Saturday, December 31, 2005

31 DE DEZEMBRO



Se fui menino não me lembro,
Mas também não compreendo
Como me encontro velho assim....

Sou um Narciso sem imagem:
Olho para um espelho
No qual não se reflete
Nada de mim.

E o problema persiste
Fora do espelho.
Se não vejo os olhos vermelhos,
Se não vejo os cabelos brancos,
Vejo que tudo continua estranho
E não consigo dominar o pranto.

Como observador
De alguém que eu não sou
Percebo, inutilmente,
O tempo que passou
E que de nada adianta
Os dias que virão
Pela frente....

Infelizmente o ano novo não será diferente!

Friday, December 30, 2005

POEMA DA ESPERA


Talvez seja melhor
Que não venhas.
Ou, melhor ainda se nunca
tivesses vindo.

Porque se assim fosse
Não sentiria
O que estou sentindo
Tamanha ausência de significado.

Talvez seja melhor
Que não venhas.
Podes não ser
Mais nada do que foi
E só matar
O que houve entre nós dois.

Tanto tempos separados
Deve fazer diferença
E se, de repente,
Somos dois estranhos?

Não, é melhor que não venhas.
Melhor permanecer, como agora,
Sem saber por quais caminhos,
Lugares e bancos
Os teus sonhos repousam.

No entanto há uma parte de mim
Que insiste
Em que, de fato, jamais partistes.
E ainda sonha
Com os dias gloriosos
De tua volta
E me sussura
Que não te esquecerei.

Talvez seja melhor que não venhas-
Repito, ansioso, por ouvir tua voz rouca
Me chamar, novamente, de “Meu lindo”!

SEM IMPORTUNAR, POR FAVOR


Tentei,
Sem sucesso,
Controlar minha vida.
Acabei assim
Vivendo um terço,
Uma metade,
Quem sabe...

Sei
Que do meu destino
Não sei eu.
Talvez meu corpo,
Que esconde surpresas
Nem sempre agradáveis,
Ou outro, inesperado,
Que me assalta,
Em qualquer parte,
E se torna senhor
Da minha vida.

Infelizmente
Sou tão frágil
Que um simples dedo
Ou uma lâmina qualquer
Me torna uma vaga lembrança.

Muito mais cruel,
Porém é quem,
Igual a ela,
Com beijos e carinhos desmedidos
Me deixou vivo
E sem sentido.

Por favor,
Quem quiser doravante
Seja rápido:
Mate-me sem carinhos, beijos,
Perguntas ou desculpas.

Wednesday, December 28, 2005

CANÇÃO DO LAMENTO



















Que se passou comigo?
Como me encontro assim,
Num fim de ano,
Abarrotado de enganos,
Sem ilusões,
Imerso na tristeza
Como um piano
Que só toca notas amarguradas?

Sei que a vida tem tanta beleza;
Sei que teria mil razões
Para cantar
Para dizer que estou melhor
Que muitos outros.
Sei que viver, por si só,
Amar, sentir, ter prazer
Já é um milagre.

Só não nesta tarde.
E não é o envelhecer
Que me dói.
A dor mais funda,
A dor realmente profunda
Que se enfiou em mim,
Como um longo e comprido punhal,
Foi esta doída e mortal
Saudade de você!

Monday, December 26, 2005

UM POETA ARGENTINO


Poema XVI
Luis Raúl Calvo

Regresar al viejo sitio
tiene sus riesgos.

Uno llega con el deseo
de encontrar la imagen
suspendida en el pasado
pero el paso del tiempo
nos da otras respuestas.

Ni las mismas casas
ni los mismos rostros
ni los mismos olores

ni las mismas aguas
ni las mismas miserias
ni las mismas amantes
están allí, para dar testimonio
de que alguna vez fuimos nosotros
los que decidimos alejarnos.

Nadie para certificar, o dejar
constancia, de nuestra antigua identidad.

Poema XVI

Retornar aos velhos lugares
Tem seus riscos.

Um chega com o desejo
de encontrar a imagem
suspensa no passado,
porém o tempo
nos dá outras despostas.

Nem as mesmas casas,
Nem os mesmos rostos
Nem os mesmos perfumes.

Nem as mesmas águas,
Nem as mesmas misérias,
Nem as mesmas amantes
Estão ali para dar testemunhos
De que alguma vez fomos outro
Do qual decidimos se separar

Nada para certificar ou deixar
Lembrança de nossa antiga identidade.

Thursday, December 22, 2005

RESSACA DO MAR


O dia amanheceu com gosto de cerveja.
As mãos ainda estremecidas
Buscaram a mulher que não havia
Ocupado a minha cama.

A cabeça pesada pesa menos que a vida desarrumada
E a lembrança do seu perfume e da pele macia
Que marcam sua ausência
Recorrente desejo que em mim ainda arde
Abrindo buracos no meu peito.

Um homem que navega à deriva
Ao sabor do vento não pode escolher
O porto para atracar.

O navio que sou
Navega por precisão
(apesar da imprecisão dos rumos)
Com o sentido único de que
Depois do mar
Nada há
Senão os lenços brancos do adeus
E a terra negra que cobre o esqueleto
Da nau inútil,

Ou seja,
Não há bússola, ou roteiro,
Capaz de modificar este navegar solitário.
E me entrego à cama confortável
Ainda mais sozinho

Para buscar o sono passageiro
Antes do sono eterno.

Wednesday, December 21, 2005

UMA POETA PERUANA


MEMORIA DE ELECTRA

Mariela Dreyfus

Soy un hombre.
He construido un templo
donde mi virilidad no tiene límites.
Cinco vírgenes me rodean
de día las desnudo al contemplarlas
de noche cubro sus cuerpos
con mi semen angustioso y renovado.
Esta necesidad
me viene de muy niño;
cuando intentaba soñar
me despertaban los gemidos
de mi madre y de su amante.

Pero soy un hombre.Que nadie se atreva
a profanar mis reinos.

Memória de Electra

Sou um homem
Que construiu um templo
no qual minha virilidade não tem limites.
Cinco virgens me rodeiam
de dia as desnudo para contemplá-las
de noite cubro seus corpos
com meu sêmen impaciente e renovado.
Esta necessidade
me vem de muito criança;
quando procurava sonhar
e me despertavam os gemidos
de minha mãe e seu amante.
Hoje sou um homem.
Que ninguém se atreva
A profanar meus reinos.

