Friday, August 29, 2008

FIM DE AGOSTO


BUSCA


Sei que há muitas mensagens
Que jamais serão entendidas
Como garrafas ao mar
Que jamais irão chegar.

É tudo assim nesta vida:
O encontro ou o desencontro
Depende apenas da sorte
Menos, é claro, a morte.

Ó querida, não lhe turve
A visão de minha tristeza
Nem à dor nunca se curve.
Procure só da vida, a beleza.

Wednesday, August 27, 2008

TRISTEZA NÃO TEM FIM....

ADEUS
Havia tanto luar
Que nem pensei em olhar
As estrelas que luziam
No brilho dos olhos teus
Volta sempre na lembrança
A vaga beleza da dança
Dos teus pés que iam e vinham
Na hora triste do adeus
E tuas lágrimas caindo
Doem mais com a saudade
E o arrependimento vindo.
Infelizmente é tarde!

Tuesday, August 26, 2008

AINDA ELA


Aqui, reconheço que exagerei muito, mas Emily me perdoaria.


Success

Emily Dickison


Success is counted sweetest
By those who ne'er succeed.
To comprehend a nectar
Requires sorest need.


Not one of all the purple host
Who took the flag to-day
Can tell the definition,
So clear, of victory,


As he, defeated, dying,
On whose forbidden ear
The distant strains of triumph
Break, agonized and clear.

O sucesso

O sucesso é contado docemente
Por aqueles que nunca tiveram êxito.
Para compreender seu néctar
Se requer a amarga necessidade.

Nem se recolher uma rosa roxa
Da bandeira do dia
Posso dar a definição,
Assim, clara, da vitória.

Tal é, o derrotado, morrendo,
Nas proibidas orelhas
Soam os ecos do triunfo distante
Quebrado, agonizante, apagado.

Friday, August 22, 2008

EMILY NOVAMENTE

Presentiment

Emily Dickinson


Presentiment is that long shadow on the lawn
Indicative that suns go down;
The notice to the startled grass
That darkness is about to pass.

O Pressentimento

O pressentimento é como a longa sombra sobre o gramado
Indicativo dos sóis que se põem;
O aviso prévio para a erva crescer
Escuridão que está prestes a passar.

Thursday, August 21, 2008

PANERO

DIARIO DE UN SEDUCTOR

Leopoldo Maria Panero

No es tu sexo
lo que en tu sexo busco
sino ensuciar tu alma:
desflorar
con todo el barro de la vida
lo que aún no ha vivido.

"El que no ve" 1980

Não é teu sexo o que no teu sexo busco
Sim enlamear tua alma:
Deflorar
Com todo barro da vida
O que ainda não vivi.

Wednesday, August 20, 2008

UM POETA PERUANO

MÚSICA LENTA

Manuel Scorza

Para que tú entres,
a veces de tristeza, el corazón se me abre.

Como una puerta tímida,
para que tú entres, el corazón se me abre.

Pero tú no vienes,
no vuelas más sobre los campos.

En vano mi corazón
a la ventana de su dolor se asoma.
Pasas de largo,
como si el viento
soplase sólo para allá.

Pasa la mañana y no viene la tarde.
Y el corazón se me cierra,
como una mano sin nadie, el corazón se me cierra.

Música Lenta

Para que tu entres,
Às vezes de tristeza, meu coração se abre.

Como uma porta tímida,
Para que tu entres, meu coração se abre.

Porém, tu não vens,
Não voas mais pelos campos.

Em vão meu coração
Na janela de sua dor assoma.
Passas distante,
Como se o vento
Soprasse somente para o outro lado.

Passa a manhã e a tarde não vem.
Meu coração se fecha
Como uma mão sem nada, meu coração se fecha.

