Tuesday, April 29, 2008

SENTIMENTOS INCONSCIENTES


Muitas vezes
Te amei com um ódio
sem tamanho
que tudo confundia.

Certas vezes te vi anjo
ou demônio
e subi aos céus
e desci ao inferno
violento ou terno.

Muitas vezes
te amei com um amor
tão sem limites
que tudo se embaralhava.

Certas vezes
dormi sem desejo ou cansaço
e gozei como um devasso
ou fui puro como um santo
imerso no pecado.

Muitas vezes
não tive a menor
noção do que fosse o amor
e, para mim, tudo era só sexo.

Certas vezes
tive a sensação
de que amar ou odiar
era só uma ilusão
que nem importava
ser pecador ou santo.

Tantas vezes
te amei
que o amor se tornou um hábito
e, um dia, dormi com uma amante
e acordei com uma irmã.

Tuesday, April 22, 2008

AMANTES II

Jorge Gaitán Durán

Desnudos afrentamos el cuerpo
como dos ángeles equivocados,
como dos soles rojos en un bosque oscuro,
como dos vampiros al alzarse el día,
labios que buscan la joya del instante entre dos muslos,
boca que busca la boca, estatuas erguidas
que en la piedra inventan el beso
sólo para que un relámpago de sangres juntas
cruce la invencible muerte que nos llama.
De pie como perezosos árboles en el estío,
sentados como dioses ebrios
para que me abrasen en el polvo tus dos astros,
tendidos como guerreros de dos patrias que el alba separa,
en tu cuerpo soy el incendio del ser.

Amantes II
Despidos enfrentamos o corpo
Como dois anjos equivocados,
Como dois sóis roxos num bosque escuro,
Como dois vampiros ao se fazer o dia,
Lábios que buscam a jóia do instante entre dois músculos,
Boca que busca a boca, estátuas erguidas
Que na pedra inventam o beijo
Somente para que um relâmpago de sangue juntas
Cruze a invencível morte que nos chama.
De pé como pesarosas árvores no estio,
Sentados como deuses ébrios
Para que me abracem como um polvo teus dois astros,
Estendidos como guerreiros de duas pátrias que o amanhecer separa,
No teu corpo sou o incêndio do ser.

Wednesday, April 16, 2008

DOROTHY PARKER

A Very Short Song

Dorothy Parker

Once, when I was young and true,
Someone left me sad-
Broke my brittle heart in two;
And that is very bad.

Love is for unlucky folk,
Love is but a curse.
Once there was a heart I broke;
And that, I think, is worse.
Uma Canção Muito Curta

Certa vez, quando fui jovem e real,
Alguém me deixou triste -
Partindo meu coração em dois;
E isto é muito ruim.
Amor é para azaradas folclóricas,
O amor é feito uma maldição.
Certa vez houve um coração quebrado;
E lá, penso, foi muito pior.

UM AMOROSO POETA COLOMBIANO


POEMAS DE AMOR II

Dario Jaramillo Agudero

Podría perfectamente suprimirte de mi vida,
no contestar tus llamadas, no abrirte la puerta de la casa,
no pensarte, no desearte, no buscarte en ningún lugar común y no volver a verte,
circular por calles por donde sé que no pasas,
eliminar de mi memoria cada instante que hemos compartido,
cada recuerdo de tu recuerdo,
olvidar tu cara hasta ser capaz de no reconocerte,
responder con evasivas cuando me pregunten por ti
y hacer como si no hubieras existido nunca.
Pero te amo.

Poemas de Amor II
Podia perfeitamente suprimir-te de minha vida,
Não responder teus chamados, não abrir a porta de casa,
Não pensar em ti, não te desejar,
Não te buscar em nenhum lugar nem voltar a te ver,
Circular somente por ruas onde não passas,
Eliminar de minha memória cada instante que temos compartilhado,
Cada recordação de tua recordação,
Esquecer teu rosto até ser capaz de não te reconhecer,
Responder com evasivas quando me perguntem por ti
E fazer como se não tivesses existido nunca.
Porém, te amo.

Wednesday, April 09, 2008

BENEDETTI

Confidencial

Mário Benedetti

Fueron jóvenes los viejos
pero la vida se ha ido
desgranando en el espejo

y serán viejos los jóvenes
pero no lo divulguemos
que hasta las paredes oyen.

