Saturday, June 25, 2011

Jamais serei um poeta como Chico


Sem habilitação

Se for requisito para ser grande poeta
A necessidade de amar uma mulher sem orifícios
Dispenso a láurea de ser grande neste ofício,
Pois, me vale muito mais ser um poeta menor
E aproveitar os orifícios ao redor
Que renunciar a tamanha fonte de prazer.

Ilustração: http://cslqseama.blogspot.com

Poemas mal comportados


Da indispensabilidade dos orifícios

Se há neste mundo de meu Deus
Uma coisa que me parece indispensável,
E, neste caso, dispenso o parecer dos notáveis,
É da necessidade evidente de orifícios.
Entre meus mais prazerosos vícios
Está o de visitar estes lugares
Que tem o gosto, o sabor, os paladares
Dos pratos mais saborosos
E o prazer que deles extraio
É, com certeza, o dos melhores manjares
De cama e mesa.

Ilustração: http://oimpenetravel.blogspot.com/

Thursday, June 23, 2011

Dionísio Ridruejo


Memória

Dionísio Ridruejo

Y resbaló el amor estremecido
por las mudas orillas de tu ausencia.
La noche se hizo cuerpo de tu esencia
y el campo abierto se plegó vencido.

Un ayer de tus labios en mi oído,
una huella sonora, una cadencia,
hizo flor de latidos tu presencia
en el último borde del olvido.

Viniste sobre un aire de amapolas.
Como suspiros estallando rojos,
bajo el ardor de las estrellas plenas,

los labios avanzaron como olas.
Y sumido en el sueño de tus ojos
murió el dolor en las floridas venas.


Memória

E resvalou o amor estremecido
pelas mudas margens de tua ausência.
A noite se fez corpo de tua essência
e o campo aberto se quedou vencido.

Um ontem de teus lábios ao meu ouvido,
uma trilha sonora, uma cadência,
fez-se flor de latidos a tua presença
na fronteira última do esquecimento.

Viestes com um ar de papoulas.
Como suspiros estalando de vermelhos,
sob o calor forte das estrelas plenas,

os lábios que avançaram como ondas.
E sumiram no sono de teus olhos
morreram na dor das veias mais floridas.

Tuesday, June 21, 2011

Ainda Mistral


Yo canto lo que tú amabas, vida mía...

Gabriela Mistral

Yo canto lo que tú amabas, vida mía,
por si te acercas y escuchas, vida mía,
por si te acuerdas del mundo que viviste,
al atardecer yo canto, sombra mía.

Yo no quiero enmudecer, vida mía.
¿Cómo sin mi grito fiel me hallarías?
¿Cuál señal, cuál me declara, vida mía?

Soy la misma que fue tuya, vida mía.
Ni lenta ni trascordada ni perdida.
Acude al anochecer, vida mía;
ven recordando un canto, vida mía,
si la canción reconoces de aprendida
y si mi nombre recuerdas todavía.

Te espero sin plazo ni tiempo.
No temas noche, neblina ni aguacero.
Acude con sendero o sin sendero.
Llámame a donde tú eres, alma mía,
y marcha recto hacia mí, compañero.

Eu canto o que tu amavas, vida minha

Eu canto o que tu amavas, vida minha
por si te acercas e escutas, vida minha,
por si acordas do mundo em que vivestes,
ao entardecer eu canto, sombra minha.

Eu não quero emudecer, vida minha.
Como sem meu grito fiel me falarias?
Qual sinal, me declara, vida minha?

Sou o mesmo que foi teu, vida minha.
Nem lento nem trasacordado ou perdido.
Acode ao anoitecer, vida minha,
vem recordando uma canção, vida minha,
se a canção reconheces de aprendida
e se o meu nome reconheces, todavia.

Te espero sem prazo nem tempo.
Não temas noite, neblina nem aguaceiro.
Acode com caminho ou sem caminho.
Chama-me onde estiveres, alma minha,
e marcha reto até a mim, teu companheiro.

Ilustração: http://diariodekaelle.blogspot.com/2011/03/ressucita-me_28.html

Gabriela Mistral


Desvelada

Gabriela Mistral

Como soy reina y fui mendiga, ahora
vivo en puro temblor de que me dejes,
y te pregunto, pálida, a cada hora:
«¿Estás conmigo aún? ¡Ay, no te alejes!»

Quisiera hacer las marchas sonriendo
y confiando ahora que has venido;
pero hasta en el dormir estoy temiendo
y pregunto entre sueños: «¿No te has ido?»