PASOLINI VIA ESPANHOL

MUERTE

Pier Paolo Pasolini

Vuelvo a ti, como vuelve
un emigrado a su país y lo redescubre:
he hecho fortuna (en el intelecto)
y soy feliz, tanto
como hace tiempo lo era, destituido por norma.
Una rabia negra de poesía en el pecho.
Una loca vejez de jovencito.
Antes tu alegría se confundía
con el terror, es verdad, y ahora
casi con otra alegría
lívida, árida: mi pasión decepcionada.
Ahora me das miedo de verdad,
porque estás de verdad cerca, incluida
en mi estado de rabia, de oscura
hambre, de ansia casi de criatura nueva.

De "La religione del mio tempo" 1961Versión de Delfina Muschietti

Morte

Volto a ti como volta
Um emigrado ao seu país e o redescubre:
Fiz fortuna (no intelecto)
E sou feliz, tanto
Como faz tempo era, destituido por norma.
Uma raiva negra de poesia no peito.
Uma louca velhice de rapaz novo.
Antes tua alegria se confundia
Com o terror, é verdade, e agora
Quase com outra alegria
Lívida, árida: minha paixão decepcionada.
Agora me dá medo de verdade,
Porque está de verdade cercada, incluida
Em meu estado de raiva, de escura
Fome, de ansia quase de criatura nova.

Tuesday, August 19, 2008

SARA TEASDALE

The Crystal Gazer

Sara Teasdale


I shall gather myself into my self again,
I shall take my scattered selves and make them one.
I shall fuse them into a polished crystal ball
Where I can see the moon and the flashing sun.
I Shall sit like a sibyl, hour after hour intent.
Watching the future come and the present go -
And the little shifting pictures of people rushing
In tiny self-importance to and fro.

O Cristal Gazer
Eu vou me reunir em mim novamente,
Eu vou pegar meus pedaços espalhados e torná-los um.
Eu vou fundí-los numa brilhante bola de cristal
Onde poderei ver a lua e o sol piscando.
Eu vou sentar como uma Sibila, hora após hora, determinada.
Assistindo o futuro vir como o presente chegou-
E aos poucos mudar as imagens de pessoas apressadas
Pela pequena auto-importância do vaivém.

WU MEN

The Great Way

Wu Men

The Great Way has no gate;
there are a thousand paths to it.
If you pass through the barrier,
you walk the universe alone.
O Grande Caminho
O Grande Caminho não tem portão;
há um milhar de veredas para ele.
Se você passar através da barreira,
você caminhará sozinho no universo

OCTAVIO PAZ

Palpar

Octavio Paz


Mis manos abren
las cortinas de tu ser
te visten con otra desnudez
descubren los cuerpos de tu cuerpo
Mis manos inventan
otro cuerpo a tu cuerpo
Apalpar

Minhas mãos
Abrem a cortina do teu ser
E te vestem com outra nudez
Descobrindo corpos no teu corpo
Minhas mãos
Inventam outro corpo no teu corpo.

Monday, August 18, 2008


Paixão

A tua boca que tanto quis
Tinha sabor de anis,
Apesar de todo run com leite
que bebi
E o fogo que sentia
Já nem sabia se vinha
Da bebida ou da tua pele que escaldava.
Não sei se foi ilusão
ou imaginação,
Todavia a recordação daquela noite,
Não pelos fogos de artifícios,
È de que o mundo inteiro queimava
E, mesmo assim, em minha vida
Nunca me senti melhor.

Friday, August 15, 2008

AT THE END

Ed Meek

He was so old his bones seemed to swim in his skin.
And when I took his hand to feel his pulse
I felt myself drawn in. It was as faint
as the steps of a child padding across the floor in slippers,
and yet he was smiling.
I could almost hear a river running beneath his breath.
The water clear and cold and deep.
He was ready and willing to wade on in.

