Thursday, December 31, 2015

Uma poesia de Jeannette L. Clariond


EL  MORRO                                                    

Jeannette L. Clariond

Inicia el año.
Entra en el azul con la serenidad de una lluvia de estrellas
entre la luna menguante y la media noche,
su brillo vertiendo sobre las hojas de las palmas.
Todo es calmo, aun
la brisa sobre la humedad de la arena.
Los blancos muros de la casa que da al mar parecen lienzos de hielo.
Desde la terraza miro las líneas rosas en el horizonte.
Hay un ligero silencio. En él resuena aún la risa de los niños. 
Las rocas en medio del mar son como deidades rescatadas.
Aunque oscuras,  aunque lejanas, hay en ellas un algo que me hace recobrar
de lo ido la memoria.  Por ejemplo,  la luz en los ojos que besé
deseosa, húmeda, amante.
Todo tan real como el miedo ante un amor que crece.
Sobre mi cuerpo se desborda esa luz. Contra el cristal, el paisaje.
La música llega desde la última habitación.
En la casa todo es oscuro. Afuera, la lluvia ha dejado de caer.
Queda en la arena una suerte de llama, un instante de altar.
Un latido es la distancia.

O MORRO

Jeannette L. Clariond

Começa o ano.
Surge em um azul com a serenidade de uma chuva de estelas
entre a lua minguante e a meia-noite,
seu brilho derramando sobre as folhas de palmeiras.
Tudo está calmo, mesmo
a brisa sobre a umidade da areia.
Os brancos muros da casa que dá no mar parecem lenços de gelo.
Do terraço olho para as linhas-de-rosa no horizonte.
Há um ligeiro silêncio. Ele ressoa ainda como o riso das crianças.
As rochas no mar são como divindades resgatadas.
Ainda que escuras, ainda distantes, há nelas algo que me faz um pouco recuperar
da memória se foi. Por exemplo, a luz em seus olhos que beijei
desejoso, amante molhado.
Tudo tão real quanto o medo de um amor que cresce.
Sobre o meu corpo transborda esta luz. Contra a janela, a paisagem.
A música chega do último quarto.
Tudo na casa é escuro. Lá fora, a chuva parou de cair.
Queda na areia é um tipo de chama, um instante de altar.
Uma pulsação na distância.

Ilustração: aia2009.wordpress.com

Tuesday, December 29, 2015

Uma poesia de María Clara Salas

LA MUJER DE LOT

María Clara Salas

Vuelves atrás
intentas ver las cenizas
en tu huida
detienes el carro
desobedeces
el frío penetra
en tus huesos
la falta de aliento entra em tu cyerpo
en sal te converties
No pienses
que merecías
semejante castigo

A mulher de Lot

Voltas atrás
tentando ver as cinzas
em tua fuga
deténs o carro
desobedeces
o frio penetra
nos teus ossos
a falta de ar entra no teu corpo
em sal te convertes
Não penses
que merecias
semelhante castigo

Um poema de Alfonso Camín

El Año Nuevo                                                                                              Alfonso Camín

Bien vayas, Año Viejo, segador implacable,
Que te vas de los campos con la mies de la vida,
Con tu fardo de crímenes, tu figura execrable
Y aún blandiendo en tus manos la guadaña homicida.

Nace el Año, heredero de los cetros del Mundo,
Y en el hondo sarcasmo de una noche de luna,
Cuando ruge a sus plantas el rencor iracundo,
Ve que tiene una enorme calavera por cuna.

La Locura y el Crimen se han vestido de gala;
Deje al Año que vuele la impecable paloma
Y un bautismo de sangre por su frente resbala...

Luce el mundo, a manera de un festín nunca visto;
Nuevamente tornamos a los tiempos de Roma,
¡Y los pueblos escupen al cadáver de Cristo!

O ano novo

É bom que sigas, Ano Velho, ceifador implacável,
Que te afastes dos campos com a colheita da vida,
Com teu fardo de crimes, tua figura execrável
E ainda empunhando em tuas mãos a foice homicida.

Nasce o ano, herdeiro dos cetros do mundo,
E no profundo sarcasmo de uma noite de luar,
Quando ruge em suas plantas o rancor iracundo,
Vê que tem uma enorme caveira para repousar.

A loucura e o crime se vestiram de gala;
Deixe o ano que vai a impecável pomba
E um batismo de sangue que por sua testa resvala ...

Brilha o mundo, como um festim nunca visto;
Mais uma vez voltamos ao velho tempo de Roma,
E as pessoas cospem no corpo de Cristo!