Desamparada

Como sou rainha e fui mendiga, agora
vivo em puro pavor de que me deixes,
e te pergunto, pálida, a cada hora:
“Estais comigo ainda? Ò, não te alheies”.

Quisera poder marchar sorrindo
e confiando agora que tens vindo;
porém, basta dormir estou temendo
e pergunto entre os sonhos: “Não hás ido?”.

Ilustração: wwwcorazonenfuga.blogspot.com

Monday, June 20, 2011

Melhor pouco do que nada


Presente

Este viver cotidiano,
simples é nosso futuro.
É um presente puro
de nosso vão engano.

É este amor que não temos
e, no entanto, é nosso.
Uma prova do que posso
e de que nós podemos.

Ainda bem menor do que queremos.

É o gosto do prazer


É teu mel, rainha

Hei de suavemente, meu desejo, te sussurrar
No ouvido palavras fortes e ternas
Morder-te toda no colo, nas coxas, pernas
Para sentir toda humidade te molhar.

Hei de te lamber e banhar com a saliva
De um cão para que odeies o que amas
Perdida nas minhas mãos, do prazer cativa.
A rendição externada no rigor de tuas mamas

Que minha língua na tua se intrometa
Como no teu clitóris a espada se arremeta
Como uma faca que encontra sua bainha.

Que, de joelhos, como se implorasse,
Que possas extrair o êxtase maior, rainha
De encher a boca de mel, se mel sobrasse!

Sunday, June 19, 2011

Ainda Anna Inés


¡Oh buen amor!

Anna Inés Bonnin

¡Oh, ternura divina siempre en llamas!
¡Oh buen amor, paciente, generoso!
Llegas a mí, brindándome reposo;
no me impones tu afán, porque me amas.

¡Oh ternura divina! De tus ramas
presiento el florecer maravilloso.
Tú quieres que yo sea fruto hermoso,
cosecha de tu huerto. Me reclamas.

Escucho conmovida la voz tuya.
Me llega triste; no le doy consuelo;
rechazo su dolor y su agonía.

Perdóname, Señor. Cuando destruya
las ansias que me clavan en el suelo,
entonces iré a Ti sin rebeldía.

Oh bom amor!

Oh, ternura divina sempre em chamas!
Oh amor bom, paciente, generoso!
Chegas a mim, brindando-me com repouso;
Não me imponhes teu desejo, porque me amas.

Ternura divina! De tuas ramas
Pressinto um florescer maravilhoso.
Tu queres que eu seja seu fruto formoso,
colheita de tua horta. Me reclamas.

Eu escuto comovido a voz tua .
Me chega triste; não te dou consolo;
Rejeito tua dor e tua agonia.

Perdoe-me, senhora. quando destruir
as ansias que me cravam ao solo,
Então irei a ti, sem rebeldia.

Ilustração: topdelivery.wordpress.com

Anna Inés Bonnin

No me dejes, amor, en la añoranza...

Anna Inés Bonnin

No me dejes, amor, en la añoranza.
Dame, por fin, seguro y alto vuelo.
Desarráigame, fíjame. Recelo
que aquí no lograré paz ni bonanza.

Mi sed inextinguible se abalanza
y busca un ancho río, paralelo
de un mísero y exhausto riachuelo.
¡Amor! Sacia mi sed; dame pujanza

para volcarte en molde sin orillas.
¿Por qué, por qué te ciñes y encastillas
cuando posees fuerza de coloso?

Quisiera derramar esta ternura,
que rebasa mi pecho, en la mesura
de un pecho inmensamente generoso.


Não me deixes, amor, na esperança ...

Não me deixes, amor, na esperança.
Dá-me, por fim, seguro e alto meio.
Desgarra-me, fixa-me. Receio
que aqui não lograrei paz nem bonança.

Minha sede insaciável se balança
e procura um rio largo, paralelo
de um miséro e exausto riachuelo.
Amor! Sacia minha sede, dá-me pujança

para levar-te a um mundo sem fronteiras.
Por quê, por quê te cinges e encastelas
quando possuis a força de um colosso?

Quisera derramar esta ternura
que excede do meu peito, na largura
de um peito imensamente generoso.

Hei um dia de amor e de desejo...