No final

Ele era tão velho que seus ossos pareciam nadar na sua pele.
E quando eu levei a mão para sentir seu pulso
Senti-me mesmo como um rascunho. Foi como desmaiar
como os passos de uma criança
andando ao redor de um chão de almofadas de chinelos,
e ele ainda estava sorrindo.
Eu podia ouvir quase um rio correndo sob a sua respiração.
As águas claras e frias e profundas.
Ele estava pronto e disposto a ir fundo.

Thursday, August 14, 2008

OUTRA VEZ DELFINA ACOSTA

Antes del olvido

Delfina Acosta

Acaso es tarde.
No importa ya
que con favor del diablo
coloque mis jazmines en la acera,
mi zapato de tierra
en la ventana,
y me quede
en cuclillas,
aguardando,
que alguien golpee de una vez mi puerta.
No importa ya
que con las gotas
de un día que en la fiesta fue lluvioso,
yo moje mis cabellos y mejillas,
y me quede sentada,
parpadeando,
sobre el sillón de mimbre, en la penumbra.
Acaso es tarde.
Acaso el tiempo
me llegó de golpe
por andarme de madre,
por andarme de hija,
y este fuego nocturno
que sube por mis huesos,
este aullido feroz
que levanta mi sangre,
ya no son señales
para llamar a nadie.

Antes do esquecimento

Talvez seja tarde.
Não importa já
Que, com o favor do diabo,
Coloquei os jasmins
Na calçada, meus sapatos
De terra na janela,
E me quedei
De cócoras
Aguardando,
Que alguém golpeie de uma vez minha porta.
Não importa já
Que com as gotas
De um dia de festa que foi chuvoso,
Eu molhe meus cabelo e cachinhos,
E permaneça sentada,
Proseando,
Na poltrona de vime, na penumbra.
Talvez seja tarde.
Talvez o momento
Chegou de um golpe
Por andar como mãe,
Por andar como filha,
E este fogo noturno
Que sobe por meus ossos,
Este este gemido feroz
Que levanta meu sangue,
Já não sejam sinais
Para chamar ninguém.

UMA POETISA DO PARAGUAI

Circo

Delfina Acosta


Giovanna Pertile, hada que lleva mi sangre.

Yo fui a nacer y el mundo enloqueció:
atardecer de mares y naufragios.
Las aves antes de alcanzar altura
caían en un bosque embalsamado.
Un elefante triste en rojo circo
brillaba en tantos ojos agrandados
del público contento. ¡Cuánto éxito!
Con sólo tropezarse los enanos
reír hacían a la humanidad.
El tigre, con rugir ¡causaba espanto!
Y fui poetisa y acabé creyendo
locura la razón de los humanos.
Tejí una manta de alegría y luto.
A quien me amó pedí llevarme al circo
y ahí dejarme lejos de este mundo
pues sólo en los payasos vi juicio.

Circo

Eu fui ser nascer e o mundo enlouqueceu:
Entardeceu de mares e naufrágios.
Os pássaros antes de alcançar altura
Caíram num bosque embalsamado.
Um elefante triste no circo vermelho
Brilhava em muitos olhos ampliados
Do público contente. Quanto sucesso!
Como se apenas tropeçando nos anões
Pudesse fazer a humanidade rir.
O tigre só com rugir causava espanto!
E fui poetisa e terminei acreditando
Ser loucura a razão dos seres humanos.
Teci um manto de alegria e luto.
A quem me amou pedi que me levasse ao circo
E lá me deixar longe deste mundo
Pois somente nos palhaços vi juízo.

Ilustração: www.pge.pi.gov.br/materia.php?id=15683

Wednesday, August 13, 2008

ESPERANÇA, MEU AMOR...

Poema breve



Nada sei de ti
apenas está saudade
em mim,
como uma imensa sombra
se alarga,
e me diz:
-Adeus chances de ser feliz!

