Saturday, December 19, 2020

Uma poesia de Blas de Otero

 


Cuerpo de la mujer

Blas de Otero

Cuerpo de la mujer, río de oro

donde, hundidos los brazos, recibimos

un relámpago azul, unos racimos

de luz rasgada en un frondor de oro.

 

Cuerpo de la mujer o mar de oro

donde, amando las manos, no sabemos,

si los senos son olas, si son remos

los brazos, si son alas solas de oro…

 

Cuerpo de la mujer, fuente de llanto

donde, después de tanta luz, de tanto

tacto sutil, de Tántalo es la pena.

 

Suena la soledad de Dios. Sentimos

la soledad de dos. Y una cadena

que no suena, ancla en Dios almas y limos.


O corpo da mulher

O corpo da mulher, rio de ouro

onde, abraços afogados, recebemos

um relâmpago azul, uns cachos

de luz rasgada em esplendor de ouro.

 

O corpo da mulher ou mar de ouro

onde, as mãos amorosas, não sabemos,

Se são seios, são ondas, se são remos

os braços, se são asas de ouro ...

 

Corpo de mulher, fonte do pranto

onde, depois de tanta luz, de tanto

toque sutil, de Tântalo esbarra.

 

Sabe à solidão de Deus. Sentimos

a solidão dos dois. E uma cadeia

que não soa, atraca em Deus, almas e limos.

 

Ilustração: https://www.escoladelucifer.com.br/.

Outra poesia de Aleyda Quevedo Rojas

 

CORALES


Aleyda Quevedo Rojas

No importa la profundidad del descenso

o la imposible maleza derramada en el camino.

Es largo y frío el viaje sobre oscuros caballos.

Ejercicio de inmersión y belleza piadosa

hasta pisar altos jardines de coral negro.

Entre mi dolor —que conozco tanto desde el lodo—

y el universo poco explorado por la falta de tus palabras,

me quedan flotando la impenetrabilidad de la música y la sal.

Las medusas atrapadas entre mis pestañas me jalan rápido.

Más no importa el precio del descenso.

Es necesario volver al camino consciente del miedo

y el aliento del océano golpeándome en la nuca.

 

CORAIS

Não importa a profundidade da descida

ou o mal das impossíveis ervas daninhas derramadas no caminho.

É longa e fria a viagem em cavalos escuros.

Exercício de imersão e beleza piedosa

até pisar em jardins altos de coral negro.

Entre minha dor- que conheço tanto desde o lodo-

e o universo pouco explorado pela falta de palavras,

ficam flutuando em mim pela impenetrabilidade da música e do sal.

As água-vivas presas entre meus cílios me puxa rápido.

Mas não importa o preço da descida.

É necessário voltar ao caminho consciente do medo

e da respiração do oceano golpeando-me no pescoço.

Ilustração: www.infoescola.com.

 

Outra Poesia de Pablo Antonio Cuadra

 


ESCRITO JUNTO A UNA FLOR AZUL

 Pablo Antonio Cuadra

Temo trazar el ala del gorrión

porque el pincel no dañe

su pequeña libertad.

 

Anote

el poderoso esta ley del maestro

cuando legisle para el débil.

 

Escuche

este adagio del alfarero la muchacha

cuando mis labios se acerquen.


Escrito junto a uma flor azul

Temo traçar a asa do pardal

Para que o pincel não prejudique

sua pequena liberdade.

 

Anote

é poderosa a lei do professor

quando legisla para o fraco.

 

Escute

este adagio do oleiro da menina

quando meus lábios se acercam.

Ilustração: https://www.armazemdamorena.com/.

 

Outra poesia de Raúl Pérez Cobo

 


DEBERES ESCOLARES

Raúl Pérez Cobo

Haré mejores pajas, más secretas,
debajo del pupitre del colegio,
me muevo libre y mancho mis libretas,

cromos de futbolistas, sacrilegio
de imágenes de santos oportunas,
un rosario, un bocata, un florilegio

de libros muy piadosos con algunas
revistas de desnudos…Fácil bajas
los pantalones hace muchas cunas

y piensas en falditas cortas, rajas:
me gusta cada niña, cada busto,
y pajas, pajas, pajas, muchas pajas…
Quedarse quieto no produce gusto.

DEVERES ESCOLARES

Farei melhores canudos, mais secretos

debaixo da carteira da escola,

me movo e mancho meus cadernos,


figuras de jogador de futebol, sacrilégio

de imagens de santos oportunos,

um rosário, um sanduíche, uma antologia

 

de livros muito piedosos com algumas

revistas de mulheres nuas ... Fácil baixas

as calças faz muitos berços

 

e pensas em saias curtas, fendas:

me gosta cada garota, cada busto,

e canudos, canudos, canudos, muitos canudos ...

