Thursday, June 30, 2016

Uma poesia de Rafael Pombo


Edda / I. Mi amor
Rafael Pombo
Era mi vida el lóbrego vacío;
Era mi corazón la estéril nada;
Pero me viste tú, dulce amor mío,
Y creóme un universo tu mirada.

A ese golpe mis ojos encontraron
Bella la tierra, el ánima divina;
Mundos de sentimientos en mí botaron
Y fue tu sombra el sol que me ilumina.
Si esto es amor, ¡oh joven! yo te amo,
Y si esto es gratitud, yo te bendigo;
Yo mi adorado, mi señor te llamo,
Que otras te den el título de amigo.


Edda / I. Meu amor

Minha vida era tão  vazia, um pavor;
Meu coração era um estéril nada;
Mas, eu vi você, meu doce amor,
E nasceu um universo de tua mirada.

Neste golpe que meus olhos encontraram
Bela ficou a Terra, a alma divina;
Mundos de sentimentos em mim brotaraam
E foi tua sombra o sol que me ilumina.

Se isto é amor, Oh! jovem! eu te amo,
E se isto é gratidão, eu te bendigo;
Você, minha amada, de senhora, te chamo,
Que outras te deem o título de amigo.


Ilustração: www.amordealmas.com

Wednesday, June 29, 2016

Uma poesia de Soledad González

                                                            VIDA MÍA

Soledad González

Si pudiera te abofetearía cien veces.
Cien veces cien veces.
Hasta no tener fuerza, hasta sacarme ampollas en
las manos.
Si pudiera no te lo diría, te lo daría por escrito en la
pared de tu casa.
Estúpido, estúpido, estúpido para que lo leas y lo
leas.
No siento compasión por nadie. A veces por mí.
Pero trato de sacudirme.
Porque la literatura es asquerosa, el cine pornográ-
fico y el teatro impotente.
Como la mayoría de los sucesos.
Tengo algunos santos. Estoicos, animistas y sensua-
les a su manera.
Viejos lobos y zorras que alinean mis sentimientos.
La manada.
Me mantienen alerta, puedo abrirme un camino en
la nieve.
Aullar o meter la cola entre las patas y desaparecer
sobre el fino hielo.
Esa es mi destreza, querido. (El precio es inmenso.)

Vida minha

Se pudesse te esbofetearia cem vezes.
Cem vezes cem vezes.
Até não ter força, até aparecer-me bolhas
nas mãos.
Se pudesse não te diria, o daria por escrito na
parede de tua casa.
Estúpido, estúpido, estúpido para que o leias e o
leias.
Não sinto compaixão por ninguém. Ás vezes, por mim.
Porém, trato de me sacudir.
Porque a literatura é asquerosa, o cinema pornográfico
e o teatro impotente.
Como a maioria dos sucessos.
Tenho alguns santos. Estoicos, animistas e sensuais
à sua maneira.
Velhos lobos e raposas que alienam meus sentimentos.
A manada.
Me mantém alerta, posso abrir, para mim, um caminho
na neve.
Uivar ou meter a cauda entre as patas e desaparecer
sobre o fino gelo.
Esta é minha destreza, querido. (O preço é imenso).


Ilustração: adulmigos.ning.com

Tuesday, June 28, 2016

Canção do passageiro

Formosa mulher,                               a boa bebida,
qual a boa comida,
nos enche de satisfação e de coragem-
nem que, às vezes, apenas de dormir.
É o teu olhar,
com esta pureza de ingênua sabedoria,
que me alumia muito mais do que a lua.
Só desejo que as noites
sejam longas como as pernas tuas
e que minha solidão
morra na tua companhia.
Quando amanhã me for,
se for algum dia,
saiba que para sempre ficarás
no meu coração.
Passageiros somos todos,
queiramos ou não. 

