Friday, August 30, 2019

SOU TEU AMOR





Sei que você merece alguém melhor do que eu.
E, comigo, muito tempo perdeu.
Mas, ninguém escolhe o amor.
O amor acontece.
Contra a razão, os desejos, a prece
Eu sou o teu.

Você poderia ter um homem mais rico.
Poderia ter tido um parceiro menos distante.
Se quisesse até arranjaria melhor amante
Porém, prefere este palhaço de circo.
E, por ti, até uso máscara.
Para fazer os teus olhos brilhar
E, por um instante, te ver sorrir
Eu farei tudo o que me pedir
E se quiser outro tipo de amor
Eu sou o teu.

Sei que fiz muitas promessas
Que nunca pude cumprir,
Vê, por favor, que me agarro a ti
Como um naufrago na tábua de salvação,
O que não há.
Eu sou o teu amor
É um destino que não se pode mudar!

Eu sou teu amor,
Pode rir ou chorar ou me amar...

Ilustração: Mensagem de amor.

Outra poesia de John Berryman



DREAM SONG 105

John Allyn McAlpin Berryman

As a kid I believed in democracy: I
'saw no alternative'—teaching at The Big Place I ah
put it in practice:
we'd time for one long novel: to a vote—
Gone with the Wind they voted: I crunched 'No'
and we sat down with War & Peace.

As a man I believed in democracy (nobody
ever learns anything): only one lazy day
my assistant, called James Dow,
& I were chatting, in a failure of meeting of minds,
and I said curious 'What are your real politics?'
'Oh, I'm a monarchist.'

Finishing his dissertation, in Political Science.
I resign. The universal contempt for Mr Nixon,
whom never I liked but who
alert & gutsy served us years under a dope,
since dynasty K swarmed in. Let's have a King
maybe, before a few mindless votes.


CANÇÃO DE SONHO 105

Como uma criança, eu acreditava na democracia: eu
'não via alternativa' - ensinando no The Big Place, eu
Coloquei-a em prática:
teríamos tempo para um longo romance: por um voto -
E n’O Vento  Levou votaram todos: eu rangi 'Não'
e nos sentamos com Guerra e Paz.

Como um homem, eu acreditava na democracia (ninguém
aprende alguma coisa):  apenas num dia preguiçoso
meu assistente, chamado James Dow,
& Eu estivemos conversando, em uma falha de acordo de mentes,
e eu disse curioso 'Quais são suas verdadeira política?'
'Oh, eu sou monarquista.'

Finalizando sua dissertação, em Ciência Política.
Eu desisto. O desprezo universal pelo Sr. Nixon,
de quem nunca gostei, mas, o  qual
vigilante & energico nos serviu anos sob uma droga,
desde a invasão da dinastia K. Vamos ter um rei,
talvez,  antes de alguns votos irracionais.

Ilustração: http://1.bp.blogspot.com.

Outra poesia de Amiri Baraka




PREFACE TO A TWENTY VOLUME SUICIDE NOTE

Amiri Baraka

Lately, I've become accustomed to the way
The ground opens up and envelopes me
Each time I go out to walk the dog.
Or the broad edged silly music the wind
Makes when I run for a bus...

Things have come to that.

And now, each night I count the stars.
And each night I get the same number.
And when they will not come to be counted,
I count the holes they leave.

Nobody sings anymore.

And then last night I tiptoed up
To my daughter's room and heard her
Talking to someone, and when I opened
The door, there was no one there...
Only she on her knees, peeking into

Her own clasped hands


PREFÁCIO PARA UM BILHETE SUICIDA DE VINTE VOLUMES

Ultimamente, tenho me acostumado ao jeito
Com que o chão se abre e me envolve
Cada vez que saio para passear com o cachorro.
Ou a música simplesmente cortante que o vento faz
quando corro para alcançar o ônibus...

As coisas chegaram a esse ponto.

E agora, a cada noite conto as estrelas.
E a cada noite obtenho o mesmo número.
E quando elas não se mostram para serem contadas,
Conto os buracos que deixam.

Ninguém canta mais.

E, então, na noite passada subi na ponta dos pés
Para o quarto da minha filha e a escutei
Conversando com alguém, e quando abri
A porta, não havia ninguém lá...
Só ela, de joelhos, espiando  

Suas próprias mãos entrelaçadas


Wednesday, August 28, 2019

Uma poesia de Maxine Kumin


AFTER LOVE               
Maxine Kumin

Afterward, the compromise.
Bodies resume their boundaries.

