Sunday, October 30, 2005
UMA TRADUÇÃO LIVRE DE UMA POESIA DO GRANDE POETA URUGUAIO MÁRIO BENEDETTI
História de Vampiros
Era um vampiro comum que só bebia
Água,
Pelas noites e pelas madrugadas,
No almoço ou no jantar
O sangue costumava dispensar
E, por isto, morria de vergonha
De enfrentar outros vampiros e vampiras.
Contra os ventos e as mares, no entanto
Meteu na cabeça que faria
Uma confraria de vampiros anônimos
Bebedores de água
E fez campanha sob a lua minguante
Sob as luas cheia e crescente,
Com modestos cartazes que afirmava
Que a água era saudável
E que o sangue, nos vampiros, dava câncer
É claro que os morcegos
Reunidos em seus palácios de sombras
Estranharam um paladar tão inaudito
Criticando aquele louco alucinado
Que podia desencaminhar os vampiros
Mais fracos
Que precisavam beber boldo
Após se alimentar
Concordaram que o exemplo malsinado
Deveria, sem demora, ser extirpado
E assim, numa noite tenebrosa,
Cinco dos mais fortes vampiros
Cercaram o marginal, o desviado,
Sedentos de hemáceas, de plaquetas
De leucócitos
E do desejo de acabar com a nefasta
Influência
Quando, por fim, a lua em seu esplendor
No céu, formosa e bela, retornou
Clareou o pobre corpo do vampiro anônimo
Cinco furos apresentando
Do qual a água jorrando
Formava um grande lago
Não pôde, porém ver a lua
Foi que os cinco executores
Pendurados numa arvore
Contra vontade, e com pesar, reconheciam
Que o sabor da água não era de todo mal
E, a partir desta noite histórica,
Os vampiros e as vampiras
Nunca mais chuparam sangue,
Pois resolveram, por unanimidade,
Que bem melhor era só tomar água
E, como sempre ocorre em casos
Semelhantes,
O singular vampiro recebeu sua parte
Sendo venerado como um precursor,
Um mártir.
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