Monday, April 30, 2007

UMA POETISA DE COSTA RICA

La única luz del mundo

MARIA MONTERO

La única luz del cuarto
ilumina la mirada de Oscar Wilde
sentado hace un siglo al lado de su amante.

Mis palabras han muerto.
Nada puede salvarlas ya
de esa arquitectura que pone su
acento en las órbitas vacías.
Donde ellas estuvieron
sólo me queda una pared
iluminada por el tedio.

La única luz del cuarto
no me permite el mundo.

(De La mano suicida)

A única luz do mundo

A única luz do quarto
ilumina o olhar de Oscar Wilde
sentado faz um século ao lado de seu amante.

Minhas palavras estão mortas.
Nada pode mais salvá-las
da arquitetura que põe seu
acento nas órbitas vazias.
Onde elas estiveram
só me resta uma parede
iluminada pelo tédio.

A única luz do quarto
não me permite acesso ao mundo.

(De A Mão Suicida)

Friday, April 27, 2007

UM POETA PERUANO

Percival

Leo Zelada

«el que ama, obedece»
Chrétien de Troyes
siglo XII

soy el oscuro caballero andante
que camina silencioso entre las sombras
y se desvanece taciturno sobre la niebla
aquel que lucha por absurdas ilusas cruzadas
y sólo encuentra la mirada amarga del exilio
no obstante el que al pie de una solitaria torre
espera a su doncella -orden de las rosas-
en la vasta inmensidad de la noche

Percival

“O que ama, obedece»
Chrétien de Troyes
siglo XII

sou o cavaleiro negro andante
que caminha silencioso entre as sombras
e se desaparece taciturno sobre a névoa
aquele que luta por absurdas e ilusórias cruzadas
e só encontra o amargo olhar do exílio
não obstante é o que ao sopé de uma solitária torre
espera sua donzela — ordem das rosas —
na vasta imensidão da noite

Thursday, April 26, 2007

UMA POETISA DA VENEZUELA

El futuro ha llegado

Trina Quiñones


y nunca pudimos sospechar
lo que sus alas arrastraban.

Muchachos desocupados
patean latas vacías
en la negritud del callejón.

La mujer espera ansiosa
la llegada del marido
que no llega y, entonces,
oye a Bebo y Cigala.

Acuesta a la hija
para siempre menor
y la convence de que
el mundo es mejor
y que los sueños existen.

Y duerme, la menor.

Caracas, 19-12-06

O futuro chegou

E nunca pudemos suspeitar
o que suas asas arrastavam.

Rapazes desocupados
batem latas vazias
na escuridão do beco.

A mulher espera ansiosa
a chegada do marido
que não chega e, depois,
ouve uma canção lamurienta.


Adormece a filha
para sempre menor
e a convence de que
o mundo é melhor
e que os sonhos existem.

E faz a menina dormir.

Wednesday, April 25, 2007

UM POETA DO EQUADOR

EN CONTRASTE AL
FAENAMIENTO DE LAS ESPECIES

Julio Pazos


Arqueólogos, músicos, cantantes trabajan sus modelos;
En verdad es uno solo reverberante y sosegado.
Pintores, orfebres, semiólogos
convocan estimaciones de toda clase
para los días de celebración.

¿Quién puede ignorar cantos, colores y asombros?
¿Quién tolera el trayecto
Sin, ni siquiera alguna vez,
recordar el resplandor de sus perdidas alas?

El modelo no admite descanso.
Su materia, no clasificada, absorbe
tiempos, espacios,
toda insospechada perturbación de los sentidos.

De Holograma (1996)

O CONTRASTE NA FEITURA DAS ESPÉCIES

Arqueólogos, músicos, cantores trabalham seus modelos;
Na verdade é um único brilhante e sossegado.
Pintores, ourives, semiólogos
Convocam estimações de toda classe
para os dias de celebração.

Quem pode ignorar cantos, cores e assombros?
Quem tolera o trajeto
Sem, nem mesmo uma vez,
lembrar o esplendor de suas perdidas asas?