Doçura apimentada

Sei que comerás e beberás pimenta,
Minha bela e comovente criatura,
Na medida em que a quentura
e o ardor em ti são inseparáveis.
É verdade que nem precisavas
Da ajuda inútil de um pimentão
Que o vermelho em ti
É como uma segunda pele,
Como os teus ruivos cabelos
Que parecem feitos
Para embelezar o galope de cavalos ao vento...
Hei de um dia de amor e de desejo
Ser como uma malagueta em ti
Penetrando tão feroz e docemente
Que nos desfaremos como um pó
Em um só, em um só...
E ainda assim de pimenta-
Se isto te contenta!

Ilustração: Nymbopolis

Tuesday, June 14, 2011

É melhor viver assim



É melhor viver assim
Apaixonado e distante
Do que ser o melhor amante
Incompreendido e descontente.

É melhor viver assim
Amando quando se pode
Loucamente enamorado
Que viver mal lado a lado.

É melhor viver assim
Amando quando possível
Que viver qual vegetal
Todo dia sempre igual.

É melhor viver assim
Sendo feliz vez por outra,
Mas, com este amor tão feroz
Que sobrevive em nós

Fonte: http://poesiasdepietra.blogspot.com/

Das certezas do caminho


Convencido

Hei de dizer
Com prazer mal disfarçado
Ainda que me deixes amanhã:
“O túnel da vida atravessei
e sei,
se alguma coisa sei,
que o amor que tive tão pouco
me compensou dos uivos dos coiotes
e dos corvos que me rodeiam”.
E nada mais será preciso.

Ilustração: http://catarsispopayan.blogspot.com/

Sunday, June 12, 2011

Emily Dickinson


Presentiment is that long shadow on the lawn

Emily Dickinson


Presentiment is that long shadow on the lawn
Indicative that suns go down;
The notice to the startled grass
That darkness is about to pass.

O pressentimento é como uma longa sombra sobre o gramado

O pressentimento é como uma longa sombra sobre o gramado
Indicativo de que sol vem para baixo;
O aviso para a grama assustada
Que a escuridão está prestes a passar.

Ilustração: http://www.gramalinda.com.br/imagens/gramas/grama-esmeralda.jpg

Borges mais uma vez


El enamorado

Jorge Luiz Borges

Lunas, marfiles, instrumentos, rosas,
lámparas y la línea de Durero,
las nueve cifras y el cambiante cero,
debo fingir que existen esas cosas.
Debo fingir que en el pasado fueron
Persépolis y Roma y que una arena
sutil midió la suerte de la almena
que los siglos de hierro deshicieron.
Debo fingir las armas y la pira
de la epopeya y los pesados mares
que roen de la tierra los pilares.
Debo fingir que hay otros. Es mentira.
Sólo tú eres. Tú, mi desventura
y mi ventura, inagotable y pura.

O enamorado

Luas, marfins, ferramentas, rosas,
lâmpadas e as linhas de Dürer
os nove números e o cambiante zero,
devo fingir que existem estas coisas.
Devo fingir que no passado foram
Persépolis e Roma e que uma areia
sutil mediu a sorte da ameia
que os séculos de ferro desfizeram.
Devo fingir as armas e a pira
da epopéia e dos pesados mares
que roem da terra os pilares.
Devo fingir que existem outros. É uma mentira.
Só tu és. Tu, minha desventura
e minha felicidade, inesgotável e pura.

Joan Salvat-Papasseit


LA CASA QUE VULL

Joan Salvat-Papasseit

La casa que vull,
que la mar la vegi
i uns arbres amb fruit
que me la festegin.

Que hi dugui un camí
lluent de rosada,
no molt lluny dels pins
que la pluja amainen.

Per si em cal repòs
que la lluna hi vingui;
i quan surti el sol
que el bon dia em digui.

Que al temps de l'estiu
niui l'oreneta
al blanc de calç ric
del porxo amb abelles.

Oint la cançó
del pagès que cava;
amb la salabror
de la marinada.

Que es guaiti ciutat
des de la finestra,
i es sentin els clams
de guerra o de festa:
per ser-hi tot prest
si arriba una gesta.

A casa que quero

A casa que quero
É bem em frente ao mar,
Com árvores frutíferas,
Para me festejar.

Que tenha um caminho
Reluzente de gotas,
Não muito longe dos pinhos
Que amenizem a chuva

Que não me falte o repouso
De uma luz da lua suave e macia
E que, quando venha o sol,
Me diga, feliz, bom dia.

Que, nos tempos de estio,
Venham cantar os passarinhos
No branco de cal de um fino fio
Em contraste com o tom das abelhas.

Que escutando a canção
Do lavrador que cava
Sinta o gosto salgado
Que vem da brisa do mar.

