Monday, September 30, 2013

Gastón Baquero


SONETO PARA NO MORIRME

Gastón Baquero

Escribiré un soneto que le oponga a mi muerte
un muro construido de tan recia manera,
que pasará lo débil y pasará lo fuerte
y quedará mi nombre igual que si viviera.

Como un niño que rueda de una alta escalera
descenderá mi cuerpo al seno de la muerte.
Mi cuerpo, no mi nombre; mi esencia verdadera
se inscrustará en el muro de mi soneto fuerte…

De súbito comprendo que ni ahora ni luego
arrancaré mi nombre al merecido olvido.
Yo no podré librarle de las garras del fuego,

no podré levantarle del polvo en que ha caído.
No he de ser otra cosa que un sofocado ruego,
un soneto inservible y un muro destruido.

De El álamo rojo en la ventana (1935-1942)

Soneto para não morrer

Escreverei um soneto que se oponha à minha morte
numa parede construída resistente de tal maneira,
que passará o fraco e passará o forte
e ficará  meu nome como se vivera.

Como um menino que roda de uma alta corredeira
descerá pelo meu corpo o seio da morte.
Meu corpo, não meu nome, a minha essência verdadeira
se incrustará na parede de meu soneto forte ...

De repente, eu percebo nem agora nem logo
arrancarei  meu nome do esquecimento merecido.
Eu não poderei livrá-lo das garras do fogo,

não poderei levantá-lo da poeira em que há caído.
Não hei de ser outra coisa que um abafado rogo,
um soneto inservível e um muro destruído.

De “O álamo vermelho na janela” (1935-1942)
 



 

Carlos Barral


 


Exterior del gato
 
Carlos Barral

 Ser el gato,
 hacer un esfuerzo y ser el gato
 transitorio del alba y en la cumbre
 del mundo transitado, y presumible.

 Ser por fuera del gato todo el gato posible
 después del atigrado resplandor de la noche
 última y la pasmada contracción felina.
 Comenzar en el zinc al borde de las uñas,
 en el cielo que escurre el canalón vacío
 y en la flor espectral que crece entre las rejas.

 El gato que despierta paso a paso las viejas
 miserables espaldas de fábrica baldada
 y el aire algodonoso de las ramas al suelo
 y la tierra afeitada del muro hasta el camino
 y hasta el bidón sonoro que su peso estremece.

 Ser gato por fuera y tan cabal. Parece
 que el mundo quepa dentro de esta pausa ondulada
 precisa como un astro, que te llama
 y a quien no negarás el pararte desnuda
 donde nadie hubiera imaginado

 aurora sobre el muro desconchado,
 alba rosada sobre el gris de un gato,
 con las puntas nocturnas de los pechos
 apuntando a esos hombres cavilosos
 que llegan tan despacio, pisando en las afueras.

 
 O exterior do gato

  Ser o gato,
  fazer um esforço para ser o gato
  transitório da madrugada e na cimeira
  do  mundo agitado e presumivel.

  Ser por fora  do gato todo o gato possível
  depois do tigrado resplendor da noite
  ultima e atorodada contração felina.
  Comecar na borda das unhas de zinco
  no céu que escurece e no cano vazio
  e na flor espectral que cresce entre as barras.

  O gato que desperta passo a passo as velhos
  e miseráveis ​​costados da falida fábrica
  e o ar felpudo dos ramos do solo
  e  a terra raspada  do muro até o caminho
  e até o tambor sonoro que ao seu peso estremece.

