Saturday, April 30, 2016

Mais uma poesia de Antonio Gala


¿Cómo comer sin ti?                                                             
Antonio Gala

¿Cómo comer sin ti, sin la piadosa
Costumbre de tus alas
Que refrescan el aire y renuevan la luz?
Sin ti, ni el pan ni el vino,
Ni la vida, ni el hambre, ni el jugoso
Color de la mañana
Tienen ningún sentido ni para nada sirven.
Allá fuera está el mar.
Allá fuera, en el mundo, estás tú.
Comiendo tú sin mí:
Tu hambre, tu pan, tu vino y tu mañana.
Yo aquí, ante los manteles opacos
Y la bebida amarga,
Ante platos sin sabor ni colores.
Lo intento, sí, lo intento, pero cómo
Comer sin ti, ni para qué...
Tú te has llevado tu olor a bosque
Y el gusto de la vida.
Fuera están mar y aire.
Dentro, yo solo frente a la mesa puesta
Que ha perdido su voz y su alegría.

Como comer sem ti?

Como comer sem ti, sem o piedoso
costume de tuas asas
que refrescam o ar e renovam a luz?
Sem ti, nem pão, nem vinho,
nem a vida, nem a fome, nem a suculenta
cor da manhã
têm nenhum sentido nem para nada servem.
Lá fora está o mar.
Lá fora, no mundo, estás tu.
Comendo tu sem mim:
A tua fome, tua comida, teu vinho e tua manhã.
Eu aqui ante as toalhas opacas
E a bebida amarga,
Ante os pratos sem sabor nem cor.
Eu tento, sim, eu tento, mas, como
comer sem ti, nem para quê...
Tu trouxestes teu perfume ao jardim
e o gosto da vida.
Lá fora estão o mar e o ar.
Dentro eu só, com a mesa posta
que perdeu a tua voz e a tua alegria.


Ilustração: frasesparanamorados.com.br

Um poeminha de Barbara Korun

Barbara Korun                                                                                 
škržatova pesem odkriva
tajno poželenja morska
sol pot k začetku

pogovor s tabo
je kot molitev
svetloba je temna
in topla

*
il canto della cicala rivela
i segreti della voluttà il sale
marino il cammino verso l'inizio

il dialogo con te
è come una preghiera
la luce è scura
e calda

*
o canto da cigarra revela
o segredo da voluptuosidade o sal
marinho o caminho para o início

o diálogo contigo
é como uma oração
a luz é escura
e quente


Fonte: http://www.filidaquilone.it/num013milic2.html

Thursday, April 28, 2016

Uma poesia de Marcela Rosales

LE TEMPS QUI PASSE                                                  
Marcela Rosales

Llena la mano de horas, así viniste a mí
- yo dije: su pelo no es moreno.” (Paul Celan)

El fuego en el hogar,
el hogar perdido,
la inocencia del niño
que no sabe qué vendrá.
Otro invierno - dice el hombre
que sabe lo que ha sido y
cree saber qué será.

Él únicamente espera a la muerte,
se encoge de hombros,
regresa al hogar.
Él está de espaldas al salón ajeno,
la escucha venir
y comienza a rezar.

Pero ella no es la muerte.
No, ella no es la muerte
porque duele más.
Lleva el cabello sujeto
con serpientes, en él guarda
el viento de la noche y la rosa.

Él no sabe nada sobre el tiempo
que pasa. Un hombre, un niño,
es la misma cosa.


O TEMPO QUE PASSA

"Com a mão cheia de horas, assim viestes a mim
- Eu disse teu cabelo não é escuro " (Paul Celan).

O fogo na casa,
a casa perdida,
a inocência da criança
quem sabe o que virá.
Outro inverno - disse o homem
quem sabe o que tem sido e
e crê saber o que será.

Ele unicamente espera a morte,
encolhe os ombros,
regressa para casa.
Está de costas ao salão alheio,
a escuta vir
e começa a rezar.

Porém, ela não é a morte.
Não, ela não é a morte
porque dói mais.
Seu cabelo está coberto
de cobras, nele guarda
o vento da noite e a rosa.

Ele não sabe nada sobre o tempo
que passa. Um homem, uma criança,
é a mesma coisa.


Ilustração: www.materiaincognita.com.br

Wednesday, April 27, 2016

Uma poesia de Vincenzo Cardarelli

 
 April                                                                                           
Vincenzo Cardarelli

Quante parole stanche
Mi vengono alla mente
In questo giorno pioioso d’aprile
Che l’aria è come nube che si spappola
O fior che si disfiora.
Dentro un velo di pioggia
Tutto è vestito a nuovo.
La umida e cara terra
Mi punge e mi discioglie.
Se gli occhi tuoi son paludosi e neri
Il mio dolore è fresco
Come un ruscello.