AS RESPOSTAS SÃO AS POSSÍVEIS

i like my body when it is with your

E. E. Cummings

i like my body when it is with your
body. It is so quite new a thing.
Muscles better and nerves more.
i like your body. i like what it does,
i like its hows. i like to feel the spine
of your body and its bones, and the trembling
firm-smooth ness and which i will
again and again and again
kiss, i like kissing this and that of you,
i like,slowly stroking the, shocking fuzz
of your electric fur, and what-is-it comes
over parting flesh....And eyes big love-crumbs,

and possibly i like the thrill

of under me you so quite new


Eu gosto de sentir seu corpo

Eu gosto de meu corpo coladinho ao seu
Corpo. É assim uma coisa completamente nova.
Os músculos melhoram e os nervos ainda mais.
Eu gosto de seu corpo. Eu gosto do que faço,
Eu gosto de seus gritinhos. Eu gosto de sentir o calor
De seu corpo e de seus ossos, e do tremor
Na hora em que lhe aliso devagar e várias vezes,
Repetidas vezes e outra vez e outra
Beijo, eu gosto de beijar isto e aquilo de você,
Eu gosto, lentamente afagando, do curto-circuito chocante
De sua pele elétrica, e do que-dela-vem depois
Como explosão da carne... E das migalhas de amor de seus grandes olhos,

E possivelmente eu gosto da emoção

De me sentir sob você assim completamente novo

Tuesday, August 12, 2008

TUDO IGUAL

Ode ao irmão perdido

Certamente como Alexander Soljenitsin,
Também sou um inadaptado.
Igual a ele
Sou delicado demais para esta época.

Sou mais novo e ainda estou vivo-
O que se me poupa de ser coisa do passado
Infelizmente não de ser ultrapassado.

Olho as estrelas e acredito que Marte existe
E o dia 27 aguardo
Sempre com a esperança de que o amanhã será melhor
Até também virar pó.

Ilustração: http://www.apn.ru/userdata/images/soljenitsin.jpg

VERSOS DE JOSE MARTÍ

¡Dolor! ¡Dolor! Eterna vida mía

José Martí

¡Dolor! ¡Dolor! eterna vida mía,
Ser de mi ser, sin cuyo aliento muero!

* * *

Goce en buen hora espíritu mezquino
Al son del baile animador, y prenda
Su alma en las flores que el flotante lino
De mujeres bellísimas engasta:

Goce en buen hora, y su cerebro encienda
En la rojiza lumbre de la incasta Hoguera del deseo:
Yo, embriagado de mis penas,
me devoro, Y mis miserias lloro,
Y buitre de mí mismo me levanto,
Y me hiero y me curo con mi canto,
Buitre a la vez que altivo Prometeo.
Dor!Dor! Eterna vida minha

Dor! Dor! Eterna vida minha
Ser de meu ser, sem cujo alento morro!

* * *

Goze em boa hora espírito mesquinho
Ao som do baile animador, e prenda
sua alma nas flores do linho flutuando
Que belíssimas mulheres reveste:

Goze em hora boa, e seu cérebro incendeie-se
No fogo avermelhado da impura
Fogueira dos desejos:

Eu, embriagado de minhas dores me devoro,
E minhas misérias choro,
E abutre de mim mesmo me levanto,
E me firo e me curo com meu canto,
Abutre da vez como o arrogante Prometeu.

UMA POESIA DE AMADO NERVO

Autobiografía

Amado Nervo


¿Versos autobiográficos ? Ahí están mis canciones,
allí están mis poemas: yo, como las naciones
venturosas, y a ejemplo de la mujer honrada,
no tengo historia: nunca me ha sucedido nada,
¡oh, noble amiga ignota!, que pudiera contarte.

Allá en mis años mozos adiviné del Arte
la armonía y el ritmo, caros al musageta,
y, pudiendo ser rico, preferí ser poeta.

-¿Y después?

-He sufrido, como todos, y he amado.

¿Mucho?

-Lo suficiente para ser perdonado...