Monday, June 27, 2016

Um poema de Conceição Lima

Residencia                                    
Conceição Lima

Regresarás por el viejo sendero
Sin aviso.
Será como ayer, al atardecer:
Remoto, repentino, el silbido.
Y en el camino, un sollozo de fiesta
Esparcido.
La luz será húmeda
La lluvia íntima
Sobre la marca de tus pies.
Dedo a dedo, hoja a hoja
Tocarás los olores
Los sortilegios del solar:
El limonar enano de la abuela
El decrépito izaquenteiro
El ocá, tan sombreado,
El kimi retorcido
Y a la entrada, en el barro grabado
El fantasma del chivo blanco.
El escalón habrá de crujir a tu primer paso.
Subirás lento, concreto
Sin pisar la tabla suelta del suelo.
La puerta estará abierta, la vela encendida.

RESIDÊNCIA

Regressarás pela velha trilha
Sem aviso.
Será como ontem, ao entardecer:
Remoto, repentino, o assobio.
E, no caminho, um soluço de festa
derramado.
A luz será úmida
A chuva íntima
Sobre a marca de teus pés.
Dedo a dedo, folha a folha
Sentirás os cheiros
Os sortilégios do pomar.
Os limoeiros anões da avô
O decadente pé de feijão,
O ocá cheio de sombras,
O kiwi torto
E, na entrada, gravado em barro
O fantasma do bode branco.
A escada haverá de ranger ao primeiro passo.
Subirás devagar, pesadamente
Sem pisar a tábua solta do assoalho.
A porta estará aberta e a vela acesa.


Sunday, June 26, 2016

Uma poesia de Elsa Batista

Puedo soñar                                                                         
Elsa Batista

Puedo soñar, amor, que no estás lejos,
que se ahogan en mis manos las distancias,
que en mi pecho encuentras tu refugio,
que tus besos hacen nido en mi mirada

Puedo soñar, amor, que no es el viento
el que canta su canción en mi ventana
que es tu voz la que rompe mis silencios,
que es por mí que despiertan tus palabras

Puedo soñar, amor, que yo soy río
que en mí ahogas tus horas de ternura
que en un segundo naufrago yo en tu vida,
que tu tiempo y mi tiempo se conjugan

Puedo soñar, amor, que hasta ti llego,
que soy leve transparente mariposa
que emancipada retozo por tus prados,
que ahogo mi néctar en tu boca.

Posso sonhar

Posso sonhar, amor, que não estais distante,
que se afogam nas minhas mãos as distâncias,
que, em meu peito encontras refúgio,
que em teus beijos fazem ninho meus olhares.

Posso sonhar, amor, que não é o vento
o que canta suas canções na minha janela
que é tua voz que rompe meus silêncios,
que é por mim que despertam tuas palavras

Posso sonhar, amor, que eu sou o rio
que, em mim, afogas tuas horas de ternura
que, em um segundo, naufrago eu na tua vida,
que o teu tempo e o meu se conjugam

Posso sonhar, amor, que até te chego,
que sou leve e transparente borboleta
que, emancipada, flauteio por teus campos,
que afogo meu néctar na tua boca.

Ilustração: utopia43.tumblr.com


Uma poesia de Giovanni Quessep

Volviendo a la esperanza...                                             
 Giovanni Quessep

Volviendo a la esperanza
miramos el cielo
apretado de pájaros.
La tarde vuela en torno
de la fuente
que gotea un tiempo con hadas:
Todo es claro en los sueños
cuando se nombra
un acto de amor,
y tú esperas a la orilla
del agua,
sola en el reino terrenal
de la ausencia.
La tarde es el recuerdo
del día ya invadido por su fábula.

Voltando a esperança

Voltando a esperança
olhamos para o céu
apetrejado de pássaros.
A tarde voa em volta
da fonte
que goteja um tempo de fada:
tudo é claro nos sonhos
quando se nomeia
um ato de amor,
e tu esperas na beira
da água,
só em um reino terreno
da ausência.
A tarde é a recordação
do dia já invadido por sua fábula.


Ilustração: www.portalodia.com

Friday, June 24, 2016

Mais uma poesia de Sabines

Cuando tengas ganas de morirte                                        
Jaime Sabines

Cuando tengas ganas de morirte
Esconde la cabeza bajo la almohada
Y cuenta cuatro mil borregos.
Quédate dos días sin comer
Y veras qué hermosa es la vida:
Carne, frijoles, pan.
Quédate sin mujer: verás.
Cuando tengas ganas de morirte
No alborotes tanto: muérete
Y ya.

