Thursday, March 29, 2018

E ainda uma poesia de Emily Dickinson


There is another sky     
 Emily Dickinson

There is another sky,
Ever serene and fair,
And there is another sunshine,
Though it be darkness there;
Never mind faded forests, Austin,
Never mind silent fields -
Here is a little forest,
Whose leaf is ever green;
Here is a brighter garden,
Where not a frost has been;
In its unfading flowers
I hear the bright bee hum:
Prithee, my brother,
Into my garden come!

Há um outro céu

Há um outro céu
Sempre sereno e justo
E há um outro sol,
Apesar das trevas lá;
Não importa as florestas mortas, Austin,
Não importa os campos silenciosos-
Aqui é uma pequena floresta
Cuja folha é sempre verde;
Aqui há um jardim mais brilhante,
Onde não há geada;
Nas suas flores infindáveis
Eu ouço o zumbido da abelha brilhante:
Prithee, meu irmão
Para o meu jardim vem!

Ilustração: Carta do Céu. 


Tuesday, March 27, 2018

Mais uma poesia de Emily Dickinson


Fame is a bee                   
Emily Dickinson

Fame is a bee.
It has a song-
It has a sting-
Ah, too, it has a wing.

A fama é uma abelha

A fama é uma abelha.
Tem uma canção-
Tem uma picada
Ah, também, tem uma asa.

Ilustração: Notícias ao minuto.


Monday, March 26, 2018

Outra poesia de León Felipe



Colofón                                                       

León Felipe

Luz…
Cuando mis lágrimas te alcancen
la función de mis ojos
ya no será llorar,
sino ver.


Colofão 

Luz ...
Quando minhas lágrimas te alcancem
a função dos meus olhos
já não será chorar,
sim ver.

Ilustração: Blasting News. 

Uma poesia de León Felipe


Cómo ha de ser tu voz    
León Felipe

Ten una voz, mujer,
que pueda
decir mis versos
y pueda
volverme sin enojo, cuando sueñe
desde el cielo a la tierra…
Ten una voz, mujer,
que cuando me despierte no me hiera…
Ten una voz, mujer, que no haga daño
cuando me pregunte: ¿qué piensas?
Ten una voz, mujer,
que pueda
cuando yo esté contando
las estrellas
decirme de tal modo
¿qué cuentas?
que al volver hacia ti los ojos
crea
que pasé contando
de una estrella
a
otra estrella.
Ten una voz, mujer, que sea
cordial como mi verso
y clara como una estrella

COMO HÁ DE SER TUA VOZ?

Tem uma voz, mulher
que pode
dizer meus versos
e pode
voltar-me sem enjoo, quando eu sonho
do céu para a terra ...
Tem uma voz, mulher
que quando me desperta não me magoa ...
Tem uma voz, mulher, que não me machuca
quando me pergunta: o que pensas?
Tem uma voz, mulher
que pode
quando estou contando
as estrelas
dizer-me de tal modo
o que contas?
que ao virar até a ti os olhos
creia
que passei contando
de uma estrela
a
outra estrela.
Tem uma voz, mulher, que é
cordial como meu verso
e clara como uma estrela.


Thursday, March 22, 2018

Outra poesia de José Ángel Valente


EL TEMBLOR               
José Ángel Valente

La lluvia
como una lengua de prensiles musgos
parece recorrerme, buscarme la cerviz, bajar,
lamer el eje vertical,
contar el número de vértebras que me separan
de tu cuerpo ausente.

Busco ahora despacio con mi lengua
la demorada huella de tu lengua
hundida en mis salivas.

Bebo, te bebo
en las mansiones líquidas
del paladar
y en la humedad radiante de tus ingles,
mientras tu propia lengua me recorre
y baja,
retráctil y prensil, como la lengua
oscura de la lluvia.

La raíz del temblor llena tu boca,
tiembla, se vierte en ti
y canta germinal en tu garganta.


O TREMOR

A chuva
como uma língua de preênsil musgos
parece percorrer-me, buscar-me o colo do útero, descer,
lamber o eixo vertical,
contar o número de vértebras que me separam
do teu corpo ausente.

Busco agora lentamente com minha língua
a demorada trilha da tua língua
afundada na minha saliva.