Autobiografia

Versos autobiográficos? Aí estão as minhas canções,
Ali estão meus poemas: eu, como as nações
venturosas, e a exemplo da mulher honrada,
não tenho história: nada nunca aconteceu comigo,
Oh! Nobre amiga desconhecida!, que poderia te contar.

Além de que em minha juventude adivinhei da arte
a harmonia e o ritmo, queridos do maestro,
e, podendo ser rico, preferi ser poeta.

- E depois?

- Eu sofri, como todos, e amei.

Muito?

- O suficiente para ser perdoado....

TUDO PASSA

Canção de agosto

Os ventos de agosto passarão levando tudo.
Com o calor e a secura as folhas se esparramam pelo chão
E, com os ventos, as telhas, os cartazes voam
Junto com ninhos e sonhos, tudo ilusão.

Os ventos de agosto passarão, passarão
E já vão passando arrastando as coisas na passagem
Modificando a paisagem, as formas, as cores
E, como sempre acontece com o que passa, as vidas
Deixando apenas lembranças, memórias, feridas.

Ilustração: blogueforanadaevaodois.blogspot.com/2007_08_0...

O TEMPO NÃO PÁRA

A HORA MUDA

A engrenagem emperrou sem motivo
E a hora que viria ficou parada

O toque esperado do grande relógio
De algo minúsculo ficou cativo.

Apesar de tudo o tempo continuou
E a vida seguindo voou, voou....

Ilustração: http://proavirtualec2.pbwiki.com/f/engrenagem08.gif

Monday, August 11, 2008

EMILY AGAIN


Tulips…

Emily Dickinson

she slept beneath a tree
remembered
but by me.
i touched her cradle mute;
she recognized the foot,
put on her carmine suit, –
and see!

Tulipas

Ela dormia sob uma árvore
relembrada, mas por mim.
Eu toquei seu berço mudo;
ela reconheceu o pé,
pelo seu suave carmim,-
e conferiu!

Friday, August 08, 2008

MONTEJO NOVAMENTE

AMANTES

Eugenio Montejo

Se amaban. No estaban solos en la tierra;
tenían la noche, sus vísperas azules,
sus celajes.
Vivían uno en el otro, se palpaban
como dos pétalos no abiertos en el fondo
de alguna flor del aire.
Se amaban. No estaban solos a la orilla
de su primera noche.
Y era la tierra la que se amaba en ellos,
el oro nocturno de sus vueltas,
la galaxia.
Ya no tendrían dos muertes. No iban separarse.
Desnudos, asombrados, sus cuerpos se tendían
como hileras de luces en un largo aeropuerto
donde algo iba a llegar desde muy lejos,
no demasiado tarde.


Amantes

Se amavam. Não estavam sós na terra;
Tinham a noite, seus céus azuis,
Suas nuvens coloridas.

Viviam um para o outro, se apalpavam
Como duas pétalas não abertas no cálice
De alguma flor do ar.

Se amavam. Não estavam sós nos começos
De sua primeira noite.
E era a terra que se amava neles,
O ouro noturno de suas voltas,
A galáxia.

Já não teriam duas mortes. Não iriam separar-se,
Desnudos, assombrados, seus corpos se estenderam
Como fileiras de luzes num largo aeroporto
Onde algo ia chegar de muito distante,
Não demasiado tarde.

DE NOVO MONTEJO

UN AÑO

Eugenio Montejo


Vuelvo a contarme aquí mi vida
otra tarde de otoño
viejo de treinta y tres vueltas al sol.
Vuelvo a replegarme en esta silla
palpando su inocencia de madera
ahora que el año hace su estruendo
y me sacude fuerte, de raíz.
En la terraza inicio otro descenso
al infierno, al invierno.
Sangran en mí las hojas de los árboles.

Um Ano

Volto a contar aqui minha vida
Outra tarde de outono
Velho de trinta e três voltas do sol.
Volto a reassentar nesta cadeira
Apalpando sua inocência de madeira
Agora que o ano fez seu estrondo
E me sacode forte, na raiz.
No terraço inicio outra descida
Ao inferno, ao inverno.
Sangram em mim as folhas das arvores.

