Tuesday, July 31, 2018

Outra poesia de Pierre Reverdy



FETICHE

Pierre Reverdy

Petite poupée, marionnette porte-bonheur, elle se débat à ma fenêtre, au gré du vent. La pluie a mouillé sa robe, sa figure et ses mains qui déteignent. Elle a même perdu une jambe. Mais sa bague reste, et, avec elle son pouvoir. L'hiver elle frappe à la vitre de son petit pied chaussé de bleu et danse, danse de joie, de froid pour réchauffer son coeur, son coeur de bois porte-bonheur. La nuit, elle lève ses bras suppliants vers les étoiles.

FETICHE

Bonequinha, mascote da sorte que resiste em minha janela ao capricho do vento. A chuva empapou seu vestido, seu rosto e suas mãos que perderam a cor. Também perdeu uma perna. Porém, lhe ficou o anel e, com ele, o seu poder. No inverno, bate na janela o seu pezinho, vestida de azul e dança, dança de contente e frio para que entre calor no seu coração de madeira que lhe traz boa sorte. À noite, ela levanta seus braços suplicantes em direção às estrelas.

Ilustração: Qorpus.






Uma poesia de Louise Labé


Ô beaus yeus bruns...    
Louise Labé

 Ô beaus yeus bruns, ô regars destournez,
Ô chaus soupirs, ô larmes espandues,
Ô noires nuits vainement atendues,
Ô jours luisans vainement retournez:
Ô tristes pleins, ô désirs obstinez,
Ô tems perdu, ô peines despendues,
Ô mile morts en mile rets tendues,
Ô pires maus contre moi destinez.
Ô ris, ô front, cheveus, bras, mains et doits:
Ô lut pleintif, viole, archet et vois:
Tant de flambeaus pour ardre une femmelle!
De toy me plein, que tant de feus portant,
Et tant d'endrois d'iceus mon coeur tatant,
N'en est sur toy volé quelque estincelle.
  
Oh! Belos olhos negros...

Oh! Belos olhos negros, oh! Olhar distanciado,
Oh! Cálidos suspiros, oh! Lágrimas vertidas,
Oh! Noites  escuras inutilmente esperadas
Oh! Dias inúteis não retornados:
Oh! Tristeza plena, oh! Desejos obstinados,
Oh! Tempo perdido, oh! Dores desesperadas,
Oh! Mil mortes em retas milhas estendidas,
Oh, Piores dos males contra mim destinado.
Oh! Riso, oh! Fronte, cabelos, mãos e dedos:
Oh! Voz, oh! Viola e arco e alaúde dolente:
Quantas chamas para arder a uma mulher!
De te me queixo que, com tanto fogo portando,
Em tantos lugares do meu coração incendiando
Sem que uma só faísca em ti tenha caído.

Ilustração: O mundo da poesia - WordPress.com.





Uma poesia de Pierre Reverdy


Soleil                               
Pierre Reverdy

Quelquun vient de partir
Dans la chambre
Il reste un soupir
La vie déserte

La rue
Et la fenêtre ouverte

Un rayon de soleil
Sur la pelouse verte.

SOL

Alguém acaba de partir
No quarto
Resta um suspiro
Da vida que deserta

A rua
E a janela aberta

Um raio de sol
Sobre a grama verde.


E, agora, mais um poema de Jaime Sabines



Cúbreme, amor, el cielo de la boca

Jaime Sabines

Cúbreme, amor, el cielo de la boca
con esa arrebatada espuma extrema,
que es jazmín del que sabe y del que quema,
brotado en punta de coral de roca.

Alóquemelo, amor, su sal, aloca
Tu lancinante aguda flor suprema,
Doblando su furor en la diadema
del mordiente clavel que la desboca.

¡Oh ceñido fluir, amor, oh bello
borbotar temperado de la nieve
por tan estrecha gruta en carne viva,

para mirar cómo tu fino cuello
se te resbala, amor, y se te llueve
de jazmines y estrellas de saliva!

Cubra-me, amor, o céu da boca

Cubra-me, amor, o céu da boca
com essa arrebatadora espuma extrema,
que é o jasmim do que sabe e do que queima,
brotado na ponta de um coral da rocha.

