Friday, August 31, 2018

Uma poesia de Eloy Sánchez Rosillo


All passion spent           
Eloy Sánchez Rosillo         

Cuánto trabajo cuesta, cuando la dicha acaba,
admitir que acabó y aceptar dignamente
esa nada terrible que sigue a la hermosura.
Ha cesado el encanto y ya no somos dueños
de aquella llamarada: tanta luz, maravilla
de lo que siendo efímero semeja eternidad.
Ahora vuelven los días a ser hábito triste,
tiempo destartalado en el que va cumpliéndose
nuestro destino de hombres. "No puede ser-decimos-
verdad esta indigencia en que nos ha dejado,
de repente, la vida; un mal sueño nos tiene."
Y removemos, tercos, la escoria de la luz.
Pero nada encontramos. Y respiramos muerte.

        Toda paixão passada

Quanto trabalho custa, quando a felicidade acaba,
admitir que acabou e aceitar dignamente
este nada terrível que segue a beleza.
Cessado o encanto cessou e já não somos donos
daquele clarão: tanta luz, maravilha
do que sendo efêmero se assemelha à eternidade.
Agora os dias voltam a ser o triste hábito,
o tempo desorganizado em que vai cumprindo
nosso destino de homens. "Não pode ser - dizemos
verdade essa indigência em que nos há deixado,
de repente, a vida; um sonho ruim nos contém".
E removemos, teimosamente, a escória de luz.
Porém, nada encontramos. E respiramos a morte.

Ilustração: Spirit Fanfics e Histórias.

Thursday, August 30, 2018

Uma poesia de Alejandro Jodorowsky


Pequeños actos de bondad                                
Alejandro Jodorowsky

No me queda más que alegrarme,
ofrecerle un vaso de vino al mendigo,
impedir que los gatos orinen las flores,
con silencio de perro acompañar a la viuda,
darle sábanas limpias al loco,
aplaudir a los malos actores,
prestarle dinero al estafador,
enviar rosas a la fea,
regalarle mi bastón al ciego.
Pequeños actos de bondad
realizados bajo la indiferencia
de un dios que no distingue
el bien del mal
ni la luz de su sombra.

Pequenos atos de gentileza
              
Eu não preciso mais que alegrar-me
Oferecer um copo de vinho ao mendigo,
evitar que os gatos urinem nas flores,
com o silêncio de um cachorro acompanhar a viúva,
dar lençóis limpos ao louco
aplaudir os maus atores,
emprestar dinheiro a um vigarista,
enviar rosas para a feia
dar minha bengala para o cego.
Pequenos atos de gentileza
feitos sob a indiferença
de um deus que não distingue
o bem do mal
nem a luz da sua sombra.

Ilustração: alpha.wallhaven.cc.



Wednesday, August 29, 2018

Uma poesia de Stephen Dunn


Happiness                      
Stephen Dunn

A state you must dare not enter
with hopes of staying,
quicksand in the marshes, and all

the roads leading to a castle
that road doesn’t exist.
But there it is, as promised,

with its perfect bridge above
the crocodiles,
and its doors forever open.

FELICIDADE

Um lugar em que não se deve atrever a entrar
com a esperança de ficar,
areia movediça nos pântanos, e todas

as estradas que levam a um castelo
aquela estrada que não existe.
Mas, aqui está, como prometido,

com sua ponte perfeita sobre
os crocodilos,
e suas portas para sempre abertas.

Ilustração: CaraguaWeb.

Tuesday, August 28, 2018

Uma poesia de Alfonso Costafreda


Todo lo que tememos    
Alfonso Costafreda

No sé de dónde vienen
tu risa, tu alegría,
en qué instante aprendiste
a mirar frente a frente
todo lo que tememos.
A mirarlo en los ojos
como si nada hubiera
que temer
y tu mirada
hubiese descubierto
entre tanto desorden
un principio de luz.

