Friday, March 31, 2017

POEMAS MAL COMPORTADOS

AÍ MÃE, MORRO DE AMOR                 

Veja como é a vida.
Veja como são as coisas.
Ninguém faz o que quer não.
Quis namorar cedo e mamãe não deixou.
Ela espantou, de verdade,
sem complacência,
os candidatos da minha adolescência
e da primeira mocidade,
e acabei ficando assim sem opção.
Todos os candidatos que me apareceram
foram de segunda mão!
De forma, que resistir quem há de?
Iniciei minha carreira de casada
sem nunca ter alguém zero quilômetro
como quem só tem direito a um velho hidrometro 
e, em homem já rodado,
fiquei viciada,
tanto que repeti a dose
sem pensar que era mancada.
É a vida é mesmo assim:
não se escolhe senão o que se pode.
E não posso reclamar
Vivi o melhor que consegui
E o que não consegui fazer,
bem sei, sublimei.
Por isto, meu filho,
Você é o homem que sonhei:
É o meu amadinho
E, pode acreditar,
Na próxima encarnação
Viveremos bem juntinhos.


Ilustração: Fotolog. 

Thursday, March 30, 2017

PANACÉIA

Sou um homem muito elegante Na minha dor. Suporto calado
E, para ninguém, conto o peso pesado
Deste sofrer tão asfixiante,
Que me deixa atrasado,
E não me permite ir adiante.

Estou preso, pasmo, inerte
Contra esta dor danada de solerte
Que, diante deste dia de sol belo,
Me põe a carregar a dor, tão amarelo,
E ainda sorrindo,  como se elogiado,  
Quando me sinto um escravo castigado.

Ainda tomei um analgésico
Para esta dor fingir adormecer
Como se sofrer não fosse o que me resta.
Se penar é tudo que tem para acontecer
Não me sinto nem nostálgico
E vou, com a dor que sobra, fazer festa!

Só o tempo, nesta vida, acaba com qualquer dor.
Vem me consolar, querida, com o esparadrapo do amor.


Wednesday, March 29, 2017

Uma poesia de Giovanny Gómez

COSTUMBRE                                                          

Giovanny Gómez

Las veces que el río dejó sus zapatos
y corrió desnudo tras el viento
el árbol hizo de su copa las raíces
los pájaros caminaron ebrios.
No he conocido de donde viene la risa
sin que deje algunas lágrimas.
He visto mis piernas huir de mí trastabillando
y las lisonjas de tu cuerpo
devolviéndome a un sueño.

COSTUME

Às vezes que o rio deixou seus sapatos
e correu nu atrás do vento
a árvore fez de sua copa as raízes
os pássaros caminharam ébrios.
Nem saberia de onde vinha a risada
sem que deixasse algumas lágrimas.
E vi minhas pernas fugir de mim tropeçando
e as doçuras do teu corpo
devolvendo-me a um sonho.


Ilustração: Behance

Tuesday, March 28, 2017

Uma poesia de Tiziana Cera Rosco

Il Compito 

Tiziana Cera Rosco

Bevo nell’osso della sedia senza tavolo
una tisana perfetta.
Tra poco anche questa sedia
verrà battuta.
Forse bisognava restare così
senza avere più nulla su cui poggiare i gomiti
per reimparare una postura

Ho sempre avuto paura di uno strappo.
Mi trovo a meno di trent’anni
due figli e un matrimonio rotto.
Ed è la quarta casa che cambio in quattro anni.

Ma è silenzioso tenere tutti i pezzi in un intero.
Non emettere dolore.

Piove.

Senza più un suono su cui poggiare
una parola.

A Tarefa 

Beber no osso da cadeira sem mesa
uma bebida perfeita.
Logo, mesmo até esta cadeira
será levada.
Talvez tivesse que ficar assim
sem lugar algum em que apoiar os cotovelos
para reaprender uma postura


Eu sempre tive medo de uma distensão.
Me pego com menos de trinta anos
dois filhos e um casamento desfeito.
E é a quarta casa que troco em quatro anos.

