Saturday, October 31, 2015

Uma poesia de Alfonso Camín

La partida                                    
Alfonso Camín

Era yo un niño de alma blanca
Cuando di al viento mi primer cantar,
Y con el alba y el zurrón al hombro,
Baje del monte familiar
Hacia la costa donde me esperaban
La emoción del abismo y el abrazo del mar.
Atrás quedaba el monte abuelo,
La casa blanca como un vetusto palomar,
La higuera madre y el parral caduco,
El olor a resinas del pinar,
La barbechera y el oropel de alondras
Y la copa opulenta del pomar,
Y la sombra del castañedo
Y el corpulento robledal...

A partida

Era eu um menino de alma branca
Quando dei ao vento o meu primeiro cantar,
E com o amanhecer e a sacola ao ombro            
Baixei do monte familiar
Até a costa onde me esperavam
A emoção do abismo e o abraço do mar.
Atrás ficava o monte avô,
A casa branca como um antigo pombal,
A figueira mãe e a videira caduca,
O odor a resina do pinheiro,
O alqueive e o pouso folheado das cotovias
E a copa opulenta do pomar,
E a sombra do castanhal
E o monumental carvalho.


Ilustração: ecoviagem.uol.com.br

Friday, October 30, 2015

Uma poesia de Jorge Isaacs

 
Soñé                                                                             
Jorge Ricardo Isaacs Ferrer

He soñado feliz que a tu morada
Llévome en alta noche amor vehemente;
Creí aspirar el delicioso ambiente
De moribunda lámpara velada.

Sobre muelles cojines reclinada,
Dormir fingías voluptuosamente,
Los cabellos de ébano reluciente
Sobre el níveo ropaje destrenzaba.

Trémulo de emoción, tus labios rojos
Oprimí con mis labios abrasados...
Pudorosa y amante sonreíste;

No bajes, por piedad, los dulces ojos,
Brillen por el placer iluminadas
Haciendo alegre mi existencia triste.

Sonhei

Havia sonhado feliz que tua casa morada
Levava-me alta noite amor veemente;
Acreditei respirar o delicioso ambiente
De esmaecente lâmpada velada.

Sobre as almofadas moles reclinada,
Dormir fingias voluptuosamente,
Os cabelos de ébano reluzente
Sob a branca roupa destrançada.

Trêmulo com emoção, teus lábios vermelhos
Oprimi com meus lábios abrasados ...
Encabulada e amorosa sorriste;

Não baixes, por piedade, os doces olhos,
Que brilham pelo prazer iluminados
Fazendo alegre minha existência triste.


Ilustração: umolharsobreasestrelas.blogs.sapo.pt

Thursday, October 29, 2015

Duas poesias de Eduardo Mitre

La ausente                                                           
Eduardo Mitre

Emigran los pájaros
Pero se quedan
El árbol y el tiempo.

Tengo miedo.

Hay mucha trampa
Y poca luz
En el recuerdo.

Tengo miedo.

Qué pena, amor,
Que tu presencia
Dependa tanto de tu cuerpo.

A ausente 

Migram os pássaros,
Porém, ficam
A árvore e o tempo.

Tenho medo.

Há muitas armadilhas
E pouca luz
E a lembrança.

Tenho medo.

Que pena, amor,
Que tua presença
Dependa tanto de teu corpo.

Escritura

Eduardo Mitre

Dejar caer una por una
Todas las máscaras
Hasta la soledad desnuda
Frente al tiempo sin cara.

Buscar en el silencio
Donde manan las palabras
Su ofendida inocencia,
Su vocación de alianza.

Fijar su gracia elocuente
Como el fuego y el agua.
Y atravesarlas como un puente
En un cuerpo y un alma.

Escrita

Deixar cair uma por uma
Todas as máscaras
Até a solidão desnuda
Frente ao tempo sem rosto.

Buscar no silêncio
De onde manam as palavras
Sua ofendida inocência,
Sua vocação de aliança.

Fixar sua graça eloquente
Como o fogo e a água.
E atravessá-las como uma ponte
Em um corpo e uma alma.