Como si tú estuvieras
al borde del misterio
y nada sorprendiera
tu fe
y nos hablaras
no de lo que estás viendo,
sino de lo que sientes
venir
y entiendes tan fácilmente…

Así entonces separas
del terror su envoltura
diaria
y tu mano
traza en la oscuridad
un camino seguro.

TUDO O QUE TEMEMOS

Não sei de onde vem
teu riso, tua alegria,
em que instante aprendeste
a olhar frente à frente
tudo o que tememos.
a olhar nos olhos
como nada houvesse
que temer
e teu olhar
houvesse descoberto
entre tanta desordem
um princípio de luz.  

Como se tu estivesses
na fronteira do mistério
e nada surpreenderia
tua fé
e nos falasse
não do que estavas vendo,
sim do que sentes
que virá
e entendes tão facilmente....

Assim, então, separas
do terror sua vestimenta
diária
e tua mão
traça na escuridão
um caminho seguro.

Ilustração: Inspirando sonhos.

Uma poesia de Eunice Odio


Poema primero (Posesión en el sueño)                             

Eunice Odio

Ven
Amado

Te probaré con alegría.
Te soñaré conmigo esta noche.

Tu cuerpo acabará
donde comience para mí
la hora de tu fertilidad y tu agonía;
y porque somos llenos de congoja
mi amor por ti ha nacido con tu pecho,
es que te amo en principio por tu boca.

Ven
Comeremos en el sitio de mi alma.

Antes que yo se te abrirá mi cuerpo
como mar despeñado y lleno
hasta el crepúsculo de peces.
Porque tú eres bello,
hermano mío,
eterno mío dulcísimo.

Tu cintura en que el día parpadea
llenando con su olor todas las cosas,
tu decisión de amar,
de súbito,
desembocando inesperado a mi alma,

Tu sexo matinal
en que descansa el borde del mundo
y se dilata.

Ven

Te probaré con alegría.

Manojo de lámparas será a mis pies tu voz.

Hablaremos de tu cuerpo
con alegría purísima,
como niños desvelados a cuyo salto
fue descubierto apenas, otro niño,
y desnudado su incipiente arribo,
y conocido en su futura edad, total , sin diámetro,
en su corriente genital más próxima,
sin cauce, en apretada soledad.

Ven
te probaré con alegría.

Tú soñarás conmigo esta noche,
y anudarás aromas caídos nuestras bocas.

Te poblaré de alondras y semanas
eternamente oscuras y desnudas.

Poema primeiro (Posse no sonho)

Vem
Amado

Te provarei com alegria.
Sonharei contigo esta noite.

Teu corpo acabará
onde começa para mim
a hora de tua fertilidade e de tua agonia;
e porque estamos cheios de tristeza
meu amor por ti nasce com teu peito,
é que te amo em princípio pela tua boca.

Vem
Comeremos no lugar da minha alma.

Antes que eu se abrirá meu corpo
como um mar atropelado  e cheio
até o crepúsculo dos peixes.
Porque tu és belo,
meu irmão,
eterno meu docíssimo.

Tua cintura onde o dia brilha
enchendo todas as coisas com o teu cheiro,
tua decisão de amar,
de repente,
desembocando inesperada na minha alma

Teu sexo matinal
em que descansa a borda do mundo
e se dilata.

Vem

Te provarei com alegria.

Um monte de lâmpadas será tua voz aos meus pés.

Falaremos sobre o teu corpo
com puríssima alegria,
como crianças sem sono, cujo salto
foi descoberto apenas por outra criança
e despojado de sua chegada incipiente,
e conhecido na sua idade futura, total, sem diâmetro,
em sua corrente genital mais próxima,
sem leito, em apertada solidão.

Vem
te provarei com alegria.

Tu sonharás comigo esta noite,
e amarrarás aromas caídos em nossas bocas.

Te povoarei com cotovias e semanas
eternamente escuras e nuas.

Ilustração: RTP.