O modelo não admite descanso.
Sua matéria, não classificada, absorve
tempos, espaços,
toda insuspeitada perturbação dos sentidos.

Monday, April 23, 2007

BORGES NOVAMENTE

EL INSTANTE

¿Dónde estarán los siglos, dónde el sueño
de espadas que los tártaros soñaron,
dónde los fuertes muros que allanaron,
dónde el Arbol de Adán y el otro Leño?
El presente está solo. La memoria
erige el tiempo. Sucesión y engaño
es la rutina del reloj. El añ
o no es menos vano que la vana historia.
Entre el alba y la noche hay un abismo
de agonías, de luces, de cuidados;
el rostro que se mira en los gastados
espejos de la noche no es el mismo.
El hoy fugaz es tenue y es eterno;
otro Cielo no esperes, ni otro Infierno.

O INSTANTE

Onde estarão os séculos, onde o sono
De espadas que os tártaros sonharão,
Onde os fortes muros que levantaram,
Onde a arvore de Adão e outro lenho?
O presente está só. A memória
Erige o tempo. Sucessão e engano
É a rotina do relógio. O ano
Não é menos vão que a vã história.
Entre a aurora e a noite há um abismo
De agonias, de luzes, de cuidados;
O rosto que se mira os dias gastados
Espelhos da noite não são os mesmos.
O hoje fugaz é tênue e é eterno;
Outro céu não esperes, nem outro inferno.

Sunday, April 22, 2007

BORGES, O GRANDE BORGES

AUSENCIA

Habré de levantar la vasta vida
que aún ahora es tu espejo:
cada mañana habré de reconstruirla.
Desde que te alejaste,
cuántos lugares se han tornado vanos
y sin sentido, iguales a luces en el día.
Tardes que fueron nicho de tu imagen,
músicas en que siempre me aguardabas,
palabras de aquel tiempo,
yo tendré que quebrarlas con mis manos.
¿En qué hondo nada esconderé mi alma
para que no vea tu ausencia
que como un sol terrible, sin ocaso,
brilla definitiva y despiadada?
Tu ausencia me rodea
como la cuerda a la garganta,
el mar al que se hunde.

AUSÊNCIA

Haverei de levantar a vasta vida
Que ainda agora é teu espelho:
Cada manhã terei que reconstruí-la
Desde que me deixastes,
Quantos lugares hão se tornado vãos
E sem sentido, iguais
As luzes no dia.
Tardes que foram molduras de tua imagem,
Músicas com que sempre me aguardavas,
Palavras daquele tempo,
Eu terei que quebrá-las com as minhas mãos.
Em que fundo nada esconderei minha alma
Para que não veja tua ausência
Que como um céu terrível, sem ocaso,
Brilha definitiva e desapiedadamente?
Tua ausência me rodeia
Como a corda no pescoço,
Como o mar a tudo que se funde.

UM POETA DA VENEZUELA



LA VERDAD

José Antonio Ramos Sucre

La golondrina conoce el calendario, divide el año por el consejo de una sabiduría innata. Puede prescindir del aviso de la luna variable.
Según la ciencia natural, la belleza de la golondrina es el ordenamiento de su organismo para el vuelo, una proporción entre el medio y el fin, entre el método y el resultado, una idea socrática.
La golondrina salva continentes en un día de viaje y ha conocido desde antaño la medida del orbe terrestre, anticipándose a los dragones infalibles del mito.
Un astrónomo desvariado cavilaba en su isla de pinos y roquedos, presente de un rey, sobre los anillos de Saturno y otras maravillas del espacio y sobre el espíritu elemental del fuego, el fósforo inquieto.
Un prejuicio teológico le había inspirado el pensamiento de situar en el ruedo del sol el destierro de las almas condenadas.Recuperó el sentimiento humano de la realidad en medio de una primavera tibia.
Las golondrinas habituadas a rodear los monumentos de un reino difunto, erigidos conforme una aritmética primordial, subieron hasta el clima riguroso y dijeron al oído del sabio la solución del enigma del universo, el secreto de la esfinge impúdica.