These legs, for instance, mine.
Your arms take you back in.

Spoons of our fingers, lips
admit their ownership.

The bedding yawns, a door
blows aimlessly ajar

and overhead, a plane
singsongs coming down.

Nothing is changed, except
there was a moment when

the wolf, the mongering wolf
who stands outside the self

lay lightly down, and slept.

DEPOIS DO AMOR

Depois, do compromisso.
os corpos retornam aos seus limites.

Estas pernas, por um instante, minhas.
Seus braços a tomam de volta.

As colheres dos nossos dedos, os lábios
admitem sua propriedade.

A cama boceja, uma porta
bate sem rumo entreaberta

e acima de tudo, um avião
canta canções descendo.

Nada é alterado, exceto
que houve um momento quando

o lobo, o mercenário lobo
que está de fora, eu

inclina-se levemente e dorme.


Outra poesia de Diane di Prima



“I AM A SHADOW…”                                                       
  

Diane di Prima

I am a shadow crossing ice
I am rusting knife in the water
I am pear tree bitten by frost
I uphold the mountain with my hand
My feet are cut by glass
I walk in the windy forest after dark
I am wrapped in a gold cloud
I whistle thru my teeth
I lose my hat

My eyes are fed to eagles & my jaw
is locked with silver wire
I have burned often and my bones are soup
I am stone giant statue on a cliff

I am mad as a blizzard
I stare out of broken cupboards

“EU SOU UMA SOMBRA”

Eu sou uma sombra cruzando o gelo
Eu sou uma faca enferrujando na água
Eu sou a pereira mordida pela geada
Eu mantenho a montanha com a minha mão
Meus pés estão cortados pelo vidro
Eu ando no vento da floresta depois do anoitecer
Estou envolto numa nuvem dourada
Eu assobio entre meus dentes
Eu perco meu chapéu

Meus olhos são alimentados por águias e minha mandíbula
é presa com fio de prata
Eu queimei muitas vezes e meus ossos são uma sopa
Eu sou uma estátua gigante de pedra num penhasco

Eu sou louco como uma nevasca
Eu olho por frestas de armários quebrados

Ilustração: elusapaz.blogspot.com.

Uma poesia de Cervantes


Busco en la muerte la vida               

Miguel de Cervantes

Busco en la muerte la vida,
salud en la enfermedad,
en la prisión libertad,
en lo cerrado salida
y en el traidor lealtad.

Pero mi suerte, de quien
jamás espero algún bien,
con el cielo ha estatuido,
que, pues lo imposible pido,
lo posible aún no me den.

BUSCO NA MORTE A VIDA
Busco na morte, a vida,
saúde na enfermidade,
na prisão, a liberdade,
na fechadura, a saída
e no traidor, lealdade

Porém, minha sorte, de quem
jamais espero algum bem,
como o céu há estatuído,
que, pois, o impossível peço,
quando o possível não me dão.


Tuesday, August 27, 2019

Uma poesia de John Berryman


DREAM SONG 14         
John Allyn McAlpin Berryman

Life, friends, is boring. We must not say so.
After all, the sky flashes, the green sea yearns,
we ourselves flash and yearn,
and moreover my mother told me as a boy
(repeatingly) 'Ever to confess you're bored
means you have no

Inner Resources.' I conclude now I have no
inner resources, because I am heavy bored.
Peoples bore me,
literature bores me, especially great literature,
Henry bores me, with his plights & gripes
as bad as achilles,

who loves people and valiant art, which bores me.
And the tranquil hills, & gin, look like a drag
and somehow a dog
has taken itself & his tail considerably away
into mountains or sea or sky, leaving
behind: me, wag.

CANÇÃO DE SONHO 14

A vida, amigos, é chata. Não devemos dizer isto.
Afinal, o céu brilha, o mar verde anseia,
nós mesmos piscamos e ansiamos,
e, além disso, minha mãe me disse quando pequeno
(repetidamente) 'Sempre confessar que está entediado
significa que você não tem

Recursos internos. Concluo agora que não tenho
recursos internos, porque estou muito entediado.
As pessoas me entediaram,
a literatura me entedia, especialmente a grande literatura,
Henry me entendia, com suas dificuldades e queixas
tão graves quanto as de Aquiles,

que ama as pessoas e arte valiosa, o que me entedia.
E as plácidas colinas, e gin, parecem uma chatice
e de alguma forma um cachorro
levou-se a si próprio e o rabo consideravelmente longe
para as montanhas ou o mar ou o céu, deixando-me
atrás: a eu, para abanar.

