Wednesday, December 24, 2008

VERSOS DE NATAL


Tenho muito pouco para te oferecer
Neste Natal.
Nenhuma estrela oferecerei
para guiar teus passos
Nem a ceia está posta
Nem o vinho te espera na taça.
Só tenho esta tristeza
Esta saudade que não passa
E uns pobres versos
Que dizem que, no meu coração,
Repousas como o menino da manjedoura
Que sempre renasce a cada ano
Com mais amor e emoção.

Ilustração: http://populo.weblog.com.pt/arquivo/mesa%20de%20natal.bmp

Tuesday, December 23, 2008

AINDA ALBERTI


El angel bueno

Rafael Alberti

Vino el que yo quería,
el que yo llamaba.

No aquel que barre cielos sin defensas,
luceros sin cabañas
lunas sin patria,
nieves.
Nieves de esas caidas de una mano,
un nombre
un sueño
una frente.

No aquel que a sus cabellos
ató la muerte.

El que yo quería.

Sin arañar los aires,
sin herir hojas ni mover cristales.

Aquel que a sus cabellos
ató el silencio.

Para, sin lastimarme,
cavar una ribera de luz dulce en mi pecho
y hacerme el alma navegable.

O Anjo Bom

Vinho era o que queria,
ele que me chamava.

Não aquele que varre céus sem defesa,
Luzes sem cabanas
luas sem pátria
neve.
Neve dessas caídas de uma mão,
um nome
um sonho
uma frente.

Não aquele que a seus cabelos
atou a morte.

Era o que eu queria.

Sem arar o ar,
sem ferir folhas ou mover cristais.

Aquele que a seus cabelos
atou o silêncio.

Para não se lastimar,
cavou um rio de luz doce no meu peito
e fez minha alma navegável.

RAFAEL ALBERTI


Los ángeles colegiales

Rafael Alberti

Ninguno comprendíamos el secreto nocturno de las pizarras
ni por qué la esfera armilar se exaltaba tan sola cuando la mirábamos.
Sólo sabíamos que una circunferencia puede no ser redonda
y que un eclipse de luna equivoca a las flores
y adelanta el reloj de los pájaros.

Ninguno comprendíamos nada :
ni por qué nuestros dedos eran de tinta china
y la tarde cerraba compases para al alba abrir libros.
Sólo sabíamos que una recta, si quiere, puede ser curva o quebrada
y que las estrellas errantes son niños que ignoran las aritmética.

Os Anjos Colegiais

Ninguém compreendeu o segredo noturno das ardósias
nem a razão pela qual a esfera armilar se exaltava quando a olhávamos.
Só sabíamos que um círculo não pode ser redondo
e que um eclipse da lua equivoca as flores
e adianta o relógio e dos pássaros.

Ninguém compreendia nada:
ou porque os nossos dedos eram de tinta chinesa
e a tarde fechava bares para a madrugada abrir livros.
Só sabiamos que uma reta, se você quiser, pode ser curva ou dobrada
e que as estrelas errantes são crianças que ignoram a aritmética.














Ilustração: freddycharlson.blogspot.com/

Friday, December 19, 2008

O TEMPO VOA


surviving

Jim Chandler

the trick to
surviving
is not to
steel the body
to beat
the street tough
you can't
whip

but
to harden
the heart
to turn away
the thrusts
of pain
thrown by
soft hands
that once
touched lightly

with love

Sobrevivente

o truque para
sobrevivente
não é
ter o corpo de aço
para bater
na rua dura
como se fosse
um chicote

mas
para temperar
o coração
e se rebelar
dos eixos
da dor
só por meio de
mãos macias
que nos toquem
levemente

com amor

Thursday, December 18, 2008

ÁGUAS PRESENTES



Rios da minha vida

Ah! Madeira imenso
tão diferente quando agora penso
que és do Pajeu de minha infância
que, cada vez mais, fica pequeninho
na lembrança.

Só penso no teu lado musical
quando o sol te lambe
sensual
nos fins de tarde
e desperta em mim
a saudade que arde
de uma mulher.

Pensando bem:
sempre vivi nos rios
com saudades do mar.

ENTENDA....


SE POSSÍVEL


Rabindranath Tagore


Love's gift cannot be given,
it waits to be accepted.

O presente do amor não pode ser dado,
ele espera ser aceito.

Ilustração: http://jfernandolopes.com.sapo.pt/noitesdelisboa.jpg

Tuesday, December 16, 2008

DIVAGAÇÕES




Poema do que tinha de ser

O fato é que de ti só quero
o que tens de diferente, de parecido e de melhor,
Mas, o pior, contigo, é muito bom também.
Nem quero saber das coisas que não quiser me dizer
Embora esteja doido para te dizer
Muito mais do que queres saber:
Palavras amorosas, dengos e mesmo desejos pervertidos,
Que trago comigo.

Ah! Me pego pensando no teu rosto
Como será quando estiveres alvoroçada
Por pegar teus seios,
Que receios terás
Se te lamber mais do que devo
Numa fantasia única
De que és sorvete
Que sonhei quando criança.

A realidade é que, perto de ti,
Todo olhar meu é pornográfico
Como um gráfico
De uma realidade inevitável,
De um destino
Que não se pode fugir.

Monday, December 15, 2008

O'OLEARY


internal affairs

Joseph O'Leary

check my fellow passengers like a thief:

this woman's hands
look like hers and
her sweater covers her neck the same way
and others read
underneath the subversive light of the
subway car.

particular to a hint of snow,
and the slow relief of release,

a fresh coat of awe, thrown over everything,
startles.


Assuntos Internos


Investigo os meus colegas passageiros como um ladrão:

esta mulher das mãos
parecidas com a dela e
com o suéter que lhe cobre o pescoço da mesma forma
e outras leituras
debaixo da luz do subversiva
do vagão do metrô.

particular como uma bolada de neve,
e no lento alívio da liberação,

o tremor do novo casaco, sobre todas as coisas,
me assusta.