Ficar quieto não me faz o gosto. 

Ilustração: https://ocantinhodaspalavras.wordpress.com/.

Uma Poesia de Aleyda Quevedo Rojas

 


DILEMAS

 

Aleyda Quevedo Rojas

 

Hay palabras puentes dolorosos que no separan de la luz.
Llegan flotando, inútiles.
Palabras suplicantes, hirientes, rabiosas, porque que a veces los puentes rotos
de palabras se vuelven estambres flotantes y puntiagudos dilemas que te enredan y ahogan.

DILEMAS

Há palavras pontes dolorosas que nos separam da luz.

Chegam flutuando, inúteis.

Palavras suplicantes, cortantes, raivosas  porque, às vezes, são pontes quebradas

de palavras que tornam-se estames flutuantes e dilemas pontiagudos que te enredam e afogam.

Ilustração: www.icebergci.com.

 

Uma poesia de Raúl Pérez Cobo

 


PUBERTAD

 Raúl Pérez Cobo

Correrte en otras pieles, necesario;
te cansa ya tocarte la bragueta,
las bragas quieres, la primera teta…
Conoces a tu pene propietario,

lo quieres, pero quieres su contrario:
un coño, que tirarte servilleta,
cojines o una blanda colchoneta,
es donde folla un chico solitario.

Si permanece solo tu placer,
tampoco pares, te desaproveches:
a ti te queda mucho por hacer:

echar un polvo y cuando puedas eches
un amor: esto dicen que es joder,
vivir en otros: y aunque las deseches,

no desperdicies leches:
cualquiera puede ser tu amor si folla,
y jode: poco duras joven, polla.

 

PUBERDADE

 

Correr-te em outras peles, necessário;

te cansa e tocar-te a braguilha,

a calcinha queres, a primeira teta...

conheces a teu pênis proprietário,

 

o queres, porém, queres o seu contrário:

uma vagina, quer jogar-te um guardanapo,

almofadas ou um macio colchonete,

é onde goza um cara solitário

 

Se permaneces só o teu prazer,

tampouco pares, te desaproveitas:

a ti falta muito o que fazer:

 

transar e quando você puder achar

um amor: isso dizem que é prazer,

viver em outros: e ainda descartá-los,

 

não desperdice leite:

qualquer um pode ser seu amor se o ter,

e goza: pouco duras jovem galo.

 

Ilustração: https://dentrodoimaginariomundo.wordpress.com/.

Sunday, December 13, 2020

Outra canção de Williams Carlos William

 


SUMMER SONG

 William Carlos Williams 

 Wanderer moon

smiling a

faintly ironical smile

at this

brilliant, dew-moistened

summer morning,—

a detached

sleepily indifferent

smile, a

wanderer's smile,—

if I should

buy a shirt

your color and

put on a necktie

sky-blue

where would they carry me?

 

CANÇÃO DE VERÃO

Lua errante

sorrindo um

levemente irônico sorriso

nesta

brilhante, molhada de orvalho

manhã de verão, -

um saliente

sonolentamente indiferente

sorriso, um

sorriso de andarilho, -

se eu deveria

comprar uma camisa

de sua cor e

colocada sobre uma gravata

céu azul

para onde me levariam?

 

Ilustração: Vivendo para Jesus.

Thursday, December 10, 2020

Uma canção de amor de William Carlos Williams


Love Song

William Carlos Williams

I lie here thinking of you:—

the stain of love
is upon the world!
Yellow, yellow, yellow
it eats into the leaves,
smears with saffron
the horned branches that lean
heavily
against a smooth purple sky!
There is no light
only a honey-thick stain
that drips from leaf to leaf
and limb to limb
spoiling the colors
of the whole world—

you far off there under
the wine-red selvage of the west!

 

LOVE SONG

Estou aqui pensando em você: -


a mancha do amor

sobre o mundo!

Amarelo, amarelo, amarelo

comendo as folhas,

manchando com açafrão

os ramos com chifres que se inclinam

pesadamente

contra um suave céu roxo!

Não há luz

somente a mancha grossa de mel

que pinga de folha em folha

de membro em membro

deteriorando as cores

do mundo todo.

 

você, lá embaixo, longe

o vermelho-vinho selvagem do oeste!

Ilustração: https://www.spanishdict.com/.