Abril

Quantas palavras cansadas
me vem à mente
neste dia chuvoso de abril
Aonde o ar é como  uma nuvem
que se desfaz
feito flor que se desfolha.
Envolto em um véu de chuva
tudo está vestido de novo.
A úmida e querida terra
me fere e me dissolve.
São teus olhos agateados e negros
como o inferno,
minha dor é fresca
como um riacho.

Ilustração: diaadianoticiaseeventos.blogspot.com

Tuesday, April 26, 2016

Uma poesia de Salvatore Quasimodo

Già vola il fiore magro.         

Salvatore Quasimodo


Non sapró nulla della mia vita,
oscuro monotono sangue.

Non sapró chi amavo, chi amo,
ora che qui stretto, ridotto alle mie membra,
nel guasto vento di marzo
enumero i mali dei giorni decifrati.

Già vola el fiore magro
dei rami. Ed io attendo
la pazienza del suo volo irrevocabile.

Já voa a flor seca.

Não sei nada de minha vida,
escura, monótona, sangrenta.

Não sei a quem amava, a quem amo,
agora, que estreito, reduzido a meus membros,  
no danado vento de março,
enumero os males dos dias decifrados.

Já voa a flor seca
desde os ramos. Eu espero
a paciência de seu voo irretocável.  

Ilustração: www.tumblr.com


Monday, April 25, 2016

Cancãozinha da ilusão à-toa

Todo amor        
tem um certo encanto da loucura,
criatura,
que não se mede,
não se pede,
não se contém
nem ninguém sabe
quando vai e vem...
Todo amor
é este querer infinito
que se resolve em beijos, gritos, ais
e, por mais que seja muito,
sempre se quer mais.
Todo amor é uma loucura,
criatura,
mas, nos teus braços
sei bem que ainda é mais.
Quero acordar amanhã,
e, embriagado de prazer,
comer a carne, o vinho, o pão
até não mais poder,
de tanto querer,
vivendo o que se pode viver
só por saber
que tanta felicidade
é ilusão.


Ilustração: paraentender.com.br

Sunday, April 24, 2016

ETERNAMENTE JAZZ

Quando tocou a última nota do saxofone             eu te pedia, por favor, me telefone
e as palavras se encaixaram, então,
tão bem, no fim da canção,
que, instintivamente, pegastes na minha mão,
logo quando só pensava em beijar teus pés.
Como, por encanto, quebrando a paz
escorreu, pelo ar, um belo e lento jazz
que, eletricamente, dançamos
como se os primeiros e últimos amantes
até da música os últimos instantes;
e, dali em diante, numa mágica demais,
não nos largamos mais.


Ilustração: br.pixersize.com. 

E de volta Dulce María Loynaz

Desprendimiento                                                                      
Dulce María Loynaz

Dulzura de sentirse cada vez más lejano.
Más lejano y más vago. Sin saber si es porque
Las cosas se van yendo o es uno el que se va.
Dulzura del olvido como un rocío leve
Cayendo en la tiniebla. Dulzura de sentirse
Limpio de toda cosa. Dulzura de elevarse
Y ser como la estrella inaccesible y alta,
Alumbrando en silencio.
¡En silencio, Dios mío!

DESPRENDIMENTO

Doçura de sentir-se cada vez mais distante.
Mais distante e mais vago. Sem saber se é porque
As coisas se vão indo ou se sou eu que se vai.
Doçura do esquecimento como um orvalho de leve
Caindo na escuridão. Doçura de sentir-me
Limpo de todas as coisas. Doçura de elevar-me
E ser, como uma estrela, inacessível e alta,
Iluminando o silêncio.

Em silêncio, Deus meu!

Ilustração: tempovivido.com


Saturday, April 23, 2016

CORPO DESANIMADO


Que eu não sou mais eu/me esclarece o espelho/onde um olhar vermelho/parece não cessar/ de muito reclamar/ de pretender chorar./Bem sei, não vai passar,/pois, nem me reconheço/nas palavras que teço/ sem versos, melodias, rimas/despidas de beleza,/flores despetaladas,/ páginas tão manchadas/ das tintas dos escritos/ que são como se gritos/ de socorro somente,/mas, que são só as sementes/de dores e tristezas./Não sou mais nem poeta/ exilado dos sonhos/ me sinto separado/dos prazeres risonhos/ do teu olhar e beijos/castrado de desejos./ Me sinto um prisioneiro/ julgado e condenado/ que tem por derradeiro/ castigo aplicado/amar e sendo amado/viver sem seu amor/eternamente preso as cadeias da dor.


