Friday, July 31, 2020

Mais uma poesia de Antonella Taravella


 Antonella Taravella


il suono della tua pelle

mi apre lentamente

fino a farmi nuda

con le ossa

che tremano come foglie

e il desiderio che passa

sui contorni esposti

di ogni domani

 

o som da tua pele

me abre lentamente

até deixar-me nua

com os ossos

que tremem como folhas

e o desejo que passa

seus contornos expostos

de todo amanhã


Outra poesia de Wallace Stevens


THE PLANET ON THE TABLE

Wallace Stevens

Ariel was glad he had written his poems.

They were of a remembered time

Or of something seen that he liked.


Other makings of the sun

Were waste and welter

And the ripe shrub writhed.

 

His self and the sun were one

And his poems, although makings of his self,

Were no less makings of the sun.

 

It was not important that they survive.

What mattered was that they should bear

Some lineament or character,

 

Some affluence, if only half-perceived,

In the poverty of their words,

Of the planet of which they were part.

O PLANETA NA MESA                                               

Ariel estava feliz de ter escrito seus poemas.

Eles eram de um tempo relembrado

Ou de algo já visto que ele gostara.

 

Outros feitos do sol

Foram desperdício e confusão

E o arbusto maduro se contorcia.

 

Seu ser e o sol eram um só

E seus poemas, embora fossem ele mesmo,

Não eram menos feitos do sol.

 

Que perdurassem não era importante.

O importante era que deveriam suportar

Algum traço ou caráter,


Alguma riqueza, mesmo quase imperceptível,

Na pobreza de suas palavras,

Do planeta do qual faziam parte.

 Ilustração: https://br.pinterest.com/.


Outra poesia de Gertrudis Gómez de Avellaneda


LAS CONTRADICIONES                               


Gertrudis Gómez de Avellaneda (Tula)

No encuentro paz, ni me permiten guerra;
De fuego devorado, sufro el frío;
Abrazo un mundo, y quédome vacío;
Me lanzo al cielo, y préndeme la tierra.
Ni libre soy, ni la prisión me encierra;
Veo sin luz, sin voz hablar ansío;
Temo sin esperar, sin placer río;
Nada me da valor, nada me aterra.
Busco el peligro cuando auxilio imploro;
Al sentirme morir me encuentro fuerte;
Valiente pienso ser, y débil lloro.
Cúmplese así mi extraordinaria suerte;
Siempre a los pies de la beldad que adoro,
Y no quiere mi vida ni mi muerte.

AS CONTRADIÇÕES

Não encontro paz, nem me permitem guerra;

De fogo devorado, sofro frio;

Abraço um mundo, e quedo-me vazio.

Me lanço ao céu, e prende-me a terra;

Nem livre sou, nem a prisão me encerra;

Vejo sem luz, sem voz falar anseio;

Temo sem esperar, sem prazer rio;

Nada me dá valor, nada me aterra.

Busco o perigo, quando auxílio imploro;

Ao sentir-me morrer me encontro forte.

Valente penso ser, e débil choro.

Cumpre-se assim minha extraordinária sorte;

Sempre aos pés da beldade que adoro,

E não quero minha vida nem minha morte.

Ilustração: Youtube.


Thursday, July 30, 2020

Prostituée


Delicadamente me disse adeus.

Lembro de sua mãozinha abanando

e da doce voz me falando:

 “Mon amour, au revoir”.

Esperar, algumas vezes, esperei

vê-la sair encantadora do café

num belo Jaguar,

enquanto eu a seguia,

com o olhar,

por pouco tempo, a pé.

Pedir para voltar,

vontade tive, enfim,

até certo ponto.

Era moço sim,

mas, não tonto.

Apesar de todo apreço

sabia que até o amor tem preço.

E, completamente liso,

avaliava, com bastante siso,

a sorte que tive:

um tempo de magia

com uma mulher tão linda!

Quase perfeita em tudo que fazia.

Sua maestria

era mais do que de atriz.

Amei uma verdadeira gueixa.

Não posso ter queixa

Se ela era uma perfeita meretriz.

 

Ilustração: https://www.mondo-digital.com/.


Outra poesia de Marilyn Bobes


Poema Donde Se Cuenta Hasta Que Apareciste

  Marilyn Bobes

Por delicadeza,

permití que los pájaros helados

calentaran sus picos en mi lumbre,

horadaran los leños de la noche

e hirieran con sus cantos mi silencio.