Eu bebo, te bebo
nas mansões líquidas
do paladar
e na umidade radiante de tuas virilhas,
enquanto tua própria língua me percorre
e baixa
retrátil e preênsil, como a língua
escura da chuva.

A raiz do tremor enche tua boca,
treme, se derrama em ti
e canta germinal na tua garganta.

Ilustração: Google Plus.

Wednesday, March 21, 2018

CANÇÃO DO IMATERIAL



Entre a matéria, as palavras e o incompreensível
tento fixar o possível,
de alguma forma.
Encontrar a essência das coisas,
penetrar no além,
ultrapassar o efêmero
e ser, por um momento,
o imaterial eterno.
Sonho em travar a poesia dos teus olhos,
o perfume da tua pele, o gosto dos teus beijos,
a mágica das horas de amor,
para nos fazer intemporais,
ainda que anônimos,
no mar indistinto dos tempos,
como uma placa de um grande momento.
Ó pretensão infantil!
Melhor buscar o brilho, a luz fugaz
de uma estrela que, por um segundo,
brilha
gloriosa
e nada mais.

Ilustração: Notícias ao Minuto.

Uma poesia de José Ángel Valente


MATERIA                    

José Ángel Valente

Convertir la palabra en la materia
donde lo que quisiéramos decir no pueda
penetrar más allá
de lo que la materia nos diría
si a ella, como un vientre,
delicado aplicásemos,
desnudo, blanco vientre,
delicado el oído para oír
el mar, el indistinto
rumor del mar, que más allá de ti,
el no nombrado amor, te engendra siempre.

MATÉRIA

Converter a palavra em matéria
onde o que quiséramos dizer não podia
penetrar mais além
do que a matéria nos diria
se a ela, como um ventre,
delicado aplicássemos,
desnudo, branco ventre,
delicado o ouvido para ouvir
o mar, o indistinto
rumor do mar, mais além de ti,
o amor não nomeado, te engendra sempre.

Ilustração: Vix. 

E, novamente, Gabriel García Márquez



TERCERA PRESENCIA DEL AMOR

Gabriel García Márquez

Este amor que ha venido de repente
y sabe la razón de la hermosura.
Este amor, amorosa vestidura,
ceñida al corazón exactamente.

Este amor que es harina
que es infancia de sueños en la frente,
que es líquido de música en la frente
y es lucero nostálgico en la altura.

Este amor que es el verso y es la rosa.
Y es saber que la vida en cada cosa
se nos repite cada vez más fuerte.

Tan eterno este amor tan resistible,
que comparado al tiempo imposible
saber donde limita con la muerte.

TERCEIRA PRESENÇA DO AMOR

Este amor que chegou tão de repente
e sabe a razão da formosura.
Este amor, amorosa vestidura,
cosida ao coração exatamente.

Este amor que é farinha
que é infância de sonhos no rosto,
que é líquido de música no rosto
e é estrela nostálgica na altura.

Este amor que é verso e é rosa.
E é saber que a vida em cada coisa
se nos repete cada vez mais forte.

Tão eterno este amor tão resistente,
que comparado ao tempo é impossível
saber onde se limita com a morte.

Ilustração: Espírita Online.

Outra poesia de Gabriel García Márquez


Soneto casi insistente en una noche de serenatas

Gabriel García Márquez

Quisiera una mujer de sangre y plata.
Cualquier mujer. Una mujer cualquiera,
cuando en las noches de la primavera
se oye a lo lejos una serenata.

Esa música es alma. Y aunque no fuera
verdad tanta mentira sería grato
el saber que su voz siempre retrata
el corazón de una mujer cualquiera.

Quiero querer con música. Y quiero
que me quieran con tono verdadero
Casi en azul y casi eternamente.

Será porque ese ritmo me arrebata,
o tal vez porque oyendo serenatas
me duele el Corazón musicalmente.

SONETO QUASE INSISTENTE EM UMA NOITE DE SERENATA

Quisera uma mulher de sangue e prata.
Qualquer mulher. Uma mulher qualquer,
quando nas noites de primavera
se ouve, ao longe, uma serenata.

