Thursday, July 31, 2014

De volta Júlio de Burgos


Canción Amarga

Julia de Burgos

Nada turba mi ser, pero estoy triste.
Algo lento de sombra me golpea,
aunque casi detrás de esta agonía,
he tenido en mi mano las estrellas.
Debe ser la caricia de lo inútil,
la tristeza sin fin de ser poeta,
de cantar y cantar, sin que se rompa
la tragedia sin par de la existencia.
Ser y no querer ser? esa es la divisa,
la batalla que agota toda espera,
encontrarse, ya el alma moribunda,
que en el mísero cuerpo aún quedan fuerzas.
¡Perdóname, oh amor, si no te nombro!
Fuera de tu canción soy ala seca.
La muerte y yo dormimos juntamente?
Cantarte a ti, tan sólo, me despierta.

Canção amarga

Nada perturba meu ser, porém, estou triste.
algo lento de sombra me golpeia,
ainda que quase por trás desta agonia
tenha tido na minha mão as estrelas.
Deve ser a carícia do inútil,
a tristeza sem fim de ser poeta,
de cantar e cantar, sem que se rompa
a tragédia sem par da existência.
Ser e não querer ser? Esta é a divisa,
a batalha que esgota toda espera
encontrar-se, já a alma moribunda,
que no mísero ainda quedam forças.
Perdoa-me, oh amor, se eu não te cito!
Fora de tua canção sou asa seca.
A morte e eu dormimos juntos?

Cantar-te a ti, tão só, me desperta.

Julia de Burgos


Víctima

Julia de Burgos

Aquí estoy,
desenfrenada estrella, desatada,
buscando entre los hombres mi víctima de luz.
A ti he llegado.
Hay algo de universo en tu mirada,
algo de mar sin playa desembocando cauces infinitos,
algo de amanecida nostalgia entretenida en imitar palomas…
Mirarte es verme entera de luz
rodando en un azul sin barcos y sin puertos.
Es inútil la sombra en tus pupilas…
Algún soplo inocente debe haberse dormido en tus entrañas.
Eres, entre las frondas, mi víctima de luz.
Eso se llama amor, desde mis labios.
Tienes que olvidar sendas,
y disponerte a manejar el viento.
¡A mis brazos, iniciado de luz,
víctima mía!
Pareces una espiga debajo de mi alma,
y yo, pleamar tendida bajo tu corazón.


Vítima

Aqui estou,
desenfreada estrela, desatada,
buscando entre os homens a vítima de luz.
A ti cheguei.
Há algo do universo em teu olhar,
algo de mar sem praia desembocando em canais infinitos,
algo de amanhecida nostalgia entretida em imitar pombos ...
Olhar-te é ver-me inteira de luz
rodando num azul sem navios, sem portos.
É inútil a sombra em tuas pupilas ...
Algum sopro inocente deve haver dormido em tuas entranhas.
És, entre as folhas, minha vítima de luz.
Isto se chama amor, desde meus lábios.
Tens que esquecer os caminhos
e dispor-se a manejar o vento.
Nos meus braços, iniciado em luz
Vítima minha!
Pareces com uma espiga debaixo de minha alma,
e eu, a maré estendida sob o teu coração.

Wednesday, July 30, 2014

Eis Jonathan Velásquez


Cotidianamente

Jonathan Velásquez

Dios tambiém se emborracha
pasa el invierno envolto em cartones,
duerme bajo una puente,
camina por las calles y es víctima de un robô.
Sí, el también deambula por los parques,
pide limosna en una esquina, hurga la basura
o es soldado en una guerra.
También el se fuma en un cigarrilho,
va por la plaza en bicicleta
disfrazado de niño sin infância.
Va mugroso e harapiento
silbando por la calle
con o estómago vacío.

