Monday, March 28, 2022

SONETO DAS ILUSÕES PERDIDAS

 


Já nada resta do tempo desperdiçado

No ilusório entusiasmo das paixões,

Sobraram sombras, imensas confusões

Que cobram na memória o teu pecado.

 

Passado o prazer, o tempo desbaratado

É só motivo de lamento; as agitações

Na consciência inquieta são pensões

Que pagas diariamente ao passado.

 

E não descansas perdido em teu engano

E se fores da trilha errante absolvido

O preço do que é desgosto te sobressalta,

 

E não há futuro, nem se pede ao cigano

Para predizer com o inferno já vivido,

O tempo, o pouco tempo que te falta


Saturday, March 26, 2022

ANTI-FILOSOFIA (Ou Uma Lírica Pós-Passado).



Eu não flutuo.

Sou pesado como os grandes remorsos

e atravancado como as âncoras de chumbo.



Nem mais procuro rimar-

crime ou não-

enterrei as ilusões nas águas do rio. 

E sorrio. 


Adoro os pecados e as tentações.

Incapaz a nenhuma resisto.

Muitas vezes, vago, penso 

que nem existo.

E, não sei quando, isto será verdade. 


É questão de tempo:

um segundo, um minuto, uma hora.


Por mais que não me agrade

todo mundo vai embora. 


O passado é nossa única realidade! 

Uma poesia de José Luis García Martin

 


DESPEDIDA     

José Luis García Martín  

No me has querido y huyes por tus años
hacia un país en donde yo no existo,
pero cuánto me dejas al dejarme…
Otros verán tu vida deshacerse;
yo conservaré intacta la memoria
de una frágil belleza adolescente.
Pronto no has de ser tú, aunque no mueras;
aunque no vivas, vivirás en mí.
Siempre joven serás en mi recuerdo:
fíjate cuánto gano si te pierdo.

DESPEDIDA

Não me quiseste e foges por teus anos

até um país onde eu não existo,

porém quanto me deixas ao deixar-me....

Outros verão tua vida desfazer-se;

eu conservarei intacta a memória

de uma frágil beleza adolescente.

Logo não há de ser tu, ainda que não morras;

ainda que não vivas, viverás em mim.

Sempre jovem serás na minha recordação:

pensa o quanto ganho se te perco.

 

E Dorothy Parker está de volta


 

Dorothy Parker

 

Her breasts are not my breasts

 

Under her drees

they push

toward my hands

 

Under my hands

they push

toward my breasts

 

they stop my heart.

they close my eye.

 

she is not my mother

she is not my friend.

 

Diana Dracula

Her breasts suck me

 

Seus peitos não são meus peitos

 

Sob seu vestido

eles pulam

até minhas mãos

 

Sob minhas mãos

eles pulam

até meus peitos

 

eles detém meu coração,

eles cerram meus olhos,

 

ela não é minha mãe

ela não é minha amiga.

 

Diana Drácula

seus peitos me sugam

Ilustração: Getty Imagens.


Ode do Coisa Ruim


Ah! Seu moço,

o diabo, segundo Dona Graziela dizia,

com perdão, Virgem Maria,       

da indelicada heresia,

era coxo.

Não desejo confusão

e, na minha ignorância,

sei que nada tem de mocho

por ostentar belos chifres

e nem ter sido casado.

Bicho danado!

O coisa ruim

não é anuro, como os homens

que perderam o rabo na evolução,

o melindroso-dizem-adora uma cachaça

e do sexo faz graça,

prazer, fuzarca, orgia

e até, por fantasia,

gosta de uma sodomia

somente para aniquilar anjos.

O capeta dizem é uma invenção

dos homens,

mas, tenho minhas dúvidas.

Muitas vezes penso

que os homens é que são-

pode  ser ilusão-

uma criação do diabo.

E, para não incorrer

em maiores tentações

vade retro satanás-

aqui acabo!  

Ilustração: Twitter.

Sunday, March 20, 2022

Mais uma vez Yolanda Pantin

 


YO SOY OUTRA

Yolanda Pantin

He aceptado la invitación a viajar.

En el auto,

el paisaje pasa demasiado rápido.

Raspa al oído

la música sorda que el interior repele.

Atravesamos el país sin detenernos,

apenas para orinar o para beber un trago de agua

en las gasolineras.

El verano castiga gris y estático,

como el cielo.

Conversaciones banales distraen el asedio

de las horas muertas.

Levantamos las tiendas

a la orilla de un río ancho y cenegoso.

Las aves chillan al alzar el vuelo.

Me acerco al río

como Narciso al estanque.

Las aguas turbias no reflejan mi rostro.

Yo he soñado con esto.                                              

 

(la herida ha sanado sobre la carne muerta)

 

EU SOU OUTRA

Aceitei um convite para viajar

de automóvel,

a paisagem passa demasiado rápida.

Raspa o ouvido

a música surda que o interior repele.

Atravessamos o país sem nos determos,

Apenas para urinar ou para beber um trago de água

nos postos de gasolina.