Thursday, August 07, 2008

RECEITA

One Clove

Emily Dickinson

To make a prairie it
takes a clover and a bee.
One clove, and a bee,
And revery.
The revery alone will do,
if bees are few.

Um cravinho

Para fazer um jardim
Pegue um trevo e uma abelha.
Um cravinho e uma abelha,
E trabalhe.
Trabalhe, por si só, para fazer,
e as abelhas serão poucas.

AINDA EMILY

J 303 / F 409

Emily Dickinson

The Soul selects her own Society -
Then - shuts the Door
-To her divine Majority
-Present no more -

Unmoved - she notes the Chariots - pausing -
At her low Gate -
Unmoved - an Emperor be kneeling
Upon her Mat -

I've known her - from an ample nation -
Choose One -
Then - close the Valves of her attention
-Like Stone -

J 303 / F 409

A alma escolhe sua própria sociedade
E depois fecha a porta-
Com sua divina maioridade-
Nada mais importa.

Imóvel vê os veículos parando
Junto ao portão baixo
Imóvel-vê um rei ajoelhado
Sobre seu capacho-

Um apenas ela quer de toda a nação-
Escolhe um – veda,
Então, as válvulas de sua atenção
Como uma pedra.

DE VOLTA EMILY

J 258 / F 320

Emily Dickinson



There's a certain Slant of light,
Winter Afternoons -
That oppresses, like the Heft
Of Cathedral Tunes -

Heavenly Hurt, it gives us -
We can find no scar,
But internal difference,
Where the Meanings, are -

None may teach it - Any
-'Tis the Seal Despair -
An imperial affliction
Sent us of the Air -

When it comes, the Landscape listens -
Shadows - hold their breath -
When it goes, 'tis like the Distance
On the look of Death -

J 258 / F 320
Há um desvio da luz
Nas tardes de inverno-
Que nos oprime como o peso
Dos hinos das catedrais-

Celestemente um golpe nos dá-
Ainda se não se vê a cicatriz,
Porém, dentro de nós a diferença
Aparece no sentido

Nada nos pode ensinar-ninguém-
É um selo do desespero-
Uma aflição imperial
Que sentimos no ar

Quando vem a terra escuta-
As sombras prendem o respirar-
Quando vai é como a distância
Sob o olhar da morte.

Wednesday, August 06, 2008

COISAS DA MODERNIDADE

DESCONSOLO

De repente, hoje, somente
sem motivo nenhum aparente
senti tua falta.
E me arrependi amargamente
escutando os mesmos tristes boleros,
que me faziam,
entre beijos e taças de vinho,
tão feliz antigamente.
Me senti tão sozinho,
tão frágil
que entrei na internet
tentando localizar teu nome
só para dizer que te amo,
mas, preguiçosa do jeito que és,
só tu, meu bem, lá não pões os pés
quanto mais as mãos.
E sem um meio de te mandar um e-mail
este cibernauta infeliz
desesperado,
só teve o recurso
de fazer estes versos
para dizer como está desconsolado.


Tuesday, August 05, 2008

O VELHO MALDITO NO MELHOR ESTILO

Be Kind

Charles Bukowski

we are always asked
to understand the other person's
viewpoint
no matter how
out-dated
foolish or
obnoxious.

one is asked
to view
their total error
their life-waste
with
kindliness,
especially
if they are
aged.

but age is the total of
our doing.
they have aged
badly
because they have
lived
out of focus,
they have refused to
see.

not their fault?
whose fault?
mine?

I am asked to hide
my viewpoint
from them
for fear of their
fear.

age is no crime

but the shame
of a deliberately
wasted
life
among so many
deliberately
wasted
lives

is.