Cotidianamente

Deus também se embriaga
Passa o inverno envolto em caixões
dormindo debaixo de uma ponte,
caminha pelas ruas e é vítima de um roubo.
Sim, ele também percorre os parques,
pede esmola em uma esquina, desastrado lixo
ou é soldado em uma guerra.
Também ele fuma um cigarro,
E vai pela praça de bicicleta
disfarçado como um menino sem infância.
Vai sujo e maltrapilho
assobiando pela rua
com o estômago vazio.

Tuesday, July 29, 2014

E, mais uma vez, Ungaretti

San Martino del Carso

Valloncello dell'Albero Isolato il 27 agosto 1916


Giuseppe Ungaretti


Di queste case
non è rimasto
che qualche
brandello di muro

Di tanti
che mi corrispondevano
non è rimasto
neppure tanto

Ma nel cuore
nessuna croce manca

È il mio cuore
il paese più straziato

San Martino del Carso

Destas casas
não é sobrado
mais que alguns
pedaços de muro.

De tantos
que me corresponderam
nada é sobrado
nem tanto

No meu coração
nenhuma cruz me falta

É o meu coração
o país mais destroçado





Retornando com Giuseppe Ungaretti


Noia

Giuseppe Ungaretti

Anche questa notte passerà

Questa solitudine in giro
titubante ombra dei fili tranviari
sull’umido asfalto

Guardo le teste dei brumisti
nel mezzo sonno
tentennare

Tédio

Também esta noite passará

Esta solidão num giro
titubeante de fios de sombra de trânsito
sobre o úmido asfalto.

Guardo como os cocheiros
sonolentos

cabeceiam. 

Monday, July 28, 2014

Três Hai-kaizinhos de um tempo triste


Se você diz que não gosto de você
Não há mais o que dizer
E com a tua falta terei que conviver.


Há dias assim em que desisto de mim.
E penso que o melhor é morrer.
Mas, até a morte me acha uma escolha ruim.




Respeito teu desejo por falta de opção.
E me faço de forte com a morte
Me inundando e paralisando o coração.


Sunday, July 27, 2014

E de volta Angel Gonzalez


CANCIÓN DE AMIGA

Angel Gonzalez

Nadie recuerda un invierno tan frío como éste.

Las calles de la ciudad son láminas de hielo.
Las ramas de los árboles están envueltas en fundas de hielo.
Las estrellas tan altas son destellos de hielo.

Helado está también mi corazón,
pero no fue en invierno.
Mi amiga,
 mi dulce amiga,
 aquella que me amaba,
 me dice que ha dejado de quererme.

No recuerdo un invierno tan frío como éste.

Canção da amiga

Nada me recorda um inverno tão frio como este.

As ruas da cidade são lâminas de gelo.
Os ramos das árvores estão envoltos em pedras de gelo.
As estrelas tão altas são telhados de gelo.

Gelado também está meu coração,
porém, não foi o inverno.
Minha amiga,
aquela que me amava,
me disse que deixou de me querer.

Não me recordo de um inverno tão frio quanto este.

Ilustração: www.euemeuspensamentos.blogger.com.br

Angel Gonzalez


EL OTOÑO SE ACERCA

Angel Gonzalez

El otoño se acerca con muy poco ruido:
apagadas cigarras, unos grillos apenas,
defienden el reducto
de un verano obstinado en perpetuarse,
cuya suntuosa cola aún brilla hacia el oeste.

Se diría que aquí no pasa nada,
pero un silencio súbito ilumina el prodigio:
ha pasado un ángel
que se llamaba luz, o fuego, o vida.

Y lo perdimos para siempre.

O outono se aproxima

O outono se aproxima com muito pouco ruído:
esparsas cigarras, uns grilos apenas,
defendem o reduto
de um verão obstinado em perpetuar-se,
cujos suntuosos sinais ainda brilham até o oeste.

Se diria que aqui não passa nada,
porém, um silêncio súbito ilumina o prodígio:
um anjo passou
que se chamava luz, ou fogo, ou vida.

E o perdemos para sempre.