UMA POETISA DO URUGUAI



El deseo

Tatiana Orõno

Todo tuvo la forma
que no tuvo. Pero tiene

el deseo

persistencia una forma
fluida un amarre
de aguas. Más

del 50% de los cuerpos
es agua

tornasol del abrazo
molecular de hache
en torno a O.

En la suerte corrida en lo vivido
en su fe de bitácora
cuenta

ese suelo lacustre esa morada móvil esa frontera líquida

su espermático
don
de dividirse

en flujos en

regatos en subsuelos
barrosos. Mi mano palma y dorso
también es agua orilla
burilada por el deseo
que siempre borra el trazo.

Tanta agua humedece la historia.
Hace duda su suerte. Húmeda.


O desejo

Tudo teve a forma
que não teve. Porém, tem

o desejo

a persistência de uma forma
fluída, um encontro
das águas. Mais

de 50% dos corpos
são água

mistura do abraço
molecular do agá
com o O.

Na sorte da corrida da vida
Na sua fé na bússola

esse solo lacustre, essa morada móvel, essa fronteira líquida

seu espermático
dom
de dividir-se

em fluxos

em regatos em subsolos

enlameados. Minhas mãos e palmas
são também as beiras de água
buriladas pelo desejo
que sempre borram o traço.

Tanta água umedece a história.
Me faz duvidar de sua sorte. Úmida.

Ilustração: http://bp0.blogger.com/_r6AAkrV1j98/Rye7CkGNDLI/AAAAAAAAAFA/viWlubDlpds/s400/CORAÇÃO+AGUA.jpg

Saturday, December 13, 2008

BERENGUER




BAR JAQUE MATE

Carmen Berenguer

A las minas del bar
(5.a.m.)


El devenir es un fantasma que no asusta a nadie.
(Permíteme decirlo)
con barniz amarillo
y renovado quedó el techo antiguo.

Sus espejos le devolvían el pasado.
Zócalos encubiertos con ribetes
de mierda de moscas: dejando una exudación,
a la entrega febril de una hora.

Es probable que se haya ordenado hacer el carnaval
post moderno en la Plaza,
para perderlo todo
ribeteado de estrellas en el cielo azul.

Sin duda zócalos amarillos.
Asientos de vinil y lámparas
palmeras salmón.
¿Es Satie postmoderno?

(Puedo perder la vida por una nota)


BAR CHEQUE MATE


Para as meninas do bar

(5.hs)


O futuro é um fantasma que não assusta ninguém.
(Permita-me dizê-lo)
com verniz amarelo
e renovado ficou o teto antigo.

Seus espelhos me devolviam ao passado.
Frisos encobertos com ornamentos
de merda de moscas: deixando a transpiração,
da entrega febril de uma hora.

É provável que tenham mandado celebrar o carnaval
pós-moderno na Praça,
para perder tudo
enfeitado de estrelas no céu azul.

Sem dúvida os frisos amarelos.
Assentos de vinil e lâmpadas
e palmeiras salmão.

Satie é pós-moderno?

(Posso perder a vida por um trocado)


http://67.15.211.4/~reporter/lestedeangola/bar_minhoto03.jpg

Thursday, December 11, 2008

ALLEN GINSBERG


Psalm IV

by Allen Ginsberg

Now I'll record my secret vision, impossible sight of the face of God:
It was no dream, I lay broad waking on a fabulous couch in Harlem
having masturbated for no love, and read half naked an open book of Blake
on my lap
Lo & behold! I was thoughtless and turned a page and gazed on the living
Sun-flower
and heard a voice, it was Blake's, reciting in earthen measure:
the voice rose out of the page to my secret ear never heard before-
I lifted my eyes to the window, red walls of buildings flashed outside,
endless sky sad Eternity
sunlight gazing on the world, apartments of Harlem standing in the
universe--
each brick and cornice stained with intelligence like a vast living face--
the great brain unfolding and brooding in wilderness!--Now speaking
aloud with Blake's voice--
Love! thou patient presence & bone of the body! Father! thy careful
watching and waiting over my soul!
My son! My son! the endless ages have remembered me! My son! My son!
Time howled in anguish in my ear!
My son! My son! my father wept and held me in his dead arms.

1960

Salmos IV

Agora irei recordar minha visão secreta, a impossível visão da face de Deus:
Não foi um sonho, eu abri os olhos num amplo e fabuloso sofá no Harlem
tendo me masturbado por não ter amor, e lido metade de um livro aberto de Blake, nu de meias, no meu colo
Lo & eis aí! Fui imprudente e virei uma página e olhei sobre a vida
num domingo em flor
e ouvi uma voz, era Blake, recitando no térreo sob medida:
a voz subindo para fora da página para meus secretos ouvidos nunca antes desvirginados -
Eu levantei os olhos para as janelas, paredes vermelhas relampejantes do exterior dos edifícios, sob um interminável céu triste de eternidade
a luz solar nascendo sobre o mundo, os apartamentos no Harlem de pé
sobre o universo-
cada tijolo e cornija colocados com inteligência como um vasto rosto vivído-
o grande cérebro com os pensamentos se desdobrando pelo deserto! - Agora falando
em voz alta com a voz de Blake -
Amor! Teu paciente presente de carne e osso! Pai! Tão cuidadoso
assistindo e esperando a minha alma!
Meu filho! Meu filho! As intermináveis idades têm te relembrado! Meu filho! Meu filho!
Quanto tempo de gritos de angústia no meu ouvido!
Meu filho! Meu filho! Meu pai chorou e ergueu-me em seus braços mortos.

Ilustração: http://eugenio.toledo.zip.net/images/salmo143.jpg

Wednesday, December 10, 2008

COMO EXISTE POESIA...



TAMBÉM NA SUA FALTA

Nada mais musical que o silêncio

Do teu olhar carinhoso

Quando não há nada o que falar.