Quando tiveres vontade de morrer

Quando tiveres vontade de morrer
Esconde a cabeça sob a almofada
E conta quatro mil carneiros.
Fica dois dias sem comer
E verás que formosa é a vida:
Carne, feijões, pão.
Fica sem mulher: verás.
Quando tiveres vontade de morrer
Não se alvoroce tanto: morre
E logo.


Ilustração: vejario.abril.com.br

Pensar, professor, pensar...

Só a ilusão que não se desfaz
Permanece como o sonho que é                                
E faz de ti a perfeita mulher
Das quais, infelizmente, não mais se faz...

Sei que sempre estarei no teu pensamento
Ainda que a beleza seja coberta pela dor.
Hás de pensar, talvez, só por um momento
Como seria tão feliz o nosso amor!

E é. Só no pensamento! Só no pensamento!


Ilustração: peapaz.ning.com

Thursday, June 23, 2016

NO RITMO


Ah! Como é bonita a harmonia!
Como a vida fica bela
quando reina a paz.
Até que, enfim, vejo alegria
inclusive no olhar dela-
coisa que não via mais.
Na verdade, agora, falta
muito, muito pouco mesmo
para o prazer estar em alta:
só um pouco de feijão e torresmo,
umas tapinhas, uns abraços, o riso a esmo.
Adoro sentir compreensão
e meço o bom caráter do sujeito
pelo desprendimento em abrir a mão,
o sorriso, o coração, o peito.
Seriedade, meu bom rapaz, é de lei
assim como ter diálogo.
Se você sabe de algo também sei
e os mandamentos são um ótimo decálogo.
Não quero mais do que me é devido.
Não sou primeiro violino, nem maestro,
porém, a boa música sei de ouvido
e distingo entre os clássicos e o resto.
Não condeno os que sabem improvisar,
nem quem, de alguma forma, a vida move.
Gosto menos de bater do que louvar
e, se me pagam bem, só digo love,
seja quem for que venha me pagar.
Só não aceito propostas desonestas
Como as de, até, me deixarem passar fome
com tanta gente promovendo festas
e ainda utilizando meu bom nome! 

Tuesday, June 21, 2016

Uma poesia de Pedro Xavier Solís Cuadra

Y yo me dije                                                                               
 Pedro Xavier Solís Cuadra

Y yo me dije: “Haré a Dios conforme a mi semejanza”.
Y me puse en el centro para hacerlo a mi manera.
Pero yo era un gran vacío;
mi vida flotaba sobre la haz del abismo.
Y vi que yo era noche y que era noche para otros.
Y dije yo: “Haya luz”. Pero no se apartó la oscuridad.
Ni amaneció el día primero. Y sin pertrechos
–en medio de la nada– vi que mi caducidad era eterna.

E eu me disse

E eu me disse: “Farei a Deus conforme a minha semelhança”.
E me pus no centro para fazê-lo à minha maneira.
Porém, eu era um grande vazio:
minha vida flutuava sobre a beira do abismo.
E vi que eu era noite e que era noite para outros.
E disse eu; “Haja luz”. Porém, não se afastou a escuridão.
Nem amanheceu o primeiro dia. E sem apetrechos
-em meio do nada- vi que minha decadência era eterna.

Ilustração: poemasmeuseteus.blogspot.com


Monday, June 20, 2016

Três poesias de Ana María Oviedo Palomares

XXXIV                                    

Ana María Oviedo Palomares


Y cuando al fin comprendas que el amor bonito lo tenías conmigo

No servirá de nada
y a mi no va a importarme
que te arranques el alma pensando en nuestras noches,
que el despecho te cierre las puertas del mundo
cada vez que te besen otros labios,
que de tanto añorar tu corazón se vuelva piedra roja,
fiera enjaulada,
como yo ruego ahora.

Cuando al fin lo comprendas
habré conjurado tu nombre,

y si no pasa nunca,
peor para ti,

que tuviste la maravilla del fuego entre las manos

y no te quemaste.


XXXIV

E quando, ao fim, percebas que amor bonito tivemos

Não servirá de nada
e para mim não vai mais importar
que te arranques a alma pensando em nossas noites,
que, a despeito de que feches as portas para o mundo
cada vez que te beijem outros lábios,
que de tanto ansiar o teu coração se torne pedra vermelha,
fera enjaulada,
como eu rogo agora.