Ellos mancharon con sus plumas

mis sábanas

y picoteando sobre la pureza

me volvieron ceniza,

por delicadeza.

Por delicadeza,

consentí ser la amante de los héroes.

Alimenté mentiras y carencias

en hoteles de paso;

amordacé mi corazón de niña

y fui mujer fatal

para que nunca parecieran culpables.

Ellos se fueron

con mis mejores máscaras

y sus esposas, muertas de tristeza,

me dieron mala fama,

por delicadeza.

Por delicadeza,

pude resucitar en mis papeles

aquellos pájaros helados.

A mis tristes y efímeros amantes

con sus tibias y frívolas esposas

los transformé en metáforas.

Esparcí mis cenizas.

Hice versos

sólo para conjurar mi mala fama.

Y hoy que no creo en la delicadeza

te me apareces tú

que eres más que la delicadeza.

Estoy enferma de delicadeza

y no perderé mi vida por delicadeza

conmigo misma.

Por delicadeza.

 

POEMA ONDE SE CONTA QUE APARESCESTES

 

Por delicadeza,

permiti que os pássaros congelados

aquecessem seus bicos no meu fogo,

furaram os troncos da noite

e machucaram meu silêncio com seus cantos.

mancharam com suas penas

meus lençóis

e bicando a pureza

me transformaram em cinzas,

por delicadeza.

Por delicadeza,

consenti em ser a amante dos heróis.

Alimentei mentiras e carêncis

em hotéis que passam;

amordaçei meu coração de menina

e eu fui a mulher fatal

para que não parecessem culpados.

Eles foram

com minhas melhores máscaras

e suas esposas, mortas de tristeza,

me deram um má fama,

por delicadeza.

Por delicadeza,

pude ressuscitar nos meus papéis

aqueles pássaros congelados.

Aos meus amantes tristes e efêmeros

com suas fracas e frívolas esposas

os transformei em metáforas.

Espalhei minhas cinzas.

Eu fiz versos

apenas para conjurar minha má fama.

E hoje que não creio mais em delicadeza

me apareces tu

que eras mais que delicadeza.

Estou doente de delicadeza

E não perderei minha vida por delicadeza

comigo mesma.

Por delicadeza.

Ilustração:https://nuvemdeestrelas.blogspot.com/.  


Wednesday, July 29, 2020

Outra poesia de R.S. Thomas


The Dance                                                          

She is young. Have I the right
Even to name her? Child,
It is not love I offer
Your quick limbs, your eyes;
Only the barren homage
Of an old man whom time
Crucifies. Take my hand
A moment in the dance,
Ignoring its sly pressure,
The dry rut of age,
And lead me under the boughs
Of innocence. Let me smell
My youth again in your hair.


A DANÇA

Ela é jovem. Tenho eu o direito
mesmo de nomeá-la? Criança,
não é o amor que ofereço.
Seus membros rápidos, seus olhos;
somente a homenagem estéril
de um velho homem a quem o tempo
crucifica. Toma minha mão
num momento na dança
ignorando sua pressão maliciosa,
a rotina seca da idade
e me conduz sob os galhos
da inocência. Deixa-me sentir
minha juventude novamente em teus cabelos. 





















Tuesday, July 28, 2020

Outra poesia de Sigfredo Ariel



Quizás estamos en el globo de sus ojos

Sigfredo Ariel

Quizás estamos en el globo de sus ojos.
Transcurrimos tal vez por sus antiguos cuerpos.

Gravitamos en el cielo de sus bocas
en la tensión del músculo nadamos
y hemos sido su ejército desde el origen.

Quién sabe no sea útil para mí
caer bajo el filo de su arado tantas veces.

Nuestros dioses fueron dispersados
en una edad incierta
huyen todavía entre las tantas noches
en que nadie vino
/a traer a preguntar
 a guarecerse aquí.

 Tal vez cueste demasiado sostenerse en pie
 no es tierra firme.

TALVEZ ESTEJAMOS NO SEU GLOBO OCULAR

Talvez estejamos no seu globo ocular.
Transcorremos talvez por seus corpos antigos.

Gravitamos no céu de suas bocas
na tensão muscular nadamos
e temos sido o seu exército desd’a origem.