Me encontre, amor, seu sal, aloca
Sua lancinante, aguda, flor suprema,
Dobrando sua fúria num diadema
de mordente cravo que a torna louca.

Oh! Fluxo apertado, amor, oh! Belo
borbulhar temperado de neve
por tão estreita gruta em carne viva,

para ver como teu fino colo
resvala, amor, e em ti chove
de jasmins e estrelas de saliva!

Ilustração: Fatos Desconhecidos.

Thursday, July 26, 2018

Uma poesia de Anna Andreevna Achmatova


Anna Andreevna Achmatova                                                  
La porta accostata,
il lieve ondeggio degli alberi di tiglio…
Sul tavolo, chissà dimenticati,
un frustino e un guanto.
L’alone giallo della lampada…
Sento un fruscio.
Perché sei andato via?
Io non capisco…
Domani sarà un mattino
di serenità.
La vita è splendida,
sii saggio, cuore.
Sei così stanco,
rallenta, batti piano…
Pensa, ho letto
che l’anima è immortale.


A porta entreaberta,
o leve ondular dos limoeiros ...
Na mesa, quem sabe esquecido,
um chicote e uma luva.

O brilho amarelo da lâmpada ...
Eu ouço um crepitar.
Por que você saiu?
Eu não entendo ...

Amanhã será uma manhã
de serenidade.
A vida é esplêndida
seja sábio, coração.

Você está tão cansado
devagar, bata devagar ...
Penso que li
que a alma é imortal.

 Ilustração: Servo Prudente. 


Wednesday, July 25, 2018

Uma poesia de Lope da Vega


SONETO                      

Lope da Vega

Desmayarse, atreverse, estar furioso,
áspero, tierno, liberal, esquivo,
alentado, mortal, difunto, vivo,
leal, traidor, cobarde y animoso;

no hallar fuera del bien centro y reposo,
mostrarse alegre, triste, humilde, altivo,
enojado, valiente, fugitivo,
satisfecho, ofendido, receloso;

huir el rostro al claro desengaño,
beber veneno por licor süave,
olvidar el provecho, amar el daño;

creer que un cielo en un infierno cabe,
dar la vida y el alma a un desengaño;
esto es amor, quien lo probó lo sabe.

SONETO

Desmaiar, atrever-se, ficar furioso
àspero, terno, liberal, esquivo,
animado, mortal, defunto, vivo,
leal, traidor, covarde e jubiloso;

não sair fora do bom centro e repouso,
mostrar-se alegre, triste, humilde, altivo
zangado, valente, fugitivo,
satisfeito, ofendido, receioso;

fugir do rosto ao claro desengano,
beber veneno por licor suave,
esquecer o lucro, amar o dano;

crer que um céu num inferno cabe,
dar a vida e a alma a um desengano;
isto é o amor, quem provou sabe.

Ilustração: O Segredo.

Tuesday, July 24, 2018

Outra poesia de Margherita Guidacci


Stella cadente                                 
Margherita Guidacci

Alcuni desideri si adempiranno
altri saranno respinti. Ma io
sarò passata splendendo
per un attimo. Anche se nessuno
mi avesse guardata
risulterebbe ugualmente giustificato
per quel lucente attimo il mio esistere.

ESTRELA CADENTE

Alguns desejos serão realizados
outros serão rejeitados. Mas, eu
serei o passado brilhando
por um átimo. Ainda que ninguém
me houvesse olhado
resultaria igualmente justificado -
por este átimo iluminado- minha existência.


Ilustração: Pinterest.

Uma poesia de Sandra Lorenzano


LO QUE HEMOS ELEGIDO          

Sandra Lorenzano

Cuando las palabras no cuentan
cuando son una soga en torno al cuello,
el ahogo busca huellas en los viejos cuentos.
Todo es entonces signo ominoso:
la primavera nació negra
y con gesto de tormenta;
el mar fue espejo de pesares,
puerto cerrado a cualquier ventura.