Seja gentil


Nós estamos sempre procurando
compreender
o ponto de vista
das outras pessoas
não importa
o quão retrogrado
insensato
ou óbvio.
Você é convidado a ver
a soma dos erros
de suas vidas- o lixo
com delicadeza,
especialmente
se forem mais velhos.
mas, a idade é o total
do que fazemos.
Então se estão mal
nesta idade
foi porque
viveram fora de foco,
eles se recusaram a ver.
Eles não têm culpa?
Então de quem é a culpa?
minha?
Estão pedindo para esconder
minha opinião sobre eles
por medo
ou medo deles.
idade não é crime
mas a vergonha de uma vida
deliberadamente
jogada no lixo
entre tantas vidas
deliberadamente
desperdiçados
é.

Monday, August 04, 2008

SÓ O SONHO SALVA

Soneto do amor oculto

Todo este amor escondido e calado
Pode ser triste, mas, não amargurado,
Pois, de nada se arrepende ou reclama
Resignado sobrevive porque ama,

E, bem sabe, ainda mais, ser muito amado.
Contente assim até suporta delicado
Os longos dias que se perdem no infinito
Sem o gozo do amor e sem um grito.

Exalta muito mais o ter a certeza
Que tanto amor fortalece à natureza
De seu viver tão frágil e tão humano

Até sonha dias que, talvez, jamais virão
Consciente de que a vida sem a ilusão
É um esforço tão inútil quanto insano.

NUNCA ANTES TANTO...

A roda da insensatez

Os deuses sempre combateram em vão
Contra a loucura dos homens
Ainda que se saiba que, no sono da razão,
Se multiplicam, dos monstros, os gens.

O saber e o conhecimento que dão o alerta
São sufocados sempre pelo aplauso
Dos tolos e espertos que vêem a porta aberta
E da consciência fazem pouco caso.

A insensatez gosta da mediocridade
E, muitas vezes, do ruim faz unanimidade
Entre os preguiçosos que odeiam ter de pensar,

Porém, se os homens pensam como horda,
Como um relógio aos embusteiros dão a corda
Com que um dia voltam sempre a se enforcar.

Ilustração: http://www.efemero.blogger.com.br/Misha%20Gordin12.jpg

HÁ CAMINHOS


Fragmentos

T. S. Eliot

[...]

You say I am repeating
Something I have said before. I shall say it again.
Shall I say it again? In order to arrive there,
To arrive where you are, to get from where you are not,
You must go by a way wherein there is no ecstasy.
In order to arrive at what you do not know
You must go by a way which is the way of ignorance.
In order to possess what you do not possess
You must go by the way of dispossession.
In order to arrive at what you are not
You must go through the way in which you are not.
And what you do not know is the only thing you know
And what you own is what you do not own
And where you are is where you are not.

[…]

Você diz que só repito
O que já disse. Eu vou dizer outra vez.
Como poderia dizer outra vez? Na seqüência para chegar lá,
Para partir para onde você está, para obter o que você não tem,
Eu preciso ir por um caminho que não é o do êxtase.
Na seqüência para alcançar o que você sabe
Eu preciso ir por um caminho que é o da ignorância.
Na seqüência para possuir o que não possuis
Eu preciso ir pelo caminho dos despossuídos.
Na seqüência para chegar até onde você não está
Eu preciso ir através do caminho em que você não está.
E o que você não sabe é a única coisa que você sabe
E o que você possui é o que você não possui
E onde você está é onde você não está.

Saturday, August 02, 2008

WALCOTT, OF COURSE

ENDINGS

Derek Walcott

Things do not explode
they fail, they fade,

as sunlight fades from the flesh,
as the foam drains quick in the sand,

even love’s lightning flash
has no thunderous end,

it dies with the sound
of flowers fading like the flesh

from sweating pumice stone,
everything shape this

till we are left
with the silence the surrounds Beethoven’s head.