A VERDADE

A andorinha conhece o calendário, divide o ano pelo conselho de uma sabedoria inata. Pode prescindir do aviso da lua variável.
Segundo a ciência natural, a beleza da andorinha está no ordenamento de seu organismo para o vôo, uma proporção entre o meio e o fim, entre o método e o resultado, uma idéia socrática.
A andorinha atravessa continentes num dia de viagem e conheceu desde as mais antigas eras a medida da órbita terrestre, antecipando-se aos dragões infalíveis do mito.
Um astrônomo desvairado cavilava em sua ilha de pinheiros e rochedos, presente de um rei, sobre os anéis de Saturno e outras maravilhas do espaço e sobre o espírito elementar do fogo, o fósforo inquieto.
Um preconceito teológico o havia inspirado a idéia de situar em redor do sol o desterro das almas condenadas. Recuperou o sentimento humano da realidade no meio de uma suave primavera.
As andorinhas, habituadas a rodear os monumentos de um reino defunto, erigidos conforme uma aritmética primordial, subiram até o clima rigoroso e disseram ao ouvido do sábio a solução do enigma do universo, o segredo da esfinge impudica.

Friday, April 20, 2007

UMA POETISA CUBANA

ABRAZO

Dulce María Loynaz

Hoy he sentido el río entero
en mis brazos...
Lo he sentido
en mis brazos, trémulo... Vivo
como el cuerpo de un hombre verde...
Esta mañana el río ha sido
mio: Lo levanté del viejo
cauce. ¡Y me lo eché en el pecho!
Pesaba el río... Palpitaba
el río adolorido del
desgarramiento... -¡Fiebre mía
delagua!...-.
¡Me dejó en la boca
un sabor amargo de amor y muerte!

ABRAÇO

Hoje eu senti o rio inteiro
em meus braços...
Senti-o nos meus braços trêmulo...Vivo
como o corpo de um homem verde...
Esta manha o rio foi
meu: o levantei do velho
leito. E ele me encheu o peito!
Pesava o rio...Palpitava
o rio dolorido de
tanta solidão...Febre minha
da água!
Me deixou na boca
um sabor amargo de amor e morte!

Thursday, April 19, 2007

OS SENTIDOS DO PRESENTE

Presente

Não quero dos deuses nem lembranças.
Ser livre é não esperar do alto
Nem o maná
Nem a chuva
Nem o vento.
Afinal o que é dado nos oprime
Seja o amor ou seja o ódio são iguais,
Quando dados, ambos,são demais.
Que o que faz o homem é conquistar.
Cada um do seu modo, do seu jeito.
Dos deuses quero apenas o direito
De exercer o livro arbítrio e a liberdade.
Como quem do tempo extrai o ar
E da razão a base da verdade.

Wednesday, April 18, 2007

UM POETA DO CHILE

Paquebot
Vicente Huidobro
He visto una mujer hermosa
Sobre el mar del Norte
Todas las aguas eran su cabellera
Y en su mirada vuelta hacia las playas
Un pájaro silbaba
Las olas truenan tan roncas
Que mis cabellos han caído
Recostada sobre la lejanía
Su vientre y su pecho no latían
Sin embargo sus lágrimas vivían
Inclinado sobre mis días
Bajo tres soles
Miraba allá lejos
El paquebot errante que cortó en dos el horizonte

Navio Mercante

Eu vi uma mulher bonita
No mar Norte
Todas as águas eram seus cabelos
E o seu olhar trouxe para as praias
um pássaro que cantava
As ondas rugiam tão roucas
Que meus cabelos caíam
Recostada na distância
Seu ventre e seu peito não gemiam
Sem embargo suas lágrimas existiam
Inclinada sobre meus dias
sob três sóis
Olhava na imensidão
O navio mercante que cortava em dois o horizonte.