Ilustração: promessadeamor.blogspot.com

Wednesday, October 28, 2015

E, mais uma vez, Stephen Crane

A GOD IN WRATH                                                         
Stephen Crane

A god in wrath
Was beating a man:
He cuffed him loudly
With thunderous blows
That rang and rolled over the earth.
All people came running.
The man screamed an struggled,
And bit madly at the feet of the god.
The people cried,
“Ah, what a wicked man!”
And –
“Ah, what a redoubtable god!”

Um Deus em fúria 

Um deus em fúria
Estava batendo em um homem:
Ele algemou-o em voz alta
Com barulhentos golpes
Jogando-o e rolando-o sobre a terra.
Todas as pessoas vieram correndo.
O homem gritava e lutava,
E mordia loucamente aos pés do deus.
O povo gritou,
"Ah, o que é um homem mau!"
e -
"Ah, o que é um deus temível!"

Ilustração: www.portallos.com.br




Tuesday, October 27, 2015

Uma poesia de Carol Ann Duffy

RAPTURE                                                                                                  
Carol Ann Duffy

Thought of by you all day, I think of you.
The birds sing in the shelter of a tree.
Above the prayer of rain, unacred blue,
not paradise, goes nowhere endlessly.
How does it happen that our lives can drift
far from our selves, while we stay trapped in time,
queuing for death? It seems nothing will shift
the pattern of our days, alter the rhyme
we make with loss to assonance with bliss.
Then love comes, like a sudden flight of birds
from earth to heaven after rain. Your kiss,
recalled, unstrings, like pearls, this chain of words.
Huge skies connect us, joining here to there.
Desire and passion on the thinking air.

Arrebatamento

Pensas todo dia em mim, eu penso em ti.
Os pássaros cantam ao abrigo da árvore
Acima da prece da chuva, um inacreditável azul,
Que sem ser o paraíso, se estende ao infinito sem fim.
Como as nossas vidas passam
Tão longe de nós mesmo, enquanto presos no tempo
Esperamos na fila da morte? Parece que nada vai mudar
o padrão dos nossos dias, alterar o ritmo
criamos  a perda da assonância com felicidade.
Então o amor vem, como o súbito voo dos pássaros
da terra para o céu depois da chuva. Seu beijo,
evocativo, desenrola, como pérolas, esta cadeia de palavras.
Céus enormes nos conectam, juntando-se aqui e ali
o desejo e a paixão sobre o pensamento no ar.

Ilustração: deusvivotv.comunidades.net

De volta a poesia de Francisco Luis Bernárdez

La palabra                                                                      
Francisco Luis Bernárdez

En cada ser, en cada cosa, en cada
Palpitación, en cada voz que siento
Espero que me sea revelada
Esa palabra de que estoy sediento.
Aguardo a que la diga el firmamento,
Pero su boca inmensa está callada;
La busco por el mar y por el viento,
Pero el viento y el mar no dicen nada.
Hasta los picos de los ruiseñores
Y las puertas cerradas de las flores
Me niegan lo que quiero conocer.
Sólo en mi corazón oigo un sonido
Que acaso tenga un vago parecido
Con lo que esa palabra puede ser.

A palavra

Em cada ser, em cada coisa, em cada
Palpitação, em cada voz que sinto
Espero que me seja revelada
Esta palavra de que estou sedento.
Aguardo que a diga o firmamento,
Porém, sua boca imensa está calada;
A busco pelo mar e pelo vento,
Porém, o vento e o mar não dizem nada.
Até o bico, o canto dos rouxinóis
E as portas fechadas das flores
Me negam o que quero conhecer.
Só no meu coração ouço ruído
Que por acaso é um pouco parecido
Com o que esta palavra pode ser. 


Ilustração: coisas-do-tipo.blogspot.com

Monday, October 26, 2015

Uma poesia de Enrique Lihn

Corte de pelo                                                              
Enrique Lihn

Te pedí que te cortaras el pelo
para que volviera a su suavidad natural
Como todo lo demás, lo hiciste a medias
A medias me rompieron la cara en tu nombre, a la vuelta de la esquina
a medias me esperabas, entretanto, en la casa, pues partiste enseguida
a refugiarte en otra. Y a medias le había dicho al agresor
que me amabas. Pero, eso sí, le diste mi nombre y mi dirección
pues no todo ha de hacerse a medias
tuviste la honradez de pensar
en un cincuenta por ciento.