  Ser gato por fora de forma cabal. Parece
  que o mundo se encaixa dentro desta pausa ondulada
  precisamente como uma estrela, que te chama
  e que não negas a ficar desnuda
  onde ninguém teria imaginado

  aurora sobre o muro desabado
  madrugada rosa contra o cinza de um gato,
  com as pontas noturans dos seios
  apontando para esses homens cavernosos
  vindo tão devagar, pisando lá fora.
Ilustração: lili-gata.blogspot.com 

Carlos Marzal de volta


El jugador

 Carlos Marzal

 Habitaba un infierno íntimo y clausurado,
 sin por ello dar muestras de enojo y contrición.
 En el club le envidiaban el temple de sus nervios
 y el supuesto calor de una hermosa muchacha
 cariñosa en exceso para ser su sobrina.
 Nunca le vi aplaudir carambolas ajenas
 ni prestar atención al halago del público.
 No se le conocía un oficio habitual,
 y a veces lo supuse viviendo en los billares,
 como una pieza más imprescindible al juego.
 Le oí decir hastiado un día a la muchacha:
 Sufría en ocasiones, cuando el juego importaba.
 Ahora no importa el juego. Tampoco el sufrimiento.
 Pero siento nostalgia de mi antigua desdicha.
 Al verlo recortado contra la oscuridad,
 en mangas de camisa, sosteniendo su taco,
 lo creí en ocasiones cifra de cualquier vida.
 Hoy rechazo, por falsa, la clara asociación:
 no siempre la existencia es noble como el juego,
 y hay siempre jugadores más nobles que la vida.

O jogador

Habitava um inferno íntimo e fechado,
sem poristo dar mostras de raiva e de arrependimento.
No clube invejavam a tempera de seus nervos
e o suposto calor de uma bela mulher
carinhosa em excesso para ser sua sobrinha.
Nunca o vi aplaudir carambolas alheias
nem prestar atenção ao louvor do público.
Não se lhe conhecia um ofício habitual
 e, às vezes, o supus vivendo nos bilhares,
como mais uma peça essencial ao jogo.
O ouvi dizer entediado um dia a uma mulher:
que sofreu, por vezes, quando o jogo importava.
Agora, não importa o jogo. Tampouco o sofrimento.
Porém, sinto saudades da minha velha desdita.
Ao vê-lo silhueta recortada contra a escuridão,
em mangas de camisa, segurando seu taco,
Às vezes o acreditei uma figura de qualquer vida.
Hoje rechaço, por falsa, a clara associação:
a  existência nem sempre é nobre como um jogo,
e há sempre jogadores mais nobres do que a vida.

 Ilustração:  www.falandodeviagem.com.br - 

 

 

Saturday, September 28, 2013

Iluminação pagã


Hoje, meu amor, senti

Que toda a razão perdi

E que razão tem você.

Tudo que faço, fiz, escrevi,

mesmo sem saber,

era feito para você.
Soube assim por súbita iluminação,

ao ver que todo o resto era ilusão,

e cantei “Submarino amarelo”,
com a falta de senso e a ousadia,

num inglês  de cantor de churrascaria,
numa alegria deslavada

de mulher que apanha e gosta da pancada
e fiz este poema,
que, como todos os outros, é para você

apenas para dizer que o mundo é belo!

Ilustração: outubro.blogspot.com 

Saturday, September 21, 2013

Poeminha sobre os poemas que não são teus


Ah! Meu amor gosto até de você reclamar
de poesias que nada tem a haver contigo.
O passado não traz mais nenhum perigo,
aliás, deves ter razão.
É claro que não devia ter amado
as mulheres que amei
nem feito as poesias que fiz.
Que importa, porém, todo o passado,
ainda que trazido ao presente,
se vale muito mais o amor da gente
e se não era feliz?
Concordo que deveria ter ficado
guardado
esperando você.
Mas, assim é a vida, bela e cruel,
seja no dia à dia,
ou no papel,
nos obriga a viver.

Ilustração:

Poema da desilusão do ceguinho


Você querer me orientar
É como um cego recriminar um caolho
por só ter um olho.
Devo esclarecer
que, em termos de visão,
a sua é mais que perfeita:
não há dúvida que vives da ilusão de ver
na mais completa escuridão.

Ilustração: tiasdaescolinha.blogspot.com

Carlos Marzal


Invocación

Carlos Marzal

Que otras vidas más hondas sofoquen mi nostalgia
y que el don del valor me sea concedido.
Que el amor se engrandezca y sea fiel y dure
y que ajenos paisajes impidan la tristeza.
Que el olvido y la muerte, que el tiempo y el dolor
formen por esta vez en el bando vencido.
Que las luces se apaguen, y en la noche del cine
una breve mentira nos convierta en más vivos.

