Saturday, July 31, 2010

JUAN GELMAN




Lo que pasa

Juan Gelman

Yo te entregué mi sangre, mis sonidos,
mis manos, mi cabeza,
y lo que es más, mi soledad, la gran señora,
como un día de mayo dulcísimo de otoño,
y lo que es más aún, todo mi olvido
para que lo deshagas y dures en la noche,
en la tormenta, en la desgracia,
y más aún, te di mi muerte,
veré subir tu rostro entre el oleaje de las sombras,
y aún no puedo abarcarte, sigues creciendo
como un fuego,
y me destruyes, me construyes, eres oscura como la luz.

O que se passa

Eu te dei meu sangue, meus sons,
minhas mãos, minha cabeça,
e o que é mais, a minha solidão, a grande dama,
como um dia maio dulcíssimo outono,
e o que é mais ainda, todo o meu esquecimento
para que te desfaças e dures na noite,
na tempestade, na desgraça,
e mais ainda, te dei a minha morte,
verás subir teu rosto entre as ondas das sombras
e ainda não posso abarcar-te, segues crescendo
como um incêndio,
a me destruir, me construir, és escura como a luz.

CORTAZAR



buenos deseos

Julio Cortazar

Si he de vivir sin ti, que sea duro y cruento.
La sopa fría, los zapatos rotos, o que en mitad de la opulencia
se alce la rama seca de la tos, ladrándome
tu nombre deformado, las vocales de la espuma, y en los dedos
se me peguen las sábanas, y nada me dé paz.
No aprenderé por eso a quererte mejor
pero desalojado de la felicidad
sabré cuanta me dabas con solamente a veces estar cerca

Bons desejos

Se hei viver sem ti, que seja difícil e sangrento.
A sopa fria, os sapatos rasgados, ou que, na metade da opulência
se eleve ao ramo seco da tosse seca, latindo-me
o teu nome deformado, as vogais de espuma, e nos dedos
se me peguem as folhas, e nada me dê paz.
Por que não aprenderei a te amar melhor,
porém, desalojado da felicidade
saberei o quanto me davas, por vezes, com apenas estar perto de mim.

E, POR FIM, O POETA DE BILBAO



Requiem aeternam donet tibi

Jon Juaristi

Tú, que de toda carne has tomado el camino,
solidario en la culpa de hermanos taciturnos,
¿esperabas acaso encontrar otra cosa
ques esta oquedad batida por élitros y valvas?
Que el corazón del hombre sea un vaso de infamia
nada importa a los ojos de dioses impasibles.

"Diario de un poeta recién cansado" 1985

Réquiem

Tu, que toda a carne tem tomado no caminho,
solidariedade na culpa de irmãos taciturnos,
Será que acaso esperavas encontrar outra coisa
que não a oca cavidade batida por conchas e asas?
Que é o coração do homem senão um copo de infâmia
Nada importa, aos olhos dos deuses impassíveis

MAIS JUARISTI



As man grows older

Jon Juaristi

Por mi edad turbulenta
-o sea, de los veinte a los cuarenta-,
mejor pasar como si sobre ascuas.
Bebí, amé (es un decir)
y gasté por encima
de lo que la prudencia aconsejaba.
Tú, que me envidias, debes
saber que cambiaría sin mirarla
tu juventud oscura por los años
de la edad turbulenta
en que trastabillé más de la cuenta.

"Los paisajes domésticos" 1992


Como o homem envelhece

Por minha idade turbulenta
-ou seja, dos vinte aos quarenta-
melhor passar como se sobre brasas.
Eu bebi, amei (por assim dizer)
e gastei mais
do que a prudência aconselhava.
Tu, que me invejas, deves
saber que trocaria sem olhar
tua juventude obscura pelos anos
da idade turbulenta
em que tropecei mais do que a conta.

JUARISTI NOVAMENTE



Reloj de melancólicos

Jon Juaristi
A Regaña Candina

Como una mala comedia de enredo,
así tus años mozos, por fortuna ya idos.

