Wednesday, May 30, 2007

AS´PERDAS


Me habita un cementerio

Ana María Rodas

Me habita un cementerio
me he ido haciendo vieja
aquí
al lado de mis muertos.
No necesito de amigos
me da miedo querer porque he querido a muchos
y a todos los perdi en la guerra.

Me basta con mi pena.
Ella me ayuda a vivir estos amaneceres blancos
Estas noches desiertas
Esta cuenta incesante de las pérdidas.

Um Cemitério habita em mim

Me habita um cemiério
eu me tornei velha
aqui
ao lado de meus mortos.
Eu não necessito de amigos.
Me dá medo querer porque já quis a muitos
e a todos perdi na guerra.

Me basta a minha dor.
Ela me ajuda a viver estes amanheceres brancos
Estas noites desertas
Esta minha conta incessante das perdas.

Tuesday, May 29, 2007

E POR ISTO A VIDA SEGUE SEMPRE IGUAL

A Flor do Diferente

Num mundo permanentemente igual, mecânico,
Apenas os meus sentidos parecem indicar
Que o único esforço real deve ser o de amar,
Porém, a pele e os ossos de se mexer têm pânico.

Os dias parecem ser contra as nuances da vida
Como se até a troca do calendário fosse irreal
E toda mudança, de tanto ser, o fixo,normal,
Soasse sem encanto como uma melodia perdida.
Todos os dias parecem longamente iguais
E lânguidos se arrastam sem remédio,
A se repetir num monótono, crônico, tédio, Música contra a qual não há resistência mais.
Não me importam as favas contadas do cotidiano.
Quando não há escolha o errado e o certo
Se confundem na certeza do imenso deserto,
Do qual, por ironia, brota a flor de modo insano.
E assim perdido na aspereza do uniforme
Me sinto um ser que, por mais desperto, dorme
E por mais esforço que faça para ser e amar
Só vive pela vida a navegar, navegar, navegar....

E por muito mais mar e água que haja ainda
Toda a viagem parece a mesma e mais infinda
Um caminho sem sentido para frente, para frente
Em busca de um porto que nunca é diferente.

Sunday, May 27, 2007

LEMBRAR, DEIXA-ME LEMBRAR...

INSTANTÂNEO

A ternura que vi no teu olhar
No momento de dizer adeus
Vive, agora, a me torturar
E a entristecer os dias meus.

Sei ser tarde pra voltar atrás
Que errei e que errar assim
Se paga muito e até o fim
É um erro que não se apaga mais.

Vejo e revejo na fotografia
Nossos tempos de felicidade
E pergunto pela alegria
Que sem dó só virou saudade.

Friday, May 25, 2007

A VIDA TAMBÉM É UMA....

CIRANDINHA

Com um dedinho
Se faz uma prosa
Com uma prosa
Se come a rosa
E se goza, goza, goza...

Com um gozinho
Nasce a semente
E da semente a confusão
Da confusão nasce a criança
E dança, dança, dança...

Da dança sempre
Surge o amor
E o amor sem rédea ou freio
Pra se consumar
Acha seu meio
E dança, goza e é criança.

Sunday, May 20, 2007

O GRANDE POETA DO URUGUAI

Transgresiones

Mario Benedetti

Todo mandato es minucioso
y cruel
me gustan
las frugales transgresiones

Por ejemplo inventar el buen
amor
aprender
en los cuerpos y en tu cuerpo

Oír la noche y no decir
amén
trazar
cada uno el mapa de su audacia

Aunque nos olvidemos
de olvidar
seguro
que el recuerdo nos olvida

Obedecer a ciegas deja
cego
crecemos
solamente en la osadía

sólo cuando transgredí alguna
orden
el futuro
se vuelve respirable

Todo mandato es minucioso
y cruel
me gustan
las frugales transgresiones.

Transgressões

Todo mandato é criminoso
e cruel.
Eu gosto das suaves transgressões.

Como, por exemplo, inventar
um amor doce
e navegar nos corpos,
no teu corpo

ouvir a noite e não
dizer amém
traçar um mapa
de cada uma das suas ousadias

ainda que esqueçamos
de esquecer,
certamente,
o esquecimento não nos esquecerá

obedecer às cegas
sempre cega,
pois só crescemos
com os gestos de ousadia

Somente transgredindo
alguma ordem
no futuro
voltaremos a viver.

Todo mandato é criminoso
e cruel.
Eu gosto das suaves transgressões.

Sunday, May 13, 2007

UM POETA DA VENEZUELA

EL CAMINANTE

Vicente Gerbasi


Desconozco los bosques de canela
Pero en ellos veo el sol de la tarde
Temblar como una música,
Como un espacio del corazón para el que el tiempo ha reservado sus abejas

Solo los bambúes tienen un silencio azul
Para brillar en el confín del día¿

De donde vengo vestido de soledad para reconocer la tierra?

