhos de estátua, e o acento

que à noite me põe na bochecha

a solitária rosa de teu alento.

 

Tenho pena de estar nesta orla

tronco sem ramos; e o que mais sinto

é não ter flor, polpa ou argila,

pelo verme do meu sofrimento.

 

Se tu és o meu tesouro escondido,

Se tu és minha cruz e molhada agonia,

Se sou o cachorro da tua senhoria,

 

não me deixes perder o que hei ganhado

e as águas do teu rio decorado

com as folhas do meu outono alienado.

Ilustração: Interflora.pt.

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