Que se vigie a cidade
Desd’as janelas,
E se sinta os clamores
De guerra ou de festa:
Para se estar preparado
Que a vida é só esta!

Friday, June 10, 2011

Paolo Ruffilli


L’OGGETTO DEL PENSIERO

Paolo Ruffilli


E’ un’astrazione
e non un fatto:
l’oggetto
di un pensiero
un concetto
più che un sentimento
uno stato desiderato
inseguito dalla mente
eppure insoddisfatto
perduto prima
di averlo conquistato
e, dunque, mai goduto
(sempre sul punto
di essere... ) creduto
e delirato:
il senso del piacere.

O objeto do pensar


E uma abstração
e não um fato;
o objeto
de um pensar
um conceito
mais que um sentimento
um estado desejado
perseguido a partir da mente
e por isto insatisfeito
perdido antes
de ser conquistado
e, portanto, não gozado
(sempre próximo
de ser ... ) creio
e deliro:
o senso do prazer.

Wednesday, June 08, 2011

Poemas mal comportados


Índia

Ela chorava, ela gemia
E reclamava
Que bom mesmo é se doía
E mais pedia
E mais queria
Se descabelava, me mordia,
se mordia,
Queria mais, ela sempre mais queria,
Fosse noite ou fosse dia,
Me procurava e cada vez era uma agonia
E nunca que se contentava.
Me beliscava
E sempre ria
E me dizia:
-Eu sou é índia. Gosto é de selvageria.

Tuesday, June 07, 2011

Sir Walter Raleigh


Life

Sir Walter Raleigh


What is our life? A play of passion,
Our mirth the music of division,
Our mother's wombs the tiring-houses be,
Where we are dressed for this short comedy.
Heaven the judicious sharp spectator is,
That sits and marks still who doth act amiss.
Our graves that hide us from the setting sun
Are like drawn curtains when the play is done.
Thus march we, playing, to our latest rest,
Only we die in earnest, that's no jest.

Vida

O que é a nossa vida? Um jogo de paixão,
Nossa alegria uma divisão da música,
Os ventres das mães são casas de descanso,
Onde estamos vestidos para uma curta comédia.
O céu, um espectador judicioso e sagaz é,
Que se senta e marca ainda ao acaso o ato errado.
Nossas covas, que nos escondem do sol,
São como cortinas fechadas quando o jogo é feito.
Assim caminhamos nós, brincando, para o nosso último descanso,
Sómente que morremos de verdade, isto não é brincadeira.

Sunday, June 05, 2011

Todo amor é dor


Arquiteta moderna

Talvez no mundo lá fora
Outra mulher seja a minha,
Porém, nos meus pensamentos
Será que tu adivinhas
Quem é que me abraça o corpo
No leito me faz carinho?
Quem é que beija meu rosto,
Quem é que morde meu peito?
Quem é que me fala doce
Sobre um mundo já esquecido?
- És tu, dona dos meus olhos,
Senhora dos meus sentidos
Que docemente na cama
Me honra com seus gemidos
E que ao se perder me perde
De uma forma tão concreta
Que enche o mundo de magia
E de poesia, uma reta
Fazendo castelos de sonhos
Onde só há parca areia.
Tu és uma aranha melosa
Que faz um edifício ou uma teia
Com traços e perfume de rosas
E meu coração incendeia
Tornando a vida formosa.

Ilustração: http://www.amordealmas.com/2010/08/o-reconhecimento-medico-da-dor-de-amor.html

Jogos eróticos ou recordações juvenis


Brincar de amor

Embora a dureza da madeira tenha,
suave pode ser e, com jeito, vou
prender-te e te prensar, e todo o meu amor
e desejo, mais forte e teso que amarras em catapultas,
ou as cordas da guitarra em ti, eu vou,
meter até a sétima costela
até que sintas, minha bela,
o prazer enorme de gemer de amor.

Pablo de Rokha


Nocturno muy obscuro

Pablo de Rokha

La noche inmensa no resuena, estalla
como un bramido colosal, retumba
con un tremendo estruendo de batalla
que saliera de adentro de una tumba.

Fué un pedazo de espanto que restalla
o una convicción que se derrumba,
una doncella a quien violó un canalla
y una montura en una catacumba.

Calla con un lenguaje de volcanes,
como si un escuadrón de capitanes
galopara en caballos de basalto.

Porque el silencio es tan infinito
tan espantoso y grande como un grito
que cae degollado desde lo alto.


Noturno muito obscuro

A noite imensa não ressoa, estala
como um rugido colossal, retumba
com um tremendo estrondo de batalha
sair sairá de dentro de uma tumba.

