Tuesday, April 30, 2013

Sem direção



Que a vida seja feita
de momentos, é um fato,
que não se pode esquecer.
Bem não era isto
que desejava te dizer
e, começar deste modo, estreita
a visão da peça para o ato.
Veja como tudo se perde
quando certo não se mira,
e o alvo também não se mede,
até a poesia se estira.
E era tão simples
o que queria te dizer:   
estou com uma enorme
saudade de você!

Amor antigo


São os prazeres o que nesta vida importa-
Disse a madre superiora-
Com o ar santo
De quem com o vigário
Sabia que alcançara a santidade,
Apesar do pouco que, agora, faziam.
Sabe a idade modera
Mesmo os apetites mais impetuosos
E até a paixão, com tantos anos,
Como o amor,
Vira uma rotina quase sem sabor
Quando se conserva o mesmo par
O fogo sempre há de se acabar.
Porém, era uma mulher teimosa
E trabalhava com tanto ardor
Que o velho cura, mesmo com esforço,
goza
E até finge, se preciso for. 

Poemas mal comportados



Mudança tardia

A vida toda
quebrei ossos,
cortei carnes
e vi o sangue escorrer
como normal.
Usar a faca
sem fazer alarde
na minha profissão é usual.
Cortei mais coisas do que desejava.
Perdi as contas das vidas que sangrei,
mas, a verdade, só agora sei
é que não se deve ser cruel assim.
Foi preciso, porém, um apendicite
e me cortarem sem dó nem piedade
para encarar a triste realidade
de que esta profissão
não é mais pra mim. 

Friday, April 26, 2013

Fazer arte


Fazer arte é, de fato, juntar coisas.
Evidente que este juntar
deve ter sentido
e fazer sentir
ou sonhar ou refletir.
Fazer arte é construir
um significado
com peças que não o tem
para captar uma intenção
que, no mundo, não há
ou alguém pode lhe dar.
Fazer arte
é fazer com um verso
uma nova compreensão do universo
que, fatalmente, será incompreendida.
Fazer arte é reiventar a vida. 

Thursday, April 25, 2013

A Criação


Tem coisas que precisam ser feitas
E não sei explicar porquê
Deve ser,
talvez que haja uma ordem inconsciente
que nos obriga a fazer o que deve ser feito
ou, quem sabe, haja um processo indefinível
para que se crie a beleza possível
e, assim como o acaso,
que faz nascer a flor
também floresça ao acaso
a obra de arte.

Sunday, April 14, 2013

Ainda María Dubón




Dame tu mano

María Dubón

Dormido te quedaste entre mis brazos
mientras yo te besaba.
Debajo de mi cuerpo, tu cuerpo
y junto a tu boca, mi boca.
Tú navegabas entre olas silenciosas,
sereno y suave te alejabas
tal vez para siempre...
Con hambre aún de tus besos,
me acurruqué a tu lado
y te tomé una mano.
Tu mano es cuanto tengo
en esta noche plena de nostalgia.
Brotó el amor, creció, se desparramó.
Acabó el amor y volvió la oscuridad.
Dame tu mano, la noche es
demasiado negra para que no me pierda.
Dame tu mano: es cuanto me queda
de esta farsa.

Dá-me tua mão

Dormindo tu ficastes entre meus braços
enquanto eu te beijava.
Debaixo do meu corpo, o teu corpo
e junto à tua boca, minha boca.
Tu navegavas entre as ondas silenciosas,
sereno e suave te afastavas 
talvez para sempre ...
Com fome ainda de teus beijos,
me aninhei a teu lado
e te tomei a mão.
Tua mão é tudo que quanto tenho
nesta noite cheia de nostalgia.
O amor brotou, cresceu, se derramou.
Acabou o amor e voltou a escuridão.
Dá-me a tua mão, a noite é
demasiado negra para que não me perda.
Dá-me a tua mão: o  tudo quanto me resta
desta farsa.

María Dubón




Ya no te tengo

María Dubón

Estiro los dedos para alcanzarte,
pero ya no puedo ni rozarte.
Tú moras en lugares remotos,
te escapas, me rehuyes.
Eres como una luz sedosa
que nunca puede apresarse.
Tú allí, lejano, inalcanzable.
Y yo siguiendo tu estela en vano.
Todo estuvo en nuestras manos:
el placer, el cariño, la ilusión.
Dos manos entrelazadas.
Dos bocas que se funden.
Dos sueños hechos realidad.
¿Era esto amor?, pregunto.
La soledad no sabe responderme.
La soledad calla y me ignora.
Fuimos tú y yo, partes de un todo.
Sola, sin ti, sin fuerzas ni esperanza
la tristeza me envuelve
como una fría y densa niebla.
Ya no te tengo y me pregunto:
¿Fue amor? ¿El amor es esto?
Un vivir muriendo,
una locura inexplicable,
un desangrarse sin el otro...