Tuesday, December 20, 2005

UM POETA PERUANO

EN UNA ANTICIPADA DESPEDIDA

Carlos López Degregori

Espejo que de pronto despiertas y caminas por el cuarto
abrazando por última vez a la cama, a las sillas,
al ropero
en una anticipada despedida
que algún día tendrás que devolver.
Te llevas mis negras alas de ángel
risas, sombras, murmullos, traiciones, arañazos
que fueron contigo pareciéndose a mi cara.
Mañana me comenzarás a doler.
Mañana golpearé con mis manos de fierro
el lugar que has dejado
vacío en la pared
y se me hincharán los labios de repetir
que siempre fuiste un mal espejo
y ya sólo deseo que te pierdas.
Pero no será verdad.
Te quiero bien.
Huye de los ropavejeros en las calles que pueden atraparte,
no te hundas en un lago o vueles en relámpagos,
no vayas a trizarte.
Y mañana,
si tienes suerte y sobrevives,
si despiertas inexplicablemente en mi habitación
al otro lado del mundo
y si en ella no estoy porque he salido
para no regresar más
o he enfermado de carbón
o he muerto:
recuerda que siempre fuiste un mal espejo
y un mal espejo, para descansar al fin, debe entregar
lo que retuvo:
ya mi cara no será importante
quédatela seca
pero devuélveme mis alas que las voy a necesitar:
guárdalas bien dobladas en el ropero otra vez,
siéntalas en las sillas,
tiéndelas, para que me esperen dormidas, en mi cama.

UM ADEUS ANTECIPADO

Espelho que acorda e caminha pelo quarto
Abraçando pela última vez a cama, as cadeiras,
os guarda-roupas
num antecipado adeus
de quem algum dia terá que voltar.
Tu levas minhas asas pretas de anjo,
risadas, máscaras, murmúrios, traições, intrigas
que vão contigo parecendo-se com meu rosto.
Amanhã começaras a doer.
Amanhã golpearei com minhas mãos de ferro
o lugar que terás deixado
vazio na parede
e os punhos ficarão inchados para repetir
que tu fostes sempre um mau espelho
e só desejo que se percas.
Mas não será verdade.
Eu te quero bem.
Foge dos camareiros nas ruas que podem atrapalhar-te,
Não te afundes num lago ou não voltes nos relâmpagos,
Não vais te atrasar.

E amanhã,
se tiver sorte e sobreviver,
se despertas inexplicavelmente em meu quarto
do outro lado do mundo
e se nele não estiver porque sai
para não retornar mais
ou tenha virado carvão
ou esteja morto:
Lembra que sempre fostes um mau espelho
e um mau espelho, para descansar ao fim, deve entregar
o que reteve:
já meu rosto não será importante
de tão seco,
porém devolve-me minhas asas que delas vou necessitar:
guarde-as bem dobradas no guarda-roupa outra vez,
dobre-as nas cadeiras,
cuidas, para que me esperem adormecidas na minha cama.

Monday, December 19, 2005

PROVA REAL

Para Li Rayol

Fazem, hoje em dia, propaganda de todas as maravilhas:
É remédio que tudo cura,
Bebida que rejuvenesce,
Caldo que sacode velho,
Reza que corte sutura,
Arranjar homem com prece
E até biscoito pra ganhar na loteria.
Engana-se todo mundo com tudo
Todo dia.
Agora, maravilha das maravilhas,
Única prova de que, de fato,
Deus é brasileiro
Só mesmo a tapioquinha do Mosqueiro!

UM POETA CUBANO



Beatus Ille
Virgílio PIÑERA

Feliz aquel que vive en un país dormido
junto a un lago o junto al mar,
sobre un río quietísimo,
a la vera de un valle
donde no se escucha el trueno de las revoluciones
ni el cántico de la ciudad.

Feliz quien siembra árboles y recoge las frutas,
cultiva tanto la luz como la sombra
y ni se place de sí ni aspira a ser otro
sino sólo a morir tranquilamente...

Vivir en la paz de la Nada. Como si fuera un muerto
que no aguarda retornar.

Beatus Ille
Feliz aquele que vive num país adormecido
Junto ao lago ou junto ao mar,
Sobre um rio quietíssimo,
Ou à beira de um vale
No qual não se escuta o troar das revoluções
Nem o rumor da cidade.

Feliz quem semeia arvores e recolhe as frutas,
Cultiva tanto a luz quanto as sombras
E não se põe a aspirar ser outro
E sim apenas a morrer tranqüilamente...

Viver na paz do nada. Como se fosse um morto
Que nem sonha em ressuscitar.

Sunday, December 18, 2005

UM DOS GRANDES POETAS DOMINICANOS

LOS HOMBRES NO SABEN MORIRSE
Manuel Del Cabral

Los hombres no saben morirse...
Unos mueren no queriendo la muerte;
otros
la encuentran en un beso, pero sin estatura...
otros
saben que cuando cantan no le verán la cara.

Los hombres no se mueren completos, no saben irse enteros...
Unos reparten en el viaje sus retazos de muerte;
otros
dejan el odio para cuando vuelvan...
Otros
se van tocando el cuerpo para saber si salen de la trampa...

Los hombres no saben morirse...
Unos van dejando su yo sin comprenderlo;
van dejando basura para escoba esotérica;
otros
se vuelven hacia adentro ante el vacío...

Os Homens não sabem morrer

Os homens não sabem morrer...
Uns morrem não querendo a morte
outros
a encontram num beijo, porém sem grandeza...
outros
sabem que, quando cantam, não verão sua face.

Os homens não sabem morrer completos, não sabem ir inteiros...
Uns repartem, em sua viagem, seus retalhos da morte;
outros
deixam seu ódio para quando voltarem...
outros
Se vão tocando o corpo
ver se escapam da armadilha...

Os homens não sabem morrer
Uns vão deixando seu eu sem se compreender;
Vão deixando restos para a escova esotérica;
Outros
Se voltam para si mesmos diante do vazio....

Thursday, December 15, 2005

APAGADOR



Todo amor que vira água
Escrevo o nome na areia
Vem à onda leva a mágoa
Pra incomodar as sereias.