Tuesday, December 09, 2008

A FORÇA DO AMOR



CORRIDA INFINITA

Todas as vezes que te procurava
Era para correr como um desesperado
Atrás de uma sombra que sempre corria mais.
Era uma corrida contínua e sem esperança
Ainda mais que uma voz me perseguia
Gritando com feroz autoridade
Que seria melhor esquecer antes que fosse tarde,
Mas, teimosamente, ainda assim persistia
E nem a corrida nem o pesadelo acabava
E lembro que era a vida que acabava
Sem que jamais conseguisse te esquecer.

Ilustração: http://letrasimples.blogs.sapo.pt/arquivo/1078271.html

Monday, December 08, 2008

CUMMINGS


i shall imagine life

by E. E. Cummings


i shall imagine life
is not worth dying,if
(and when)roses complain
their beauties are in vain

but though mankind persuades
itself that every weed's
a rose,roses(you feel
certain)will only smile

Eu devo imaginar a vida

Eu devo imaginar a vida
melhor do que a morte, se
(e quando) as rosa se queixam
de suas belezas serem em vão

mas penso que a humanidade persuade
a si própria que cada erva daninha
é uma rosa, rosas (você sente
certamente) só sorriem.

Saturday, December 06, 2008

UM POETA DE BOGOTÁ



Jazz del solitario

Federico Díaz-Granados

La moneda cayó por el lado de la soledad

Andrés Calamaro

El día de la creación
tendré semillas tuyas entre mis manos
y te dispersaré en el fértil territorio de cielos abolidos
o en la voz que persigue otras luces, otros fulgores.
Busca entonces la dirección de la guerra
no importa que tu ausencia sea del tamaño de la muerte
te buscaré al otro lado de la noche
cuando regresemos de esta estación de adioses que es la vida.


Jazz do solitário

A moeda caiu pelo lado da solidão
Andrés Calamaro

No dia da criação
Terei sementes tuas entre as minhas mãos
e te dispersarei no fértil território dos céus abolidos
ou na voz que persegue outras luzes, outros esplendores.
Depois, olhando o rumo da guerra
Não importa que tua ausência seja do tamanho da morte
te buscarei do outro lado da noite
quando regressaremos desta estação de adeuses que é a vida.

É TARDE



REMORSO

Hoje
Trago no corpo as dores do tempo
Tento lembrar
O riso e o sofrimento
É o que me resta
Herança da má sorte.

Hoje
Tento lembrar de noites esquecidas
Dos tempos bons que tive pela vida
Fotografias
Imagens distorcidas
Que se misturam
Nas mágoas que são fortes.

Hoje
Que pouco tempo
Me resta ainda de vida
Só penso em ti
Mulher doce, querida
E choro muito
Sem ter quem me conforte.

Hoje
É que lamento
A decisão tomada
Foi tanto tempo
Em que não vivi nada
Sabendo
Que deixei
Lá atrás toda minha vida.

Ilustração: http://mesillatyesharim.blogspot.com/2008/06/orchot-tsadikim-charat.html

PRELUTSKY


Last Night I Dreamed of Chickens

Jack Prelutsky

Last night I dreamed of chickens,
there were chickens everywhere,
they were standing on my stomach,
they were nesting in my hair,
they were pecking at my pillow,
they were hopping on my head,
they were ruffling up their feathers
as they raced about my bed.

They were on the chairs and tables,
they were on the chandeliers,
they were roosting in the corners,
they were clucking in my ears,
there were chickens, chickens, chickens
for as far as I could see...
when I woke today, I noticed
there were eggs on top of me.


Ontem à noite sonhei de frangos

Ontem à noite sonhei de frangos,
havia frangos em todo o lado,
eles estavam de pé sobre o meu estômago,
eles fizeram ninhos no meu cabelo,
e foram bicando a minha almofada,
até saltaram sobre minha cabeça,
ruflando forte com as suas penas
até correndo sobre a minha cama.

Eles estavam sobre as mesas e cadeiras,
se penduravam pelos lustres,
eles foram descendo nos cantos,
cacarejando sem cerimônia em meus ouvidos,
havia galinhas, frangos, pintinhos
até onde meus olhos podiam ver ...
e quando acordei hoje, eu reparei
que haviam os ovos em cima de mim.

Friday, December 05, 2008

UMA POETISA URUGAIA



Repetir el acto...

Claudia Magliano

Repetir el acto de repetir una escena cualquiera
cotidiana
como tocar cinco veces la taza del café
o mirar detrás de qué puerta por si acaso.
La infancia es un pasadizo de iteraciones
un rito inmaculado,
la casa es demasiado grande para tantas cosas
es necesario obedecerse
mantener el orden sin tentar el desafío,
es necesario estar solo
que nadie vea el desacato
la manifestación extraña de temerse.
Dos veces he dicho este poema
Dos.
Repito.

Repetir o ato….


Repetir o ato de repetir uma cena qualquer
cotidiana
como tocar cinco vezes a xícara de café
ou olhar detrás da porta apenas por acaso.
A infância é uma passagem das interações
um rito imaculado,
a casa é demasiada grande para tantas coisas
é necessário obedecer-se
manter a ordem sem tentar o desafio,
é necessário estar só
que ninguém veja o desacato
a manifestação estranha de temer.
Duas vezes eu disse este poema
duas.
Repito.

Ilustração: www.rfi.fr
(O ato é virgem mesmo repetido)

WHITMAN






To Old Age

by Walt Whitman

I SEE in you the estuary that enlarges and spreads itself grandly as it pours in the great
Sea.

A velhice

VEJO em ti o estuário que amplia e se vai se espalhando enormente por si mesmo, para se derramar no grande
Mar.