Querrías, sin embargo, que la frágil ternura
que todavía asocias a ciertas remembranzas
no fuera solamente ilusorio desvío
de la memoria al borde de su disolución.

Pues aunque te sobraran de una mano diez dedos
para sacar la cuenta de los instantes gratos,
aunque copia abundosa de amargura te empuje
hacia adelante siempre, desde el mojón anclado
en medio del camino, etcétera, te guarde
esta rara certeza de que atisbaste un día
algo parecido a la felicidad
contra las asechanzas de la vieja enemiga
cuando se borre el mundo tras la lluvia de otoño.
"Arte de marear" 1988


O relógio dos melancólicos


Como uma má comédia de enredo,
assim teus anos moços, por fortuna já foram.

Querias, sem embargo, que a frágil ternura
que todavia associas a certas relembranças
não fossem tão somente ilusório desvio
da memória próxima da dissolução.

Pois, ainda te sobraram de uma mão dez dedos
para sacar a conta dos instantes gratos,
ainda que a copia abundante de amargura te empurre
até adiante sempre, desde o marco ancorado
ao meio do caminho, etcetc, te guarde
esta rara certeza que tivestes um dia
algo parecido com a felicidade
contra as armadilhas da velha inimiga
quando o mundo se dissolve por trás das chuvas de outono.

JON JUARISTI



Las ollas de Egipto

Jon Juaristi


Qué inútil el recurso a los recuerdos
o al consuelo banal de otras caricias,
porque has perdido para siempre a aquélla
que devastó tu carne enamorada.

(Sólo el remordimiento prevalece).

"Diario de un poeta recién cansado" 1985

As ondas do Egito

Que inútil o recurso das recordações
ou ao consolo banal de outras caricias,
porque se perdeu para sempre aquela
que devastou tua carne enamorada.

(Só o arrependimento prevalece).

Monday, July 26, 2010

OSCAR HAHN



Lee, Señor mis versos defectuosos...

Oscar Hahn

Lee, Señor mis versos defectuosos
que quisieran salir pero no salen:
ya ves que poco valen mis esfuerzos
y mis desdichas ay qué poco valen

Con tu ayuda saldrían universos
de palabras preñadas pero salen
débiles moribundos estos versos:
deja que el último suspiro exhalen

Ayúdame, Señor: que no zozobre
en la mitad de este terceto pobre
mira estas ruinas: palpa su estructura

dónales lo que tengas que donarles:
y la vida que yo no supe darles
dásela tú, Señor, con tu lectura.

Lê, Senhor, os meus versos defeituosos

Lê, ó Senhor, os meus versos defeituosos
que queriam sair, porém, não saem:
Já vês que pouco valem os meus esforços
e os meus problemas, oh, tão pouco valem

Com a sua ajuda sairiam universos
de palavras grávidas, porém, não saem
débeis moribundos estes versos:
deixa que o último suspiro exalem

"Ajuda-me, Senhor, que não sossobre
na metade deste terceto pobre
Olha estas ruínas: apalpa a sua estrutura

Doa-lhe o que tenhas que doar:
e a vida que eu não soube lhes dar
dá-lhe tu, Senhor, com tua leitura.

OSCAR HAHN



Estrellas fijas en un cielo blanco...

Oscar Hahn

Estrellas fijas en un cielo blanco,
son los bellos sonetos pues no giran
en torno de orbe alguno
ni han rotado sus densas masas de catorce cifras

No reflejan la luz del sol tampoco
pero irradian su propia luz de adentro
Y en el albor parecen en reposo
o muertos cuyas tumbas son sus cuerpos

Y sin embargo las estrellas fijas
a veces bienhechoras o malignas
siempre de harta energía están cargadas

Y aunque hace miles de años extinguidas
su fulgor todavía nos alcanza
sea por vista o por astrología


Estrelas fixas num céu branco

Estrelas fixas num céu branco,
são os belos sonetos, pois, não giram
em torno de mundo algum
nem hão de ter rodado suas massas densas de catorze valores

Não refletem a luz solar tampouco,
porém, irradiam sua própria luz de dentro
E na madrugada parecem em repouso
ou mortos cujas tumbas são seus corpos

E, sem embargo, as estrelas fixas
às vezes benéficas ou malignas
sempre de energia estão carregadas

E, embora milhares de anos atrás extintas
o seu fulgor todavia nos alcança
seja pela visão ou pela astrologia

OSCAR HAHN



El hombre

Oscar Hahn

Emergió de aguas tibias
y maternales
para viajar a heladas
aguas finales.