Ilustração: pastorclaudiorenato.blogspot.com


Monday, December 28, 2015

INCONCLUSO

Se o fim é no início      
Ou o início é o fim
Não sei.

Muitas vezes é assim:
Faço o início no fim
Ou do fim inicio
Como se fim e início
Fossem sinônimos sim.

Dá-me prazer no início
Quando o início tem fim
Se bem que sou sempre assim:
Seja no início ou no fim.

Se tenho dúvidas no início.
Mais duvidas no fim tenho.
De forma que meu precipício
Dilema em que me contenho
É o início e o fim.

(Do livro "Águas Passadas", Editora Per Se

Ilustração: oswaldovigasworks.com2

Sunday, December 27, 2015

UM HOMEM NO SEU CAMINHO

 (Ou pode ser                                “O Mago que esqueceu a mágica” )


O existir
É repleto de mistérios
Como o viver ou o sonhar
E o acaso nos contempla
Em cada passo do caminhar


No que se encontra,
Ou desencontra,
Não há impossível.
Há a miopia do amanhã,
A teia do sentido
Que não se percebe
Ou se esquece.

Nos salva a prece,
O otimismo,
O desejo de ir na direção
Do que jamais se sabe..
O essencial é
fugir do próprio vácuo
E criar a quimera do possível
Sem se contar os dias
Que sempre passarão.

O futuro é um passarinho
Que, quando menos se espera,
Está na sua mão
E, como a morte não se atrasa,
É preciso alimentá-lo
Para que cante
Nem que seja o canto do cisne.


(Do livro "Águas Passadas", Editora Per Se

Ilustração: www.pinterest.com



Saturday, December 26, 2015

De volta ao futuro


Tem horas em que me penso outro,
Que sou cada vez mais outro mesmo,
E, no entanto, sou eu aqui, no mesmo canto,
E, ao mesmo tempo, não me enxergo tanto.
E me olho no espelho tão vermelho
Quando, para meu espanto,
Me dizem que nunca estive tão esverdeado.
Me sinto inocente, me sinto culpado.
Me sinto, como o país, desnorteado,
Como se o futuro me tivesse sido roubado
(e o futuro, hoje, me parece
     mais esfacelado e a cara do passado).
Tento me recuperar do mal estar-
E pensar que Freud errou sobre a civilização,
mas, onde ela está ? Se os símios nos comandam
e os brucutus que zombam do fato de pensar
vivem a nos ensinar que é errado
não bater palmas para os estridentes zurros
que é a música consensual  de toda a manada.
Ah! Não me pergunte nada.
As respostas que dei me tornaram o que sou:
um mágico sem plateia,
um poeta que somente tem
como consolação
escrever para o passado
e orar para que um dia,
depois de tanta bizarrice,  
o excesso da bola de neve da tolice
consiga gerar uma nova civilização
que possa entender
como viver  cultivando a elegância, a alegria e o prazer.


Ilustração: zonae.com.br

Duas poesias de Benito del Pliego



La tortuga                                                    

Benito del Pliego

-Vejez es don de calma.

Más veloz quien sabe lo que busca que quien llega y, una vez allí, espera. Otros caminan o duermen según sea de noche o de día; el paso que marcan los sueños progresa dormido. La lentitud da coraza a la cordura.

El remanso no se ahoga en la corriente.

A tartaruga

-Velhice é um dom da calma.

Mais veloz é quem sabe o que busca que quem chega e, uma vez ali, espera. Outros
caminham ou dormem segundo seja de noite ou de dia; o passo que marcam os sonhos
progride adormecido. A lentitude da couraça à cordura.


O remanso não se afoga na corrente.

 La hormiga

Benito del Pliego

-Lo pequeño encierra grandes dimensiones. No hay nada que no sea hormiga sin dejar de ser, al mismo tiempo, lo que sea.
Mis manos: yo; la hilera que bulle en el tronco del árbol: yo; y los granos de trigo, y el de arena, y las hojas de parra...
Tenemos perfiles complejos que el ojo no ve ni la cabeza alcanza. Qué importa: ceguera y desazón también somos yo misma.


A formiga

-O pequeno encerra grandes dimensões. Não há nada que não seja formiga sem deixar
de ser, ao mesmo tempo, o que seja.
Minhas mãos: eu; a fileira que bole no tronco da árvore: eu; e os grãos de trigo, e o
de areia, e as folhas de parreira...
Temos perfis complexos que o olho não vê nem a cabeça alcança. Que importa: cegueira e inquietação também são eu mesmo.