Finais

As coisas não explodem
Não, elas desaparecem,

desbotam como a luz solar o brilho da carne,
como a espuma seca rápida na areia,

mesmo o amor não acaba como um raio,
não morre num trovão,

ele morre com o som
de flores desfiando como a polpa

de um suor poroso de pedra-pome,
cada coisa vai se perdendo assim

até que sejam deixadas
com o silêncio que rodeia a cabeça de Beethoven.

Ilustração:
mardeoutubro.blogspot.com/2007_12_01_archive.html

SIMPLESMENTE, NADA MAIS

O rumor do silêncio

Se perdeu no tempo
o momento em que adormecemos.

Não foi de repente
nem ficamos assustados
com a falta de risos, de ecos,
de vozes, luzes e palavras.

Houve só a hora
na qual falar perdeu o sentido
e, como pedras tombadas
no deserto,
permanecemos juntos, perto,
mas, incomunicáveis,
como a sombra e o objeto.

Ilustração: http://img.olhares.com/data/big/149/1492509.jpg

PERDÃO PELA TRAIÇÃO..

GROUND

Douglas Messerli

For Joe and Laura

The World-former star
we inhabited as the content
of remains is also the object
of the game. This is the goal:
to obsess with ourselves
pursuing a key to unlock
the love audacity has awarded
our heats in those great storms
of hate. The three-the murderer’s
black hair,
whoever lifts the stone this very evening
and the great book filled with night-
must fight it out to see who will be
first asleep. To stay together
within the same air is what we call
longing.-To part-is the obvious
reality of daily life. Each evening
prayers appear upon horizon
lifting our spirits into oblivion.
As the cat curls against the barren moon
The night unfolds the map: take the gravel path.

CHÃO

O Mundo- estrela antiga

por nós habitada como o conteúdo

de restos mortais

é também o objeto do jogo.

Esta é a meta: a obsessão de nós mesmos

perseguindo uma chave para abrir

audaciosamente o amor

como recompensa dos nossos corações

em meio a grandes tempestades de ódio.

Os três-o assassino de

cabelos pretos, quem levanta a pedra nesta tarde

e o grande livro de hóspedes preenchido de noite-

devemos combatê-los para ver quem irá

dormir primeiro. Permanecer juntos

respirando o mesmo ar é o que chamamos

de sobrevivência.- Partir é a óbvia

realidade da vida cotidiana. Cada noite

as orações aparecem no horizonte

elevando nossos espíritos até o esquecimento.

Tal como um gato curvado estéril contra a lua

a noite desdobra o mapa: escolha o caminho das pedras.

Friday, August 01, 2008

DE NOVO O VELHO MALDITO

Decline

Charles Bukowski


naked along the side of the house,
8 a.m., spreading sesame seed oil
over my body, Jesus, have I come
to this?
I once battled in dark alleys for a
laugh.
now I'm not laughing.
I splash myself with oil and wonder,
how many years do you want?
how many days?
my blood is soiled and a dark
angel sits in my brain.
things are made of something and
go to nothing.
I understand the fall of cities, of
nations.
a small plane passes overhead.
I look upward as if it made sense to
look upward.
it's true, the sky has rotted:
it won't be long for any ofus.

Declínio
nu, ao longo do lado da casa,
às 8 horas da manhã,
espalho sementes oleosas de gergelim
pelo meu corpo, Jesus, tenho que
fazer isto?
Certa vez lutamos nos becos escuros por uma
risada.
agora eu não estou rindo.
respingo em mim mesmo o óleo e maravilha,
Quantos anos você quer fazer?
quantos dias? o meu sangue é áspero e um anjo
escuro se senta no meu cérebro.
as coisas são feitas de uma coisa
e não de coisa alguma.
Eu compreendo a queda das cidades,
das nações.
um pequeno avião fazendo acrobacias.
Eu olho para cima como se tivesse sentido
olhar para cima.
é verdade, o céu tem apodrecido:
não está muito longe para qualquer um de
nós.