Foi um pedaço de espanto que resvala
ou uma convicção que se derrama,
uma donzela a quem violou um canalha
e um monte sobre uma catacumba.

Cala com uma linguagem de vulcões
como se um esquadrão de capitães
galopando em cavalos de basalto.

Porque o silêncio é tão infinito
tão espantoso e grande como um grito
que cai degolado lá do alto.

Ilustração: http://leonardo-gothic-compositor.blogspot.com/2010/04/poema-goticofalsas-esperancas.html

Saturday, June 04, 2011

Ilumina-nos senhora


Se teus lábios não sabem o que dizer
me dá de teus olhos a alegria,
e enche o vazio das minhas mãos
com a tua pele tão macia.

Faz do que sonhei a água,
de uma realidade em que só (sou) rio.
Não cabe em quem colhe a rosa mágoa.
Usa-me, acende a chama, sou o teu pavio!

Poemas mal comportados


Nem de todo errado

Eu sempre errei mais do que devia..
E sempre tive a fantasia
de que quando o amor chegasse
não poderia errar.
Eu sei, meu bem, que errei de novo
e que, por mais que tente, tornarei a errar.
Não, não vou pedir para me perdoar.
Sei que você já amou homens perfeitos
e maravilhosos.
Pessoas muito mais capazes
de ter dar muito mais do que eu posso dar
e sem esta capacidade assim de errar tanto
e continuar a errar.
Mas, com todos os meus erros,
posso perguntar:
-Será que não é por ser tão errado
que sou tão feliz e apaixonado?

Ilustração: http://carlossimo.arteblog.com.br/15/

Friday, June 03, 2011

Pedro Salinas


Pensarte es tenerte

Pedro Salinas

¡Cómo me dejas que te piense!
Pensar en ti no lo hago solo, yo.
Pensar en ti es tenerte,
como el desnudo cuerpo ante los besos,
toda ante mí, entregada.
Siento cómo te das a mi memoria,
cómo te rindes al pensar ardiente,
tu gran consentimiento en la distancia,
y más que consentir, más que entregarte,
me ayudas, vienes hasta mí, me enseñas
recuerdos en escorzo, me haces señas
con las delicias, vivas, del pasado,
invitándome.
Me dices desde allá
que hagamos lo que quiero
-unirnos- al pensarte,
y entramos por el beso que me abres,
y pensamos en ti, los dos, yo solo.

Pensar em ti é te ter

Como me deixas que te pense!
Pensar em ti não faço sozinho, eu.
Pensar em ti é te ter,
como o corpo nu ante os meus beijos,
tudo para mim, entregue.
Sinto como se tu me dás a minha memória
como te rendes ao pensar ardente
o teu grande consentimento na distância,
e mais do que consentir, do que entregar,
me ajudas, vindo até mim, me ensinar
memórias sem esforço, a me fazer sinais
com as delícias, vivas, do passado,
convidativo.
Me dizes desde lá
que façamos o que eu quero
-unirmo-nos- em pensar-te,
e entramos pelo beijo que me abres,
e pensamos em ti, os dois, eu só.

Ilustração: http://pryibarros.blogspot.com/2011_02_01_archive.html

Antonio Machado


Noite de verano

Antonio Machado

Es una hermosa noche de verano.
Tienen las altas casas
abiertos los balcones
del viejo pueblo a la anchurosa plaza.
En el amplio rectángulo desierto,
bancos de piedra, evónimos y acacias
simétricos dibujan
sus negras sombras en la arena blanca.
En el cénit, la luna, y en la torre,
la esfera del reloj iluminada.
Yo en este viejo pueblo paseando
solo, como un fantasma.

Noite de verão

Numa formosa noite de verão
tinham as casas altas
abertas suas varandas,
do velho povoado a espaçosa praça.
No amplo retângulo deserto,
bancos de pedras, evônimos e acácias
simétricos desenham
suas negras sombras na areia branca.
No zênite, a lua, e na torre,
a esfera do relógio iluminada.
Eu neste velho povoado passeando
só, como um fantasma.

Ilustração: http://www.bhkleinsonhosprojetos.com.br/barinas---m-rida.htm
Pensarte es tenerte

Neruda por te querer...


Soneto LXVI

Pablo Neruda

No te quiero sino porque te quiero
y de quererte a no quererte llego
y de esperarte cuando no te espero
pasa mi corazón del frío al fuego.

