Saturday, May 31, 2008

AINDA WALCOTT

Midsummer, Tobago

Derek Walcott
Broad sun-stoned beaches.
White heat.
A green river.
A bridge,
scorched yellow palms
from the summer-sleeping house
drowsing through August.

Days I have held,
days I have lost,
days that outgrow,
like daughters, my harbouring arms.

Meio verão, Tobago

Largas praias apedrejadas de sol.

Um calor branco.
Um rio verde.

Uma ponte,
Chamuscada de palmas amarelas.
Uma sonolenta casa de veraneio
Afogando-se em agosto.

Dias que prendi,
Dias onde me perdi,


Dias que superei, como filhas,
Em meus braços se abrigando.
Ilustraçâo: A Madona de Edward Münch

WALCOTT DE VOLTA

Love After Love

Derek Walcott

The time will come
When, with elation,
You will greet yourself arriving
At your own door, in your own mirror,
And each will smile at the other’s welcome,

And say, site here. Eat
You will love again your self.
Give wine. Give bread. Give back your heart
To itself, to the stranger who has laved you

All your life, whow you ignore
For another, who knows you by heart.
Take down the love letters from the bookshelf,

The photographs, the desperate notes,
Peel your own image from the mirror.
Sit. Feast on your life.


O Amor Depois do Amor

Há de vir o tempo
Quando, com alegria,
Hás de saudar a ti mesmo chegando
Na tua própria porta. No teu próprio espelho
E cada sorriso dará boa vinda aos outros.

E dirás, senta aqui. Come
Tu amarás novamente a ti mesmo.
Dê o vinho. Dê o pão. Dê outra vez seu coração
Para si mesmo, para o estranho que te amou

Por toda a vida, o qual ignoras
Por outro, que te conhece pelo coração.
Retira de volta as cartas de amor da estante,

As fotografias, as desesperadas notas,
Retoca tua própria imagem no espelho.
Senta. Sinta o prazer de tua vida.

Thursday, May 29, 2008

A DOR DA VIDA, QUERIDA


The Flower


Robert Creeley


I think I grow tensions
like flowers
in a wood where
nobody goes.
Each wound is perfect,
enclosed itself
in a tiny imperceptible blossom,
making pain.
Pain is a flower,
like that one,
like this one,
like that one,
like this one.


A Flor

Eu penso que crio tensões
como flores
num jardim onde
ninguém vai.
Cada ferida é perfeita,
enclausurada em si mesma
como um leve e imperceptível botão
causando dor.
A dor é como uma flor,
como aquela
como esta,
como qualquer uma
como ela mesma.

Wednesday, May 28, 2008

DO FUNDO DO BAÚ


Menu Fretin

Blaise Cendrars

Lê ciel est d’um bleu cru
Lê mur d’ena face est d’um blanc cru
Lê soleil cru me tape sur la tête
Une négresse installé sur une petite
terrasse fait frire de toul petit
poissons sur um réchaud découpé
dans une vieille toite à biscuits
Deux négrillons rougent une
tigre de canne à sucre

Peixe Miúdo

O céu é de um azul cru
O muro da frente de um branco cru
O sol cru me golpeia a cabeça
Uma negra sobre um pequeno terraço
frita pequenos peixes
em pequenas porções sobre um fogareiro
feito de uma velha lata de biscoitos.
Dois negrinhos chupam cana de açúcar

UM POETA DO URUGUAI


LO INEFABLE

Delmira Agustini


Yo muero extrañamente... No me mata la Vida,
no me mata la Muerte, no me mata el Amor;
muero de un pensamiento mudo como una herida.
¿No habéis sentido nunca el extraño dolor de un
pensamiento inmenso que se arraiga en la vida
devorando alma y carne, y no alcanza a dar flor?
¿Nunca llevasteis dentro una estrella dormida
que os abrasaba enteros y no daba fulgor...?
¡Cumbre de losMartirios...¡Llevar eternamente,
desgarradora y árida, la trágica simiente
clavada en las entrañas como un diente feroz...!
Pero arrancarla un día en una flor que abriera
milagrosa, inviolable... ¡Ah, más grande no fuera
tener entre las manos la cabeza de Dios!