A las aguas finales
de oscuros puertos
donde otra vez son niños
todos los muertos.

O homem

Emergiu das águas mornas
e maternais
para viajar às geladas
águas finais.

As águas finais
de portos obscuros
onde novamente são crianças
todos mortos.

Sunday, July 25, 2010

JON JUARISTI



Lauretta

Jon Juaristi

Ya cesaron las lluvias.
Ya perdieron su flor los jacarandáes.
Pronto me iré de aquí.

No hice muchos amigos.
No bajé a los infiernos como Lowry,
y nada me importabas
cuando te conocí.

Ojalá no te hubiera conocido,
boca de ajonjolí.
Ojalá no te hubiera querido
así.

Sólo espero que nunca la tristeza
te trate como a mí.

"Suma de varia intención" 1987


Lauretta

Já cessaram as chuvas.
Já perderam suas flores os jacarandás.
Pronto vou deixar aqui em breve.

Não fiz muitos amigos.
Não baixei aos infernos como Lowry,
e nada importava para mim
quando te conheci.

Oxalá não te tivesse conhecido,
boca de gergelim.
Oxalá não te houvesse querido
assim.

Só espero que nunca a tristeza
te trate como a mim.

UM GRANDE POETA DE BILBAO



Muchacha en la ventana

Jon Juaristi

Fumas. La tarde lenta
de julio va cayendo
sobre el cercano mar.
En esta larga huida
de la luz, solamente
la brasa del cigarro
y la brisa que mueve
los dos geranios mustios
parecen desasirse
de la paz mineral
(tan oscuros e inciertos
el mar de piedra pómez
y tus cabellos húmedos).

"Diario de un poeta recién cansado" 1985

A moça na janela

Fumaça. A tarde lenta
de julho vai caindo
sobre o mar próximo.
Neste longo vôo
de luz
somente a brasa do cigarro
e a brisa que move
os dois gerânios murchos
parecem se libertar
da paz mineral
(Tão obscuros e incertos
o mar de pedra pome
e teus cabelos molhados).

Claribel Alegria



Amor

Claribel Alegria

Todos lo que amo
están en ti
y tú
en todo lo que amo.


Amor

Todos os que amo
estão em ti
e tu
em tudo que amo.

Claribel Alegria



Ars poética

Claribel Alegria


Yo,
poeta de oficio,
condenada tantas veces
a ser cuervo
jamás me cambiaría
por la Venus de Milo:
mientras reina en el Louvre
y se muere de tedio
y junta polvo
yo descubro el sol
todos los días
y entre valles
volcanes
y despojos de guerra
avizoro la tierra prometida.

Ars poética

Eu,
poeta de profissão,
muitas vezes condenado
a ser obscuro
jamais me trocaria
pela Vênus de Milo:
ainda que se encontre no Louvre
e morra de tédio
acumulando poeira
eu descubro o sol
todos os dias
e entre os vales
os vulcões
e os resíduos de guerra
enquanto aguardo ansioso a terra prometida.

Claribel Alegria


Día de lluvia

Claribel Alegria

Nunca más esta lluvia
ni esa mancha de luz
en el peñasco
ni el borde
de esa nube
ni tu inmóvil sonrisa
fugitiva.
Nunca más este instante
que ya me dice adiós
desde tus ojos.

Dia de chuva

Nunca mais esta chuva
nem esta mancha de luz
sobre o penhasco
ou a borda
desta nuvem
nem teu imóvel sorriso
fugitivo.
Nunca mais este instante
que já me disse adeus
pelos teus olhos.