Invocação

Que outras vidas mais profundas sufoquem minha nostalgia
e  que o dom do  valor me seja concedido.
Que o amor se engrandeça, que seja fiel e dure
que alheias paisagens impeçam a tristeza.
Que o esquecimento e a morte, que o tempo e a dor
formem, por esta vez, no bando dos vencidos.
Que as luzes se apaguem, e na noite do cinema
uma breve mentira nos torne mais vivos.

De volta Silvina Ocampo

                                                                                          
Variedad de impaciencia

 Silvina Ocampo

¡Que pronto llegue lo horrible!
¡Que lentamente llegue lo maravilloso!

Variedade de impaciência

Que logo chegue o horrível!
Que lentamente chegue o maravilhoso!

Ilustração: lituraterre.com  

Fria no frio

O dia estava frio.
  Muito frio.
E, sem você, nem o palito de fósforo
                                                     quis acender.



Ilustração:  andreaferreiralima.blogspot.com                

Tuesday, September 17, 2013

Carlos Barral


 


 
Y tú amor mío...

Carlos Barral

 Y tú amor mío, ¿agradeces conmigo
 las generosas ocasiones que la mar
 nos deparaba de estar juntos? ¿Tú te acuerdas,
 casi en el tacto, como yo,
 de la caricia intranquila entre dos maniobras,
 del temblor de tus pechos
 en la camisa abierta cara al viento?
 
 Y de las tardes sosegadas,
 cuando la vela débil como un moribundo
 nos devolvía a casa muy despacio...
 Éramos como huéspedes de la libertad,
 tal vez demasiado hermosa.

 El azul de la tarde,
 las húmedas violetas que oscurecían el aire
 se abrían
 y volvían a cerrarse tras nosotros
 como la puerta de una habitación
 por la que no nos hubiéramos
 atrevido a preguntar.

 Y casi
 nos bastaba un ligero contacto,
 un distraído cogerte por los hombros
 y sentir tu cabeza abandonada,
 mientras alrededor se hacía triste
 y allá en tierra, en la penumbra
 parpadeaban las primeras luces.

E tu, amor meu....

E tu, amor meu amor, agradeces comigo
as generosas ocasiões em que ao mar
nos deparávamos de estarmos juntos? Tu te lembras,
quase ao tato, como eu,
das carícias inquieto entre duas manobras,
dos tremor de teus seios
na camisa aberta ao vento?

E das noites calmas,
quando a vela débil como um moribundo
nos devolvia a casa muito devagar.....
Éramos como hóspedes da liberdade,
talvez demasiada formosa.
 
O azul da tarde,
as úmidas violetas que escureciam o ar
e se abriam
e voltavam a se fechar atrás de nós
como a porta de um quarto
para o qual não havíamos
nos atrevido a perguntar.

e quase
no bastava um ligeiro contato,
um tocar-te distraído dos ombros
e sentir tua cabeça abandonada,
enquanto ao redor tudo se fazia triste
e, pela terra, na penumbra
cintilavam as primeiras luzes.
 
Ilustração: depoisdosquinze.com

Silvina Ocampo


 
Castigo

Silvina Ocampo

Transformará Minerva tus cabellos

en serpientes y un día al contemplarte

como en un templo oscuro, con destellos,

seré de piedra, para amarte.

 
Castigo

Transformará Minerva teus cabelos

Em serpentes e um dia ao contemplar-te

Com um templo escuro, com relâmpagos,

Serei de pedra, para amar-te.
 

Incoerência feliz



A coerência é muito boa
quando se trata de lógica.
A vida, porém, é diferente.
Fico muito contente
que, até que enfim, entendeu:
o teu amor sempre foi meu!

Ilustração: de-mim.blogspot.com

De novo Regina José Galindo


Soy un lugar común

 Regina José Galindo

 Soy un lugar común
 como el eco de las voces
 el rostro de la luna.

  Tengo dos tetas
            -diminutas-
 la nariz oblonga
 la estatura del pueblo.