Sunday, April 15, 2007

IMPROVISAÇÃO REAL OU JAZZ DA VIDA

AMOR MUSICAL

A delicadeza do teu querer
Vibra em cada fibra de minha alma
Com o suave toque de tuas mãos
Que uma partitura invisível segue
Despertando em nossos corpos
Harmonias insuspeitas de prazer
Para tornar o nosso amor
Uma sinfonia inacabada,
E sempre repetida,
Música inesquecível de gozo e vida.

Saturday, April 14, 2007

O GRANDE BORGES

EL AMENAZADO
Jorge Luis Borges

Es el amor. Tendré que ocultarme o huir.
Crecen los muros de su cárcel, como en un sueño atroz. La hermosa
máscara ha cambiado, pero como siempre es la única. ¿De qué
me servirán mis talismanes: el ejercicio de las letras, la vaga
erudicción, el aprendizaje de las palabras que usó el áspero Norte
para cantar sus mares y sus espadas, la serena amistad, las galerías de la
Biblioteca, las cosas comunes, los hábitos, el joven amor de mi
madre, la sombra militar de los muertos, la noche intemporal,
el sabor del sueño?
Estar contigo o no estar contigo es la medida de mi tiempo.
Ya el cántaro se quiebra sobre la fuente, ya el hombre se levanta
a la voz del ave, ya se han oscurecido los que miran por las ventanas,
pero la sombra no ha traido la paz.
Es, ya lo se, el amor: la ansiedad y el alivio de oir tu voz, la espera y la memoria,
el horror de vivir en lo sucesivo.
Es el amor con sus mitologías, con sus pequeñas magias inútiles.
Hay una esquina por la que no me atrevo a pasar.
Ya los ejércitos me cercan las hordas.
(Esta habitación es irreal, ella no la ha visto).
El nombre de una mujer me delata.
Me duele una mujer en todo el cuerpo.

O AMEAÇADO
És o amor. Tens que me ocultar a queda.
Crescem os muros de seu cárcere, como um sonho atroz. A formosa
Máscara mudou, porém como sempre és a única. De que
Me serviram meus talismãs: o exercício das letras, a vaga
Erudição, o aprendizado das palavras que uso, o áspero Norte
Para cantar seus mares e espadas, a serena amizade, as galerias da
Biblioteca, as coisas comuns, os hábitos, o jovem amor de minha
Mãe, a sombra militar dos mortos, a noite intemporal,
O sabor dos sonhos?
Estar contigo ou não estar contigo é a medida do meu tempo.

Já o jarro se quebra sobre a fonte, já o homem se levanta ao
Canto do pássaro, já estão escurecidos os que olham pelas janelas,
Mas a sombra não trouxe paz.
És, já o sei, o amor: a ansiedade e o alívio de ouvir tua voz, a espera e a memória,
o horror de viver no sucessivo.
És o amor com suas mitologias, com suas pequenas magias inúteis.
Há uma esquina pela qual não me atrevo a passar.
Já os exércitos me cercam com as hordas.
(Esta habitacão é irreal, ela não havia visto).
O nome de uma mulher me delata.
Me dói uma mulher em todo o corpo.

Friday, April 13, 2007

COM VOCÊS....

Los Sonetos de La Muerte - V

Gabriela Mistral


Yo elejí entre los otros, soberbios i gloriosos,
este destino, aqueste oficio de ternura,
un poco Temerario, acaso tenebroso.
de ser un jaramago sobre su sepultura.

Los hombres pasan, pasan, esprimiendo en la boca
una canción alegre i siempre renovada
que ahora es lasciva, y mañana la loca,
i más tarde la mística. Yo elejí esta invariada.

Canción con la que arrullo un muerto
que fue ajeno en toda realidad, i en todo ensueño, mío;
que gustó de otra boca, descansó en otro seno.