Wednesday, December 14, 2005

CANÇÃO DA HORA INESPERADA

Se não és um fantasma,
Se não tenho ilusão,
Por favor,
Não, não diga nada,
Nada de explicação.
Me dá só tua mão,
Me olha com o mesmo olhar
Que vou por a música pra tocar.
Só te dou permissão
Para um copo de vinho,
Um carinho, um beijo, talvez,
Antes de dançar.
Como pode ser a última vez
Só preciso que saiba
Que, hoje, me fez
Muito feliz.

AMÉLIA MODERNA


Sei que comprei
Alguns sapatos a mais
Que gastei, gastei demais,
Mas foi você quem me seduziu
Quem se iludiu, me iludiu
E acostumou mal assim.
E não posso dizer que não gostei
Se, o doce, agora, acabou
O dinheiro também
Não me importo, meu bem,
Se tiver pra viver
Num lugarzinho qualquer
Só de peixe e farinha
Você pode dizer
Perdi tudo que tinha,
Porém aquela mulher
Ainda é minha,
Só minha!

UM POETA PERUANO


EN EL MOMENTO QUE VENGAS A MÍ
Raúl Mendizábal


(y antes de las lluvias tu complacencia
y por los parques tu vientre hayas abandonado)
me hablarás de tu raigambre en las cosas elementales
te diré: en lima garúa
solamente

y en el momento que vengas a mí
(y antes de la ternura tus palabras necias
y tu sexo como una flor abierta sea previo a los sinsabores)
yo te rociaré con abundante espuma
tú un vals arrepentido dirás bailar


NO MOMENTO QUE VENS PARA MIM

(e antes das chuvas de tua indulgência
e pelos parques onde teu ventre foi abandonado)
me falaras de tuas raízes nas coisas elementares
E te direi: da nevoa de um arquivo
somente

e, no momento que tu vens para mim,
(e antes da ternura de tuas palavras tolas
E que teu sexo como uma flor aberta seja véspera dos desgostos)
Eu te roçarei com abundante espuma
Tu, uma valsa arrependida, dirás que vais dançar

Thursday, December 08, 2005

UM FRAGMENTO DE SANTIAGO NÚÑES CASTRO

"Sussurro de Lagrimas"
(Fragmento)
Santiago Núñez Castro
"Ese ojo ya no resiste el tiempo
esta cansado de cargar angustias
necesita salir de su bobeda
y saber a ciencia cierta
que no llora solo."


Sussurro de Lágrimas
(Fragmento)

Este olho já não resiste ao tempo
Está cansado de carregar angústias
Necessita sair de sua abóbada
E saber a forma certa
De não chorar sozinho.

SONETO DAS BORBOLETAS


Soneto das Borboletas

Assim deitada e nua te encontro
Molhada de desejo, um ar tão natural
Que atiça a chama do amor sedento
Que se sacia em ti com uma fúria animal

Porém, mais do que eu, queimas em brasas
E queres muito mais do que até posso,
Pois tu queres a música sem pausas
E muito além da carne comes até o osso

Queimando na fogueira sempre acesa,
Entre as paredes, nossa vida presa,
É a melhor com que jamais sonhamos

Nem sei, nem sabes, o que lá fora espera
O mundo é aqui. E, em plena primavera,
Há menos borboletas do que nós gozamos!

Wednesday, December 07, 2005

SEM MUITO PRA DIZER

Aqui, enfim descanso, impregnado do cheiro da vida lá de fora.
As roupas, os cabelos, o suor, as mãos
Dizem o que não sei como falar, mas do meu ar escapam
Alargando o abismo que já é imenso
E permaneces incrédula e exausta, tão na margem de mim,
Como sempre estivestes.
Tento fugir do cerco inevitável das palavras.
Mas, sei que, intimamente, sorris da tentativa inútil
De esconder o que tão claro aparece.
Nem me perguntas onde estive
Ou de onde vim.
Não perguntas por que já tens resposta.
O silêncio, a culpa escancarada
Que confesso por não dizer nada, pesa,
Entre nós, feito um fardo insuportável.
Como uma criança arrependida
Procuro te agradar em vão
Tu sabes, e eu sei,
Que não há ilusão e só as lembranças,
Entre nossos exercícios de silêncio,
Servem como último elo
Para nos encontrarmos,
Mas, mesmo assim,
Não dizem nada.

Tuesday, December 06, 2005

AINDA ALEYDA

ALGUNAS ROSAS VERDES

Esta mujer de hechizos
de mentiras y
yeso
teje las medias
más cálidas
para el día
de su muerte
Una cruz
una caja de madera
algunas rosas verdes
esperan por ella

No hay temor
a la muerte

Solo pido
sea justa.


ALGUMAS ROSAS VERDES

Esta mulher de feitiços
de mentiras
e gesso
tece os meios
mais cálidos
para o dia de sua morte
Uma cruz
uma caixa de madeira
algumas rosas verdes
esperam por ela

Não há nenhum
temor da morte

Só pede
Que seja justa.

ALEYDA, UMA POETA DO EQUADOR

MÚSICA JAPONESA

Aleyda Quevedo Rojas

¡Ah! de las horribles pasiones que recorren mi cuerpo
insoportables cuando los ojos de otros miran

Sé que voy
hacia el despeñadero de cuerpos desconocidos
que aman y emocionan

Señor, no me abandones en arenas
de almas en movimiento
soy tuya
camino descalza y pulcra en mitad del desierto
preparada para el goce o la muerte

Más allá de esta seducción
guía mis pasos en el amor.


Música Japonesa
¡Ah! Das horríveis paixões que percorrem meu corpo
insuportáveis quando outros os olhos olham

Sei que vou
até o despenhadeiro de corpos desconhecidos
que amam e se emocionam

Senhor, não me abandone em areias de almas
em movimento
sou tua
caminho descalça e desnuda no meio do deserto
preparada para o gozo ou para a morte

Muito além desta sedução
Guia meus passos o amor.

Sunday, December 04, 2005

Foto de http://annezinha.zip.net
Não Digas Nada

Não digas nada
Até mesmo as palavras mais doces
São inúteis, em certos instantes,
Quando não há o que entender -
Tudo é somente questão
De sentir e de ver...