Ilustração: http://polonorte.blogspot.com/2005/06/eventualmente.html

DE VOLTA BUKOWSKI



Here I Am ...


by Charles Bukowski

drunk again at 3 a.m. at the end of my 2nd bottle
of wine, I have typed from a dozen to 15 pages of
poesy
an old man
maddened for the flesh of young girls in this
dwindling twilight
liver gone
kidneys going
pancrea pooped
top-floor blood pressure
while all the fear of the wasted years
laughs between my toes
no woman will live with me
no Florence Nightingale to watch the
Johnny Carson show with
if I have a stroke I will lay here for six
days, my three cats hungrily ripping the flesh
from my elbows, wrists, head
the radio playing classical music ...
I promised myself never to write old man poems
but this one's funny, you see, excusable, be-
cause I've long gone past using myself and there's
still more left
here at 3 a.m. I am going to take this sheet from
the typer
pour another glass and
insert
make love to the fresh new whiteness
maybe get lucky
again
first for
me
later
for you.

from "All's Normal Here" - 1985

Aqui estou eu

bêbado novamente as 3 da manhã, no final da minha 2ª garrafa
de vinho, depois de ter digitado de uma dúzia a 15 páginas de
poesia
um homem velho
enlouquecido pela carne das jovens neste
insignificante crepúsculo
fígado ferrado
rins acabados
pâncreas desmanchado
a pressão arterial lá no piso
enquanto todo o medo dos anos desperdiçados
gargalha entre os meus dedos
nenhuma mulher vai morar comigo
nenhuma Florence Nightingale para assistir ao
Johnny Carson Show comigo
se eu tiver um acidente vascular cerebral vou ficar aqui por seis
dias, meus três gatos avidamente me lambendo a carne
a partir de meus cotovelos, punhos, cabeça
o rádio tocando música clássica ...
Eu prometi a mim mesmo nunca escrever velhos poemas
mas isto é uma piada, você sabe, desculpável,
porque tenho
um longo passado usando a mim mesmo e outros mais
ainda mais à esquerda
aqui às 3 horas estou aproveitando esta folha de
papel
de outro material
para inserir
fazer amor de uma nova forma na sua brancura
talvez ter sorte
novamente
em primeiro lugar para
mim
depois
para você.

Ilustração: http://www.filosofix.com.br/blogramiro/?p=460

Wednesday, December 03, 2008

ATMOSFERA...LUZ...SOM...VOZ...



Ocaso do Cantor de Cabaré

Não sei por quantas noites tive que cantar
Em palcos pobres, ruins, locais chinfrins.
Só o meu amor a me encorajar
Dizia:"Vai lá! Canta para mim!"

E eu cantava a me desesperar
Sem ter esperança de sucesso, enfim,
Entre a vida miserável e o camarim
Minha estrela vivia a se apagar.

Muitas vezes até pedi a Deus em vão
Que me desse outra vida qualquer
Em que pudesse ter o leite e o pão
E não o corpo fácil de uma mulher.

A vida nos palcos é pura embriaguez
Ainda mais sendo cantor de cabaré.
O meu amor cansou se foi de vez
E passei a cantar sem amor nem fé.

As noites, os sons de pianos, violões,
Mulheres mentirosas, bebidas, sensações
E a minha voz se perdendo nas canções
Que falavam de perdidos corações

Começaram a criar a minha fama
De ser o melhor cantor possível
Dos que brilhavam na vida de lama
E me portava como um ser insensível.

Trocando apenas de mulher na cama
Passei a vida apenas encenando
Um personagem que ninguém mais ama
Quando a luz do palco vai se apagando.

EM FEITIO...


ORACIÓN

Cristina Peri Rossi

Líbranos, Señor,
de encontrarnos
años después,
con nuestros grandes amores.

Inmovilidad de los barcos” 1997

ORAÇÃO

Livrai-nos, Senhor,

de encontrarmos

anos depois

com nossos grandes amores.

Tuesday, December 02, 2008

UMA POETISA URUGAIA


DISTANCIA JUSTA

Cristina Peri Rossi

En el amor, y en el boxeo
todo es cuestión de distancia
Si te acercas demasiado me excito
me asusto
me obnubilo digo tonterías
me echo a temblar
pero si estás lejos
sufro entristezco
me desvelo
y escribo poemas.

“Otra vez eros” 1994

A distância justa

No amor e no boxe
Tudo é questão de distância
Se te aproximas demais me excito
Me apavoro
Me perco e digo tolices
Me sinto desmaiar,
Porém, se estais distante
Sofro, entristeço
Me desespero
E escrevo poemas.

Ilustração: Do blog Uma Distância repleta de sentires

RÁPIDO E RASTEIRO




SUCINTO

Quem morre, morre sozinho

Segue, segue

O teu caminho.


Ilustração: sonografo.blogspot.com/2008/06/ps-aniversrio.html

TRAINDO O GRANDE SUJO


So Now?

by Charles Bukowski

the words have come and gone,
I sit ill.
the phone rings, the cats sleep.
Linda vacuums.
I am waiting to live,
waiting to die.
I wish I could ring in some bravery.
it's a lousy fix
but the tree outside doesn't know:
I watch it moving with the wind
in the late afternoon sun.
there's nothing to declare here,
just a waiting.
each faces it alone.
Oh, I was once young,
Oh, I was once unbelievably
young!

from Transit magazine, 1994


Assim agora?

As palavras vem e vão,
Sinto-me mal.
o telefone toca, os gatos dormem.
Lindos vazios.
Estou esperando para viver,
esperando para morrer.
Gostaria de poder tocar com alguma bravura.
É uma péssima tradução,
mas a árvore lá fora não sabe:
Eu a assisti se mover com o vento
no final da tarde do domingo.
não há nada a declarar aqui,
apenas uma espera.
cada um está sozinho.
Ah, eu fui jovem uma vez,
Ah, eu fui inacreditavelmente jovem
uma vez!

Ilustração: http://amadeo.blog.com/repository/192540/1766948.jpg

Monday, December 01, 2008

JUAN GELMAN



COMPAÑEROS

Juan Gelman


En una casa para locos
vi lo ocurrido todavía.
Las páginas del dolor esquivado
en las mejillas del ausente.
Un árbol se parece allí
al espontáneo que no
espera ni una piedra. Los que aúllan
con imágenes tristes
lindan con un perro que muere.
El instante del agua solar
está muy lejos de la mano. Los
compañeros en la dilación
crean charcos
con los ojos nomás.