Ilustração: http://4.bp.blogspot.com.

Uma poesia de Diane di Prima





FRAGMENTED ADDRESS TO THE FBI

Diane di Prima

O do you in fedora or trenchcoat bear record
Of the elusive days, date & hour
The subway journeys to forgotten loves
(Do you indeed have them forever, name & picture)
The old phone numbers, whose rhythm no longer
Sings for us, descriptions of long dead cars?
O gentle chroniclers of our rainbow lives
Blessed laborers in the labyrinthine archive
Recording angels who will consign to fire
Name & form, body & papers while we
Rise singing above the trees.

FRAGMENTOS DE UM DISCURSO AO FBI

Ó vocês de chapéus finos ou impermeáveis recordam
dos indescritíveis dias, data & hora
das viagens de metrôs dos amantes esquecidos
(De verdade os tem para sempre, nome & fotos)
Os velhos números de telefone, cujos ritmos
Não tocam mais para nós, descrições de carros há muito obsoletos?
Ó gentis cronistinhas de nossas vidas de arco-íris
Abençoados trabalhadores de labirínticos arquivos
Anjos gravadores que irão lançar ao fogo
Nomes & formulários, corpos & papéis enquanto nós
Subiremos cantando sobre as árvores.


Uma poesia de Amiri Baraka





A POEM SOME PEOPLE WILL HAVE TO UNDERSTAND

Amiri Baraka

Dull unwashed windows of eyes
and buildings of industry. What
industry do I practice? A slick
colored boy, 12 miles from his
home. I practice no industry.
I am no longer a credit
to my race. I read a little,
scratch against silence slow spring
afternoons.
I thought, before, some years ago
that I’d come to the end of my life.
Watercolor ego. Without the preciseness
a violent man could propose.
But the wheel, and the wheels,
won’t let us alone. All the fantasy
and justice, and dry charcoal winters
All the pitifully intelligent citizens
I’ve forced myself to love.

We have awaited the coming of a natural
phenomenon. Mystics and romantics, knowledgeable
workers
of the land.

But none has come.
(Repeat)
but none has come.

Will the machinegunners please step forward?


POEMA QUE ALGUNS TERÃO QUE ENTENDER

Janelas dos olhos embaçadas e sem brilho
e edifícios da indústria. Que
atividade faço eu? Um menino
preto e esperto, a 3 quilômetros de sua
casa. Não faço nenhuma atividade.
Não sou mais motivo de orgulho
para a minha raça. Eu li um pouco
arranhando-me contra o silêncio das lentas
tardes de primavera.
Eu pensei, antes, alguns anos atrás,
que chegaria ao fim da minha vida.
Ego de aquarela. Sem a precisão
que um homem violento poderia propor.
Mas a roda, e as rodas,
não nos deixarão em paz. Toda a fantasia
e justiça e invernos secos de carvão
Todos os cidadãos lamentavelmente inteligentes
Eu me forcei a amar.
Esperávamos a vinda de um fenômeno
natural. Místicos e românticos, bem informados
trabalhadores
da terra.

Mas, nenhum veio.
(Repita)
Mas, nenhum veio.

Os metralhadores, por favor, podem dar um passo à frente?

Ilustração: https://4.bp.blogspot.com.

Uma poesia de Miguel Antonio Caro


LO QUE NO SE ESCRIBE                   

Miguel Antonio Caro

¡Dulce madre!, ¡hermana mía!
Mi amor quisierais en vano
Hallar aquí.
No cabe en una armonía
Mi amor de hijo y de hermano:
¡Buscadlo en mí!

El poseedor de una fuente
No guarda míseras gotas.
Si vuestras son
Mi alma, mi vida, mi mente,
¿A qué guardar breves notas
Del corazón?

La pluma al papel traslada
La palabra, y aún el canto,
Y allí vive.
Lo que dice una mirada.
Lo que el silencio y el llanto,
¡No se escribe!

O QUE NÃO SE ESCREVE

Doce mãe! Irmã minha!
Meu amor quererias em vão
Encontra aqui.
Não cabe em uma harmonia
Meu amor de filho e irmão:
Busca-o em mim!

O dono de uma fonte
Não guarda míseras gotas.
Se tuas são
Minha alma, minha vida, minha mente,
Por que guardar breves notas
Do coração?

A caneta para  o papel se move
A palavra, e até a música,
E ali vive.
O que diz um olhar.
O que o silêncio e o pranto,
Não se escreve!