Pero que en esta hora definitiva i larga.
Sólo el del labio humilde, del jaramago
que le hace el dormir dulce sobre la tierra amarga.

Os Sonetos da Morte-V

Eu elegi entre os outros, soberbos e gloriosos,
este destino, o adquirido ofício da ternura,
um pouco temerário, talvez tenebroso.
de ser uma rosa amarela em sua sepultura.

Os homens passam, passam, espremendo na boca
uma canção alegre e sempre renovada
que agora é lasciva, e amanhã será louca,
e mais tarde mística. Elegi esta invariada.

Canção com que nino um morto que foi alheio
a toda a realidade, e a todo o sonho dela;
que gostou de outra boca, descansou em outro seio.

Porém que, na hora definitiva e larga,
Somente o lábio humilde, da rosa amarela
O faz dormir doce sobre a terra amarga.

Thursday, April 12, 2007

UM POETA CHILENO

PEQUEÑA CONFESION

Jorge Teillier

Sí, es cierto, gasté mis codos en todos los mesones.
Me amaron las doncellas y preferí a las putas.
Tal vez nunca debiera haber dejado
El país de techos de zinc y cercos de madera.
En medio del camino de la vida
Vago por las afueras del pueblo
Y ni siquiera aquí se oyen las carretas
Cuya música he amado desde niño.
Desperté con ganas de hacer un testamento
-ese deseo que le viene a todo el mundo-
pero preferí mirar una pistola
la única amiga que no nos abandona.
Todo lo que se diga de mí es verdadero
Y la verdad es que no me importa mucho.
Me importa soñar con caminos de barro
Y gastar mis codos en todos los mesones.
"Es mejor morir de vino que de tedio"
Sin pensar que pueda haber nuevas cosechas.
Da lo mismo que las amadas vayan de mano en mano
Cuando se gastan los codos en los mesones.
Tal vez nunca debí salir del pueblo
Donde cualquiera puede ser mi amigo.
Donde crecen mis iniciales grabadas
En el árbol de la tumba de mi hermana.
El aire de la mañana es siempre nuevo
Y lo saludo como un viejo conocido,
Pero aunque sea un boxeador golpeado
Voy a dar mis últimas peleas.
Y con el orgullo de siempre
Digo que las amadas pueden ir de mano en mano
Pues siempre fue mío el primer vino que ofrecieron
Y yo gasto mis codos en todos los mesones.
Como de costumbre volveré a la ciudad
Escuchando un perdido rechinar de carretas
Y soñaré techos de zinc y cercos de madera
Mientras gasto mis codos en todos los mesones.

PEQUENA CONFISSÃO

Sim, é certo, gastei meus cotovelos nos balcões dos bares.
Me amaram as garotas, mas preferia as putas.
Talvez jamais devesse ter deixado
o país de tetos de zinco e cercas de madeira.
No meio do caminho da vida
Vago pelos cercanias do povoado
E nem sequer aqui se ouvem os gemidos das carroças
cuja música amei desde menino.
Despertei com vontade de fazer um testamento
— desejo que todo mundo tem—
Mas, preferi olhar uma pistola
a única amiga que não nos abandona.
Tudo que se disser de mim é verdadeiro
E a verdade é que não me importa muito.
Me importa sonhar com as estradas de barro
E gastar meus cotovelos nos balcões dos bares.
“É melhor morrer de vinho que de tédio”.
Sem pensar que possa haver novas colheitas.
Tanto faz que as amadas rolem de mão em mão
Quando se gastam os cotovelos nos balcões dos bares.
Talvez não devesse jamais ter saído do interior
Onde qualquer um pode ser meu amigo.
Onde crescem as iniciais gravadas
Na árvore do túmulo de minha irmã.
A ar da manhã é sempre novo
E o saúdo como a um velho conhecido,
Porque mesmo sendo um boxeador abatido
Vou dar minhas últimas lapadas.
E com o orgulho de sempre
Digo que as amadas podem rolar de mão em mão
Pois sempre foi meu o primeiro vinho que ofereceram
E gasto meus cotovelos nos balcões dos bares.
Como sempre voltarei para a cidade
Escutando um perdido ranger de carroças
E sonharei com tetos de zinco e cercas de madeira
Enquanto gasto meus cotovelos nos balcões dos bares.