Os Companheiros

Num hospício
Vi o ocorrido, todavia.
As páginas da dor evitaram
As bochechas do ausente.
Uma árvore se parece ali
Ao espontâneo que não
Espera nem uma pedra. Aqueles que uivam
Com imagens tristes
Lidam com um cão que morre.
O instante da água solar
Esta muito longe da mão. Os
Companheiros com a demora
Criam charcos
Com os olhos apenas.

Del libro Mundar

OUTRO POETA MEXICANO



DIBUJO DE UNA CARICIA

José Maria Espinasa


RASPA CON las uñas la pared,
araña en el aire una ausencia.
En los dedos quedan huellas
de ese gesto inútil en el muro,
cicatrices en la piel son testimonio
de una ausencia más cruel
y de un silencio que se vuelve distancia.
El hueso y la sangre enamoran
y la carne -oscura alcahueta-
nos va dejando sin su ausencia.
Huella de huellas sigiliosas:
se mueve mi cuerpo por el cauce
que al moverse su cuerpo me regala,
me rehuye sin saberlo y me enamora
y en su silencio se rompe mi silencio.
Me enamoro
de su cuerpo y sus ojos y su pelo,
busco en el muro dibujar su mano
y que con un soplo acuda a mi llamado.

Piélago, 1990

O desenho de uma carícia

Raspa com as unhas a parede,
aranha no ar, uma ausência.
Nos dedos ficam marcas, trilhas
deste gesto inútil na parede,
as cicatrizes na pele são testemunhas
de uma ausência mais cruel
e de um silêncio que se faz distância.
O osso e o sangue se apaixonam
e a carne - escura aliciadora-
nos vai deixando sem sua ausência.
Trilha de trilhas sigilosas:
meu corpo move-se pelo leito
que ao mover-se seu corpo me presenteia,
me recolhe sem o saber e se enamora de mim
e em seu silêncio rompe meu silêncio.
Eu me apaixono

BLANCA LUZ



PRESAGIO

Blanca Luz Pulido

NADA en el mundo te alcanza todavía:
son tus labios de sombra,
y tu voz un fantasma.
Has surgido a la luz para mis ojos,
y te aumenta mi sangre,
y te encumbran mis venas.
Ya sin saberlo te acercas a tu forma,
y encenderás la llama
en la incesante noche que te espera.
Y sin saberlo escribirás tu nombre,
tu no nacido nombre, entre mis labios.

Del libro Raíz de Sombras.

Presságio

Nada no mundo te alcança, todavia:
São teus lábios de sombra,
E tua voz um fantasma.
Que surgiram da luz para meus olhos,
E te aumenta meu sangue,
E te encobre minhas veias.
Já sem o saber te acercas a tua forma,
E acenderás a chama
Na incessante noite que te espera.
E, sem sabê-lo, escreverás teu nome,
Teu não nascido nome, entre meus lábios.

Sunday, November 30, 2008

HAI-KAI DA..


MOLEQUINHA


O verde, sinal da esperança,

Nos teus olhos de alegria dança.

Grande mulher...tão criança!

Ilustração: Blog As Velas Ardem para Sempre

Friday, November 28, 2008

COMO UMA ONDA



Inconcluso

Se o fim é no início
Ou o início é o fim
Não sei.

Muitas vezes é assim:
Faço o início no fim
Ou inicio no fim
Como se fim e início
Fossem sinônimos sim.

Dá-me prazer no início
Quando o início tem fim
Se bem que sou sempre assim:
Seja no início ou no fim.

Se tenho dúvidas no início.
Mais duvidas tenho no fim.
De forma que meu precipício
É o início e o fim.

MAR, AMAR



Ilha

É o avesso da saudade
Que tua lembrança
me traz.

É, como se a água fosse,
tua figura
me margeando
por todos os meus lados,
contendo-me, cercando-me
e me limitando
a ser uma ilha de mim mesmo.

eu,
com o meu olhar de desalento,
contemplo
o resto de azul no fim da tarde
e peço, ao sol que se vai
na tarde que cai
que a lua no céu
seja, com o seu luar de mel,
uma prova de que
amanhã
hei de me afundar em ti.

Mesmo sendo ilha
meu destino é o mar-
água da minha vida-
Só desejo amar.

GINSBERG



A Supermarket in California

Allen Ginsberg

What thoughts I have of you tonight, Walt Whitman, for
I walked down the sidestreets under the trees with a headache
self-conscious looking at the full moon.
In my hungry fatigue, and shopping for images, I went
into the neon fruit supermarket, dreaming of your enumerations!
What peaches and what penumbras! Whole families
shopping at night! Aisles full of husbands! Wives in the
avocados, babies in the tomatoes!--and you, Garcia Lorca, what
were you doing down by the watermelons?

I saw you, Walt Whitman, childless, lonely old grubber,
poking among the meats in the refrigerator and eyeing the grocery
boys.
I heard you asking questions of each: Who killed the
pork chops? What price bananas? Are you my Angel?
I wandered in and out of the brilliant stacks of cans
following you, and followed in my imagination by the store
detective.
We strode down the open corridors together in our
solitary fancy tasting artichokes, possessing every frozen
delicacy, and never passing the cashier.

Where are we going, Walt Whitman? The doors close in
an hour. Which way does your beard point tonight?
(I touch your book and dream of our odyssey in the
supermarket and feel absurd.)
Will we walk all night through solitary streets? The
trees add shade to shade, lights out in the houses, we'll both be
lonely.

Will we stroll dreaming of the lost America of love
past blue automobiles in driveways, home to our silent cottage?
Ah, dear father, graybeard, lonely old courage-teacher,
what America did you have when Charon quit poling his ferry and
you got out on a smoking bank and stood watching the boat
disappear on the black waters of Lethe?