Thursday, December 24, 2015

Cançãozinha da insatisfação de Natal

“I can’t get no satisfaction”                                Mick Jagger

Sei que neste Natal
não posso ter satisfação.
Sei que, talvez,
nem desperte amanhã
com esta intenção vã
de voltar atrás
e viver do que não posso mais..

É possível
que me dissolva no ar
como uma canção
de insatisfação.
Não há nada, agora,
que possa ser suficiente
fora  esta dor latente
que não vai embora.

E procuro no mar,
no cais,
no horizonte,
as velas distantes
que dizem adeus,
mas, não há mar,
nem céu,
nem cais,
nem barcos, velas
ou sinais
de que algo ainda exista.

Só esta canção,
como a noite triste,
e tua eterna ausência, 
fonte da minha
mais completa insatisfação.

Ilustração: www.psicologiamsn.com

Outro poema de Dionísio Ridruejo

 
El amor desierto

Dionísio Ridruejo

Quien le dé un corazón a este minuto
yerto, a este fluir sin armonía,
a esta mi sangre dolorosa y fría,
a este seco dolor sin voz ni luto.
Quien pula aristas al diamante bruto,
quien vuelva al ave su perdida guía,
quien haga soledad y compañía,
voz y silencio al cántico absoluto.
Quien me devuelva todos mis paisajes
y vea, en mis quietudes recogida,
costa anhelada y velo de mis viajes;
Quien la salud me torne con su herida,
quien a mis sueños vista con sus trajes,
¡ansia sin forma! cumplirá mi vida.


Deserto do Amor

Quem lhe dá um coração este momento
rígido, a este fluir sem harmonia
a este meu sangrar doloroso e frio
a esta seca dor sem voz ou luto.

Quem puliu as arestas do diamante bruto,
quem retorna o pássaro a sua perdida guia
quem faz traz a solidão e a companhia,
voz e silêncio ao cântico absoluto.

Quem me devolve todas as minhas paisagens
e vê, em minhas quietudes recolhidas,
a costa ansiada e o véu das minhas viagens;

Quem a saúde me devolve com a sua ferida,
meus sonhos veste com os seus trajes,
Ânsia sem forma! Cumprirá a minha vida.

Ilustração: vilmaadelaide.xpg.uol.com.br

Wednesday, December 23, 2015

Soneto do amor agitado

Contra teu amor agito, em vão, os braços
Buscando fugir do calor de teu seio.
É um esforço inútil por não existir um meio
De fugir da formosura de teus traços.
É uma fuga que me enche de cansaços.
Não há como fugir do próprio anseio
Nem existe como deter, célere, os passos
Rápidos, pois, não há, contra o desejo, bloqueio.
Minha paixão se estende na distância.
Não me dá tréguas, me enche de inconstância
E vence o tempo vindo me perturbar
É infinita e vária, um mar me corroendo o peito.
Gesticulo, insone, choroso, sem jeito
Com uma vontade imensa apenas de te amar.


Ilustração: www.downloadswallpapers.com

Tuesday, December 22, 2015

Mais uma poesia de Eliseo Diego

TESTAMENTO                                                                 
Eliseo Diego

Habiendo llegado al tiempo en que
la penumbra ya no me consuela más
y me apocan los presagios pequeños;

habiendo llegado a este tiempo;

y como las heces del café
abren de pronto ahora para mí
sus redondas bocas amargas;

habiendo llegado a este tiempo;

y perdida ya toda esperanza de
algún merecido ascenso, de
ver el manar sereno de la sombra;

y no poseyendo más que este tiempo;

no poseyendo más, en fin,
que mi memoria de las noches y
su vibrante delicadeza enorme;

no poseyendo más
entre cielo y tierra que
mi memoria, que este tiempo;

decido hacer mi testamento.

Es este:
les dejo

el tiempo, todo el tiempo.

Testamento

Tendo chegado ao tempo
em que as penumbras já não me confortam mais
E me apoucam os presságios pequenos;

tendo chegado neste momento;

como, às vezes, as sementes de café
se abrem, de repente, para mim agora
as suas redondas formas amargas;

tendo chegado neste momento;

e perdida toda a esperança de
alguma merecida ascensão, de
ver o fluir sereno da sombra;

e não possuindo mais do que este momento;

não possuindo mais, finalmente,
que minha memória das noites e
e sua vibrante e enorme delicadeza;

não possuindo mais,
entre o céu e a terra que
minha memória,  que este tempo;

decidi fazer meu testamento.