Mas, é silencioso ter todos os pedaços em um todo.
Não emitir a dor.

Chove.

Sem um som em que apoiar
uma palavra.


Ilustração: gavetas – blogger.

Monday, March 27, 2017

Outra poesia de Catherine Pozzi

Nyx                                                              

Catherine Pozzi

A Louise aussi de Lyon et d'Italie

Ô mes nuits, ô noires attendues
Ô pays fier, ô secrets obstinés
Ô longs regards, ô foudroyantes nues
Ô vol permis outre les cieux fermés.

Ô grand désir, ô surprise épandue
Ô beau parcours de l'esprit enchanté
Ô pire mal, ô grâce descendue
Ô porte ouverte où nul n'avait passé

Je ne sais pas pourquoi je meurs et noie
Avant d'entrer à l'éternel séjour.
Je ne sais pas de qui je suis la proie.
Je ne sais pas de qui je suis l'amour.

Nyx

A Louise também de Lyón e da Italia

Oh! Noites minhas, oh! sombras esperadas
Oh! Terra altiva, oh! secretas tenazes
Oh! Lentos olhos, oh! nuvens fulgurantes
Oh! Voo livre mais além dos céus.

Oh! Grande desejo, de expandida surpresa
Oh! Bela jornada de espírito encantado
Oh! Pior mal, oh! graça descendida
Oh! Porta aberta da qual não se há passado

Já não sei porque morro e me afogo
Antes de entrar para a morada eterna.
Já não sei de quem sou a presa.
Já não sei de quem sou o amor.

Ilustração: Aquário Literário. 


Friday, March 24, 2017

Uma poesia de Renée Vivien


Le toucher

Renée Vivien

Les arbres ont gardé du soleil dans leurs branches.
Voilé comme une femme, évoquant l’autrefois,
Le crépuscule passe en pleurant… Et mes doigts
Suivent en frémissant la ligne de tes hanches.

Mes doigts ingénieux s’attardent aux frissons
De ta chair sous la robe aux douceurs de pétale…
L’art du toucher, complexe et curieux, égale
Les rêves des parfums, le miracle des sons.

Je suis avec lenteur le contour de tes hanches,
Tes épaules, ton col, tes seins inapaisés.
Mon désir délicat se refuse aux baisers;
Il effleure et se pâme en des voluptés blanches.


A CARÍCIA

As árvores guardaram alguns raios de sol entre suas ramas
Velados como uma mulher, outros tempos evocam
O crepúsculo que passa chorando. Meus dedos saltam,
Tremendo, provocativos, sobre a linha de tuas cadeiras

Meus dedos engenhosos se demoram nos espasmos
De tua carne sob o vestido, as doçuras de tuas pétalas...
A arte de tocar, complexa e curiosa, se igualha
Aos soporíferos perfumes, ao milagre dos sons

Delineio lentamente o gracioso contorno de tuas nadegas,
Teus ombros, teu colo, teus insatisfeitos seios
Meu delicado desejo se recusa a beijá-los
Brota e se esfuma em tuas brancas voluptuosidades.

Uma poesia de Elicura Chihuailaf

AÚN DESEO SOÑAR EN ESTE VALLE         
Elicura Chihuailaf

Las lluvias tocan las cuerdas 
de su aire
y, arriba, es el coro que lanza 
el sonido de la fertilidad
Muchos animales hubo -va diciendo
montes, lagos, aves buenas palabras
Avanzo con los ojos cerrados:
Veo, en mí, al anciano
que esperando el regreso
de las mariposas
habita los días de su infancia
No me preguntes la edad -me dice
y estaré contento
¿para qué pronunciar lo que
no existe?
En la energía de la memoria
la Tierra vive
y en ella la sangre de los    
Antepasados
¿Comprenderás, comprenderás
por qué -dice
aún deseo soñar en este Valle?