Ilustração: irismaroliveira.blogspot.com

Friday, April 22, 2016

Um poema de Alexis Comamala


El cuerpo engana

Alexis Comamala

No soy más poeta. No hay más versos estampados en la aurora o la hoja ciega. No hay más versos pronunciados por la noche oral o por los perros de los sueños. No hay más versos, ni adornos que arrastren al cuerpo o acaricien la moneda del odio. No hay cuerpo que no padezca la sed y se arroje al desierto.

O corpo engana

Não sou mais poeta. Não há mais versos impressos no amanhecer ou na folha em branco. Não há mais versos pronunciados pela noite ou pelos cães dos sonhos. Não há mais versos, nem adornos que arrastem o corpo ou acariciem a moeda do ódio. Nenhum corpo que não padeça a sede e se arroje no deserto.


Ilustração: entrelinhaseversoscrisjoshaff.blogspot.com

Thursday, April 21, 2016

Uma poesia de Ángel Escobar

Proseguir

Ángel Escobar |

Qué quieres matar en ti que ya no se haya muerto.
Acaso pueda sostenerte una idea, una mañana, un vicio
en este despeñadero de ideas, de mañanas, de vicios.
Toma un cigarrillo, una taza de café, escucha
alguna música del veinte. Por qué no sonreír con un recuerdo que te ofrezca coartada. Espera.
Quizás llegue ella con un ramo de lilas.
Puedes pensar en un andén, un aeropuerto, un río
no creas que eres el único bastardo que se pudre,
porque al final todo ya está podrido en paz
y no por eso termina.
La televisión, los periódicos
la indiferencia y el desdén que no te mortifiquen.
Cuando el cine te olvide o te presente como el malo,
no llores porque abusas del alcohol y el tabaco,
y te ves malo, enfermo,
sustituible, latinoamericano,
diviértete y transige; ve a la feria y disfrázate;
vota por algún candidato. O no votes, y créete, créete
que cambiarán las cosas. Busca, busca, te digo,
tu propia manera de aguantar, si es que hay alguna.

PROSSEGUIR

Que queres matar em ti que já não haja sido morto.
Acaso pode te sustentar uma ideia, uma manhã, um vício
neste despenhadeiro de ideias, de manhãs, de vícios.
Fuma um cigarro, bebe uma xicara de café, escuta
Música de vinte. Por que não sorri com uma lembrança que te ofereça um álibi.
Espera.
Quem sabe ela chegue com um ramo de lilás.
Podes pensar em uma plataforma, um aeroporto, um rio
não creias que és o único bastardo que apodrece,
porque, ao final, tudo já está apodrecido e em paz
e nem por isso termina.
A televisão, os jornais,
a indiferença e o desdém que não te mortifiquem.
Quando o cinema te esquecer ou te apresentar como mau,
Não chores porque abusas do álcool ou do tabaco,
e te vês mau, enfermo.
Substituível latino-americano,
diverte-te e transige; vê a feira e disfarça-te de justo;
vota por algum candidato. Ou não votes, e crê, crê
que as coisas mudarão. Busca, busca, te digo,
tua própria maneira de aguentar, se é que há alguma coisa.


Ilustração: www.radioviva945.com.br

Wednesday, April 20, 2016

De volta Leonard Cohen

                                                                                                                  
Celebration

Leonard Cohen

When you kneel below me
 and in both your hands
hold my manhood like a sceptre,
When you wrap your tongue
 about the amber jewel
 and urge my blessing.
 I understand those Roman girls
 who danced around a shaft of stone
and kissed it till the stone was warm.
 Kneel, love, a thousand feet below me,
 so far I can barely see your mouth and hands
 perform the ceremony,
 Kneel till I topple to your back
 with a groan, like those gods on the roof
that Samson pulled down.

Celebração

Quando te ajoelhas debaixo de mim
e com ambas as mãos
agarras minha masculinidade como um cetro
quando me envolves com tua língua
a joia de ambar
e anseias minha  benção.

Entendo as  mulheres romanas
que dançavam ao redor de uma coluna de pedra
e a beijavam até que a pedra se aquecia.
Ajoelha-te, amor, a mil pés debaixo de mim
tão longe que apenas possa ver tua boca e mãos
realizar a cerimônia,

ajoelha-te  até que me derrube sobre tuas costas
con um gemido, como esses deuses num telhado
que Sansão derrubou.