 Miope
 de lengua vulgar,
 nalgas caídas,
 piel naranja.

 Me sitúo frente al espejo
 y me masturbo.

 Soy mujer
 la más común
 entre las comunes.
 
Sou um lugar comum

Sou um lugar comum
como o eco das vozes
a face da lua.

Tenho duas tetas
         -diminutas-
oblongo nariz
a estatura do povo.

Míope
de linguagem vulgar,
nádegas caídas
pele de laranja.

Me coloco diante do espelho
e me masturbo.

Sou mulher
a mais comum
entre as comuns.

 

Poemas Mal comportados

 

Poeminha da mulher generosa

Eu já dei certo.
Eu já dei errado.
Mas, não me sinto culpada.
Desde pequena sabia que devia dar:
fui sempre uma mulher muito dada!

Ilustração: comoassimcolega.blogspot.com

Regina José Galindo




La muerte no tiene metáfora
es simple y clara

dejás de funcionar
te quedás tieso en medio del todo

el reloj
-mientras-
sigue funcionando

A morte não tem metáfora
A morte não tem metáfora
é simples e clara
 
deixas de funcionar
te encontras teso no meio de tudo

 o relógio
-entretanto-
segue funcionando

Saturday, September 14, 2013

Choro de amor



 
Eu sei que, às vezes, você me ilude
falando o que desejo ouvir.
Mas, cada um que se cuide
com sua forma de sentir.
Amar é sempre um perigo,
é sempre uma perdição,
um sinal vermelho
piscando no coração.
Não sou dos que temem o espelho
Nem de fugir do que persigo
E cada passo que se dá
tem imprevistas ciladas.
Quem gosta de bater
tem que se saber levar pancadas.
O importante é não cair
e, se cair, levantar.
Que nesta luta do amor
só quem sabe sofrer
é capaz de amar.

Ilustração: jessybriguenti.blogspot.com

 

 

 

Poemas mal comportados

Dias melhores virão

Eu mamarei nas tuas gordas tetas
(E hei de mamar, pois, Jesus é forte!)
com a gulodice de um recém-nascido.
E mamarei e mamarei de novo
até saciar tanto desejo
e entenderes que tenho que dar aquele beijo
no canto mais gostoso que tu sabes
onde hei de realizar os meus mais doces sonhos
num futuro, muito breve, abençoado e risonho.

Unamuno de volta


EL CUERPO CANTA

 Miguel de Unamuno

 El cuerpo canta;
 la sangre aúlla;
 la tierra charla;
 la mar murmura;
 el cielo calla
 y el hombre escucha

O corpo canta

O corpo canta;
o sangue uiva;
a terra fala;
o mar murmura;
o céu se cala
e o homem escuta.

Ilustração: stonebones.wordpress.com

 

 

O que se faz por amor


Choro rasgado

A minha saudade era tanta
que me comportei
como se fosse uma anta
te procurando por locais
onde jamais poderias estar.
Te cacei de bar em bar,
de boteco em boteco,
sem que o tico e o teco
conseguissem se encontrar.
Não conseguia parar
e, embriagado, me encontrei
no cemitério.
Chorei! Chorei, na cova
de quem nem sei,
por seres, para mim, um mistério,
e teres me deixado,
apesar de apenas quereres
o que seria ideal:
largar minha família
para ficar a teu dispor
para me lamberes
e morrer de fazer amor.   

Ilustração: versoeprosa.wordpress.com

Miguel de Unamuno



Miguel de Unamuno
 
Y ¿qué es eso del Infierno?
me dirás.
Es el revés de lo eterno,
nada más.

Que yacer en el olvido
del Señor
es el infierno temido
del Amor.

E que é isto?
E o que é isto do inferno?
me dirás.
É o revés do eterno,
nada mais.

Que fazer no esquecimento
do Senhor
é o inferno temido
do amor.