AINDA DESEJO SONHAR NESTE VALE

As chuvas tocam as cordas
do seu ar
e, acima, é o refrão que lança
o som da fertilidade
Muitos animais foram-vá dizendo
montanhas, lagos, pássaros boas palavras
Avanço com os olhos fechados:
Vejo em mim, o ancião
que espera o retorno
das borboletas
que habitam os dias de sua infância
Não me perguntes a idade- me diz
e estarei feliz
para que pronunciar o que
não existe?
Na energia da memória
a terra vive
e nela o sangue dos
antepassados
Compreenderás, compreenderá
por que-diz
ainda desejo sonhar neste vale?

Ilustração: Luso-Poemas. 

Thursday, March 23, 2017

INTUIÇÃO

O teu perfume, minha amada,  
É como o nascer na primavera
Um mundo encantado, quimera
Sutil, surpreendente como espada,

E, no entanto, só perturba, embriaga,
A paixão de todo adormecida
Que se acende na esperança vaga
De captar todo o sumo da vida.

E assim, por te querer, por amar tanto
Surpreso exploro em meu receio
Cada espaço, pele, dobra e canto
Quando o mel, tão bem sei, está no meio.

De "Águas Passadas", Editora Per Se, 2013. 
Ilustração: Administradores Premium. 

Wednesday, March 22, 2017

Uma poesia de Iván Oñate

BANDA DE ROCK         
Iván Oñate

Ah
Loco pasado

Bella juventud
Con sus ansias de vivir
No una
Sino mil veces

Sin sospechar
Que por pura simetría
Por pura paradoja
Por simple equilibrio de las partes

Quien ama más de una vez
También
Morirá muchas veces.

BANDA DE ROCK

Ah!
Louco passado

Bela juventude
com suas ânsias de viver
Não uma
Sim, mil vezes

Sem suspeitar
Que, por pura simetria,
Por puro paradoxo
Por simples equilíbrio das partes

Quem ama mais de uma vez
Também
Morrerá muitas vezes.

Ilustração: Gato com Vertigens.


Tuesday, March 21, 2017

Mais uma poesia de Jorge Montealegre

DIBUJOS ANIMADOS                  
Jorge Montealegre

Me pierdo en las manchas de una vaca sagrada
como los beatles animados se caen
en los hoyos del submarino amarillo
Y qué quieres que me diga, en el espejo: para irte
dibuja tus propias puertas, tu fosa, tus rincones.
Descubre la entrada al subterráneo
que la pantera rosa pinta para escapar del policía
Pesca tus respuestas como el gato Félix: usa de anzuelo
el signo de pregunta.
Dibújate como quieras. No te quedes en blanco, píntate de blanco. Llena el silencio con tu propio silencio.
Borra con migas solamente las rayas que te hicieron en el traje
y atraviesa el planeta por el túnel que nace de tu cárcel
Recuerda
que en nuestro mundo la cigarra toca el violín con un serrucho
y no somos personas ni personajes
Somos dibujitos animados
rayados
caricaturas de un original que nunca conocemos.


DESENHOS ANIMADOS

Me perco nas manchas de uma vaca sagrada
Como os Beatles animados caem
nos furos do submarino amarelo
E o que queres que me diga, no espelho: para ir-te
desenha tuas próprias portas, tua cova, teus buracos.
Descobre a entrada do subterrâneo
que a pantera cor de rosa pinta para escapar da polícia
Pesca tuas respostas como o gato Félix: usa um gancho
como sinal de pergunta.
Desenha-te como queiras. Não fiques em branco, pinta-te de branco. Plena
de silêncio em teu próprio silêncio.
Borra com migalhas somente as listras que te fizeram na roupa
e atravessa o planeta pelo túnel que nasce de teu cárcere
Recorda
que, em nosso mundo, a cigarra toca um violino com um serrote
e não somos pessoas nem personagens
Somos desenhos animados
listrados
caricaturas de um original que nunca conhecemos.