Claribel Alegria



Ausencia

Claribel Alegria

Hola
dije mirando tu retrato
y se pasmó el saludo
entre mis labios.
Otra vez la punzada,
el saber que es inútil;
el calcinado clima
de tu ausencia.


Ausência

Olá
disse olhando teu retrato
e surpreendido pela saudação
entre meus lábios.
Mais uma vez a punhalada,
o conhecimento é inútil;
o clima, seco,
com tua ausência.

Saturday, July 24, 2010

AUGIER DE VOLTA




No te voy a decir...


Angel Augier

No te voy a decir
que quiero ser la arena
que tus pies desnudos acaricie,
ni los rayos del sol que bajen jubilosos
a dorar más aún
la fina miel que forma tu epidermis,
ni el agua que la abrace con su espuma
ni el viento que la bese
y agite sus cabellos.

Sólo quiero pedirte que no dejes
que el beso y la caricia
de la arena y las olas,
de la luz y del aire,
destruyan la huellas de los míos
ni mi recuerdo que te sigue
como muda presencia inevitable.


Não vou te dizer ...

Não vou te dizer
que quero ser a areia
para acariciar teus pés descalços,
ou os raios do sol que baixem jubilosos
a dourar mais ainda
o fino mel que forma tua epiderme,
nem a água que te abraça com sua espuma
nem o vento a beijar
e agitar teus cabelos.

Só quero pedir-te para que não deixes
que beijos e carícias
da areia e das ondas,
da luz e do ar,
destrua os meus vestígios
nem memória que te segue
como silenciosa presença inevitável.

Angel Augier



Ansiedad

Angel Augier

Esta flor mía, viva luz sin reflejo,
ahogada en ella misma,
bebiéndose a mi sombra su más íntima savia,
su perfume más puro,
sintiendo en cada pétalo, la clausura del aire
y el secuestro del agua, de la nube, del árbol...

Esta flor mía, encendida, consumiéndose sola,
muerta en su propia música,
apretada en su tallo, quebrado ya de angustia;
quemándose a sí misma,
en tanto que la tierra desnuda su ternura
y es más ancha la vida,
y el canto,
y la mañana...

Ansiedade

Esta flor da minha, viva luz sem reflexo,
afogado em si mesma,
bebendo à minha sombra seu íntimo sabor,
seu perfume mais puro,
sentimento em cada pétala, a clausura do ar
e o seqüestro de água, da nuvem, da árvore ...

Esta flor minha, acendida, consumindo-se só,
morta em sua própria música
pressionado em seu caule, quebrado já de angústia;
queimando-se a si mesma,
enquanto que a terra desnuda sua ternura
e é mais larga que a vida
e o canto
e a manhã.

Friday, July 23, 2010

AINDA MONTEJO



La poesia

Eugenio Montejo

La poesía cruza la tierra sola,
apoya su voz en el dolor del mundo
y nada pide
ni siquiera palabras.

Llega de lejos y sin hora, nunca avisa;
tiene la llave de la puerta.
Al entrar siempre se detiene a mirarnos.
Después abre su mano y nos entrega
una flor o un guijarro, algo secreto,
pero tan intenso que el corazón palpita
demasiado veloz. Y despertamos.


Poesia

A poesia cruza a terra só,
apóia sua voz na dor do mundo
e nada pede
nem sequer palavras.

Vem de longe e sem hora, nunca avisa;
Tem a chave da porta.
Ao entrar sempre param para nos olhar.
Depois abre sua mão e nos entrega
uma flor ou uma pedra, algo secreto,
porém, tão intenso que o coração bate
muito rápido. E despertamos.

EUGENIO MONTEJO



Dura menos un hombre que una vela...

