Friday, June 29, 2012

Juan Gelman



Una mujer y un hombre 

Juan Gelmán

Una mujer y un hombre llevados por la vida,
una mujer y un hombre cara a cara
habitan en la noche, desbordan por sus manos,
se oyen subir libres en la sombra,
sus cabezas descansan en una bella infancia
que ellos crearon juntos, plena de sol, de luz,
una mujer y un hombre atados por sus labios
llenan la noche lenta con toda su memoria,
una mujer y un hombre más bellos en el otro
ocupan su lugar en la tierra.
de "Gotán"

Uma mulher e um homem

Uma mulher e um homem levados pela vida,
uma mulher e um homem cara a cara
habitam na noite, desbordam por suas mãos,
se ouvidos são a subir livres na sombra,
suas  cabeças descansando sobre uma bela infância
que eles criaram juntos, cheias de sol, de luz,
uma mulher e um homem atados por seus lábios
enchem a noite lenta com toda a sua memória,
uma mulher e um homem mais belos um que o outro
ocupam o seu lugar na terra.
de "Gotán"

Houve um tempo
em que conversar com os mortos
consistia na minha diversão. 
Na verdade foi um tempo de instrução,
pois, os mortos sempre tem o que ensinar.
É verdade que as conversas
eram verdadeiras aulas de história
por versarem sempre sobre o passado
que era o assunto por demais repisado.
Hoje me culpo por ter abandonado
meus interlocutores que confesso eram prazeirosos,
embora fossem conversas sem futuro.
Os mortos, devo confessar, não fazem mal
e mantinham um clima espiritual
que me agradava.
O ruim de conversar com os mortos
é que possuem um humor bastante negro
e viviam, por esporte, a zombar de mim
lembrando que a vida é uma passagem
e que os encontraria no fim da viagem.
O que queriam de mim? Não sei.
Só os abandonei porque virou um vício
que troquei por videos games.
Mas, hoje, nem sei se fiz bem.
Quem vive na internet vida social também não tem
E, como os mortos, parece virtual
os amigos que na rede arranjei!

Tributo à Bibi



Talvez Bibi não seja
a ferreira da emoção que é.
Talvez não nos forçe a sonhar
com fantasias que nunca existirão,
nem nos encha de magia com canções
que fazem com que o cotidiano pareça irreal e rico.
Talvez Bibi seja um engano
nem seja atriz,  nem cantora, nem mulher.
Talvez seja apenas a sugestão
de que o teatro seja uma ilusão
Que criou sua existência como um mito.
Talvez ela seja apenas um cartaz,
uma artista a mais que nos encanta.
Porém, ao vê-la, no palco quando canta
Não posso deixar de afirmar
que encarna a arte e a poesia
De ser o que sempre será:
a grande dama imortal que sempre nos deslumbrará!

Monday, June 25, 2012

Oscar Sarmiento outra vez



EXILIOS

Oscar Sarmiento

a Guillermo Atías

A ti te halló la muerte lejos de Chile
en un país que no era tu país
pero a nosotros tal vez nos halle aquí en Chile
en un país que no es nuestro país.


Exilios

à Guillermo Atías

A morte te pegou longe do Chile
Num país que não era o teu país,
Porém, a nós,  outros, talvez aqui, no Chile, nos pegue
Num país que não é nosso país.

Ilustração: http://euqueriaterumnome.wordpress.com

Leonora Vicuña


TRAVESIA

Leonora Vicuña

a Armando Rubio, antes de su muerte.

De la nada a la nada, como barcos
que salen de los puertos a la suerte,
vamos de viaje en viaje con la muerte
por grises aguaceros y por charcos.

Después de navegar bajo los arcos
de la ciudad que ya no nos divierte,
sentimos que la ruta nos pervierte
y anclamos en los bares como barcos.

Allí nos transformamos en piratas
que encuentran sus tesoros en el vino
mientras la muerte entona serenatas

y el tiempo sigiloso va borrando
esta marea que nos dio el destino
y hacia la nada vamos navegando...

TRAVESSIA

A Armando Rubio, antes de sua morte.

Do nada ao nada, como barcos
Que largam dos portos à sorte,
Vamos de viagem em viagem com a morte
Por cinzentos nevoeiros e por charcos.