Ilustração: Yellow Submarine. 

Monday, March 20, 2017

Mais uma poesia de Federico Hernández Aguillar

SONETO DEL PERDIDO TIEMPO

Federico Hernández Aguilar

Ahí donde el instante es un recado,    
donde muere de prisa una palmera,
el reloj es la duda pasajera
de una caricia que aprendió el pasado.

Vivir y haber vivido: ¿Quién —alado—
sobre las crestas de las horas fuera
visitante de honor en cada esfera,
espacio, tiempo, dimensión o estado?

Pues el minuto, sin querer, devora
las entrañas del tiempo en cada hora
que finge el suave rostro de la espera,

es en los huesos donde el alma, ruda,
penetra los abismos y desnuda
con otra exactitud tu vida entera!


Soneto do Tempo Perdido

Lá onde um instante é um recado,
onde morre depressa uma palmeira,
o relógio é a dúvida passageira
de uma carícia que aprendeu no passado.

Viver e haver vivido: Quem -alado-
sobre as cristas das horas se fora
visitante de honra de cada esfera,
espaço, tempo, dimensão ou estado?

Pois, o minuto sem querer devora
as entranhas do tempo em cada hora
que finge o suave rosto da espera,

É nos ossos onde a alma, ríspida,
penetra nos abismos e desnuda
com outra exatidão toda tua vida! 

Ilustração: Alma de Poeta – blogger.



PRELÚDIO DA PARTIDA


Eu sei que este meu amor por ti é frágil,             
Inconstante, mutável, passageiro
Como a existência, querida.
Tem horas em que não te vejo,
Nem tem chamo
Que nem mesmo sei se te amo
Ou se não sou vítima de um engano.
Mas, me perco quando te toco
E esta estranha química
Me faz despertar a ilusão
Que toma conta do meu coração
E me torna criança novamente
Com uma vontade infinita
De te amar para fazer a vida
Muito mais bonita.
E, curioso, infantil, tolo
Passeio minhas mãos pelo teu corpo
E me embriago com tua pele,
Me santifico com teus beijos
E tento, sem sucesso,
Te matar de carinhos e ais
Dizendo que não te deixo nunca mais
Logo, antes de me despedir
Com a certeza de que nunca vou partir.


Ilustração: Papéis Avulsos

Friday, March 17, 2017

Uma poesia de Ali Al Jalawi

Tratando de entender               
Ali Al Jalawi

¿Qué pasaría
Si fingiendo ser un mago te pusiera
En un sombrero y te sacara convertida
En palomas?
¿Qué pasaría
Si por error me besaras
Y luego para disculparte me
Volvieras a besar?
¿Qué pasaría
Si pusiera mi mano en tu pecho
Buscando una luna que perdí?
¿Qué pasaría
Si mis manos penetraran en tus ojos
Para sacar todas las gaviotas que hay
En ellos?
¿Qué pasaría
Si no hubieras existido?
El universo sería imperfecto
Y los poetas perderían
Su musa.
¿Pasar?
No pasa nada,
cuando tú no estás.

TRATANDO DE ENTENDER

Que se passaria
Se fingindo ser um mago te pusesse
Num chapéu e te sacasse convertida
Em pombas?
Que se passaria
Se por um erro me beijasses
e, logo, para desculpar-se, tu
voltasses a me beijar?
Que se passaria
Se pusesse a minha mão nos teus seios
Buscando uma lua que perdi?
Que se passaria
Se minhas mãos penetrassem nos teus olhos
Para retirar todas as gaivotas que há
Neles?
Que se passaria
Se não houvesses existido?
O universo seria imperfeito
E os poetas perderiam
Sua musa.
Passar?
Não se passa nada,
Quando tu não estás.


Ilustração: Fatos Desconhecidos.