Berkeley, 1955

Num supermercado da Califórnia

Que pensamentos tenho sobre ti hoje à noite, Walt Whitman, para
caminhar assim por ruas laterais sob as árvores com uma dor de cabeça
consciente de mim mesmo a olhar para a lua cheia.
Na minha fome fatigada de vendidas imagens, eu me perco
no néon do supermercado de frutas, sonhando com suas enumerações!
Que pêssegos e que penumbras! Famílias inteiras
comprando à noite! Corredores cheios de maridos! Esposas nos
abacates, bebês nos tomates! - e tu, Garcia Lorca, o que
estavas fazendo debaixo das melancias?

Eu te vi, Walt Whitman, sem filhos, solitário como uma velha enxada,
cutucando entre as carnes no frigorífico e olhando os rapazes
da mercearia
Eu ti ouvi fazendo perguntas a cada um: Quem matou as
costeletas de porco? Qual o preço das bananas? Você é meu anjo?
Eu vagabundeando dentro e fora da brilhante pilhas de latas
te segui, e fui te seguindo na minha imaginação como um detetive de loja.
Nós andamos a passos largos pelos corredores juntos em nossa
solitária fantasia provando alcachofras, possuindo cada congelado
delicado e nunca passando no caixa.

Onde estamos indo, Walt Whitman? As portas vão se fechar em
uma hora. Qual caminho tomará para a barbearia esta noite?
(Eu tocarei o seu livro e o sonho da nossa odisséia no
supermercado me fará sentir o absurdo.)
Será que andaremos por toda a noite através de ruas solitárias? As
árvores adicionam sombras as sombras, luzes apagadas nas casas, nós seremos ambos
solitários.

Será que vamos passear sonhando com a América do amor perdido
no passado de automóveis azuis nas estradas, refúgio de nossa silenciosa casinha?
Ah, querido pai, velho solitário, com a coragem de um velho professor,
o que da América tivestes quando desembarcastes e ficastes fumando no banco assistindo o barco desaparecer nas águas do negro esquecimento?

Thursday, November 27, 2008

OUTRA BOLIVIANA




AQUÍ, ENTRE FRUTOS SALVAJES

Emma Villázon

Dime ciudad,qué somos entre tus efigies de héroes y tus árboles con serpientes.
Dime tú quién eres, más allá de tu historia de sangre y furiosos jinetes.
Dime, qué hay detrás de tu paisaje de reinados, crímenes y festines.
Dime, quién sabe qué animal fui antes de recorrer tus calles presurosa.
Oh, dime ciudad, que yo entre tus hijos te miro y te miro,
y quizás todo pasar por el mundo sea así:
atarse a la imagen de una plaza con los ojos,
reconocerse parte de un olor dulce con espinas,
ser un poco de río, pradera, niño, pez y violencia.
¡Oh, ciudad de asesinos, pintura de mis recuerdos,
fundida estoy a la raíz de tu aire desconocido!

AQUI, ENTRE FRUTOS SELVAGENS

Diz-me cidade, o que nós somos entre seus efígies de heróis e suas árvores com serpentes.
Diz-me tu quem és, mais além de tua história de sangue e de cavaleiros furiosos.
Diz-me, o que há detrás de tua paisagem de reinados, de crimes e de festins.
Diz-me, quem sabe que animal fui antes de cruzar tuas ruas apressadas.
Oh! Diz-me cidade, que eu entre teus filhos te olho e te olho
e quem sabe tudo que passar por este mundo seja assim:
para amarrar-se à imagem de uma praça com os olhos,
para reconhecer-se parte de um odor doce com espinhos,
ser um pouco de rio, pradaria, menino, peixes e violência.
Oh! Cidade dos assassinos, pintura de minhas memórias,
Fundido estou à raiz de teu ar desconhecido!

UMA POETA BOLIVIANA


Dinamarca

Cé Mendizábal

Los ojos son los roídos espejos
de los ojos que te tienen por testigo.
Las palabras, menos y más que la espuma,
querido príncipe,
y de cualquier modo, Dinamarca
está toda enloquecida.
Sangre va en sus voces
y filos crecen entre sus muros.



Dinamarca

Os olhos são os espelhos roídos
dos olhos que te têm por testemunha.
As palavras, menos e mais do que a espuma,
querido príncipe,
de qualquer modo, Dinamarca
está toda enlouquecida.
O sangue esvaí em suas vozes
e as ervas crescem entre suas paredes.

Saturday, November 22, 2008

É A VIDA...



Sina

Se minha poesia é a única verdade.
Na verdade a vida é uma mentira.
Só cumpro meu destino de poeta:
Mentindo na vida
Como única forma de ser verdadeiro.

UM POETA DO ORIENTE




Light Up The Fire

Rami

I gaze into the heart, lowly it may be,
Thought the words be higher still.
For the heart is all the substance,
The speech an accident.
How many phrases will you speak,
Too many for me.
How much burning, burning will you feel,
Be friendly with the fire, enough for me.
Light up the fire of love inside,
And blaze the thoughts away.

Acendendo o fogo

Eu olhei no seu coração, que pode ser tão humilde,
Ter o pensamento ainda mais elevado, ser ainda maior.
Para o coração tudo é a substância,
O discurso, um acidente.
Quantas frases que você me falou,
Demasiadas para mim.
Quanto ardor, quanta paixão irá sentir,
Seja amigável com o fogo, é suficiente para mim.
Acender o fogo do amor interno,
Arder em chamas nos pensamentos mesmo tão distante.

Friday, November 21, 2008

AINDA PAZ




Acabar con todo

Octavio Paz

Dame, llama invisible, espada fría,
tu persistente cólera,
para acabar con todo,
oh mundo seco,
oh mundo desangrado,
para acabar con todo.

Arde, sombrío, arde sin llamas,
apagado y ardiente,
ceniza y piedra viva,
desierto sin orillas.

Arde en el vasto cielo, laja y nube,
bajo la ciega luz que se desploma
entre estériles peñas.

Arde en la soledad que nos deshace,
tierra de piedra ardiente,
de raíces heladas y sedientas.