É este:
lhes d
eixo

o tempo, todo o tempo.


Ilustração: comovemosdamos.com

Monday, December 21, 2015

Hoje mais dor do que nunca...

            
Elegiazinha mal-feita a um amor sempre incompleto
                 
                                           Para Tania Abbud, uma eterna Julieta  

Ah! Este amor
que não se acaba,
e que não mais acontece,
tão derramado, perdido
que nunca se satisfaz.
Este amor que pouco importa,
que se contém em  ser amor, e para o qual basta
olhar  uma fotografia
perdida na minha pasta.
Não sei se em outra existência
(o antes e o depois é um mistério)
               se tivermos  (ou teremos?)
algo que seja assim tão sério.
Será que nos encontramos antes?
Ou só teremos um depois?
Será que isto foi tudo
possível entre nós dois?
              Tanto te conheço e desconheço,
reconheço,  e torno a desconhecer
que nunca te esqueço
mesmo quando quero te esquecer.
Para o grande amor não há borracha
Por isto este amor é sempre assim:
alegria e dor dentro de mim. 

Ilustração: miamorim.spaceblog.com.br

Saturday, December 19, 2015

E, de volta, Angel González

La vida en juego                                                             

Angel González

Donde pongo la vida pongo el fuego
de mi pasión volcada y sin salida.

Donde tengo el amor, toco la herida.

Donde pongo la fe, me pongo en juego.

Pongo en juego mi vida, y pierdo, y luego
vuelvo a empezar, sin vida, otra partida.

Perdida la de ayer, la de hoy perdida,
no me doy por vencido, y sigo, y juego
lo que me queda: un resto de esperanza.

Al siempre va. Mantengo mi postura.

Si sale nunca, la esperanza es muerte.

Si sale amor, la primavera avanza.


A vida em jogo

Onde
ponho a vida, ponho o fogo
de minha paixão focada e sem saída.

Onde ponho o amor, toco a ferida.

Onde ponho a fé, me ponho em jogo.

Ponho em jogo minha vida, e perco, e logo
começo outra vez, sem vida, outra partida.

Perdida a de ontem, a de hoje perdida,
não me dou por vencido, e sigo, e jogo
o que me sobra: um resto de esperança.

E sempre vou em frente. Mantenho minha postura.

Sem sair nunca. A esperança é a morte.

Se sai o amor, a primavera avança.

O grande Mario Benedetti




Cada ciudad puede ser otra

Mario Benedetti

Los amorosos son los que abandonan,
son los que cambian, los que olvidan.


Jaime Sabines

Cada ciudad puede ser otra
cuando el amor la transfigura
cada ciudad puede ser tantas
como amorosos la recorren

el amor pasa por los parques
casi sin verlos amándolos
entre la fiesta de los pájaros
y la homilía de los pinos

cada ciudad puede ser otra
cuando el amor pinta los muros
y de los rostros que atardecen
unos es el rostro del amor

y el amor viene y va y regresa
y la ciudad es el testigo
de sus abrazos y crepúsculos
de sus bonanzas y aguaceros

y si el amor se va y no vuelve
la ciudad carga con su otoño
ya que le quedan sólo el duelo
y las estatuas del amo

Cada cidade pode ser outra

Os amorosos são os que abandonam,
 são os que mudam, os que esquecem.

Jaimes Sabines

Cada cidade pode ser outra
Quando o amor a transfigura
Cada cidade pode ser tantas
Como os amorosos viajam

O amor passa pelos parques
Quase sem vê-los se amando
Entre a festa dos pássaros
E a oração dos pinheiros

Cada cidade pode ser outra
Quando o amor pinta os muros
E dos rostos que entardecem
Um é o rosto do amor

E o amor vem e vai e regressa
E a cidade é a testemunha
De seus abraços e crepúsculos
De suas chuvas e trovoadas

E se o amor se vai e não volta
A cidade se entristece com seu outono
Já que só lhe sobram o luto
E as estátuas do amor.


Ilustração: revistacasaejardim.globo.com

Apressando o passo

Caminhando sobre um tapete de folhas amarelas
de acácias da Avenida Higienopólis
quase me sinto feliz, bonito e forte
mesmo sem ter razões.
De todas as ilusões
querendo ser fugitivo
não vejo saída;
só vejo mesmo o semáforo piscando,
a agitação das pessoas sem finalidade 
que não a de crer em alguma ilusão
e, me pego, surpreendido, 
por uma criança curiosa olhando
fascinada para meu tênis verde,
uma velha novidade.
Os olhos dela brilham
com um brilho de esperança
que me anima a crer
que há bons motivos para viver
e, apostando no imprevisto,
apresso o passo,
para tomar um bom café no Armazém
ouvindo um chorinho.
Me sinto zen
vou em frente
e a vida segue....