Outra poesia de Anna Marchesini

  


Anna Marchesini

Che la fine di un giorno

è l'unica possibilità di vita

dell'altro;

Che il buio e la luce non sono che

due diverse condizioni

del sole

… Che la notte conserva

sotto la coltre tutto

lo splendore

dei bianchi e dei gialli

e

… Che la luce copre la notte,

senza dimenticarla:

come una bestia,

la sua preda

e solo…

se la magia del giorno

è un breve furto di tempo

perpetrato mille volte mille

al traguardo finale,

Credo che tutto ciò che di

assoluto, e di sovrumano

ha

la vita,

è una breve concessione della Morte.

 

 

… Que o fim do dia

é a única possibilidade de vida

do outro;

Que a escuridão e a luz não são

mais que duas condições diferentes

do sol

... Que a noite conserva

sob o cobertor todo

o esplendor

dos brancos e amarelos

e

... Que a luz cobre a noite,

sem esquecer:

como uma besta,

a sua presa

e só…

se a magia do dia

é um breve furto do tempo

perpetrado mil vezes mil

na fase final,

Creio que tudo seja

absoluto e sobre-humano

que a vida,

é uma breve concessão da Morte.

Ilustração: https://turismo.eurodicas.com.br/.

CIAO JASPION

 



E, de repente, apaga-se a ilusão.

A vida estanca sem perdão 

na hora final do relógio, coração. 



Wednesday, December 09, 2020

LÍRICA DO DESTINO

 


Não sou lagarta

nem serei borboleta.

 

Saudades imensas tenho

de uma morta e de uma preta.

 

Independente da saudade,

da vontade e da poesia

seguirei vivendo até o fim dos meus dias.

 

Ilustração: Lírica tradicional y lírica culta (grupo1liricatradicionalyliricaculta.blogspot.com).

HAI-KAI LUNÁTICO

 


Bebendo vodca e degustando morangos,

pela primeira vez produzidos na lua,

senti amor e ira com a lembrança tua. 

Ilustração: Space.news. 

Uma poesia de Anna Marchesini

 


DEDICATO AD UNA POESIA

 Anna Marchesini

Dedicato ad una poesia

che avrebbe potuto nascere

e non ha mai preso il volo.

La Mente

il guinzaglio dei suoi sogni

e poi,

il filo sottilissimo

di un palloncino svogliato

Potessi volare!

 

DEDICADO A UM POEMA

Dedicado a uma poesia

que poderia ter nascido

e nunca alçou voo.

A mente

a coleira dos seus sonhos

e depois,

o fio sutilíssimo

de um balão apático

poderia voar!

 

Thursday, December 03, 2020

E mais uma poesia de Jorge Boccanera

 


SILVIA PLATH LAVA UNA TAZA, SECA UNA TAZA, ROMPE UNA TAZA

 

Jorge Boccanera

 

Qué cabeza la mía,
dejé una frase suelta y una rosa en el horno.
Cotidianos trajines, calores, taquicardia,
y un almohadón de plumas
con un lápiz labial justo en el centro.

 

Qué cabeza la mía.
Yo buscaba algún parque y encontré en un mal sueño
una torta partida por un rayo.
La sala está revuelta.
El miedo de un venado no cabe en este horno,
por eso huele así toda la casa.

 

Pero a quién se le ocurre
dibujar una piedra y tropezar dos veces,
llenar un cenicero con los puntos y comas
de alguna carta antigua.
¿Hubo un Adán violento? ¿Hubo un amor-halcón
“de una vez para siempre”?

 

Qué cabeza la mía,
guardar los zapatones en un charco
y aceptar ese baile sabiendo que me espera
una puerta cerrada tras la puerta.

 

SILVIA PLATH LAVA UMA TAÇA, SECA UMA TAÇA,

QUEBRA UMA TAÇA

 

Que cabeça a minha,

Deixei uma frase solta e uma rosa no forno.

Cotidianas agitações, ondas de calor, taquicardia,

e um travesseiro de plumas

com um batom bem no seu centro.

 

Que cabeça minha.

Eu buscava algum parque e o encontrei em um pesadelo

uma torta partida por um raio.

A sala está revolta.

O medo de um cervo não cabe neste forno,

É por isso que enche assim toda a casa.

 

Porém, a quem ocorre

desenhar uma pedra e tropeçar duas vezes,

encher um cinzeiro com pontos e vírgulas

de alguma carta antiga.

Houve um Adão violento? Havia um amor falcão

"De uma vez para sempre"?

 

Que cabeça a minha.

guardar os sapatos em uma poça

e aceitar essa dança sabendo que me espera

uma porta fechada atrás da porta.

Ilustração: http://mansaloucuras.blogspot.com/.