Quando, ao fim, compreenderes
Vou ter esconjurado o teu nome,

e se não passar nunca,
pior para ti,

que tivestes a maravilha de tiros entre as mãos

e não te queimastes.

XIX

Ana María Oviedo Palomares

(cómo se vive sin ti)

Procuraste siempre
enseñarme lo difícil.

En verdad te esforzaste.

pero no aprendí.

XIX

(como se vive sem ti)

Procurastes sempre
Ensinar-me o difícil.

Na verdade te esforçastes.

Porém, não aprendi.

XXIII

Ana María Oviedo Palomares


Y conste que
ninguno es
                       el amor sagrado, compañero de mis días

pero sería inconveniente
–y largo de explicar–

cómo se pueden querer
                                         dos hombres a la vez
y no estar loca.

XXIII

E consta que
nenhum é
                     o  amor sagrado, companheiro de meus dias

porém, seria inconveniente
-e duro de explicar

como é possível querer
                                          dois homens ao mesmo tempo

e não ser louca.

Sunday, June 19, 2016

Uma poesia de Abu Amir ibn Suhayd

 
La muerte me alcanza

Abu Amir ibn Suhayd

Cuando veo que la vida me vuelve la cabeza
y sé de cierto que la muerte me da alcance,
desearía vivir en cualquier escondrijo,
en lo más alto de una montaña escarpada,
batida por los vientos, alimentándome
de semillas derramadas, el resto de mi vida,
solitario, sorbiendo agua de oquedades.
Es mi amigo quien deseó la muerte alguna vez,
pues yo, palabra, la deseé cincuenta al menos,
y, ahora que llega la hora de partir, me parece
no haber obtenido del mundo desde siempre
sino una mirada, fugaz como un relámpago.
¿Quién llevará de mí a Ibn Hazm noticia,
él que fuera mano en las desgracias, los aprietos?
Sobre ti, me voy para siempre, sea la paz de Dios,
bástete como viático, te lo da un amigo que parte.
No olvides velarme cuando me pierdas,
rememorar mis días, los dones de mi carácter,
y, cuando me echen a faltar,
conmueve, por Dios, cada vez que me recuerdes
a todo mozo valiente, despabilado.
Quizás mi cuerpo, en su sepultura, escuche algo
de la letanía del salmodio o del tañido del músico.
Al ser recordado tras la muerte, tendré descanso:
no me lo neguéis pensando que no es solaz de difuntos.
Yo pongo mi esperanza en Dios por tiempos pasados
y los pecados cometidos: Él conoce mis verdades.

A morte me alcança

Quando vejo que a vida me torce a cabeça
e sei, decerto, que a morte já me alcança,
desejaria viver em qualquer esconderijo,
no mais alto de uma montanha íngreme,
Fustigado pelos ventos, alimentando-me
de sementes derramadas, o resto de minha vida,
sozinho, sorvendo água de poças.
É, meu amigo, quem desejou a morte, alguma vez,
pois, eu, palavra, a desejei, cinquenta, ao menos,
e, agora, que é hora de partir, me parece
não haver obtido do mundo desde sempre
senão um olhar, fugaz, como um relâmpago.
Quem levará de mim, a Ibn Hazm, a notícia,
ele que esteve, a meu lado, nos infortúnios, nos apertos?
Sobre ti, me vou para sempre, que seja na paz de Deus,
basta-te como extrema unção, dá-lo a um amigo que parte.
Não se esqueça de velar-me quando me percas,
relembrar meus dias, os dons do meu caráter,
e quando  me sintam faltar,
Se comova por Deus, sempre ao me lembrar
a todos os bravos companheiros, diga ele está bem vivo.
Talvez o meu corpo na sua sepultura, escute algo
da litania, de um salmo ou o tangido de um músico.
Para ser lembrado depois da morte, descanse em paz:
não me negue a pensar que não seja conforto dos defuntos.
Eu ponho minha esperança em Deus por tempos passados
e os pecados cometidos: Ele conhece minhas verdades.


Ilustração: Kandinsky - Composição 06