O Inefável

Eu morro estranhamente...Não me mata a vida,
Não me mata a morte, não me mata o amor;
Morro de um pensamento mudo como uma ferida.
Não sentistes nunca uma estranha dor

De um pensamento imenso que se prende à vida
Devorando alma e carne, e não consegue dar flor?
Nunca levastes dentro de ti uma estrela adormecida
Que se incendiava inteira, mas não dava fulgor?

O maior dos martírios....! Levar eternamente
Desenraizada e árida, a trágica semente
Cravada nas entranhas como um dente feroz

Porém, arrancá-la um dia numa flor que se abria
Milagrosa, inviolável...Ah! Maior não seria
Ter a cabeça de Deus nas mãos de nós!

Tuesday, May 27, 2008

JÁ NEM SEI...


DUALIDADE

Saberás que já não te amo muito tarde
Quando o fogo tiver o gosto extinto.
De todas as coisas que ainda sinto
E do fogo que ainda em mim arde.
Eu não te amo por ainda assim amar-te,
Como se fosse apenas como o instinto
De buscar fazer verdade do que minto
Transformar em todo o que é só parte.
Te amo, e não te amo, como se tivesse
Nas mãos os sonhos frágeis da menina
Que a incerteza de frustrar me detivesse
E ao meu amor que como um louco clamo,
Mas é loucura, justamente, por ser sina
Não te amar assim do jeito que te amo.

Sunday, May 11, 2008

O BEM OU O MAL DE CERTAS NOITES

MAUI NIGHT

by Vernyce Dannells
Sometimeswhen the air is fevered
and breathing seems the only motion in the universe
we know the stars will lose their places
and streak a radiant trajectory to earth
It is these nights we seek the air mattress, tarp
and build a careful bed in the backyard still.
We awaken, dog nestling right, cat opposing
moon muzzling sunrise
We’ve clutched each other – not against cold
but solitude.
[]

Noite Maui

Algumas vezes quando o ar está fervido
e respirar parece ser o único movimento no universo
nós sabemos que as estrelas irão perder seus lugares
e uma seqüência de radiante trajetória para a terra.
São nestas noites que nós procuramos um colchão de ar, casaco
e ainda construir uma cuidadosa cama no quintal.
Nós despertamos, cão aninhado direito, gato oposto
à lua amordaçando o nascer do sol
Nós nos cutucamos uns aos outros - e não contra o frio
mas contra a solidão.

Saturday, May 10, 2008

UMA POETISA DA NICARÁGUA

Quebrá la Luna

Gioconda Belli

Quebrá la luna entre tus manos,
hacela pedazos
y úntate de su polvo fino y negro.


Protejámonos de los símbolos y de los sueños,
cubrámonos de las frustraciones
con una costra dura de realidad.
Aceptemos el día como día
y la noche como noche,
pasando por el tiempo
con la espalda recta y los ojos secos;
porque la mente no es dueña de la vida
y los deseos no son las leyes:
hay que acatar la moral y el orden,
revestirnos de una sonrisa de bolsillo,
apretarnos el corazón en un puño
y aceptar el sacrificio.

Quebra a lua

Quebra a lua entre suas mãos,
Faz em pedaços
E se cobre de sua poeira fina e preta.

Protejamo-nos dos símbolos
e dos sonhos,
cubramo-nos das frustrações
com uma crosta dura de realidade.

Aceitemos o dia como o dia
e a noite como a noite,
passando pelo tempo
com a espinha reta e os olhos secos;
porque a mente não é dona da vida
nem os desejos são leis:
Há que acatar a moral e a ordem,
revestirmo-nos de um sorriso de bolso,
apertarmos o coração num punho
e aceitar o sacrifício.