Pero la piel tiene memoria
y aquella cicatriz lleva tu nombre
y esa es la caricia de una tarde cualquiera.
Seguiremos tejiendo desencuentros.
Eso es lo que hemos elegido:
juntar piedras para nadie.


O QUE ESCOLHEMOS

Quando as palavras não contam
quando são uma corda no pescoço,
a asfixia busca vestígios nas velhas histórias.
Tudo é então sinistro:
a primavera nasceu negra
e com um gesto de tempestade;
o mar foi um espelho de tristezas
porto fechado para qualquer felicidade.

Porém, a pele tem memória
e aquela cicatriz leva teu nome
e essa é a carícia de uma tarde qualquer.
Seguiremos tecendo desencontros.
Isso é o que escolhemos:
juntar pedras para nada.

Ilustração: carruagem 23 – Blogger.

Monday, July 23, 2018

Uma poesia de José Miguel Gómez Acosta





VIAJE AL CENTRO DE LA TIERRA

José Miguel Gómez Acosta

En el fondo del hombre más apacible duermen los asesinos ojo alerta.
En el fondo reposa una tumba de hierba nunca hollada, occidente crepúsculo derrota.
Cartógrafos del humo que brota de la tierra, tus ojos dibujantes maestros de la palabra.
En el fondo del hombre, en sus costas lejanas, duermevela intranquilo el estratega
un plan para albergar los escondidos.
En el fondo del hombre una entrada señala el inicio descenso caída vuelo al centro
de la tierra.


VIAGEM AO CENTRO DA TERRA

No fundo do homem mais pacífico dormem os assassinos, olho alerta.
No fundo repousa um túmulo de ervas nunca pisadas, ocidente,
crepúsculo, derrota.
Cartógrafos da fumaça que brota da terra, olhos desenhados, maestros da palavra.
No fundo do homem, em suas costas distantes, adormece intranquilo o
o estrategista
um plano para hospedar os escondidos.
No fundo do homem uma entrada assinala o início da descida, da queda,
do voo ao centro da terra.

Ilustração: Revista Status.

Uma poesia de Aurora Luque



















SÍNDROME 
DE
ABSTINENCIA              
Aurora Luque

No es tan tóxico ya: también caduca
el amor en la fecha señalada en su dorso.
Ya no es ese veneno
tan eficaz, ni acaso necesaria
la urgente sobredosis. Qué cualidad letal
la del amor filtrado en la memoria.
Regreso a las palabras y compruebo que nunca
se contagian o enferman con las fases
de mi intoxicación o mi delirio.

Siempre más sanas, siempre
a punto de ser dadas de alta y de dejarme
un poco más enferma. Y nunca simultánea
he sentido la fiebre en mi otro cuerpo,
el que tiene por vísceras palabras.

SÍNDROME DE ABSTINÊNCIA

Não é tão tóxico já: também expira
o amor na data indicada nas suas costas.
Já não é esse veneno
tão eficaz, nem acaso necessário
a urgente overdose. Que qualidade letal
a do amor filtrado na memória.
Volto às palavras e comprovo que nunca
se  contagiam ou ficam doentes com as fases
da minha intoxicação ou meu delírio.

Sempre mais saudáveis, sempre
a ponto de ser dada alta e deixar-me
um pouco mais doente E nunca simultaneamente
senti a febre no meu outro corpo,
o que tem as palavras como vísceras.

Ilustração: Pintarest.


Friday, July 20, 2018

Uma poesia de Margherita Guidacci


Madame X                

Margherita Guidacci

Io non sono il mio corpo.
Mi è straniero, nemico.
Ancora peggio è l’anima,
e neppure con essa m’identifico.

Osservo di lontano
le rozze acrobazie di questa coppia,
con distacco, ironia –
con disgusto talvolta.

E intanto penso che la loro assenza
Sarebbe più un guadagno che un dolore:
questa e altre cose… Ma mentre le penso,
io chi sono, e dove?

MADAME X 

Eu não sou o meu corpo
Que é um estrangeiro, um inimigo.
Pior ainda é a alma
Nela nem me identifico.

Observo de longe
as torpes acrobacias desta parelha,
com desapego, ironia -
com desgosto, às vezes.