Eugenio Montejo

Dura menos un hombre que una vela
pero la tierra prefiere su lumbre
para seguir el paso de los astros.
Dura menos que un árbol,
que una piedra,
se anochece ante el viento más leve,
con un soplo se apaga.
Dura menos un pájaro,
que un pez fuera del agua,
casi no tiene tiempo de nacer,
da unas vueltas al sol y se borra
entre las sombras de las horas
hasta que sus huesos en el polvo
se mezclan con el viento,
y sin embargo, cuando parte
siempre deja la tierra más clara.

Dura menos um homem do que uma vela

Dura menos um homem que uma vela,
mas, a terra prefere a sua luz
para seguir os passos das estrelas.
Dura menos que uma árvore,
que uma pedra,
se anoitece ante o vento mais leve,
com um sopro se apaga.
Dura menos um pássaro,
um peixe fora d'água
quase não tem tempo de nascer,
dá algumas voltas ao sol e acaba
entre as sombras das horas
até que seus ossos na poeira
se misturam com o vento
e, sem embargo, quando parte
sempre deixa a terra mais clara.

Wednesday, July 14, 2010

Enrique Jaramillo Levi



Barco a la deriva

Enrique Jaramillo Levi

Hay que salvar la nave,
su tripulación,
el cargamento.
Sálvala tú que sabes el oficio,
que puedes tranquilizar el desorden
de las máquinas y el fragor de las olas
con el simple roce de tus dedos,
con el bálsamo de una sonrisa.
No permitas que naufrague
este terco barco a la deriva.
Ofrécele al final tu puerto,
condúcelo
a su muelle húmedo,
y verás cómo se aquieta
este incendio voraz
que me consume.

Barco à deriva

Temos de salvar o navio,
sua tripulação,
e o carregamento.
Salva tu que conheces o ofício,
que podes tranquilizar a desordem
das máquinas e o fragor das ondas
com o simples toque de teus dedos,
com o bálsamo de um sorriso.
Não permita que naufrague
este singelo barco à deriva.
Ofereça-lhe ao final teu porto
leva-o
a tua doca
e verás como se acalma
este incêndio voraz
que me consome.

Tuesday, July 13, 2010

Mia novamente



Hay dos caminos en mi vida...

Mía Gallegos

II
Hay dos caminos en mi vida. Siempre
los hubo. En cada uno hallé un ánfora
con el agua hasta los bordes. De las dos
aguas he bebido hasta saciarme. Mas
ahora, he llegado al final de cada trecho
y las aguas han sido consumidas.
Me coloco el peplo y te escojo a ti, vida,
como tercer camino.

Há dois caminhos em minha vida

Há dois caminhos na minha vida. Sempre
lá estavam. Em cada um encontrei um pote
com água até as bordas. Dos dois
bebi água até saciar-me. Mas,
Agora, cheguei ao fim de cada trecho
e as águas foram consumidas.
Coloquei o roupão e escolhi a ti, vida,
como um terceiro caminho.

Ilustração: fmodia.terra.com.br/.../200909archive001.asp

Mia Gallegos



Vuelvo a la noche

Mía Gallegos


De pronto vuelvo
a la noche
con mis zapatos de agua.

Me desnudo
en el lento
ejercicio de mis manos
y busco
solamente
un objeto mío,
un pequeño barco,
un cometa,
un circo de inventadas cosas,
figuras cotidianas,
tuyas y mías,
que amo.

Pero sé
que de pronto
me vuelvo inaccesible
y vuelvo a ser silencio
y llama oscura,
donde mi barco
se escapa de tu orilla.

Volto à noite
De repente volta
à noite
com meus sapatos de água.

Me desnudo
no lenta
exercício das minhas mãos
e busco
somente
um objeto meu,
um pequeno barco,
um cometa
um circo de coisas inventadas
figuras cotidianas,
tuas e minhas,
que amo.

Porém, eu sei
de repente
me torno inacessível
e volto a ser silêncio
e lama escura
onde o meu barco
escapa do seus laços.

Ilustração: umpontoazul.blogspot.com/2005_03_01_archive.html

Joguinho


É aqui
E é lá.
É em todo lugar
que se esteve
ou se está.

É aqui
e não é.
E é lá
e não é.
E é em lugar nenhum
que não se esteve
ou não se está.