Ilustração: alquimistadosaber.blogspot.com

 

Wednesday, September 11, 2013

Contrastes


Estou tão cansado da falta de normalidade
Na anormalidade em que vivo.
É estranho porque jamais quis ser normal.
Você não!
A normalidade está no seu coração
Entranhada
Como uma ilusão guardada a sete chaves.
Embora finja não querer o que quer-
O que é próprio da mulher.
E, sem mesmo percebermos,
Chegamos assim neste ponto chinfrim:
Eu, que não quero ser normal,
Me comporto como se fosse
E você, que sempre normal quis ser,
De forma tão doce se comporta
Como se o seu normal fosse ser anormal.
E a vida segue seu ritmo normal
Anormalmente.


Ilustração: oolimpoenlouqueceu.blogspot.com

Tuesday, September 10, 2013

De volta para o futuro


E, no fim, quando a tarefa parece completa
eis que as letras todas fogem.
Na tela, contrariando todos os conhecimentos
                 e esforços, se fixa o vazio
expresso numa mensagem que não entendo.
Depois de tentar todas as teclas e truques
o inevitável reset traz de volta
a marca triunfante de garantia da Windows
e, como comprovante da qualidade,
o computador restaura o texto.
É a glória! Como toda glória efemêra,
pois, logo falta energia.

(Do livro "A alquimia da vida")

Operação


Não há remédios que curem
a dor de tantas feridas
feitas de espadas velozes
nos combates pela vida.
Nem adianta ouvir vozes.

Aberto o meu coração
derrama dor e lamentos
se desmancha em sentimentos
que nem sei para onde vão.
Todos são folhas ao vento.

Porém, em tudo que existe
a dor está sempre presente.
Não sei se a vida é que é triste
ou se o coração da gente-
sempre a dúvida persiste.

(De A Alquimia da vida, 1999).

Monday, September 09, 2013

Um olhar novo sobre o mundo




Hoje, agora, vejo as coisas mais transparentes.
De idéias quase não mudei, minha gente,
Mas, os óculos são novos; novas, as lentes!

Ilustração: http://confeitariacrista.blogspot.com.br

Tuesday, September 03, 2013

Poema da leveza do ser




I
porque todos os mistérios são inexplicáveis,
não explicaremos nada
nem  o nome das
coisas.
Mesmo que houvesse explicações
para a harmonia, ou o caos,
delas nunca saberemos.

II

a vida é o que é desde seu início.
E nos não evoluímos nada,  
só passamos a colocar nome nas coisas
e criar teorias ou entes
que nos consolam
do milagre inexplicável.

III

e tantas explicações criamos
que a da maça e da serpente,
como uma metáfora de desejo de saber,
é bem melhor que a de mundos transversais,
ou explosões surdas
que jamais saberemos, 
se aconteceram ou não-
boa é qualquer ilusão.

IV

e assim como não sabíamos nada,
e nada nos incomodava,
voltaremos a ser
sem saber se nomes havia
ou há.
Se o mar sem nome,
o céu, as plantas, as frutas,
os peixes e os pássaros
são o que são
ou se voaram.
Todo sonho é simples.

V
e as noites serão longas,
como sempre foram,
e os dias indefiníveis,
as coisas.
serão o que sempre foram
sem nomeações
ou perguntas.
Só a maravilha simples de ser
do modo que são,
ou não.

VI

as coisas permanecerão,
ou talvez não,
do mesmo jeito.
As luzes e as sombras
se alternarão
e a iluminação deve ser
uma ilusão dos olhos-  
quando há olhos para ver-
seja o que for que tenham visto.


VII

vive dentro de nós
o desejo de ser
o que sempre fomos:
eternos.
Sem compreender
que somos
estrangeiros,
passageiros das formas,
meros pontos
de mares e navios
de oceanos intermináveis
e sem fim.


VIII

o Tempo é tudo que temos para o corpo,
esta veste fugaz do efêmero.
Não há o que fazer
nem explicar  
só ser,
como as arvores, as flores,
os animais,
e em cada estação
usar as palavras
para nomear a beleza das coisas. 


IX

Um dia
os nomes não serão nada  
e o verbo
que era pó
ao pó
retornará.
Que o vento o leve,
leve, bem leve,
eterno
em outra forma.