Te quiero sólo porque a ti te quiero,
te odio sin fin, y odiándote te ruego,
y la medida de mi amor viajero
es no verte y amarte como un ciego.

Tal vez consumirá la luz de enero,
su rayo cruel, mi corazón entero,
robándome la llave del sosiego.

En esta historia sólo yo me muero
y moriré de amor porque te quiero,
porque te quiero, amor, a sangre y fuego.

Soneto LXVI

Não te quero senão porque te quero
e de querer-te a não querer-te chego
e de esperar-te quando não te espero
pula meu coração do frio ao fogo.

Te quero só porque é a ti que quero,
te odeio sem fim e a odiar te rogo,
e a medida de meu amor passageiro
é não te ver e te amar como um cego.

Talvez consumirá a luz de algum janeiro,
com seu raio cruel, meu coração inteiro,
roubando-me a chave do sossego.

Nesta história só sou eu quem morro
e morrerei de amor porque te quero,
porque te quero, amor, a sangue e fogo.

Ilustração: http://dembiskipoesias.blogspot.com/2010/01/que-fogo-e-este.html

Poemas mal comportados


Homem objeto

Tua delicadeza é feita de unhas afiadas
que me arranham, cortam e me desenham
o corpo com linhas e riscos obscuros
no teu abraço de virgem e de serpente.

Nem tens cuidado com a pele delicada
ou pensas que as forças me acaba;
me sugas com a soberba dos deuses
e a voracidade das piores feras.

Já eras-me dizes- enquanto as mãos
febris querem extrair mais de onde não há
e a língua e os dentes se põem a passear
com um sorriso de quem há de tirar a última gota.

E só tenho como última lembrança antes do sono
o calor do teu desejo apaixonado e raivoso
se satisfazendo como pode sobre meu ser inerte
que adormece feliz de ser teu objeto.

Wednesday, June 01, 2011

Antonio Gala


Voy a hacerte feliz. Sufrirás tanto

Antonio Gala

Voy a hacerte feliz. Sufrirás tanto
que le pondrás mi nombre a la tristeza.
Mal contrastada, en tu balanza empieza
la caricia a valer menos que el llanto.

Cuánto me vas a enriquecer y cuánto
te vas a avergonzar de tu pobreza,
cuando aprendas -a solas- qué belleza
tiene la cara amarga del encanto.

Para ser tan feliz como yo he sido,
besa la espina, tiembla ante la rosa,
bendice con el labio malherido,

juégate entero contra cualquier cosa.
Yo entero me jugué. Ya me he perdido.
Mira si mi venganza es generosa.

Eu vou te fazer feliz. Sofrerás tanto

Eu vou te fazer feliz. Sofrerás tanto
que colocarás meu nome na tristeza.
Na tua balança mal ajustada começa
a carícia a valer menos que o pranto.

Quanto me vais enriquecer e quanto
tu vais te envergonhar de tua pobreza,
quando aprenderes- a sós- que a beleza
tem o rosto amargo do encanto.

Para ser feliz como tenho sido,
beijo o espinho, e tremo ante a rosa,
abençoado com o lábio ferido,

Joga-te inteiro contra qualquer coisa.
Eu inteiro me joguei. E já estou perdido.
Veja como minha vingança é generosa.

Ilustração: http://danielleosantos.blogspot.com/

Sara Huber


Nunca

Sara Huber

Nunca, nunca otros labios te besarán así;
ni unos ojos habrá que lloren de amor,
como he llorado, ni manos que, temblando,
se acerquen hasta ti con la ternura inmensa
con que yo me he acercado.
Ni corazón más claro ni dolor más fecundo
hallará la arrogancia de tu frente cansada,
ni un decir más sencillo ni un sentir más profundo
encontrarás de nuevo en la larga jornada.
Y cuando yo haya muerto y camines doliente,
evocando un nombre ante cada mujer,
como yo te llamaba, me llamarás, ferviente.
¡Y ya no podrá ser!

Nunca

Nunca, nunca outros lábios te beijaram assim;
nem olhos terão que chorem de amor
como chorei, nem mãos que tremendo,
se aproximem de ti com a ternura imensa
com as quais tenho te cercado.
Nem coração mais claro nem dor mais fecunda
encontrará a arrogância de teu rosto cansado
nem um dizer mais sensível nem um sentir mais profundo
encontraras novamente na longa jornada.
E quando estiver morto e caminhes chorosa ,
evocando um nome ante cada mulher,
como eu te chamava, hás de me chamar com fervor.
E já não poderá ser!

Ilustração: do blog "Confissões Insanas"