Arde, furor oculto,
ceniza que enloquece,
arde invisible, arde
como el mar impotente engendra nubes,
olas como el rencor y espumas pétreas.
Entre mis huesos delirantes, arde;
arde dentro del aire hueco,
horno invisible y puro;
arde como arde el tiempo,
como camina el tiempo entre la muerte,
con sus mismas pisadas y su aliento;
arde como la soledad que te devora,
arde en ti mismo, ardor sin llama,
soledad sin imagen, sed sin labios.
Para acabar con todo,
oh mundo seco,
para acabar con todo.


Para acabar com tudo

Dá-me chama invisível, espada fria,
E sua raiva persistente,
para acabar com tudo.
Oh!Mundo seco,
Oh! Mundo dessangrado.
Para acabar com tudo.

Arde sombrio, arde sem chamas,
Apagado e ardente,
Cinzas e pedra viva,
Deserto sem fronteiras.

Arde no vasto céu, laje e nuvem,
Sob a luz cega que desmorona
Entre rochas estéreis.

Arde na solidão que nos desfaz,
Na terra de pedra ardente,
De raízes geladas e sedentas.

Arde, furor oculto,
Cinza que enlouquece,
Arde invisível arde
Como o mar que impotente gera nuvens,
Ondas como o rancor e a espuma pétreas.
Entre meus ossos delirante, arde;
Arde dentro do buraco do ar,
Forno invisível e puro;
Arde como arde o tempo,
Como caminha o tempo entre a morte,
Com a mesma pisada e o mesmo alento;
Arde como a solidão que te devora,
Arde em ti mesmo, ardor sem chama,
Solidão sem imagem, sede sem lábios.
Para acabar com tudo,
Oh! Mundo seco,
Para acabar com tudo.

OCTAVIO PAZ



Epitafio para un poeta

Octavio Paz

Quiso cantar, cantar
para olvidar
su vida verdadera de mentiras
y recordar
su mentirosa vida de verdades.


Epitáfio para um poeta

Quis cantar, cantar
Para esquecer
Sua vida verdadeira de mentiras
E lembrar
Sua mentirosa vida de verdades.

Ilustração: http://paulodavidaathos.blogspot.com

JOSÉ HIERRO



Epitáfio para la tumba de um poeta

José Hierro

Toqué la creación con mi frente.
Sentí la creación en mi alma.
Las olas me llamaron a lo hondo.
Y luego se cerraron las aguas.

Epitáfio para a tumba de um poeta

Toquei a criação com a minha testa.
Senti a criação com a minha alma.
As ondas me chamaram para o fundo.
E logo as águas se fecharam.

Ilustração: http://www.joaowerner.com.br/images/mito/poeta_meditando.jpg

Wednesday, November 19, 2008

WALLACE STEVENS



Final Soliloquy of the Interior Paramour

Wallace Stevens

Light the first light of evening
In which we rest and, for small reason, think
The world imagined is the ultimate good.

This is, therefore, the intensest rendezvous.
It is in that thought that we collect ourselves,
Out of all the indifferences, into one thing:

Within a single thing, a single shawl
Wrapped tightly round us, since we are poor, a warmth,
A light, a power, the miraculous influence.

Here, now, we forget each other and ourselves.
We feel the obscurity of an order, a whole,
A knowledge, that which arranged the rendezvous.

Within its vital boundary, in the mind.
We say God and the imagination are one...
How high that highest candle lights the dark.

Out of this same light, out of the central mind,
We make a dwelling in the evening air,
In which being there together is enough.

Solilóquio final do amante interior

Acenda a luz da primeira noite
Na qual nós descansamos, por uma pequena razão, penso
O mundo imaginado é no final bom.

Este é, portanto, o encontro mais intenso.
É neste pensamento que nós nos concentramos,
Apesar de todas as indiferenças numa coisa:

Dentro de uma simples coisa, um simples xale
Bem embrulhado em torno de nós, porque somos pobres, uma cordialidade,
Uma luz, um poder, a miraculosa influência.

Aqui, agora, vamos esquecer uns aos outros e a nós mesmos.
Nós sentimos a obscuridade da ordem, um todo,
Um conhecimento, o qual nos arranjou este encontro.

Dentro da sua fronteira vital, na mente.
Nós dizemos que Deus e a imaginação são um ...
Como uma grande vela que ilumina a grande escuridão.

Fora desta luz, fora do centro da mente,
Nós iremos fazer castelos no ar,
Nos quais estarmos juntos é o suficiente.

Tuesday, November 18, 2008

OH! COMO CHOVE...



Sem Arca

Oh! O tempo lá fora está horrível.
Aqui dentro o fogo está tão bom.
Não temos nenhum lugar para ir,
Deixa a chuva cair, cair, cair.

Não me importa se vai parar
Tenho um vinho tinto para saborear.
Apaga um pouco as luzes, devagar,
Deixa chover, a água cair, relampejar.

Nada de beijos de despedida ou de boa-noite,
Se há tempestade a desculpa já existe.
E se você me abraçar bem apertado,
Todo o caminho que existir será ignorado.

O fogo está queimando lentamente,
E, meu bem, não há sentido em se molhar.
Me ama assim com um calor aconchegante
E deixa a chuva cair, cair, cair, tudo inundar.

Monday, November 17, 2008

WILLIAM CARLOS WILLIAMS


SONG

William Carlos WilliamBeauty is a shell
from the sea
where she rules triumphant
till love has had its way with her

Scallops and
lion’s paws
sculptured to the
tune of retreating waves

undying accents
repeated till
the ear and eye lie
down together in the same bed.


Canção

A beleza é uma concha
Oriunda do mar
Que rege triunfantemente
Até o amor ter feito dela o que queria.

Frutos do mar e
Patas de leão
Esculpidas ao
Som das ondas retraídas

Infinitos acentos
Repetidos ainda
Aos ouvidos e olhos até
Que deitem e durmam juntos na mesma cama.

Sunday, November 16, 2008

CIRANDA...


CIRANDINHA

A vida é uma ciranda
Onde não se escolhe o par.
Faça o que ela manda
Só não se esqueça de amar.