Já não te tenho


Estico os dedos para te alcançar,
porém, já não posso roçar-te.
Tu moras em lugares remotos,
tu escapas, foges de mim.
És como uma luz sedosa
que nunca pode apressar-se.
Tu ali, distante, inatingível.
E eu seguindo a tua esteira em vão.
Tudo estava em nossas mãos:
o prazer, o carinho, a ilusão.
Duas mãos entrelaçadas.
Duas bocas que se fundem.
Dois sonhos feito realidade.
Era isto o amor, pergunto?
A solidão não sabe me responder.
A solidão cala e me ignora.
Fomos tu e eu, partes de um todo.
Sozinho, sem ti, sem força ou esperança
a tristeza me envolve
como uma fria e densa névoa.
não te tenho e me pergunto:
Foi amor? O amor é isto?
Um viver morrendo,
uma loucura inexplicável
um sangramento sem o outro ...

Ilustração:  http://gylmusic.blogspot.com.br/

Outra vez Rocío



La palabra "amor" se escribe con las ocho letras de tu nombre  

Llevo tu corazón conmigo
(lo llevo en mi corazón).

E.E.Cummings 


Nunca le he dicho te quiero delante de nadie,
todavía nos da vergüenza la gente.
Aún nos estamos acostumbrando a las manos,
a llevar el mismo paso por la calle,
a decir nosotras.
Todavía nos sonrojamos si alguien nos dice algo:
qué buena pareja hacéis.
Entonces el rubor y el mirar hacia abajo
cogerse torpemente de los dedos
soltarse después,
hacer como que puedo caminar sola
unos pasos por delante.
Aún
no hemos empezado y ya
sé que podría estar aquí
durante toda la vida
escribiéndote esto.

A palavra “amor” se escreve com as oito letras de teu nome.

Levo teu coração comigo
(o levo no meu coração).

E.E.Cummings


Nunca lhe disse que te quero diante de ninguém,
todavia, nos dá vergonha das pessoas.
Ainda estamos nos acostumando com as mãos,
e a manter o mesmo ritmo pela rua,
a dizer nós.
Nós ainda coramos quando alguém diz alguma coisa:
que belo casal fazem.
De novo o rubor e o olhar para baixo
os dedos desajeitadamente a encolher-se
soltando-se depois
a fazer como ao se andar sozinho
dando alguns passos adiante.
Ainda
nós não tinhamos começado
e já sei que poderia estar aqui
durante toda a vida
escrevendo-te isto.

Ilustração: Klimt 

Rocío


Impaciencia 


Rocío

Un bloque de hormigón triste
que por las noches ruge
y un umbral sin puerta
ni felpudo de bienvenida.

Los días que van ardiendo como
un puñado de leña en el bosque
o en unos pulmones
y la sangre bombeando en alguna sien
ajena
siempre ajena.

Las ganas de acabar con todo
de decir basta
hasta luego,
me marcho,
no puedo esperar más
me incendio.

Impaciência

Um bloco de concreto triste
que pelas noites ruge
e um umbral sem porta
sem tapete de bem vindo.

Os dias que vão ardendo como
um monte de lenha na floresta
ou em alguns pulmões
e o sangue bombeando em algum templo
alheio
sempre alheio.

O desejo de acabar com tudo
de dizer basta
até logo,
me vou,
não pode esperar mais
me demito.

Sunday, April 07, 2013

Poema da leveza do ser




I
porque todos os mistérios são inexplicáveis,
não explicaremos nada
nem  o nome das
coisas.
Mesmo que houvesse explicações
para a harmonia, ou o caos,
delas nunca saberemos.

II
a vida é o que é desde seu início.
E nos não evoluímos nada,  
só passamos a colocar nome nas coisas
e criar teorias ou entes
que nos consolam
do milagre inexplicável.

III
e tantas explicações criamos
que a da maça e da serpente,
como uma metáfora de desejo de saber,
é bem melhor que a de mundos transversais,
ou explosões surdas
que jamais saberemos, 
se aconteceram ou não-
boa é qualquer ilusão.

IV
e assim como não sabíamos nada,
e nada nos incomodava,
voltaremos a ser
sem saber se nomes havia
ou há.
Se o mar sem nome,
o céu, as plantas, as frutas,
os peixes e os pássaros
são o que são
ou se voaram.
Todo sonho é simples.