Essa música é alma. E ainda que não fora
verdade tanta mentira seria grato
o saber que sua voz sempre retrata
o coração de uma mulher qualquer.

Quero querer com música. E quero
que me queiram com o tom verdadeiro
quase em azul e quase eternamente.

Será porque esse ritmo me arrebata,
ou talvez porque ouvindo serenatas
me dói o coração musicalmente.

Ilustração: Dreamstime.com.

Tuesday, March 20, 2018

Uma poesia de Gabriel García Márquez

                                             
“Si alguien llama a tu puerta…”

Gabriel García Márquez

Si alguien llama a tu puerta, amiga mía,
y algo en tu sangre late y no reposa
y en su tallo de agua, temblorosa,
la fuente es una líquida armonía.

Si alguien llama a tu puerta y todavía
te sobra tiempo para ser hermosa
y cabe todo abril en una rosa
y por la rosa se desangra el día.

Si alguien llama a tu puerta una mañana
sonora de palomas y campanas
y aún crees en el dolor y en la poesía.

Si aún la vida es verdad y el verso existe.
Si alguien llama a tu puerta y estás triste,
abre, que es el amor, amiga mía.

SE ALGUÉM BATE À TUA PORTA

Se alguém tocar em tua porta, amiga minha,
e algo em teu sangue bate e não descansa
e em seu tronco de água, temerosa,
a fonte é uma líquida harmonia.

Se alguém toca à tua porta e, todavia,
te sobra tempo para ser formosa
e cabe todo abril em uma rosa
e pela rosa se sangra o dia.

Se alguém bate à tua porta uma manhã
ao som de pombos e de sinos
e ainda crês em dor e na poesia.

Se ainda a vida é verdade e o verso existe.
Se alguém bate à tua porta e estás triste,
Abre, que é o amor, amiga minha.

Ilustração: Clave Mágica - WordPress.com.

Monday, March 19, 2018

FALAR DE AMOR





Hoje desejo falar do amor
como quem procura palavras espalhadas pelo chão
ou tenta justificar sua religião.
Falar do amor sabendo
que o amor só conduz a confusões, a desastres, a fugir da realidade que nos cerca e nos contamina,
tentando explicar o que a vida não ensina.
O amor não tem lógica,
não tem nada de racional, de simples, de transmissível.
O amor só como catástrofe é possível. 
O amor é um alvo móvel.
Um alvo que nunca se acerta,
ou, se certeira a flecha,
se vê que era o alvo errado.
E cansado do amor e das palavras
quero falar do amor
como desses monstros
que só se satisfazem com lágrimas e dramas.
Quero falar do amor,
como acontece entre nós dois,
doce, 
inesperado.
O amor do acaso,
da inconsequência e da impossibilidade
que se alimenta de sua própria incoerência
e cresce, se expande, 
flutua com o ar, com a lua 
e arde em nós
e nos faz viver.
É indispensável falar do amor.
Falar do amor e da saudade que sinto de você!

Uma poesia de Eira Steberg


TO SPEAK OF LOVE                                              

Eira Margot Helene Stenberg

To speak of love,
of what one cannot speak -
a blind alley, a mirror
in which someone hangs
upside down from an invisible tree
feet wrapped around a branch
as if wrestling gravity,
mouth open,
no voice.

Or to speak as if
love were a door
to which longing is the key
and behind the door, the tree would blaze
into visibility,
the fetus would straighten its legs and dive
up to the surface,
would speak to you, juggler
who tosses his head from hand to hand
like a die,
would offer you a fresh leaf
after the flood.

PARA FALAR DE AMOR

Para falar de amor,
do que não se pode falar -
um beco sem saída, um espelho
em que alguém trava
de cabeça para baixo de uma árvore invisível
pés enrolados em torno de um ramo
como se estivesse lutando contra a gravidade,
boca aberta,
sem voz.

Ou falar como se
o amor fosse uma porta
para o qual a saudade é a chave
e atrás da porta, a árvore arderia
em visibilidade,
o feto endireitaria as pernas e mergulha
até a superfície,
falaria com você, malabarista
como quem joga a cabeça de mão em mão
como um dado,
oferecer-lhe-ia uma folha fresca
depois do dilúvio.

Ilustração: Público.