Não digas nada
Melhor esquecer
Talvez quem sabe amanhã
Em outro momento
A voz não seja vã
E tenha o tom exato
De saber o que diz
E o que me agrada...
Mas, hoje, me faz feliz:
Não digas nada.

Thursday, December 01, 2005

ÉS O MUNDO

A doçura da tua boca,
O mel dos teus seios,
O açúcar de teu corpo
Me fazem pensar
Que o mundo é doce.

Breve ilusão! O mundo não é nada
Ou não passa de imensa abstração.
Na verdade, como o tempo,
É uma canção que passa.

No entanto estais aqui
E isto é o mundo:
O momento do amor e da ternura
O gozo dos sentidos!

E, quando tu desapareces,
O mundo some,
Pois, minha vida,
O mundo és tu:
Mulher, perfume e paixão!

E POR SI MUOVE


O MUNDO

O mundo move,
Inconscientemente,
Sem sentido
Os jogadores.

Tem todos os dados
E os faz girar
Como a si próprio gira.

Não cabe o mundo
Na minha lira
Nem se cônscio
De que existe
Me deixo por ele levar
E me ponho a girar
Como ele gira.

Só a inconsciência alcanço-
E dela nunca estive longe-
Assim, como todo mundo, danço
Como dança o mundo.

Monday, November 28, 2005

BOTÕES DA FANTASIA

Os bicos dos teus seios
Que miram o céu azul
Inchados de emoção
Aguardam o calor das minhas mãos
Para gerar estrelas
E teus santos orifícios
Irrigados com leite, mel e chocolate
Superarão delícias
Num mar de gozo
E, num minuto,
O mundo será novo
Povoado
De sonho, fantasia e ilusão!

Sunday, November 27, 2005

QUASE DEZEMBRO

Bem sei: as águas não são as de março
Nem mesmo o mormaço, de fevereiro,

tão longe vai janeiro e já foi maio
e junho se perdeu bem no começo

de um julho que se fez, logo agosto, e
Então setembro se foi leve, ligeiro

Como outubro, alazão, fogoso baio,
que correu para novembro, velozmente,

Este corre e sacode o meu viver galope,
como o zunir de fulminante golpe,
Nas fulgurantes árvores de natal
Relembrando a pequenez da vida tão mortal
E, caio em mim, passou um ano...assim...
E lá vão os sonhos, os dias, o ano.

Dezembro teu nome é desengano!

UMA POESIA JAPONESA

ESTRELAS
Takenara Iku
Sobre o Japão são todas estrelas
estrelas que fedem como petróleo
estrelas que falam como estrangeiros
estrelas chocalhando como velhos Fordes
estrelas avermelhadas de Coca-Cola
estrelas com zumbir de geladeira
estrelas sem gosto de enlatado
estrelas tratadas a algodão e pinça
esterilizadas com formol
estrelas com radioatividade
umas velozes demais para os nossos olhos
umas estrelas com órbitas excêntricas que, para baixo,
vão mergulhar no alicerce do universo
sobre o Japão são todas estrelas
e nas noites de inverno,realmente, em toda a noite
sua correntes se estendem duras, frias.

Saturday, November 26, 2005

UM POEMA DE CARDENAL

ORACIÓN POR MARILYN MONROE
Ernesto Cardenal

Señor
Recibe a esta muchacha conocida en toda la tierra con el nombre de Marilyn Monroe
aunque ese no era su verdadero nombre
(pero Tu conoces su verdadero nombre, el de la huerfanita violada a los 9 añosy la empleadita de tienda que a los 16 se había querido matar)
y que ahora se presenta ante Ti sin ningún maquillaje
sin su Agente de Prensa
sin fotógrafos y sin firmar autógrafos
sola como un astronauta frente a la noche espacial.

Ella soñó cuando niña que estaba desnuda en una Iglesia (según cuenta El Time )
ante una multitud postrada, con las cabezas en el suelo
y tenía que caminar en puntillas para no pisar las cabezas.
Tu conoces nuestros sueños mejor que los psiquiatras.
Iglesia, casa, cueva, son la seguridad del seno materno
pero también algo más que eso...
Las cabezas son los admiradores, es claro
(la masa de cabezas en la oscuridad bajo el chorro de luz).
Pero el templo no son los estudios de la 20th Century Fox.
El templo — de mármol y oro — es el templo de su cuerpoen el que está el Hijo del Hombre con un látigo en la manoexpulsando a los mercaderes de la 20th Century Fox
que hicieron de Tu casa de oración una cueva de ladrones.

Señor
en este mundo contaminado de pecados y radioactividad
Tu no culparás tan sólo a una empleadita de tienda.
que como toda empleadita soñó ser estrella de cine.
Y su sueño fue realidad (pero como la realidad del technicolor).
Ella no hizo sino actur según el script que le dimos—
El de nuestras propias vidas — Y era un script absurdo.Perdónala Señor y perdónanos a nosotros por nuestra 20th Century
por esta Colosal Super-Producción en la que todos hemos trabajado.

Ella tenía hambre de amor y le ofrecimos tranqüilizantes.
Para la tristeza de no ser santos se le recomendó el Psicoanálisis.
Recuerda Señor su creciente pavor a la cámaray el odio al maquillaje — insistiendo en maquillarse en cada escena —y como se fue haciendo mayor el horrory mayor la impontualidad a los estudios.

Como toda empleadita de tienda
soñó ser estrella de cine.
Y su vida fue irreal como un sueño que psiquiatra interpreta y archiva.

Sus romances fueron un beso con los ojos cerrados
que cuando se abren los ojosse descubre que fue bajo los reflectores y apagan los reflectores!
y desmontan las dos paredes del aposento (era un set cinematrográfico)
mientras el Director se aleja con su libreta porque la escena ya fue tomada.
O como un viaje en yate, un beso en Singapur, un baile en Rio
la recepción en la mansión del Duque y la Duquesa de Windson
vistos en la salita del apartamento miserable.
La película terminó sin el beso final.

La hallaron muerta en su cama con la mano en el teléfono.
Y los detectives no supieron a quién iba a llamar.

Fue
como alguien que ha marcado el núnero de la única voz amiga
y oye tan solo la voz de un disco que le dice: WRONG NUMBERO
como alguien que herido por los gangsters
alarga la mano a un teléfono desconectado.