Ilustração: avioletamae.wordpress.com  

Saturday, July 26, 2014

Jonathan Velásquez




Los rostros de la ciudad

Jonathan Velásquez

La ciudad é un infierno de concreto negro
lleno de demonios plásticos y cabello oscuro
la ciudad es una mancha de humo gris
que apuñala os pulmões hambrientos de los niños.
La ciudad es una jauría de lobos invisibles
esperando la muerte de nossos sueños
para despedazarnos a plena luz do mediodia
la ciudad no es más que un torbellino de lobos
disfrazados de ovejas en pleno o infierno de concreto.
  
Os rostos da cidade

A cidade é um inferno de concreto negro
repleto de demônios plásticos e cabelos escuros
a cidade é uma mancha de fumaça cinza
que apunhala os pulmões de famintas crianças.
A cidade é uma jaula de lobos invisíveis
esperando a morte de nossos sonhos
para nos despedaçar em plena a luz do meio-dia
a cidade não é mais que um torvelinho de lobos
disfarçados de ovelhas em pleno o inferno de concreto.


Friday, July 25, 2014

Com vocês Gustavo Adolfo Becquer


Rima IV (Fragmentos)

Gustavo Adolfo Becquer

No digáis que, agotado su tesoro,
de asuntos falta, enmudeció la lira;
podrá no haber poetas; pero siempre
habrá poesía.

Mientras las ondas de la luz al beso palpiten encendidas,
mientras el sol las desgarradas nubes de fuego y oro vista,
mientras el aire en su regazo lleve
perfumes y armonías,
mientras haya en el mundo primavera,
¡habrá poesia

Mientras haya unos ojos que reflejen
los ojos que los miran,
mientras responda el labio suspirando
al labio que suspira,
mientras sentirse puedan en un beso
dos almas confundidas,
mientras exista una mujer hermosa,
¡habrá poesía!

Rima IV (Fragmentos)

Não diga que, esgotado o seu tesouro,
falta inspiração, emudeceu a lira;
pode não haver poetas; mas, sempre
haverá poesia.

Enquanto ondas de luz ao beijo palpitem acendidas,
enquanto  o sol as nuvens de fogo e ouro vista,
enquanto o ar no seu doce regaço traga
perfumes e harmonias,
enquanto houver primavera no mundo,
haverá poesia

Enquanto existirem olhos refletindo
os olhos dos que olham,
enquanto responder o lábio suspirando
ao lábio que suspira,
enquanto um beijo se poder sentir
em duas almas confundidas,
enquanto existir uma mulher formosa,
haverá poesia!

Ilustração: www.theguardian.com

Thursday, July 24, 2014

Poema da certeza dos erros


Se adiantasse te dizer
que não me amar só tudo atrasa
eu te diria.
Mas, não adianta não.
Uma canção
como um relógio,
mesmo sem ação,
vai estar certo duas vezes ao dia!

Ave Maria!
Não desejo,
nem por um segundo,
estar certo.
Só desejo acabar
com o deserto
que é tua falta.
E, apesar de ter pedido
para te ligar,
nem te ligo.
Tu és meu eterno perigo:
sei que se chegar perto
sempre irei me incendiar.

Só há um jeito
de não mais te amar: é morrer.
Então nem me importo
se tiver que padecer.
Sofro sim sem te ver,
mas, minha vingança
é que, como sem mim  não viverás,
sem que te ame
não terás prazer nem paz!

E bebo
para comemorar
o prazer
que será te reencontrar!
Que é só uma questão de tempo sei.
Só lamento o tempo
que não me amastes
e que não te amarei.
Mas, a vida é assim:
nada é tão bom
que não tenha um lado ruim.


Tuesday, July 22, 2014

Cançãozinha do amor fixo


Tem certas horas que parecemos estranhos
compartilhando momentos.
É quando, confesso, faço amor de modo violento,
pois, quero te ferir, quero te mostrar
que o meu amor, que é pura mansidão,
pode deixar cicatrizes que nunca sararão.
Bem que poderia te deixar e viver em lágrimas
por te abandonar, mas, não faço não.
Deixo só o tempo passar, e o tempo passa,  
sem que nada mude no meu coração. 