Não desejo explicar
nem entender.
Deixo só
como está
pra você.

Saturday, July 10, 2010

AINDA GELMAN



El juego en que andamos

Juan Gelman

Si me dieran a elegir, yo elegiría
esta salud de saber que estamos muy enfermos,
esta dicha de andar tan infelices.
Si me dieran a elegir, yo elegiría
esta inocencia de no ser un inocente,
esta pureza en que ando por impuro.
Si me dieran a elegir, yo elegiría
este amor con que odio,
esta esperanza que come panes desesperados.
Aquí pasa, señores,
que me juego la muerte.

O jogo que jogamos

Se me deixam eleger, eu elegeria
Esta saúde de saber que estamos muito enfermos,
Esta sorte de andar tão infelizes.
Se me deixam eleger, eu elegeria
Esta inocência de não ser um inocente,
Esta pureza em que ando tão impuro.
Se me deixam eleger, eu elegeria
Este amor com que odeio,
Esta esperança que come pães desesperadamente.
O que acontece, senhores,
É que jogo com a morte.

GELMAN



Epitáfio

Juan Gelman

Un pájaro vivía en mí.
Una flor viajaba en mi sangre.
Mi corazón era un violín.
Quise o no quise. Pero a veces
me quisieron. También a mí
me alegraban: la primavera,
las manos juntas, lo feliz.
¡Digo que el hombre debe serlo!
Aquí yace un pájaro.
Una flor.
Un violín.

Epitáfio

Um pássaro vivia em mim.
Uma flor viajava em meu sangue.
Meu coração era um violino.
Quis ou não quis. Porém, às vezes,
Me quiseram. Também a mim
Me alegravam: a primavera,
As mãos dadas, ser feliz.
Digo que o homem deve ser-lo!
Aqui jaz um pássaro.
Uma flor.
Um violino.

Ilustração: http://globalaio.wordpress.com/

JUAN GELMAN


Costumbres

Juan Gelman

no es para quedarnos en casa que hacemos una casa
no es para quedarnos en el amor que amamos
y no morimos para morir
tenemos sed y
paciencias de animal

Costumes

Não é para ficarmos em casa que fazemos uma casa
Não é para ficarmos no amor que nós amamos
E não morremos para morrer
Temos sede e
Paciências de animal.

Sunday, July 04, 2010

Juana de Ibarbourou



LA HORA

Juana de Ibarbourou


Tómame ahora que aun es temprano
y que llevo dalias nuevas en la mano.

Tómame ahora que aun es sombría
esta taciturna cabellera mía.

Ahora que tengo la carne olorosa
y los ojos limpios y la piel de rosa.

Ahora que calza mi planta ligra
la sandalia viva de la primavera.

Ahora que mis labios repica la risa
como una campana sacudida a prisa.

Después..., ¡ah, yo sé
que ya nada de eso mas tarde tendré!

Que entonces inútil será tu deseo,
como ofrenda puesta sobre un mausoleo.

¡Tómame ahora que aun es temprano
y que tengo rica de nardos la mano!

Hoy, y no mas tarde. Antes que anochezca
y se vuelva mustia la corola fresca.

Hoy, y no mañana. ¡Oh amante! ¿no ves
que la enredadera crecerá ciprés?

A hora

Leve-me agora que é cedo
e eu levo dálias novas na mão.

Leve-me embora agora que é sombra
silêncio é a minha cabeça.

Agora que tenho a carne perfumada
e os olhos claros e a pele rosada.

Agora que calço no meu pé ligeiro
a sandália viva da primavera.

Agora que em meus lábios sobram risos
como uma campainha que ficou presa.

Depois ..., ah, eu sei
que já nada disto mais tarde terei!

Então, seu desejo será inútil,
como uma oferenda posta sobre um mausoléu.

Leve-me agora que é cedo
e eu tenho as mãos ricas de nardos!

Hoje, e não amanhã. Ò amante, não vês
que a trepadeira virará cipreste?