Señor
quienquiera que haya sido el que ella iba a llamar
y no llamó (y tal vez no era nadie
o era Alguien cuyo número no está en el Directorio de Los Angeles)
contesta Tú el telefono!

ORAÇÃO POR MARILYN MONROE

Senhor,
Recebe esta moça conhecida em toda a terra com o nome de Marilyn Monroe
Embora este não seja o seu verdadeiro nome
(porém Tu conheces o seu verdadeiro nome, o da pequena órfão violada aos nove anos
e da empregadinha de loja que aos dezesseis pretendeu se matar)
E que, agora, se apresenta ante Ti sem nenhuma maquilagem,
Sem agente de imprensa,
Sem fotógrafos, sem dar nenhum autógrafo
Só como um astronauta na noite espacial.

Ela sonhou quando criança que nua numa igreja (segundo conta o Time)
Diante de uma multidão de cabeças baixas
Tinha que caminhar na ponta dos pés para não pisar nelas.
Tu conheces nossos sonhos melhor que os psiquiatras.
Igreja, casa, covas são símbolos da segurança do seio materno,
Mas também há algo mais que isso...
As cabeças são os admiradores, é claro,
(a massa de cabeças na escuridão sob o clarão de luz).
Porém o templo não são os estúdios da 20th Century Fox.
O templo — de mármore e ouro — é o templo de seu corpo no qual está o Filho do Homem de látego na mão expulsando os mercadores da 20th Century Fox
que fizeram de Tua casa de oração um covil de ladrões.


Senhor,
neste mundo contaminado de pecados e radioatividade
Tu não culparás tão somente a uma empregadinha de loja
que como toda empregadinha sonhou ser uma estrela de cinema.
E seu sonho foi realidade (porém a realidade de technicolor).
Ela não fez senão atuar segundo o papel que lhe demos— O de nossas próprias vidas —
E era um papel absurdo.Perdoa Senhor
e nós perdoaremos a nós mesmospor nossa 20th Century
por esta colossal Super-Producão na qual todos trabalhamos.

Ela tinha fome de amor e lhe ofertamos tranqüilizantes.
Para a tristeza de não sermos santos lhe recomendamos a Psicanálise.
Recorda Senhor seu crescente pavor à câmara
E seu ódio à maquilagem — insistindo em maquilar-se para cada cena —
E como se foi fazendo maior o seu horror e a sua impontualidade nos estúdios.

Como toda empregadinha de loja
Que sonhou ser estrela de cinema
Sua vida foi irreal como um sonho que um psiquiatra interpreta e arquiva.

Seus romances foram como um beijo de olhos fechados
que, quando se abrem,
Descobrem que só existiam sob a luz dos refletores que se apagaram!
E desmontam as paredes do aposento (que era só um set cinematrográfico)
Enquanto o diretor se afasta com seu roteiro porque a cena já foi rodada.
Ou uma viagem de iate, um beijo em Singapura, um baile no Rio,
a recepção na mansão do Duque e da Duquesa de Windson
vistos na televisão da sala de um apartamento miserável.
O filme terminou sem o beijo no final.

Foi achada morta em sua cama com o telefone na mão.
E os detetives não souberam quem ia chamar.

Foi como alguém que discou o número da única voz amiga
E apenas escuta a gravação automática que diz: número errado.
Ou como alguém que ferido por bandidos
Estende a mão, em vão, a um telefone desconectado.

Senhor,
Quem quer que ela fosse chamar
E não chamou (e talvez não fosse ninguém
ou alguém que nem conste na lista telefônica de Los Angeles)
Não importa
Atende Tu, Senhor, ao telefone!

Friday, November 25, 2005

SEMPRE AMANHÃ

(Como se fosse Li Stoducto)

Um bom dia pra morrer
Será quando o coração parar
E nada mais se amar, odiar
ou importar
E tudo, ao nada, se comparar.

Um bom dia pra morrer
Será quando a saudade de você
Não doer, não incomodar, e então,
Nada me incomodará.

Um bom dia pra morrer
Será quando sem vontade
Não mais procurar,
Com promessas e desejos,
Ter de volta seu olhar
Que não mais vejo.

Será quando a vida, seca,
Sem perigo e sem prazer
Mais nada oferecer
Senão a solidão e o esquecimento.

Um bom dia pra morrer será sempre amanhã...

Thursday, November 24, 2005

UMA VERSÃO PERSIVO PARA A...


CHANSON D'AUTOMNE
Paul Verlaine

Les sanglots longs
Des violons
De l'automne
Blessent mon coeur
D'une langueur
Monotone.

Tout suffocant
Et blême, quand
Sonne l'heure,
Je me souviens
Des jours anciens
Et je pleure.

Et je m'en vais
Au vent mauvais
Qui m'emporte
Deçà, delà,
Pareil à la
Feuille morte


CANÇÃO DO OUTONO

As notas graves
Dos suaves violões
De outono
Enchem meu coração
De langor
E abandono.

Todo sufocado,
Pálido, quando
Soa a hora,
Recordo saudoso
Os dias bons
De outrora.

E eu vou,
Ao sabor do vento
Que me importa
Se daqui, pra ali,
Ou a algum lugar,
Como folha morta.

Wednesday, November 23, 2005

NO CABARÉ VERDE


Au Cabaret-Vert
cinq heures du soir
Rimbaud

Depuis huit jours j' avais déchiré mes bottines
Aux cailloux des chemins. J' entrais à Charleroi.
— Au Cabaret-Vert: je demandai des tartines
De beurre et du jambon qui fût à moitié froid.

Bienhereux, j' allongeai les jambes sous la table
Verte: je contemplai les sujets très naifs
De la tapisserie. — Et ce fut adorable
Quand la fille aux tétons énormes, aux yeux vifs,

— Celle-là! ce n' est pas un baiser qui l' épeure!
Rieuse, m' apporta des tartines de beurre,
Du jambon tiède, dans un plat colorié,

Du jambon rose et blanc parfumé d' une gousse
D' ail — et m' emplit la chope immense, avec sa mousse
Que dorait un rayon de soleil arriéré.