V
e as noites serão longas,
como sempre foram,
e os dias indefiníveis,
as coisas.
serão o que sempre foram
sem nomeações
ou perguntas.
Só a maravilha simples de ser
do modo que são,
ou não.

VI
as coisas permanecerão,
ou talvez não,
do mesmo jeito.
As luzes e as sombras
se alternarão
e a iluminação deve ser
uma ilusão dos olhos-  
quando há olhos para ver-
seja o que for que tenham visto.

VII
vive dentro de nós
o desejo de ser
o que sempre fomos:
eternos.
Sem compreender
que somos
estrangeiros,
passageiros das formas,
meros pontos
de mares e navios
de oceanos intermináveis
e sem fim.

VIII
o Tempo é tudo que temos para o corpo,
esta veste fugaz do efêmero.
Não há o que fazer
nem explicar  
só ser,
como as arvores, as flores,
os animais,
e em cada estação
usar as palavras
para nomear a beleza das coisas. 

IX
Um dia
os nomes não serão nada  
e o verbo
que era pó
ao pó
retornará.
Que o vento o leve,
leve, bem leve,
eterno
em outra forma.

Ilustração: http://antoniosague.blogspot.com.br/2012/05/novamente-insustentavel-leveza-do-ser.html

Georgina Herrera



Morirse es malo

Georgina Herrera

Lo malo de la muerte es ese llanto,
no el de los que se quedan;
a esos, la misma vida
les devuelve la risa poco a poco.
Hablo de los que parten.
Yo pude ver en sueños
lo malo que es morirse.
Te la pasas llorando todo ese tiempo,
todos cruzan llorando por tu lado,
nadie da consuelo
porque nadie lo tiene,
y pasamos sin ver a los que amamos
y ellos igual... sin vernos.
Nada de bienvenidas,
no se hacen preguntas;
la palabra es el llanto.
Llegas
a ese lugar que no se sabe donde
queda ni lo que es,
ligera, como en vuelo,
sin venir de algún sitio
ni andar a otro,
ni estarse en paz.
Llorando.
Así es la muerte:
sin besos, sin abrazos,
sin odio, sin amarse,
llorando todo el tiempo.

Morrer é ruim

Morrer é ruim
O mal da morte é este pranto,
não dos que ficam;
a estes, a mesma vida
os devolve o riso pouco a pouco.
Falo dos que partem.
Eu pude ver nos sonhos
o ruim que é morrer.
Tu passas o tempo todo chorando,
todos cruzam chorando ao teu lado,
ninguém te dá consolo
porque ninguém o tem,
e passamos sem ver aqueles que amamos
e eles igualmente ... não nos veem.
Nada de boas vindas,
não se fazem perguntas;
a palavra é o pranto.
Chegas
a este lugar que não se sabe onde
nem o que é,
ligeiro, como em um voo,
sem vir de lugar algum
nem ir para outro,
nem estar em paz.
Chorando.
Assim é a morte:
sem beijos, sem abraços,
sem ódio, sem amor,
chorando o tempo todo.

Ilustração: aguaparabeber.blogspot.com

Dois poemas de Gloria Posada





Al grito de guerra
ningún varón
se quedará en la aldea.

¿Qué haremos las mujeres
con el amor
mientras los hombres
convocan la muerte?


No soporto
las noches de tormenta
en tiempo de guerra

Ao grito de guerra
nenhum homem
ficou na aldeia.

O que as mulheres farão
com o amor
enquanto os homens
convocam a morte?

Não suporto
as noites de tempestade
em tempos de guerra



Ilustração: contosencantar.blogspot.com




que estando mi amado 
herido
la lluvia se llevará 
la sangre
que sólo a mí
me pertenece

sei
que estando o meu amado
ferido
a chuva levará
o seu sangue
que a mim
pertence



Ilustração: Rede Globo

Luis Cañizal de la Fuente




La hoguera viva de quemar mis sueños

Luis Cañizal de la Fuente

La hoguera viva de quemar mis sueños
me ha dejado el cabello
pintado de pavesas de pavor,
y héme aquí que me cato, una a una,
con dedos de cordura,
las nadas de la nada
mientras espero junto a la ventana que amanezca;
me alumbra mientras tanto
la luz valiente de una brisa anisada
que viene rauda de esa mar de escena
al pie del espectáculo.

A fogueira viva de queimar meus sonhos

A fogueira viva de queimar meus sonhos
me deixou o cabelo
pintado de faíscas de pavor,
e eis-me aqui  que me cato, um a um,
com dedos
os nadas do nada
enquanto espero junto à janela que amanheça;
me ilumina, entretanto, tanto
a luz forte de uma brisa
que vem rápida desse mar de cena
ao pé do espetáculo.