Quem sabe não seja útil para mim
cair sob o fio do seu arado tantas vezes.

Nossos deuses foram dispersados
numa idade incerta
fogem, todavia, entre as tantas noites
de onde ninguém veio
 / a trazer perguntas
 para se abrigar aqui.

Talvez custe demasiado manter-se em pé
 não é uma terra muito firme.


Monday, July 27, 2020

Uma curtinha de Ezra Pound



L'Art

Ezra Pound

Green arsenic smeared on an egg-white cloth,
Crushed strawberries! Come, let us feast our eyes.


A ARTE

Verde arsênico manchado sobre um pano branco de clara de ovo,
Esmagados morangos! Venha, deixemos a festa para nossos olhos.

Ilustração: Franco Bonelli Spring Green.

Uma poesia de Marilyn Bobes



TRISTE OFICIO

Marilyn Bobes
               
Poetisas, dijeron.
Serán tibias
y falsas
y pequeñas.
Aunque seres livianos,
no tomarán altura porque son imperfectas.
Pero si alguna toca en la palabra
como el burro en la flauta
postulemos que es mucho hombre esa mujer
y no
que es mucha mujer un ser humano.
(No una mujer nacida de la sombra
donde seremos siervos o señores.)
Y pensemos después cómo callarla.

TRISTE OFÍCIO

Poetisas, eles disseram.
serão débeis
e falsas
e pequenas.
Ainda que seres leves,
não subirão porque são imperfeitas.
Porém, se alguma toca na palavra
como o burro na flauta
postulemos que esta mulher é muito homem
e não
que é muita mulher um ser humano.
(Não é uma mulher nascida da sombra
onde seremos servos ou senhores.)
E pensemos depois como calá-la.


Sunday, July 26, 2020

Uma poesia de Sigfredo Ariel


CON MARILYN BOBES                    
Sigfredo Ariel

Con un lápiz en papel cuadriculado
a la luz de una vela de ciclón
la mano pasajera se ha acordado
de tu conversación
acerca de cómo permanecen
las personas en uno. Sobre marismas

y cambios de gobierno personal
algunas, por cierto, no parecen
ser las mismas que dejamos entrar
por puerta angosta un día. Lo real
no vive en el país que habitan: allí no crecen
ni obran ni maduran.
Más de llegar
una noche a tu puerta un otro, el mismo
a quien no reconoces, esas personas quitan
al recién llegado intruso del lugar
sin miramiento alguno
y continúan sin cambiar, pues así duran
igual que dura y dura en Cuba el comunismo.

COM MARILYN BOBES

Com um lápis no papel milimetrado
à luz de uma vela ciclone
a mão que passageira foi acordada
de tua conversa
acerca de como permanecem
as pessoas em uma. Sobre pântanos

e trocas de governo pessoal
algumas, por certo, não parecem
sejam as mesmas que deixamos entrar
por uma porta estreita um dia. O real
não vive no país em que habitam: ali não crescem,
não trabalham nem amadurecem.
Mais há de chegar
uma noite na tua porta um outro, o mesmo
a quem não reconheces, essas pessoas retiram
o intruso recém-chegado do lugar
sem qualquer consideração
e continuam sem mudar, porque duram
assim como o comunismo dura e dura em Cuba.

Ilustração: https://www.isliada.org/.

Saturday, July 25, 2020

Eis aqui Juan Gelman




LA SECRETA DULZIRA DEL DOLOR.....

Juan Gelman

La secreta dulzura del dolor
Es transparencia/sale
De la furiosa resignación del sueño/
Suena en la boca del perdido

En su origen/en su
Rumor de existencia que
Le clava la cabeza al gran espanto/
Al doble andar/al doble hilo/a la

No verdad del estar como no estar/
El vuelo torpe que los cría/
Lo que rompe la luz/memoria

Confusa por sus números/
Pecho que dura como huella/
La nada que te ama/
A secreta doçura da dor ...

A secreta doçura da dor
É a transparência / saí
Da furiosa resignação do sono /
Soa na boca do perdido

Originalmente /  no seu
Rumor de existência que
Crava na cabeça um grande espanto /
Ao duplo andar /ao duplo fio / a

Nenhuma verdade do estar como do não-estar /
O desajeitado voo que os cria /
O que rompe a luz / memória

Confuso com seus números /
Peito que dura como trilha /
O nada que te ama /