Depois de navegar sob os arcos
Da cidade que já não nos diverte,
Sentimos que a rota nos perverte
E ancoramos pelos bares como barcos.

Ali nos transformamos em piratas
Que encontram os seus tesouros no vinho
Enquanto a morte entoa serenatas

E o tempo silencioso vai apagando
Estas marés que nos deram este destino
E até o nada vamos navegando....

Ilustração: mochileiros.com

Viviana Limpias Chávez


CEMENTERIO DE                                         
LAS PALABRAS
Viviana Limpias Chávez
A falta de otros bienes
llevo a cuestas mis viejos poemas.
Ellos suplen las cosas
y las gentes
que me arrancó la lucha despareja.
Maltrechos y arrugados
yo los aliso sobre las hojas nuevas,
y vienen a contarme unas historias
que no tienen ni siquiera moraleja.
Hoy quiero confesarte, amigo mío,
que ya no soy poeta:
soy embalsamadora de poesías.
Yo no voy con mis cadáveres a cuestas.

Cemitério de palavras

Na falta de outros bens
Levo nas costas meus velhos poemas.
Eles suprem as coisas
E as gentes
Que me arrancou a luta desigual.
Mal ajustados e desarrumados
Eu os aliso sobre novas folhas,
E voltam a me contar umas histórias
Que não tem nem sequer alguma moral.
Hoje quero confessar-te, amigo meu,
Que já não sou poeta>
Sou embalsamadora de poesias.
Eu não vou com meus cadáveres nas minhas costas.

 Ilustração: http://cesarcar.blogspot.com.br

Oscar Sarmiento


DE LOS CABALLOS

Oscar Sarmiento

Cuando resbalan los caballos en la calle
en su vientre rojo
brillan los focos de los autos.

Ni sonidos ni chispas conservan los cascos
y los carreteros
lloran en sus carretas.

Esas ancas no recibirán un látigo más
ni una sola luz de semáforo
esas pupilas.

Nada esas crines
esas herraduras.
En la calle
acaba el cuerpo de los caballos
con marcas de correas
en el cuello.

Dos cavalos

Quando escorregam os cavalos pela rua
Nas barrigas vermelhas
Brilham as luzes dos carros.

Nem sons nem chispas conservam os cascos
E nas estradas
Rangem os carros.

Estas pernas não receberão uma chicotada a mais
Nem uma luz de semáforo
Estas pupilas.

Nada estas crinas
Estas ferraduras.
Na rua
Apenas os corpos dos cavalos
Com marcas de correias
Nos pescoços.

Thursday, June 21, 2012



Antonia Torres 

No se debe traspasar el sueño con el rayo de la espada
así como tampoco someter a juicio la poesía de los camaradas
Remover los dormideros con asuntos inoportunos,
como es la crítica,
es encender la luz del velador y volver inefable el sueño.

Déjese en paz
musitar los febriles delirios
No sea que el amanecer sorprenda
al demonio partiendo nueces.

Advertência

Não se deve trespassar o sonho com o raio da espada
assim como julgar a poesia dos camaradas
Remover os dormitórios com questões inconvenientes,
como a crítica,
é ligar a lâmpada de cabeceira e retornar ao sono inefável.

Queda em paz
sussurra os febris delírios
Não deixe que o amanhecer surpreenda
o diabo a partindo nozes.

Ilustração: www.mariamachado.blog.com 

Ainda Rodrigo Rojas





Rodrigo Rojas

Cuando barro mi pecho,
cuando me atrevo,
su polvo nubla el mundo,
se fractura el cielo sobre la hierba.
Estirado entre pastizales rasga carnes
tibio aún, beso lento el borboteo de mis tajos.
Sé que no puedes esconderte,
el escándalo de pájaros en tu cabeza te delata.

Sobre a grama iluminada

Quando varro meu peito,
quando me atrevo,
seu pó obscurece o mundo,
se fratura o céu sobre a grama.
Estirado entre as pastagens rasga carnes
frágil ainda, beijo lento o  borbulhar dos meus cortes.
Sei que não podes esconder-te,
o escândalo de pássaaros na tua cabeça te delata.

Ilustração:  Pintura de Youji Takeshige.