A LIBERTAÇÃO




PASSEIO


Só eu e meu corpo no círculo
Imenso e inescapável das nuvens.
O éter é vago. Vaga é a vida.
A montanha existe e não existe.

Trago no peito tudo preso.
Solta a alma baila pelo ar;
Solta pelos campos liberta.
A alma é terra. Só a terra.

Agora na placidez do sono
Supero todos os limites.
O corpo que me prende cede
Aos secretos caprichos da alma.

Ó arrodeios deliciosos, livres,
Da carne infestada de desejos!
Por toda parte as coisas giram;
Por encanto o espaço some.

Leve a matéria parece vento
Para sempre morta, extinta.
Embora seja o etéreo, energia,
Ar, luz, átomo também vida.

Friday, November 14, 2008

O SAL DA VIDA



Women

Adrienne Rich

My three sisters are sitting
on rocks of black obsidian.
For the first time, in this light, I can see who they are.

My first sister is sewing her costume for the procession.
She is going as the Transparent lady
and all her nerves will be visible.

My second sister is also sewing,
at the seam over her heart which has never healed entirely,
At last, she hopes, this tightness in her chest will ease.

My third sister is gazing
at a dark-red crust spreading westward far out on the sea.
Her stockings are torn but she is beautiful.


Mulheres

Minhas três irmãs estão sentadas
em rochas de obsidiana negra.
Pela primeira vez, sob esta luz, vejo o que elas são.

A minha primeira irmã está costurando sua roupa para a procissão.
Ela está indo como a senhora Transparente
e todos os seus nervos serão visíveis.

A minha segunda irmã está também costurando,
durante a costura escuta seu coração que nunca foi inteiramente curado,
No passado, ela esperava, esse aperto no peito com facilidade.

A minha terceira irmã está olhando
para uma nuvem de poeira vermelha-escura se espalhando em direção ao oeste longe sobre o mar.
Sua meias estão rasgadas, mas ela é linda.

Tuesday, November 11, 2008

NOVAMENTE BLANCA


ASÍ SEA

Blanca Varela


El día queda atrás,
apenas consumido y ya inútil.
Comienza la gran luz,
todas las puertas ceden ante un hombre
dormido,
el tiempo es un árbol que no cesa de crecer.

El tiempo,
la gran puerta entreabierta,
el astro que ciega.

No es con los ojos que se ve nacer
esa gota de luz que será,
que fue un día.

Canta abeja, sin prisa,
recorre el laberinto iluminado,
de fiesta.

Respira y canta.
Donde todo se termina abre las alas.
Eres el sol,
el aguijón del alba,
el mar que besa las montañas,
la claridad total,
el sueño.


Assim Seja

O dia de ontem
Apenas consumido e já inútil.

Começa a grande luz,
todas as portas cedem diante de um homem
adormecido,
O tempo é uma árvore que não cessa de crescer.

O tempo,
A grande porta entreaberta
O astro que nos cega.

Não é com os olhos que se vê nascer
Esta gota de luz que será
que foi um dia.

Canta a abelha, sem pressa,
atravessa o labirinto iluminado,
em festa.

Respira e canta.
Quando tudo termina abre as asas.
És o sol,
O aguilhão da madrugada,
O mar que beija montanhas,
A claridade total,
O sono.

COISAS DA MATA



Sentimento de caboclo

Há cinco coisas na vida
Que alegra o cabra macho:
Dinheiro, mulher bonita,
Peixe, farofa e cachaça.
E tando com o bicho em pé
De tudo se acha graça.

Ilustração: http://www.carlosmeloartes.com/galeria/imggaleria/caboclo15.jpg

Saturday, November 08, 2008

PRESENTE



MODERNIDADE

Que tudo muda muito rapidamente
Para ser cada vez mais igual
Me garante o ancôra do telejornal.

Entre violência e crimes, as notícias
De política se confundem com polícia
E a banalização do mal
Se torna também parte do comercial.

Sonhar, agora, se tornou impossível.
Ser celebridade virou por encanto,
Da sereia da mediocridade, o canto
E trágico, o palhaço, não é mais risível.

A verdade se tornou a mentira consagrada.
O ideal se configura em ser nada:
Dos idiotas ser o chefe da manada.

INOCÊNCIA



RITO

Menina, fostes vilipendiada pelos homens
Por teres deixado cair, num dia distante, as roupas
E, sem pudor, oferecido os lábios, a boca.

Menina, bem sei, que, por dentro, sorrias.
O que, para os outros, era sermvergonhice
Sabias ser libertação.
O prazer de deixar o corpo ser
Objeto de desejo, saciedade, satisfação.

Toda semente tem como destino ser flor
E, ali, se abristes para sempre ao amor.

Ilustração: http://www.boutiquesexy.com.br/dicas/striptease/strip01.jpg

Friday, November 07, 2008

GUILLÉN



LAS DOCE EN EL RELOJ


Jorge Guillen


Dije: Todo ya pleno.
Un álamo vibró.
Las hojas plateadas
Sonaron con amor.
Los verdes eran grises,
El amor era sol.
Entonces, mediodía,
Un pájaro sumió
Su cantar en el viento
Con tal adoración
Que se sintió cantada
Bajo el viento la flor
Crecida entre las mieses,
Más altas. Era yo,
Centro en aquel instante
De tanto alrededor,
Quien lo veía todo
Completo para un dios.
Dije: Todo, completo.
¡Las doce en el reloj!


Às doze no relógio

Disse: Tudo é pleno.
Um álamo vibrou.
As folhas prateadas
Soaram com amor.
Os verdes viraram cinzas,
O amor era o sol.
Então, ao meio-dia,
Um pássaro dissolveu
Sua canção no vento
Com tal adoração
Que se sentiu cantada
A flor pelo vento
Crescida entre messes,
mais altas. Era eu,
Centro naquele instante
De tudo em volta,
Para quem via tudo
Completo como um deus.
Disse: Todo, pleno.
As doze em ponto no relógio!