Tuesday, April 10, 2007

UM POETA DO MÉXICO


Autobiográfico

Gutiérrez Vega

Para que se enteren de lo fácil que es
manipularme, obligarme a decir
y hacer cosas,
que en el fondo
no quieroni decir
ni hacer,
les diré:mi signo es acuario,
he profesado
por lo menos
cuatro ideologías y dos religiones,
he tenido nueve trabajos diferentes
y no acostumbro
hacer huesos viejos
en ninguna parte.
Diré también que las mañanas del domingo
no sé quién soy,
no recuerdo mi nombre,
y al verme en el espejo del baño
con la barba enmarañada
y los ojos balanceándose
en el antepecho de las órbitas,
me saludo
con una cortesía esmeradísima
y me deseo un futuro brillante;
dejo de compadecerme
y me tiendo una mano
que llegaría a otra mano
si no fuera por el maldito cristal,
y si no fuera
porque al día siguiente será lunes
y porque la vida
estará llena de lunes
que siguen y siguen
hasta que un domingo
al tender la mano
otra mano saldrá del espejo
y ya nunca habrá lunes.
(in “Cuando el placer termine”, 1977)

AUTOBIOGRÁFICO

Para que entendam como é fácil
manipular-me,
obrigar-me a dizer
e a fazer coisas,
que, no fundo,
não quero
nem dizer
nem fazer,
direi a vocês:meu signo é de aquário,
e professei,pelo menos,
quatro ideologias e duas religiões,
e tive nove trabalhos diferentes
e não acostumei
meus velhos ossos
em parte alguma.
Direi tambémque nas manhãs de domingo
não sei quem eu sou,
nem me lembro de meu nome,
e ao me ver no espelho do banheiro
com a barba mal-feita
e meus olhos saltando
na sacada das órbitas,
me saúdo
com uma cortesia esmeradíssima
e me desejo um futuro brilhante;
deixo de me compadecer de mim
e me estendo uma mão
que encontraria a outra mão
não fosse o maldito cristal,
e não fosse
porque no dia seguinte será segunda-feira
e porque a vida
estará sempre cheia de segundas-feiras
que se seguem e se seguem
até que num domingo
ao estender a mão
uma outra mão sairá do espelho
e já, nunca mais, haverá segundas-feiras.
(De Quando o Prazer Terminar, 1977).

Monday, April 09, 2007

UMA POETISA CHILENA

Taxi

Gladys Gonzalez

Tú y yo
en un taxi
mudos
cada uno en un extremo
el pelo mojado
y el viento entrando por la ventana
esparciendo las cenizas del cigarrillo
mudos
sin excusas
para dejar
de volver a hacerlo

Táxi

Tu e eu
Num táxi
Mudos
Cada um num extremo
O cabelo molhado
E o vento entrando pela janela
Espargindo as cinzas do cigarro
Mudos
Sem desculpas
Para deixar
De voltar a fazê-lo

Sunday, April 08, 2007

UM POETA PARAGUAIO

HAY VECES...

Roque Vallejos

para Augusto Roa Bastos

Hay veces en que nadie
recuerda
que existimos;
que La vida se encoge
y nos aprieta,
y que es difícil despertar
cada mañana
la sangre en nuestras venas.

Días de conservar
el esqueleto, doblados hacia adentro,
y de llorar a oscuras
sobre estos mismos huesos,
de usar la propia piel
como mortaja, y decirle
a la vida que no estamos
y que vuelva otro día.

HÁ VEZES...

Há vezes em que ninguém
lembra
que existimos;
que a vida se encolhe
e nos aperta,
e que é difícil despertar
em cada manhã
o sangue de nossas veias.