Ilustração: pseudoape.com

Tuesday, April 19, 2016

Canção sem número de um tempo sem cor


São os dias que passaram sem que meus olhos te vissem
Como noites que cegassem os tempos por si já tristes
Que envelhecessem as velhices, que tornam o novo antiquado
Como fantasmas que dançam em brumas que só se adensam
São pensamentos inócuos, ideias que já não pensam.
São meus dias sem te ver tempos que não voltam mais,
Horas que nunca vieram e já ficaram para trás.
Como cidades sem portas, de ruas brancas, sem vidas,
Jardins sem cravos, nem rosas, lilases nem margaridas
Onde só os ventos gemem, as árvores não mexem não,
Lugar que não tem navios, ares que não tem canção,
Escuridão tão sem luzes que nem as estrelas brilham,
Portos que não tem navios, rotas que não se procuram,
Caminhos que de tão escuros soterram toda esperança
E só não viram saudade porque, se não for verdade,
Ainda creio em teu amor e em superar tanta dor
Escapando do torpor em que nossa vida dança.

Ilustração: www.graphias.com.br


Uma poesia de Alfredo Luna

Como los árboles, no podemos huir                                             
Alfredo Luna

ese tiempo, cuando tu cuerpo era
una tempestad espléndida de proezas fabulosas,
no pude resistir la tentación de mirar el universo
con ojos de árbol y nube: me colma
la embriaguez de esos días demorados.

yo, diosa en trance, persisto
implorando pan y socorro
Tú, a lo lejos, eres la parte más sombría de mi fe.

COMO AS ÁRVORES, NÃO PODEMOS FUGIR

Esse tempo, quando teu corpo era
uma tempestade esplendida de proezas fabulosas,
não pude resistir à tentação de olhar o universo
com os olhos de árvore e nuvem: me subjuga
a embriaguez desses dias demorados.

eu, deusa em transe, persisto
implorando pão e socorro
Tu, distante, és a parte mais sombria de minha fé.


Ilustração: ultradownloads.com.br

Monday, April 18, 2016

Uma poesia de Horacio Castillo



Dice Eurídice

Horacio Castillo

La ansiedad me dominó, y luego la inquietud, cuando supe que venías:
horror de que me vieras así, con este tocado de sombra,
el pelo sin brillo -el pelo, que el sol no se cansaba de dorar.
Terror también de que no fueras el mismo -el que permanecía en mi memoria-
y al mismo tiempo curiosidad por ver de nuevo un ser vivo.
Hace tanto que nadie venía por aquí,
tanto que nadie se llevaba un alma o un perro,
que cuando oí tus pasos y tu voz llamándome,
cuando por fin te estreché, más que a ti estaba abrazando a la vida.
Después tu calor me condensó, me secó como una vasija,
y caminé por el sombrío corredor
otra vez con aquella máquina atronadora dentro del pecho
y un carbón encendido en medio de las piernas.
Caminé de tu brazo, imaginando ya la luz,
los árboles junto a los cuales caminábamos,
aquella habitación llena de espejos
donde flotábamos como dos ahogados.
Hasta que de pronto tu paso se hizo nervioso,
tu pensamiento se espantó como un caballo,
y vi que tratabas de desprenderte de mí,
de librarte de la trampa de la materia mortal.
"No te vayas -supliqué- no me dejes aquí,
déjame ver de nuevo las nubes y el sol,
suéltame por el mundo como una potranca tracia."
Pero tú ya corrías hacia la salida,
y durante siete días y siete noches oí cómo llorabas,
cómo cantabas en la ribera del río infernal
nuestra vieja canción: "Lo lejano, sólo lo más lejano perdura."


DISSE EURIDÍCE

A ansiedade me dominou e logo, a inquietude quando soube que vinhas:
horror que me visse assim, com este jeito de sombra,
o cabelo sem brilho, a pele, que o sol nunca se cansava de dourar.
Terror também que não fosses o mesmo-o que permanecia em minha memória
e, ao mesmo tempo, curioso por ver de novo um ser vivo.
Há muito tempo ninguém vinha por aqui,
Ninguém, nenhuma alma ou um cão,
Tanto que quando ouvi os teus passos e a tua voz me chamando,
Quando, por fim, te estreitei, mais do que a ti estava abraçando a vida.
Depois o teu calor me condensou, me secou como um vaso,
e caminhei pelo corredor escuro
outra vez com aquela máquina estrondosa dentro do peito
e um carvão incendiado no meio das pernas.
Caminhei em teus braços, já imaginando a luz,
as árvores junto das quais caminhávamos,
naquela casa cheia de espelhos
onde flutuamos como dois afogados.
Até que de repente teu passo se fez nervoso,
teu pensamento se espantou como um cavalo,
e vi que tratavas de se desprender de mim,
para se livrar da armadilha mortal da matéria.
"Não te vás”-supliquei-não me deixes aqui,
deixe-me ver de novo as nuvens e o sol,
solta-me pelo mundo como uma potranca trácia. "
Porém, tu já corrias em direção à saída,
e, por sete dias e sete noites, ouvi como choravas,
como cantavas nas margens do rio infernal
nossa velha canção: "O distante, só mais distante perdura."

Ilustração: www.mensagenscomamor.com