Oí los gallos en cada una de las horas de los muertos
Encontré las viviendas después de la lluvia de la noche
Dispersas entre redondos árboles rojos¿

Escondo acaso el mundo en mis sentidos?

He visto un leopardo dormido entre juncos en el mediodía del año
Cuando comienza a iluminarse la tristeza

Vi el entierro de un niño bajar de la montaña
Cuando liebres huían entre hierbas solares

Vi una madre cubrirse el rostro con sus cabellos para siempre

¿Hacia dónde he de guiar mis pasos que dejaron atrás graneros húmedos
y brillantes,
lumbres con guitarras en las fiestas labriegas?

El tiempo aún no me detiene
Hay una tempestad reservada a mis huesos,
Un relámpago en los cañaverales nocturnos


O CAMINHANTE

Desconheço os bosques de canela
Mas neles vejo o sol da tarde
Tremer como uma música,
Como um espaço do coração a que o tempo reservou suas abelhas

Só os bambus têm um silêncio azul
Para brilhar nos confins do dia

Donde venho vestido de solidão para reconhecer a terra?

Ouvi os galos em cada uma das horas dos mortos
Encontrei as moradas depois da chuva da noite
Dispersas entre redondas árvores vermelhas.

Escondo acaso o mundo em meus sentidos?

Vi um leopardo adormecido entre juncos no meio-dia do ano
Quando começa a iluminar-se a tristeza

Vi o enterro de um menino descer a montanha
Quando lebres fugiam entre ervas solares

Vi uma mãe cobrir o rosto com os cabelos para sempre.

Aonde hei de guiar meus passos que deixaram para trás celeiros úmidos
e brilhantes, fogueiras com violões nas festas camponesas?

O tempo ainda não me detém
Há uma tempestade reservada aos meus ossos,
Um relâmpago nos canaviais noturnos.

Friday, May 11, 2007

AS VEZES OS SENTIDOS NÃO SÃO ESSENCIAIS

EVIDÊNCIA

Eu não vejo o céu.
Eu não vejo o mar.
Eu não vejo a rua.
Eu não vejo a lua.
Eu não vejo nem os homens
Que dizem que beijam a boca tua.
Eu sou mesmo é cego!

(De Poemas Mal-Comportadas).

Monday, May 07, 2007

CANÇÃOZINHA DO ELO

Não sei se foi seu modo de sorrir...
Nem lembro do seu modo de olhar
Embora bem me lembre me perdi
Nos olhos que não parei mais de olhar.
Talvez tenha sido o toque das mãos
Ou o fato de sempre me ignorar
Sem nunca me dizer que era importante
A cada encontro novo ...o recomeçar.
Vou e volto sem saber como dizer
O que tão evidente agora está
Há um elo encantado...eu e você..
Que, às vezes, custo a acreditar.
E, no entanto a força é tão grande
Que nem preciso dormir pra sonhar.

Sunday, May 06, 2007

UM NOVO POETA

¿PUEDO ESCRIBIR SIN DECIR NADA EN REALIDAD?

Pablo Ruiz

No ha sido esa mi intencion, nunca lo ha sido,
aun cuando asi pareciera, incluso cuando
mi escritura fuera intelegible o, acaso, incompresinble.
Es que veo esas bocas que, con sus respectivas labios,
que ya no besan,que ya no rien,
solo dejan entrever lenguas atareadas y
han dejado al amor en el olvido.
No puedo mas que entriztecer de pena
cuando miro unos ojos frios, aridos,
que no dicen nada, que no reflejan amor ni alegria,
volviendose asi solo cristales opacos.
?Que de la dulce melodia cancionera?
que otorgara aquel placer y algarabia,
!cuanto la han devaluado!...
?a que paraje tenebroso la han confinado?

POSSO ESCREVER SEM DIZER NADA NA REALIDADE

Não era esta minha intenção, nunca o foi,
Ainda quando assim parecia, inclusive quando
Minha escrita foi inteligível ou, por acaso, incompreensível.
Eis que vejo estas bocas que, com seus respectivos lábios,
Que já não beijam, que já não riem,
Só deixando entrever línguas atarefadas e
E que deixaram o amor no esquecimento.
Não posso mais que entristecer de pena
Quando olho uns olhos frios, áridos,
Que não dizem nada, que não refletem amor nem alegria,
Voltando-se assim só cristais opacos.
Que houve com a doce melodia da canção?
Que outorgava o prazer e a algaravia,
Quanto há se desvalorizado!...
Em que paragem tenebrosa a confinaram?

Thursday, May 03, 2007

UMA POETISA DA GUATEMALA

El Sexo

Alaíde Foppa

Oculta rosa palpitante
en el escuro surco,
pozo de estremecida alegria
que incendia en un instante
el turbio curso de mi vida,
secreto siempre inviolado,
fecunda ferida.

O SEXO

Oculta rosa palpitante
No escuro sulco,
Poço de estremecida alegria
Que incendeia num instante
O turvo curso de minha vida,
Segredo sempre inviolado,
Fecunda ferida.