São dias de conservar
o esqueleto, virado para dentro,
e chorar às escuras
sobre estes mesmos ossos,
de usar a própria pele
como mortalha, e dizer
à vida que não estamos
e que volte outro dia.

Friday, April 06, 2007

A GRANDE POETISA DE HONDURAS

POEMA DEL HOMBRE Y SU ESPERANZA

Clementina Suárez

Ahora me miro por dentro
y estoy tan lejana,
brotándome en lo escondido
sin raíces, ni lágrimas, ni grito
—Intacta en mí misma—
en las manos mías
en el mundo de ternura
creado por mi forma

Me he visto nacer, crecer, sin ruido,
sin ramas que duelan como brazos,
sutil, callada, sin palabra para herir,
ni vientre que rebase de peces.

Como rosa de sueño se fue formando mi mundo
Ángeles de amor me fueron siempre fieles,
en la amapola, en la alegría y en la sangre.

Cada caracol supo darme un rumbo
y una hora para llegar.
Y siempre pude estar exacta.
A la cita del agua, de la ceniza y la desesperanza ...

Frágil, pero vital, fue siempre mi árbol
al hombre y al pájaro le fui siempre constante
Amé como deben amar los geranios,
los niños y los ciegos.

Pero en cualquier medida
estuve siempre fuera de proporciones,
porque mi impecable y recién inaugurado mundo
tritura rostros viejos
modas y resabios inútiles.

Mi caricia es combate
urgencia de vida,
profecía de cielo estricto
que sostienen los pasos.

Creadora de lo eterno,
dentro de mí, fuera de mí,
para encontrar mi universo.
Aprendí, llegué, entré,
con adquirida plena conciencia
de que el poeta que va solo
no es más que un muerto, un desterrado,
un arcángel arrodillado que oculta su rostro,
una mano que deja caer su estrella
y que se niega a sí mismo, a los suyos,
su adquirido o supuesto linaje.

De esta ciega y absurda muerte o vida,
ha nacido mi mundo,
mi poema y mi nombre.
Por eso hablo del hombre sin descanso,
del hombre y su esperanza.



POEMA DO HOMEM E DA ESPERANÇA

Agora me olho por dentro
e estou tão distante,
brotando secretamente
sem raízes, nem lágrimas, nem grito.
—Intacta em mim mesma—
Em minhas mãos
no mundo de ternura
criado do meu jeito.

Me vejo nascer, crescer, sem ruído,
sem ramos que doam como braços,
sutil, calada, sem palavras para ferir,
nem ventre que transborde de peixes.

Como rosa de sonho foi se formando meu mundo.
Anjos de amor sempre me foram fiéis,
na papoula, na alegria e no sangue.

Cada caracol soube me dar um rumo
e uma hora para chegar.
E sempre pude ser exata.
Ao encontro da água, da cinza
e a esperança...

Frágil, mas vital, fui sempre minha árvore
Para o homem e o pássaro, sempre fui fiel.
Amei como devem amar os gerânios,
as crianças e os cegos.

Porém em qualquer medida
estive sempre fora das proporções,
porque meu impecável e recém inaugurado mundo
tritura faces antigas
modas e ressentimentos inúteis.

Minha carícia é combate
urgência de vida,
profecia de céu estrito
que os passos sustentam.

Criadora do eterno,
dentro de mim, fora de mim,
para encontrar meu universo.
Aprendi, cheguei, entrei,
Com a plena consciência adquirida
de que o poeta que vai só
não é mais que um morto, um desterrado,
arcanjo ajoelhado que oculta seu rosto,
mão que deixa cair sua estrela
e que nega a si próprio, aos seus,
sua adquirida e suposta linhagem.

Desta cega e absurda morte ou vida,
é que nasceu meu mundo,
meu poema e meu nome.
Por isto falo do homem sem descanso,
do homem e de sua esperança.