Corte de cabelo

Te pedi que cortasse o cabelo
para que voltasses a sua suavidade natural
Como todas as demais, o fizestes pela metade
Pela metade me amassaram o rosto em teu nome, na volta da esquina
pela metade me esperavas, entretanto, na casa, pois, partistes em seguida
a refugiar-te em outras. E, pela metade, havia dito ao agressor
que me amavas. Porém, isso sim, lhe deste meu nome e minha direção,
pois, nem tudo há de se fazer pela metade
tivestes a honradez de pensar
em cinquenta por cento.



Sunday, October 25, 2015

Duas poesias de Marcelo Daniel Ferrer

 
Hay amor

Marcelo Daniel Ferrer

Cuando hay poesía en el aire que rodea un cuerpo
Y existe una voz dulce que susurra un sentimiento.
Cuando se derrama una lágrima sentida,
Que luego es llevada por el viento.
Cuando la mano dura del tiempo
Une aún más el pensamiento.
Cuando la alegría invade nuestro seno
Y nos da alas, para salir y llegar a tiempo,
Para volar y penetrar en los más excéntricos sueños
Pero por sobre todas las cosas,
Cuando hay ganas de vivir y seguir creciendo.

Há amor

Quando existe poesia no ar que rodeia um corpo
E existe uma voz doce que sussurra sentimento.
Quando se derrama uma lágrima sentida,
Que, logo, é levada pelo vento.
Quando a mão dura do tempo
Une ainda mais o pensamento.
Quando a alegria invade nosso seio
E nos dá asas, para sair e chegar a tempo,
Para voar e penetrar nos mais raros sonhos
Porém, por sobre todas as coisas,
Quando há vontade de viver e seguir crescendo.

Despedida

Marcelo Daniel Ferrer

Y por ese sendero
Donde nuestro amor juramos
Volveremos a caminar...
Sin tomarnos de la mano,
Mirando hacia abajo,
Casi sin hablar.

Donde la naturaleza viva
Con su canto
Querrá hacernos soñar.

Pero lo que antes dijimos
Ya no se repetirá,
Pues no somos los mismos
Que antes por aquí pasaron,
Sellando con un beso,
Lo que hoy destruimos
Sin ni siquiera hablar.

Despedida

E por este caminho
Onde nosso amor juramos
Voltaremos a caminhar ...
Sem mais de mãos dadas,
Olhando para baixo,
Quase sem falar.

Quando a natureza viva
Com seu canto
Há de nos fazer sonhar.

Porém, o que antes dissemos
Já não se repetirá,
Pois, não somos os mesmos
Que antes por aqui passaram,
Selando com um beijo,
O que hoje destruímos
Sem nem sequer falar.


Ilustração: amaramourige.blogspot.com

Saturday, October 24, 2015

Uma poesia de Pablo Monforte

FECHA EN ROJO

Pablo Monforte

Despertar un octubre
como montón
de palabras tachadas,
intacto y sin roce.

Despertar
con la taxidermia
de un nombre
en la boca,
con el podrido alimento
de eternas distancias.
Con el coraje
del que carga fantasmas
sobre la espalda.

Despertar
con puño cerrado,
con mirada arrasada.

Con la esperanza
de que
esta vez
la lluvia
también a ti te arrastre.

(de Cronología del óxido, Harpo Libros, 2015)


DATA EM VERMELHO


Despertar um outubro
como um montão
de palavras
intactas, sem tocar.

Despertar
com a taxidermia
de um nome
na boca,
com a podridão do alimento
de eternas distâncias.
Com coragem
de quem carrega fantasmas
nas costas.

Despertar
com o punho cerrado,
com o olhar arrasado.

Com a esperança
de que
desta vez
a chuva
também te arraste.


Ilustração: wallpaper.free-photograph.net

Friday, October 23, 2015

E, de volta, Cortázar

La ceremonia                                
Julio Florencio Cortázar

Te desnudé entre llantos y temblores
Sobre una cama abierta a lo infinito,
Y si no tuve lástima del grito
Ni de las súplicas o los rubores,

Fui en cambio el alfarero en los albores,
El fuego y el azar del lento rito,
Sentí nacer bajo la arcilla el mito
Del retorno a la fuente y a las flores.