Monday, July 21, 2014

De volta Carlos Gargallo


Caer de bruces

Carlos Gargallo Martinez

Para caer, só necesitas a alguien
que al menos te roce.
(siempre encontrarás
quién esté dispuesto a ayudarte).

Caer sobre las aceras, los charcos,
la cama, el aburrimiento, el amor,
la passión, los desconciertos cotidianos.

Caer bien o mal,
entre os absurdos empujones
de los autobuses repletos,
escaleras, zaguanes  mojados,
aceras levantadas,
corazones a la deriva,
o tan solo
por cruzar la raya de la raya,
y la cruz por la cruz de los mansos.

Caer de bruces
cuando te quitam todas las almohadas.

Cair de bruços

Para cair, só necessitas de alguém
que, ao menos, te roçe.
(sempre encontrarás
quem esteja disposto a ajudar-te).

Cair sobre as calçadas, os charcos,
a cama, o aborrecimento, o amor,
a paixão, os desconcertos cotidianos.

Cair bem ou mal.
entre os absurdos empurrões
dos ônibus repletos,
escadas, corredores molhados,
calçadas levantadas,
corações à deriva,
ou tão só
por cruzar a raia da raia,
e a cruz pela cruz dos mansos.

Cair de bruços
quando te retiram todos os travesseiros.


Ilustração: lapide.zip.net

Saturday, July 19, 2014

Carlos Gargallo


En algún lugar

Carlos Gargallo Martinez

En alguna parte
debe de haber alguién
que robô mi suerte.
Quizás un promotor de viviendas
cuando se llevó ao Brasil mis ahorros.
Talvez mi profesor
Àquél que defendía a las mujeres,
negaba las leyes y conduzia borracho.

Quien sabe si todo es
porque la suerte, era una señora caprichosa
que un dia decidió
cambiar de barrio.

Lo certo es
que solo me quedas tu,
te quiero con toda mi alma,
pero, por favor, calla,
y no ladres más.

Em algum lugar

Em alguma parte
deve haver alguém
que roubou minha sorte.
Quem saber um corretor de casas
quando fugiu para o Brasil com minhas economias.
Talvez meu professor
Aquele que defendia as mulheres,
negava as leis e dirigia embriagado.

Quem sabe se tudo é
porque a sorte, era uma senhora caprichosa
que um dia decidiu
mudar de bairro.

O certo é
que só me sobra tu,
te quero com toda a alma,
porém, por favor, cala, 
e não ladres mais.

Ilustração:  pt.wikihow.com

Thursday, July 17, 2014

Mais um poema de Francisco Luis Bernárdez


Si para recobrar lo recobrado

Francisco Luis Bernárdez

Si para recobrar lo recobrado
debí perder primero lo perdido,
si para conseguir lo conseguido
tuve que soportar lo soportado,

si para estar ahora enamorado
fue menester haber estado herido,
tengo por bien sufrido lo sufrido,
tengo por bien llorado lo llorado.

Porque después de todo he comprobado
que no se goza bien de lo gozado
sino después de haberlo padecido.

Porque después de todo he comprendido
por lo que el árbol tiene de florido
vive de lo que tiene sepultado.

Se para recobrar o recobrado

Se para recobrar o recobrado
se deve perder primeiro o já perdido
se para conseguir o conseguido
tem que se  suportar o suportado,

se para estar enamorado
é mister haver sido ferido,
tenho por bem sofrido o sofrido,
tenho por bem chorado o chorado.

Porque depois de tudo hei comprovado
que não se goza bem do já gozado
senão depois de havê-lo padecido.

Porque depois de tudo compreendido
Pelo que a árvore tem florido
vive do que tem foi já sepultado.


Ilustração: www.oleadajoven.org.ar