Ilustração: zinasflowers.blogspot.com

Friday, December 18, 2015

Uma nova poesia de Francisco Luis Bernárdez

Silencio                                                             
Francisco Luis Bernárdez

No digas nada, no preguntes nada.
Cuando quieras hablar, quédate mudo:
Que un silencio sin fin sea tu escudo
Y al mismo tiempo tu perfecta espada.

No llames si la puerta está cerrada,
No llores si el dolor es más agudo,
No cantes si el camino es menos rudo,
No interrogues sino con la mirada.

Y en la calma profunda y transparente
Que poco a poco y silenciosamente
Inundará tu pecho de este modo,

Sentirás el latido enamorado
Con que tu corazón recuperado
Te irá diciendo todo, todo, todo. 

Silêncio

Não digas nada, não perguntes nada.
Quando quiseres falar, fique mudo:
Um silêncio sem fim é o teu escudo
E, ao mesmo tempo, tua espada perfeita.

Não chames se a porta estiver fechada,
Não chores, se a dor for mais aguda,
Não cantes se o caminho já te ajuda,
Não interrogues senão com uma olhada.

E na calma profunda e transparente
Que, pouco a pouco, e silenciosamente
Inundará o teu peito deste modo,

Sentirás o bater forte enamorado
Com que teu coração recuperado
Te irá dizendo tudo, tudo, tudo.


Ilustração: www.mensagenscomamor.com

Wednesday, December 16, 2015

Poeminha do custo do amor

Em um francês maltratado e doce                         Como se erudito fosse
João Fernandes explicava
“Ninguém ganha no amor”
Certo de que Chica não ia entender
E, esta, com uma expressão de estupor
Fazia um ar de quem nada entendia,
Mas, intimamente, ria
Porque sabia que o contratador
De alguma forma ia lhe valer
E sempre se paga pelo amor
Até mesmo sem saber...


Ilustração: nilsonxavier.blogosfera.uol.com.br

Uma poesia de Roberto Branly

 A veces me pregunto qué tipo de bestia suave...              

Roberto Branly

A veces me pregunto qué tipo de bestia suave,
qué consumo de piel emponzoñada alimenta
el péndulo del día, las horas apacibles,
de costumbres remansadas;
qué afán que como estrella se congela,
se va entibiando hasta que el soplo, levemente,
se diluye en las cenizas.
Pienso en otras noches, no de tristes remembranzas,
en que todo era un temblor, un cántico de sangre,
un volteo apenas de las sábanas,
la crepitación, el vaho, la densidad oscura y tibia
de otro cuerpo;
pienso ya sin la nostalgia,
y siento que este cálido animal que soy en las raíces,
iba ya soñando nuevas formas tendidas en la fiebre;
recatadamente, yo, este breve resplandor de la materia,
quedaba en sueños, en frenarme, en negar la furia
y disparar toda aventura, maravilla,
hacia un laberinto de aguas negras, de estupor,
de olvido, de penumbra acaso.
Pero —ya es así—, la triste fiera,
siempre, desde el fondo,
ruge en medio del desierto.

Às vezes me pergunto que tipo de animal gentil

Às vezes me pergunto que tipo de animal gentil,
que o consumo de pele venenosa alimenta
o pêndulo do dia, as horas aprazíveis,
de costumes aquietados ;
que desejo que como estrela se congela,
e vai se enfraquecendo até que o sopro, levemente,
se diluí em cinzas.
Penso em outras noites, não de tristes lembranças,
em que tudo era um tremor, uma canção de sangue,
um girar apenas das folhas,
a crepitação, o nevoeiro, a densidade escura e quente
de outro corpo;
penso já sem nostalgia,
e sinto que este quente animal que sou nas raízes,
já estava sonhando com novas formas que encontravam-se na febre;
recatadamente, eu, neste breve esplendor da matéria,
ficava em sonhos, a me frear, para negar a fúria
e disparar toda a aventura, maravilha,
até um labirinto de águas negras, estupor,
do esquecimento, de penumbra, por acaso.
Porém, já é assim – e o animal triste,
sempre, a partir do fundo,
ruge no meio do deserto.