O verão castiga cinza e estático,

como o céu.

Conversações banais distraem o assédio

das horas mortas.

Levantamos as tendas

nas margens de um rio largo e  turvo.

As aves chilram ao alçar voo.

Me acerco do rio

como Narciso do lago.

As águas turvas não refletem meu rosto.

Eu sonhei com isto.

               

                        (a ferida curada sobre a carne morta)        

Ilustração: Eu sem Fronteiras.

 

Cachaça, cachaça, cachaça!

 

Só a cachaça nos salvará-

disse o nosso salvador. 

E profetizou:

toda cachaça leva ao amor 

e também até a felicidade.

O paraíso só existe, na verdade, 

para quem bebe 

e se embriaga. 

Porque sem álcool 

a vida não tem graça. 

É uma praga!

Foto: Spersivo.

Outra poesia de Clara Chacón

 


MONSTRUA

Clara Chacón

Deja salir al monstruo,

tu parte salvaje también es muy bonita.

Deja que se exprese tu animal,

lo primário,

la tierra,

coge tu centro y grita,

muévette, baila,

rómpelo con rabia

y sonrie,

eres libre.

 

Pemítete estar con la ira que envuelve tu

Momento.

Momento en el que tienes que aparentar

ser bonita.

Y vuela,

moviendo tu alas con fuerza,

como el animal salvaje que encerraste con

tu saber estar.

A los ojos de los demás serás la fúria,

para ti eres la creatividad y la expresión.

MONSTRA

Deixa sair o monstra,

tua parte selvagem também é muito bonita.

Deixa que se expresse teu animal.

o primário,

a terra,

pega teu centro e grita,

move-te, baila,

rompe-o com raiva,

e sorri,

és livre.

 

Permiti-te estar com a ira que envolve teu

momento.

Momento em que tens de aparentar ser

bonita.

E voa,

movendo tuas asas com força,

como o animal selvagem que prendeste com

o teu saber estar.

Aos olhos dos demais será a fúria,

Para ti és a criatividade e a expressão.                

Ilustração: Stpck.


 

Tuesday, March 15, 2022

POEMINHA DA ESTABILIDADE DA COISA

 


Nem sei te explicar

como se coisou a coisa.

Nem sei o que é coisar-

na verdade-

uma palavra ônibus,

em que tudo cabe-

que pode ser

inclusive minha necessidade de você

ou como fiquei uma coisa 

na tua ausência.

Paciência!

Estou mesmo decidido a descoisar tudo,

porém quanto mais estudo

menos sou capaz de descoisar.

Deixa a coisa como está.

Se uma coisa sei:

nunca coisarei direito.

Imagine descoisar...

Ilustração: jovemnerd.com.br.

Panero parado no sorriso


 

EM TU SONRISA

 Leopoldo Panero

 Ya empieza tu sonrisa,

como el son de la lluvia en los cristales.

La tarde vibra al fondo de frescura,

y brota de la tierra un olor suave,

un olor parecido a tu sonrisa,

y a mover tu sonrisa como un sauce

con el aura de abril; la lluvia roza

vagamente el paisaje,

y hacia adentro se pierde tu sonrisa,

y hacia dentro se borra y se deshace,

y hacia el alma me lleva,

desde el alma me trae,

atónito, a tu lado.

Ya tu sonrisa entre mis labios arde,

y oliendo en ella estoy a tierra limpia,

y a luz, y a la frescura de la tarde

donde brilla de nuevo el sol, y el iris,

movido levemente por el aire,

es como tu sonrisa que se acaba

dejando su hermosura entre los árboles…

 

NO TEU SORRISO 

O teu sorriso já começa,

como o som da chuva nos cristais.

A tarde vibra sob a essência de frescor,

e brota da terra um odor suave,

um odor parecido com teu sorriso,

e a mover teu sorriso como um salgueiro

sob a aura de abril; a chuva golpeia

vagamente a paisagem,

e para adentro se perde teu sorriso,

e para dentro se apaga e se desfaz,

e até ele a alma me leva,

desde dele a alma me trai,

atônito, a teu lado.

Já teu sorriso entre meus lábios arde,

e perfumando nela a estou a terra limpa,

e a luz, e o frescor da tarde

onde brilha de novo o sol, e a irís

movida levemente pelos ar

é como um sorriso que se acaba

deixando sua formosura entre as árvores....

Ilustração: O Segredo.

Monday, March 14, 2022

FAÇA O FAVOR


Eu vou te mentir

quantas vezes preciso for,

mas, meu bem, é tudo por amor.

Sei que não devias mais

acreditar em mim,

porém é melhor 

que não seja assim,

Eu minto sim.

Eu só minto por amor

e mentirei mais mil vezes,

se preciso for.

Se for preciso mentir

cem mil vezes, tudo bem, 

se for para te amar-

e isto te convém-

faça o favor de acreditar!

Ilustração: VIP.

Três poeminhas de Louise Glück

 


16.