Octobre 1870

No Cabaré-Verde
às cinco horas da tarde

Depois de oito dias, larguei as botinas
Pelo caminho. Eu entrei em Charleroi.
— No Cabaré-Verde: pedi torradas finas,
Manteiga e presunto e me senti um herói.

Feliz estiquei as pernas sob a mesa
Verde: e contemplei os pobres motivos
Da tapeçaria. — E foi uma beleza
Quando vi as tetas enormes, os olhos vivos,

É ela! Não será de um beijo que terá medo!
Rindo me trouxe as torradas sem demora,
O presunto tostado num prato colorido

O presunto róseo e branco perfumado
Pelo alho — e o chope com espuma, na hora,
Um raio brilhante de sol doura, do céu caído.

Outubro de 1870

Tuesday, November 22, 2005

ELEGIA AO GRANDE AMOR


E fostes incontrolável febre,
Inesgotável fonte de desejos
Que me fez forte, bravo,
Muito mais que um homem
Quase um deus humano
Em pleno o grande amor.

E me destes, sabiamente,
Entre palavras e beijos
A condição de sonhar
Na via, pela vida, acima da vida,
Como deve fazer sempre
Quem busca a harmonia.

E me legastes o sorriso
Em cada gesto simples,
Em cada momento doce,
Em todas as pequenas coisas
Que compõem a imensidão
De um verdadeiro grande amor.

E me ensinastes a beleza
De aceitar o diferente
Como igualmente bom e belo;
Assim como ver no nosso igual
Todas as pequenas diferenças
Que nos separa e desassemelha
E participam de nossa fragilidade.

E me levastes pelos caminhos
Mostrando que a dor é somente
Uma outra diferença válida
Para se poder apreciar devidamente
O vinho raro, fino, delicioso
Do prazer que nos foi dado gozar.

E me dissestes que a tristeza-
Condição própria da existência-
Deve ser tratada como uma sombra
Que só se torna possível na luz,
De tal forma que em tudo procurei
Ver o outro lado que sempre existe.

E me olhastes com olhos novos
Tantas vezes que me pasmei
De ver que, também, te via diferente
Outras tantas e tantas vezes
E criamos juntos o espanto
Que fez nosso amor imenso, imenso...

E me deixastes quando o amor
Se fazia mais vivo e mais presente
Talvez para que a dor fosse maior
(O amor, decerto, não poderia ser)
E nós pudéssemos lembrar felizes
Que vivemos, realmente, um grande amor.

Sunday, November 20, 2005

SEMPRE NA SUPERFÍCIE

Mergulhar não! É na superfície
Que as coisas estão. E o fundo
É cheio de pedras, sentidos,
sentimentos traiçoeiros

Que se escondem na profundeza
Abissal. O sofrimento, a dor,
Sempre arrasta para baixo, afunda,
mais funda

Do que deveria ser, sempre propensa
A mais doer, ser mais imensa,
mesmo em mim,
que sou tão covarde.

Que ninguém ouça este segredo
Frágil como louça: do mar
só quero
A brisa, a suavidade, o mistério,
O murmúrio como música
No momento em que a praia
sirva
Como cama ideal de uma noite lasciva!

Saturday, November 19, 2005

EU SOU DOIS

Há um anjo em mim
que toca banjo
Que voa, voa, baila
e não tem asas.
Há um anjo em mim
Que vê nas casas só prisão
E quer a liberdade, a liberdade,
a amplidão dos campos.

Há um anjo em mim que é um demônio
Que tocou fogo no meu coração
E faz da minha vida um inferno
Por não ter, da moda, um terno
E, eternamente, quer
possuir toda mulher.

Há um anjo e um demônio em mim
Que são assim irmãos
E se dão as mãos, os pés,
o sangue das veias
E se alimentam de amor
nas luas cheias.

NAUFRÁGIO


Nos mares do teu corpo naufraguei
E naufraguei nos mares do teu corpo

Desci em águas profundas, profundas
Onde não havia peixe ou luz

E tudo era tão escuro, tão escuro
Que apenas quando pousei vi

Que nunca mais saíria dali
Que ali estava a paz que buscava

E, enquanto as buscas se perdiam
Naufragado em ti me encontrava

Cumprindo meu destino de morrer de amor.

Wednesday, November 16, 2005

EM BUSCA DO PASSADO


Não! Não desejo lembrar
O tempo que passou...
Aquilo que era
Diz o verbo terminou...
Não venho reclamar
Ou mexer em velhas feridas.
Amar, deixar de amar
São coisas comuns nas vidas.
Não venho lhe pedir,
Nem se preocupe,
Para voltar
Nem cobrar palavras
Que perderam o sentido.
Passado é passado.
Perdido é perdido.
Se vim bater na sua porta,
É claro,
Que se trata de uma razão sentimental.
Sabe aquele vaso oriental
Que mamãe me deu?
Tá por aí ou você vendeu?

A COBRA INATIVA


Eu sei que está demorando
mais do que o normal,
Porém é a pressão natural
Quando se quer apressar
uma função
Que requer um tempo
para se processar.
Não, madame, se a senhora tem
os seus direitos
Como consumidor exijo mais respeito.
Como vou pagar, se até agora,
Convenhamos,apesar da hora,
não se fez nada ainda
Só se termina quando a coisa finda
E não se fez nada
Além de agitar a água
Onde a cobra está
mansa
Quieta, incapaz de se levantar!

Tuesday, November 15, 2005

OS FANTASMAS DANÇAM

Porque não fui à praia
o mundo desabou.
Sou sim, Jonathan, o teu carrasco
E te ofereço meus mais
lindos pensamentos:
És uma mula sem cabeça,
És uma oradora pra repolhos,
És uma assassina mental,
És uma monja
Cuja maior santidade
É ficar produzindo imagens eróticas
nas horas mais frias.

Amélia me diz: “Deus é um vinho,
está aqui no copo em que bebo.
Eu sou um bêbado puro”.
E, imediatamente, passa a beber água
Com inesperada incerteza decreta:
“Nós não temos salvação
porque estamos sóbrios”.
Não tenho o coração de Amélia
E estou sempre perto do álcool
E, por conseqüência, das mulheres
Que se enganam com minha luz,
Pois o brilho que aparento
é o da embriaguez....