En mis brazos tejiste la madeja
Rumorosa del tiempo encadenado,
Su eternidad de fuego recurrente;

No sé qué viste tú desde tu queja,
Yo vi águilas y musgos, fui ese lado
Del espejo en que canta la serpiente.

A cerimônia

Te desnudei entre prantos e temores
Sobre uma cama aberta ao infinito,
E se não tive lástima do grito
Nem da súplica ou dos rubores,

Fui em troca o oleiro nos amanheceres,
O fogo e o acaso do lento rito,
Senti nascer sob a argila o mito
Do retorno das fontes e das flores.

Nos meus braços tecestes a madeixa
Rumorosa do tempo encadeado,
Sua eternidade de fogo recorrente;

Não sei que viste tu, desde tua queixa,
Eu vi águias e musgos, foi esse lado

Do espelho em que canta a serpente.  

Thursday, October 22, 2015

E retorna Angel González

Inmortalidad de la nada                                              
Angel González

Todo lo consumado en el amor
no será nunca gesta de gusanos.

Los despojos del mar roen apenas
los ojos que jamás
-porque te vieron-,
jamás
se comerá la tierra al fin del todo.

Yo he devorado tú
me has devorado
en un único incendio.

Abandona cuidados:
lo que ha ardido
ya nada tiene que temer del tiempo.


A imortalidade do nada

Todas as coisas feitas com amor
não serão nunca festa para os vermes.

Os despojos do mar apenas roem
os olhos que jamais
-porque te viram-,
jamais
os comerá a terra depois de tudo.

Eu te devorei
tu me devorastes
num único incêndio.

Abandona os cuidados:
o que foi queimado
não tem nada a temer do tempo.


Ilustração: acervo.revistabula.com

Wednesday, October 21, 2015

E, de volta, Robert Desnos

Jamais d'autre que toi                                      
Robert Desnos

Jamais d'autre que toi en dépit des étoiles et des solitudes
En dépit des mutilations d'arbre à la tombée de la nuit
Jamais d'autre que toi ne poursuivra son chemin qui est le mien
Plus tu t'éloignes et plus ton ombre s'agrandit
Jamais d'autre que toi ne saluera la mer à l'aube quand fatigué d'errer moi sorti
des forêts ténébreuses et des buissons d'orties je marcherai vers l'écume
Jamais d'autre que toi ne posera sa main sur mon front et mes yeux
Jamais d'autre que toi et je nie le mensonge et l'infidélité
Ce navire à l'ancre tu peux couper sa corde
Jamais d'autre que toi
L'aigle prisonnier dans une cage ronge lentement les barreaux de cuivre vert- de-grisés
Quelle évasion!
C'est le dimanche marqué par le chant des rossignols dans les bois d'un vert tendre l'ennui des petites filles en présence d'une cage où s'agite un serin tandis que dans la rue solitaire le soleil lentement déplace sa ligne mince sur le trottoir chaud
Nous passerons d'autres lignes
Jamais jamais d'autre que toi
Et moi seul seul seul comme le lierre fané des jardins de banlieue seul comme le verre
Et toi jamais d'autre que toi.

Jamais outra que tu

Jamais outra que tu apesar das estrelas e das solidões
Apesar das árvores mutiladas no cair da noite
Jamais outra que tu prosseguiria seu caminho que é o meu
Mais te afastas e mais tua sombra cresce
Jamais outra que tu saudará o mar no amanhecer quando cansado de
errar eu sair dos bosques tenebrosos e dos matagal  
de urtigas caminhando até a espuma
Jamais outra que tu pousaria sua mão sobre minha fronte e meus olhos
Jamais outra que tu e nego a mentira e a infidelidade
Deste navio ancorado que tu podes cortar a corda
Jamais outra que tu
A águia prisioneira numa jaula que rói lentamente os barrotes de
cobre amolecido
Que fuga!
É o domingo marcado pelo canto dos rouxinóis nas florestas de um verde terno e o aborrecimento das meninas frente a uma jaula onde se agita um canário enquanto na rua solitária o sol lentamente desprega sua linha delgada sobre a calçada quente
Nós, outros, cruzaremos outras linhas
Jamais, jamais outra que tu
E eu só, só, só como a hera murcha dos jardins do subúrbio, só como o vaso
E tu jamais outra que tu.


Ilustração: www.fotolog.com