Louise Glück

List the implications of "crossroads."

Answer: a story that will have a moral.

Give a counter-example:

 

16.

Listar as implicações da "encruzilhada".

Resposta: uma história que deve ter moral.

Dar um contraexemplo:

 

17.

The self ended and the world began.

They were of equal size,

commensurate,

one mirrored the other.

17.

O próprio ser terminava y começava o mundo.

Eles eram do mesmo tamanho,

comensuráveis,

um o espelho do outro.

18.

The riddle was: why couldn't we live in the mind.

The answer was: the barrier of the earth intervened.

 

18.

O enigma era: por que não podemos viver na mente?

A resposta era: a fronteira da terra se interpõe.

Ilustração: Sonhos de Alma.

Sunday, March 13, 2022

Uma poesia de Youmna Chalala

 


Night Needs No Stars

Youmna Chlala       

                                                                            for Janice Mirikitani

I watched you survivesurvive
your thick hair and wide laugh
a list of words we were not allowed
to write into poems
the blanket is the night
you were too bright to be a star
to give blankets is an ancient trick
for you, a balm
and June who if she was her month
straddling spring and summer
with her arches, tunnels, bridges
then you, might have been her
balance, an autumn predicting
softness, snow that never reaches fog
snow that illuminates no mattermatter the time
you and she making us make words
and we brokebroke by making words
matter and you blanket and stars both and all.

A NOITE NÃO NECESSITA DE ESTRELAS

Eu observei você sobreviver sobreviver

com seu cabelo grosso e riso largo

uma lista de palavras que não nos era permitido

escrever em poemas

o cobertor é a noite

você era demasiado brilhante para ser uma estrela

dar cobertores é um velho truque

para você, um bálsamo

e junho que se ela fosse no seu mês

atravessando primavera e verão

com seus arcos, túneis, pontes

então você, poderia ter sido ela

equilíbrio, uma previsão de outono

suavidade, neve que nunca chega ao nevoeiro

neve que ilumina não importa o estado do tempo

você e ela nos fazendo fazer palavras

e nós falidos fazendo palavras

matéria e você cobre e as estrelas ambos e tudo.

Ilustração: Realização. 

 

ODE À GRANDE FELICIDADE

 


Oh! Meu Deus! Sinto tanto prazer em beber água!

Perrier, naturalmente., depois de uma bela taça

de Veuve Clicquot!

Alço aos céus, antes de morrer,

e me percebo quase santo.

Bebo a segunda taça,

por avidez e pirraça,

e canto

o meu amor por você,

que ficou muito maior

depois que ganhou na Megasena.

Com muito dinheiro,

meu bem,

não existe felicidade pequena!!!

Ilustração: O Globo.

Friday, March 11, 2022

JOGADORES

 


Nós nos apegamos a tudo:

a cada momento de prazer e de ilusão

como se cada pedacinho

do que vivemos não fosse,

como sempre foi, transitório e efêmero.

 Nós, pobres marionetes do destino,

 sabemos que a vida é um jogo,

uma bolha de sabão,

que flutua, mantendo, por um tempo,

 a ilusão de que podemos ser felizes.

Seguimos, desafiando as regras,

buscando uma solução

para o jogo labirinto que pode ter, ou não,

um lance mágico

que abra as portas de um final feliz.

Mas, quando tu sorris,

sinto que a chave deste jogo

 é tudo que a vida nos dá:

são estes momentos

em que podemos nos amar

e este prazer de jogar

contra todas as possibilidades.

Ilustração: Dreamstime. 

 Seguimos, desafiando as regras,

buscando uma solução

para o jogo labirinto que pode ter, ou não,

um lance mágico

que abra as portas de um final feliz.

Mas, quando tu sorris,

sinto que a chave deste jogo

 é tudo que a vida nos dá:

são estes momentos

em que podemos nos amar

e este prazer de jogar

contra todas as possibilidades.

Ilustração: Dreamstime.

(Do livro "Poemas Malcomportados", Editora Litteris, 2021). 

Tuesday, March 08, 2022

ODE AOS 72 ANOS

 


Setenta e dois anos, 

para o meu saudoso padrinho,

era tempo demais de vida,

por considerar que não tinha nada,

depois de perdida, a amada, 

que era tudo.

Viver, para mim, contudo

é um milagre 

que se deve usufruir ao máximo-

esta é a minha verdade.

Nem mesmo a distância e a saudade

de você

me impedem de querer mais

e, comemoro, com uma taça de vinho

e um charuto, 

mais um ano,

com seus pesares, problemas e alegrias,

pois, afinal

o esquecimento é uma coisa natural

e a volta ao reino da inconsciência

uma questão de tempo. 

E só peço aos deuses

que me permitam continuar,

com esta imensa vontade de amar, 

o impulso de ser uma criança curiosa, 

a mesma tentação de criar, 

ter desejos, ilusões, alegrias

e, sempre com a esperança, 

de viver de magia. 

Ilustração: pt.aliexpress.com.