(De El poeta y sus señales)

Wednesday, April 04, 2007

OUTRO POETA PARAGUAIO

BALANCE

Víctor Casartelli

(Con un verso del poeta griego Costas Cariotakis)

Estoy tan solo ante el otoño frío;
me acosan los recuerdos,
la bulla y el sosiego de aquel hogar perdido.
Las ruinas de mi vida, los escombros
que fui desperdigando en el camino,
hoy hieren los dolidos corazones
de aquellos que venir al mundo no han pedido.
Hago un recuento del amor que he dado
y en la balanza pesa el debe poderoso:
la incumplida alegría -mi único legado-
hará crecer tristezas y temores
en los que me sucedan,
y desde el infinito viaje he de apelar a sus dolores
para que ascienda sobre mi su grito.

BALANÇO


(Com um verso do poeta grego Costas Cariotakis)

Estou tão só diante do outono frio;
me acossam as lembranças,
a alegria e a paz daquele lugar perdido.
As ruínas de minha vida, os escombros
que fui despedaçando no caminho,
ferem hoje os corações doídos
dos que vieram ao mundo sem ter pedido.
Conto de novo o amor que tenho dado
e na balança pesa um dever poderoso:
a inconquistada alegria - meu único legado -
fará crescer tristezas e temores
nos que me sucedem,
e da infinita viagem recorrerei as suas dores
para se elevem sobre mim seu grito.

UM POETA DO PARAGUAI

EL MIEDO

Francisco Pérez-Maricevich

El miedo,
gato negro emergiendo de la sombra,
espera
em las habitaciones de los hombres.
(No lo veréis entrar, no oiréis su paso).

El miedo, sólo el miedo,
con sus agudos
interminables fríos dientes
royéndonos los huesos,
hiriéndonos
las carnes asustadas,
la sangre,
la desviada, putrefacta sangre.

¡Oh, las habitaciones de los hombres!
Cuatro paredes,
techo,
ventana y puerta
hacia el vado ...
Y adentro —¡oh tiempo malherido!—
­(no lo veréis entrar, no oiréis su paso)
un golpe sordo, un deglutir,
silencio, nada ...


O MEDO

O medo,
gato preto emergindo da sombra,
espera
nas casas dos homens.
(Não o vereis entrar, nem ouvireis seu passo).

O medo, apenas o medo,
com seus agudos
intermináveis dentes frios
roendo-nos os ossos,
ferindo
nossas carnes assustadas,
o sangue,
o desviado, putrefato sangue.

Oh, as casas dos homens!
quatro paredes,
teto,
janela e porta
para o vazio...

E dentro —oh tempo mal vivido!—
(não o vereis entrar, nem ouvireis seu passo)
um golpe surdo, um deglutir,
silêncio, nada...

Sunday, April 01, 2007

O QUE SEMPRE VIA TUDO

La lluvia

Jorge Luis Borges

Bruscamente la tarde se ha aclarado
porque ya cae la lluvia minuciosa.
Cae o cayó. La lluvia es una cosa
que sin duda sucede en el pasado.

Quien la oye caer ha recobrado
el tiempo en que la suerte venturosa
le reveló una flor llamada rosa
y el curioso color del colorado.

Esta lluvia que ciega los cristales
alegrará en perdidos arrabales
las negras uvas de una parra en cierto
patio que ya no existe. La mojada
tarde me trae la voz, la voz deseada,
de mi padre que vuelve y que no ha muerto.


A Chuva

Bruscamente a tarde se há desanuviado
Porque já cai uma chuva minuciosa
Cai ou caiu. A chuva é uma coisa
Que, sem dúvida, sucede no passado.

Quem a ouve cair há recobrado
O tempo em que a sorte venturosa
Lhe revelou uma flor de nome rosa
De tão peculiar avermelhado.

Esta chuva que escurece os vidros
Há de alegrar nos subúrbios perdidos
As uvas pretas de uma parra que cresceu

Num pátio que já não existe. A molhada
Tarde me traz a voz, a voz desejada,
De meu pai que volta e não morreu.