O amor é como a ressaca.
O travo de quem vive
Na santidade mais rigorosa,
Por isto o ridículo do que sou
me absolve
E meu desejo,
Como uma estrela cadente.
é fulgáz.
Só os erros suportam meu mundo.
E quando se amontoam
Chegou a um tempo onde viver
Significar juntar os pedaços
de mim mesmo
E não inventaram um boa cola
Para os cacos de alma.

Não tente explicar
(Até porque intelectuais de gelatina
Não tem cérebros).
O que não tem explicação:
Aqui tudo está claro
E nada se entende.
Pode me fitar que uso
óculos escuros-
E no escuro gozo-
Só para esconder
Os buracos do coração,
Enormes e vazios,
Onde a menina caiu.
Sou teu vazio
Ou teu buraco negro?
Que importa o enredo?
O que importa é a emoção.
Calma que se chega lá.
Ainda não é a hora....

(A pintura é da artista plástica argentina Jacqueline Klein- www.interarteonline.com/jacqueline_klein/)

HAI-CAIZINHOS

À MODA DOS CHINESES

Hai-Kai do Deus Mu

O deus Mu dança,
Dança nu,
Dança, mudança.

一、《中華人民共和國澳門特別行政區基本法》
二、《全國人民代表大會關於〈中華人民共和國澳門特別行政區基本法〉的決定》
三、《全國人民代表大會關於設立中華人民共和國澳門特別行政區的決定》
四、《全國人民代表大會關於澳門特別行政區第一屆政府、立法會和司法機關產生辦法的決
Hai-Kai da Mira

Quem atira visa
O alvo, Isa,
A trajetória balisa.

Hai-Kai da Soma

Não o que pedir.
Sonhar é sentir,
Somar é Adyr.

Hai-Kai do Sono

Nas tardes tristes
O sono existe.
Por que dormes, Mirtes?
一、《中華人民共和國澳門特別行政區基本法》
二、《全國人民代表大會關於〈中華人%u
八、《全國人民代表大會常務委員會關於根據〈中華人民共和國澳門特別行政區基本法〉第一百四十五條處理澳門原有法律的決定》
九、《全國人民代表大會澳門特別行政區籌備委員會工作規則》
十、《全國人民代表大會澳門特別行政區籌備委員會關於1999年12月20日至31日澳門公眾假日安排的決定》


Hai-Kai da Banana

Nesta curta semana
Mole fica Eliana,
Macia como banana.

Hai-Kai da Maré

Li no mar.
Mal li.
Mar li.

Como é evidente os textos em chinês não possuem nada a haver com os chineses que são mera ilustração. E uma prova, para os chineses, que sou muito ignorante. Não consigo ler as palavras mais simples.

ELEVAÇÃO

Meu Deus como eu uivava!
Meu Deus como eu gemia!
Meu Deus como eu suava!
Meu Deus como eu sentia!
Cada noite que gozava
Jesus Cristo, ave Maria,
Nunca mais que se acabava.
Tudo já em mim doía!
Eu feito louca e criança,
Santa, casta, prostituta
Me sentia feito fruta
Que a tua mão descascava
E quanto mais destruía
Mais desejo me atacava
Em desatada alegria
O prazer me iluminava
A paixão me acendia
Num gozo cuja agonia
Para o céu me elevava
E a alma me salvava!

Sunday, November 13, 2005

GOTAS DE SAUDADES

O Cristo Redentor
É um reflexo no vidro da confeitaria.
Hoje nem sei o que faria,
Pois o nosso amor,
O nosso amor,
Se perdeu como esta manhã
sem nexo, sem reflexão.
Tento pensar que ainda pensas em mim
E uma música triste com gosto de fim
soa
Como as gotas da sutil garoa
que o Rio doura.
Me molho do passado
E morro de frio
Longe do amor,
Longe da manhã
E mais ainda do Rio.

PARA OS MAIS IMPACIENTES

Soneto Torto à la Rilke

Na busca de ser mais rápido
Logo se é ultrapassado!
Só o que guarda a cadência
Termina como inicia.

Ó rapazes, não vós lanceis
À volúpia da velocidade
Como se, ao homem,
O vôo fôsse permitido.
Tudo tem seu próprio tempo,
Repouso e movimento,
A flor, o amor, o esquecimento.

Saturday, November 12, 2005

UM POEMA DE BUKOWSKI


Este poema vi no Site Quelque chose (http://www.quelquechose.net/qq/) e não resisti ao desejo de traduzir:

Oh, yes! -
Charles Bukowski
There are worse things than
being alone
but it often takes decades
to realize this
and most often
when you do it's too late
and there's nothing worse
than too late.

Oh, sim!
Há muitas coisas piores
Que estar sozinho
Aprendi isto por décadas
Vivendo assim
E, muitas vezes,
Quando você chegava
Era demasiado tarde
E não há nada pior
Que chegar tarde demais.

Wednesday, November 09, 2005

POR IMITAÇÃO

(Um tributo a Vinícius de Morais)
Essa mulher que me envolve quente
E, em minhas mãos, esquece os seios,
Me arrebata, beija e docemente
Diz carícias de amor e nomes feios.

Essa mulher flor de melancolia
Que ri dos meus medos, e me diz
É a única entre todas com quem fiz
O amor que nunca a outra faria.

Essa mulher que no prazer proclama
A dor e a grandeza de quem ama
E traz a marca de meus dentes ainda.

Essa mulher é uma ilusão! Uma bandida
Talvez... mas na maciez de uma cama
Nunca mulher nenhuma foi tão linda!
(Do livro Alquimia da Vida)

CORRENTE

Do que não se sabe nem se desconfia
É feita a magia das coisas e do tempo.
Há um alento que nos move sem sentido
Em busca do perdido e do oculto,
Mas, o vulto da morte, e sua foice, surge
Como um coice, na colheita implacável
E o viável é só, a mudez, o silêncio, o pó
Embora, lá fora, a vida continue
A desenrolar o interminável nó.
(Do livro Alquimia da Vida)

Sunday, November 06, 2005

INEXPLICÁVEL

I
O jornal não publicou
Que o nosso amor acabou.
Toca uma música estranha
E o que passou, passou.
Nada, porém nunca passa
Assim como nada fica
Em tudo que já ficou.
Para onde foi tanto amor?
Onde está tanta paixão?
Os beijos, as carícias
e o desejo de sexo
Se foram sem nenhum reflexo
Na programação da tevê
Nada de interessante se vê,
Nada de bom se escuta.
Te chamo de santa e puta-
Ninguém me ouve nem vê.
Tão distante estou
de milhões
Que se preocupam, lá fora,
com tantas coisas banais
Sem saber que o nosso amor
Morreu,
Que nosso amor
não há mais
Como um balão que murchou
Sem gás, sem gás, sem gás.