Monday, August 27, 2018

Mais uma poesia de Guillaume Apollinaire


CLAIR DE LUNE                                              Guillaume Apollinaire

Lune mellifluente aux lèvres des déments
Les vergers et les bourgs cette nuit sont gourmands
Les astres assez bien figurent les abeilles
De ce miel lumineux qui dégoutte des treilles
Car voici que tout doux et leur tombant du ciel
Chaque rayon de lune est un rayon de miel
Or caché je conçois la très douce aventure
J'ai peur du dard de feu de cette abeille Arcture
Qui posa dans mes mains des rayons décevants
Et prit son miel lunaire à la rose des vents

LUAR

Lua melíflua nos lábios do demente
Os pomares e as aldeias, na noite, são gananciosos
As estrelas estão exaustas dançando como abelhas
Deste mel luminoso pingando nas videiras
Bem, aqui, tão doce caindo do céu
Cada raio da lua é um raio de mel
Ouro oculto eu concebo a mais doce aventura
Eu temo o dardo de fogo desta abelha Arcturo
Que põe nas minhas mãos raios ilusórios
E oferece seu mel lunar para a rosa dos ventos.

Ilustração: Check Point.


Uma poesia de Diego Conticello


SFINITI                                                                                 

Diego Conticello

Ci ammorbava il tempo
da abissi indefiniti,
per gettarci
da scarti del mondo

– ormai sfiniti –
sul sozzo
bancone della vita
a marcire esterrefatti
in attesa si sblocchi
la bieca quadriglia
delle corruttele,
lo spudorato
baratto sociale

Esgotado

Nos estragava o tempo
de abismos indefinidos,
por nos lançar
os resíduos do mundo
- agora desgastado -
em imundo
contador de vida
podridão, atônita
esperando por ti para desbloquear
a severa quadrilha
das corrupções,
a despudorada
troca social


Outra poesia de Henri Michaux


Dans la nuit                                               
 Henri Michaux

Dans la nuit
Dans la nuit
Je me suis uni à la nuit
A la nuit sans limites
A la nuit

Mienne, belle, mienne
Nuit
Nuit de naissance
Qui m'emplit de mon cri
De mes épis.
Toi qui m'envahis
Qui fais houle houle
Qui fais houle tout autour
Et fume, es fort dense
Et mugis
Es la nuit.
Nuit qui gît, nuit implacable.
Et sa fanfare, et sa plage
Sa plage en haut, sa plage partout,
Sa plage boit, son poids est roi, et tout ploie sous lui
Sous lui, sous plus ténu qu'un fil
Sous la nuit
La Nuit.

NA NOITE

Na noite
Na noite
Eu me uni à noite
À noite sem limites
A noite

Minha, bela, minha
noite
Noite de nascimento
Que se enche com meu grito
Dos meus ouvidos.
Tu que me invades
Que faz as ondas atrás de ondas
Quem faz as ondas ao meu redor
És fumaça, és forte densa
E mugis
És a noite
Noite que mente, noite implacável.
E sua fanfarra e sua praia
Sua praia no alto, sua praia em todos os lugares,
Sua praia bebida, seu peso é rei e tudo se submete a ti
Debaixo de ti, mais sutil que um fio
Sob a noite
A noite.

Ilustração: viagemeturismo.abril.com.br.

Wednesday, August 22, 2018

E, mais uma vez, Sthephane Mallarmé



Mysticis Umbraculis

Stephane Mallarmé

Elle dormait: son doigt tremblait, sans améthyste
Et nu, sous sa chemise, après un soupir triste
Il s'arrêta, levant au nombril la batiste

Et son ventre sembla de la neige où serait
Cependant qu'un rayon redore la forêt
Tombé le nid moussu d'un gai chardonneret

Mysticis Umbraculis

Ela dormia: seu dedo tremeu, sem ametista
E nu, debaixo da camisa, depois de um suspiro triste
Ele se deteve, levantando o umbigo da camisola

E sua barriga parecia neve onde estivesse,
Enquanto um raio a dourar a floresta
Tombava o ninho musgoso de um alegre pintassilgo.