E enquanto penso que sua ausência
Seria mais vantajosa do que a dor:
isso e outras coisas ... Porém, enquanto penso,
quem sou e onde?

Ilustração: Lynette Abel.

Outra poesia de Maddalena Lotter


NOTIZIE                        
Maddalena Lotter

Il signore del posto calpesta le spighe
al suo passaggio è un ritiro di lucertole;
per ogni specie d’albero o arbusto
il suo richiamo
nel vento morbido del pomeriggio.
Anche quest’anno
la fiaccolata che si fa ogni anno.
Una notte invece i cinghiali
hanno mangiato tutti i meloni dell’orto,
se ne parla a Bolgheri e a Castagneto

NOTÍCIAS

O senhor do lugar atropela as orelhas
na sua passagem, é um retiro de lagartos;
para cada espécie de árvore ou arbusto
sua chamada
no vento suave da tarde.
Também este ano
haverá a procissão de tochas que acontece todo ano.
Uma noite, em vez disso, os javalis
comeram todos os melões da horta,
fala-se em Bolgheri e Castagneto

Ilustração: MP3.xyz. 

Uma poesia de Michel Houellebecq


Ce n'est pas cela...
Michel Houellebecq
Ce n'est pas cela. J'essaie de conserver mon corps en bon état. Je suis peut-être mort, je ne sais pas. Il y a quelque chose qu'il faudrait faire, que je ne fais pas. On ne m'a pas appris. Cette année, j'ai beaucoup vieilli. J'ai fumé huit mille cigarettes. Souvent j'ai eu mal à la tête. Il doit pourtant y avoir une façon de vivre ; quelque chose que je ne trouve pas dans les livres. Il y a des êtres humains, il y a des personnages ; mais d'une année sur l'autre c'est à peine si je reconnais leurs visages.
Je ne respecte pas l'homme ; cependant, je l'envie.
NÃO É ISSO ...
Não é isso. Eu trato de conservar meu corpo em bom estado. Eu posso estar morto, eu não sei. Há qualquer coisa que deveria ser feita, que eu não faço. Eu não fui ensinado. Este ano, envelheci muito. Eu fumei oito mil cigarros. Muitas vezes eu tive uma dor de cabeça. No entanto, deve haver uma maneira de viver; algo que não se encontra nos livros. Há seres humanos, há personagens; mas, de um ano para o outro, quase não reconheço seus rostos.
Eu não respeito o homem; contudo, eu quero isso.

Uma poesia de Maddalena Lotter


Maddalena lotter 

Si fa buio a Venezia,
i tetti antichi delle case si affacciano
rossi e rosa sull’acqua mentre chiude
il mercato del pesce
e d’oro son le nostre voglie mute.

Escurece em Veneza 
e os tetos antigos das casas se debruçam
vermelho e cor de rosa sobre a água enquanto fecha
o mercado de peixe
 e de rosa e de ouro são as nossas vontades mudas 


Ilustração: Utopias Gastronômicas - Blogger

Thursday, July 19, 2018

INSPIRAÇÃO AMOROSA




Penso em fazer um poema.
As curvas de teu corpo me desanimam.
E nos teus olhos resplandece toda a poesia do mundo.
A música que rola no ar
me induz a mudar de direção
e, sem reflexões, pego na tua mão
com uma vontade sem tamanho de te amar.

Ilustração: Frases fofas.

Outro poema de Henri Meschonnic


Henri Meschonnic                                                                                 

des cheveux tremblent sur des pierres
je vois les confondus en terre
les gestes creux
les ventres de la vie
dans un sol où se fondent des os
une terre écorchée de légende
les cris de ces yeux
gouttent sur l’herbe
je plonge mes bras dans le vivier
des morts

tremem os cabelos nas pedras
olho para o confuso sobre a terra
com gestos vazios
os ventres da vida
sobre um solo no qual os ossos se cimentam
terra com escoriações de lenda
gritos de seus olhos
pingam sobre a grama
mergulho meus braços no viveiro
dos mortos

Ilustração: Pedaços de Mim – Blogger.