II
O nosso amor não há mais.
Será que houve?
Lembro da emoção
na noite de estréia
Do teu jeito de rainha plebéia
Me pedindo ilusão
E tão iludido estava
Que peguei na tua mão
Beijei teus seios,
Lambi teu ventre
Tão docemente,
Tão docemente
Que a bebida
nem fez efeito
E, eu, que nunca tive jeito,
Fui um amante perfeito
Tanto que a manhã chegou
E tu me pedias
Para não te matar de amor,
Logo eu que morria de te amar.
E, agora, este amor onde está?
Não terá sido um sonho?
Teus objetos, por toda parte,
dizem que não;
Que mudou tudo:
O tempo, o lugar, os desejos,
o gosto dos beijos,
o modo de pensar a vida
e o meu coração.
Morre tudo com o tempo,
Principalmente a ilusão.

III

Agora me parece estranho
Que vivemos tanto tempo juntos
E achamos desejos, assuntos
Ou suportamos os silêncios comuns,
as dúvidas, os defeitos,
a insuportável presença
do outro.
Sinto-me como alguém
Que conviveu com uma estranha.
Como se, as tantas vezes,
Que explorei teu corpo
Que retirei suor e gozo
Me afastasse cada vez mais de ti
E isto é mais estranho
porque nunca percebi
E isto é mais terrível
porque te amava tanto
E mais ainda porque
choro e canto
Este amor que me dói
imensamente perder
E que me alegra
saber que o perdi.
Afinal eras uma estranha e uma amiga,
uma amada, uma inimiga,
uma fonte de tristezas e alegrias.
Eras simplesmente
uma mulher:
Insolúvel mistério,
Algo que, de repente, é tão sério
Que faz sonhar e sofrer.

IV
É indiferente ao mundo
Que o nosso amor
tenha morrido.
Nada mudou.
Nada muda
E tudo está mudando.
Com certeza alguém morreu
outro nasceu, outro comprou
o edifício onde estou.
É indiferente para mim
O preço do chocolate.
Não tomo chocolate.
Amor e chocolate-
Em certos tempos-
São coisas tão parecidas.
Podem tanto doer nos bolsos
Quanto afetar as barrigas.
Será que estou me escondendo
Da dor que deixastes ao partir?Me olho no espelho a sorrir
Ponho no prato um disco.
A vida é um contrato de risco-
Digo de mim para mim-
Contente de estar tão feliz
Marco encontros, bebo vinho,
quase canto.
Faço planos para futuras
madrugadas
E só não posso entender
Esta vaga saudade
Que ainda sinto
de te perder.

NO DIVÃ


Ninguém me espera assim.
Ninguém me deixa assim.
Ninguém me faz assim tão feliz!
Nenhuma outra tem o gosto
que ela tem.
Nenhuma outra foi tão doce
ou comportada
Nem teve a vantagem de me amar calada.
Não me convence não
Toda esta falação
Que cheira a Jung ou Freud.
Vamos parar aqui.
Que rodar por aí
não tem nenhum sentido
Tem dito e repetido,
Mas não quer me dizer
de forma clara
Que não acha normal
Esta paixão total,
Determinada e inarredável
Por minha boneca inflável!

Wednesday, November 02, 2005

MOMENTOS

Aquelas confidências vagas que me fazia
Foram um começo de desejo e gozo
Que as nossas peles suadas pressentiam
No meio do calor, da meia luz e da fumaça.

Havia certa graça nas vozes velozes
Que se misturavam numa babel de preces
Ao desconhecido deus que fez o amor e o álcool
Para a liberação dos instintos mais selvagens.

E foi estranho porque o encanto mútuo
Criou uma intimidade impossível num quarto,
Porém ali, em meio ao público, pareceu natural
Tanto que nos beijamos quase automaticamente

Com uma inocência infantil que nos absolveu
De toda a maldade que os risos fizeram circular
E, pelo olhar que me deu, quase me sinto um santo
Quase consigo acreditar num ser qualquer

Que programasse, ao acaso, momentos encantados
Nos quais, os sorteados, como nós, ali, éramos
Pudessem ver que há algo além da falta de sentido
Que permeia toda loucura que somos e fazemos.

Senti-me tão feliz e compreendi seu pranto silencioso
Em flagrante contraste com o prazer presente
Nos menores gestos da gente e dos outros
E também chorei mansinho por tudo ser tão belo e frágil!

INESQUECÍVEL

Que a amava e a odiava sentia
Ao vê-la, em outros braços, bela
E não olhava para ela nem podia
Cometer os gestos de carinho

Que tremiam em suas mãos paradas.
Onde há mulher- se consolou
Em dizer- há sempre pancadas,
Mas não tinha desejo de bater.

Sentiu somente tal ciúme
Que nem em álcool o afogou
Porque, acima de tudo, o perfume
Dela trazia doces recordações

Enquanto seu sorriso bailava
Nos líquidos, nos copos, nas telas
E em outros corpos que tocava
Como se tudo viesse dela, só dela.

CONVICÇÃO

Não foi sem custo que a menina nova,
Recém-chegada do interior, caiu na vida,
Como é normal, depois de algumas doses
E presa ao brilho das luzes e palavras.

Não foi sem assombro que se viu perdida,
Conforme diziam no seio da família,
Embora se sentisse casta e inocente,
Como de costume, e fosse só um meio de viver.

Não foi sem sofrimento que aprendeu a ser
Mulher, e mais que mulher, se fez atriz,
Mas, com uma meiguice e com um talento,
Que tornava suave o preço que pagavam.

Não foi sem espanto que conheceu
O piso da miséria e o pico da riqueza
Sem mudar sua natureza infantil
Que não achava as pessoas finas muito limpas.