OUTRA VEZ MIESES BURGOS

AMOR

Franklin Mieses Burgos

("Quien a las llamas del amor no muere")


Es el amor en todas las edades
del ser que valeroso lo frecuenta,
una oscura semilla que fermenta
en etapas de calma y tempestades.
Más dado a lo irreal que a realidades
del suelo material donde se asienta,
va como oveja dulce que apacienta
en prados de celestes claridades.
Arquitecto del cielo que idealiza:
arde desde la lava a la ceniza
de sus propios volcanes desatados.
Hasta que por el fuego que lo inflama,
es consumido por la misma llama,
"en soledad de dos acompañados".

Amor

“Quem nas chamas do amor não morre?”

É o amor em todas as idades
Do ser que valoroso o freqüenta
Uma escura semente que fermenta
Em etapas de calma e tempestades.

Mais dado ao irreal que a realidades
Do solo material onde se assenta,
Vai como ovelha doce que se apascenta
Em prados de celestes claridades.

Arquiteto do céu que idealiza:
Arde desd' a lava até a cinza
De seu próprios vulcões desatados.

Até que pelo fogo que o inflama,
É consumido pela mesma chama,
“Na solidão de dois acompanhados”.

UM POETA DA REPÚBLICA DOMINICANA




Franklin Mieses Burgos


Mayo trajo la flor, la milagrosa
palabra vegetal que arrulla el viento.
Mayo pobló su propio firmamento
con la sola presencia de una rosa.
Yo la miré ascender tan jubilosa
a su pequeño, débil monumento,
que fue como si viera el nacimiento
de una terrestre aurora luminosa.
Era su viva lumbre madrugada
una encendida hoguera encarcelada
en el cielo cerrado de su esfera.
Única roja rosa amanecida.
Rosa de una estación empobrecida.
¡Sólo con ella fue la primavera!
Humilde Maio

De maio trago a flor, a milagrosa
Palavra vegetal que arrulha o vento.
Maio povoa seu próprio firmamento
Somente com a presença de uma rosa.

Eu a vi ascender tão jubilosa
Em seu pequeno, débil monumento,
Que foi como se vira o nascimento
De uma terrestre aurora luminosa.

Era sua viva luz da madrugada
Uma acesa fogueira encarcerada
No céu fechado de sua própria esfera

Única rosa vermelha amanhecida
Rosa de uma estação empobrecida.
Só com ela contando a primavera!

Monday, May 05, 2008

OS MOMENTOS INESQUECÍVEIS


Reminiscências

Nem quero pensar
Em tanto amor que tive
Nem nos tempos felizes
Que vivi nos teus braços.
Hoje sinto que os espaços,
E o tempo, são miúdos, pequenos
E a ternura e o desejo mais amenos.
Que já não existe a sofreguidão,
A procura, a pressa, a loucura
Do tempo em tudo era ilusão
E que respirar era viver.

Saturday, May 03, 2008

UMA POETISA INGLESA


XLIII

Elizabeth Barrett Browning

How do I love thee? Let me count the ways.
I love thee to the depth and breadth and height
My soul can reach, when feeling out of sight
For the ends of Being and ideal Grace.

I love thee to the level of everyday's
Most quiet need, by sun and candlelight.
I love thee freely, as men strive for Right;
I love thee purely, as they turn from Praise.

I love thee with the passion put to use
In my old griefs, and with my childhood's faith.
I love thee with a love I seemed to lose
With my lost saints,--I love thee with the breath,
Smiles, tears, of all my life!--and, if God choose,
I shall but love thee better after death.

XLIII

Como eu te amo? Impossível saber os meios.
Eu te amo com a profundidade de abismos e altitudes,
onde a alma alcança o azul da visão das plenitudes,
Para além do próprio ser, do ideal e dos receios.

Eu te amo dia a dia, com cândida beatitude,
desde da luz da manhã até ao anoitecer;
eu te amo livremente, sem leis nem poder;
eu te amo com orgulho, com paixão e atitude.

Eu te amo com um amor que parece desencanto,
com a fé infantil, que permanece forte,
E inabalável como a dos crentes e dos santos.

Eu te amo com paixão, com lágrimas e sorte.
E se Deus o quiser, implorando aos prantos,
amar-te-ei, também, até depois da própria morte!