Confidencial

Os velhos foram novos
porém a vida foi
se descascando no espelho

e serão velhos os jovens
porém não o divulguemos
que até as paredes têm ouvidos.

Tuesday, April 08, 2008

UM POEMINHA DE STEIN


Red Faces

Gertrude Stein

Red flags the reason for pretty flags.
And ribbons.
Ribbons of flags
And wearing material
Reason for wearing material.
Give pleasure.
Can you give me the regions.
The regions and the land.
The regions and wheels.
All wheels are perfect.
Enthusiasm.

As Faces Vermelhas

As bandeiras vermelhas são a razão das bandeiras serem bonitas.
E as fitas.
As fitas das bandeiras
E o vestido material
Razão para o material vestido
Dar prazer.
Pode você me dar as regiões.
As regiões e a terra.
As regiões e as rodas.
Todas as rodas são perfeitas.
Entusiasmo.

Friday, April 04, 2008

OUTRO POETA DO MÉXICO

BITACORA DEL REGRESO

Sergio Cordero

¿no es el acto que apresa la ironía
obstinado creador de mis recuerdos?

1
¿dónde están las paredes que viví?
remuevo el barro fresco
de las casas antiguas
y descubro
los rasgos de mi padre
2
porque hay días que no puedo perder
en esta ciudad ciega
yo la amo
aquí la luz se da como los frutos
es un sitio cuidado desde el simple poder
de una mirada
mordiéndose los labios
3
pon las manos en la noche más alta de tu pecho
asómate al abismo
la pregunta
confiesa tu rencor por esta tierra
deseas que vaya al sitio donde el sol
ha secado mis pasos
y por eso al tocarte
me acaricio

Vivir al margen, 1987


Caderno do Regresso

Não é o ato que apressa a ironia
obstinado criador de minhas memórias?

1
Onde estão as paredes em que vivi?
Removo o barro fresco
das casas antigas
e descubro
traços de meu pai
2
porque há dias em que não posso
me perder
nesta cidade cega
que amo
aqui a luz se dá como as frutas
é um local cuidado desde do simples poder
de um olhar
mordendo-se os lábios.
3
ponho as mãos na noite mais alta de teus seios
aproxima-se do abismo
a pergunta
confessa teu rancor por esta terra
desejas que vá ao local onde o sol
secou meus passos
e por isto ao tocar-te
me acaricio.

Viver à Margem, 1987

NÃO QUE SEJA FÁCIL


The House Was Quiet And The World Was Calm

Wallace Stevens

The house was quiet and the world was calm.
The reader became the book; and summer night

Was like the conscious being of the book.
The house was quiet and the world was calm.

The words were spoken as if there was no book,
Except that the reader leaned above the page,
Wanted to lean, wanted much to be
The scholar to whom his book is true, to whom
The summer night is like a perfection of thought.
The house was quiet because it had to be.
The quiet was part of the meaning, part of the mind:
The access of perfection to the page.
And the world was calm. The truth in a calm world,
In which there is no other meaning, itself
Is calm, itself is summer and night, itself
Is the reader leaning late and reading there.

A Casa Era Quieta e o Mundo Estava Calmo
A casa era quieta e o mundo estava calmo.
O leitor se tornou o livro; e a noite de verão
Era como a consciência de ser o livro.
A casa era quieta e o mundo estava calmo.
As palavras eram faladas, como se não houvesse livro,
Exceto que o leitor se inclinava sobre a página,
Queria inclinar-se, queria muito ser
O estudioso o qual seu livro é, na verdade, para quem
A noite de verão é como a perfeição do pensamento.
A casa era quieta porque tinha de ser.
A calma fazia parte do sentido, parte da mente:
O acesso à perfeição da página.
E o mundo estava calmo. A verdade na calma do mundo,
No qual não existe nenhum outro significado, em si mesma.
É calma, ela mesma o verão e a noite, ela própria
É o leitor inclinado tardiamente lendo ali.

Thursday, April 03, 2008

UM POEMA DE CORTAZAR

Soneto erótico

Julio Cortazar

A sonnet in a pensive mood.

Para C.C., que paseaba por las calles de Nairobi

Su mono azul le cine la cintura,
le amanzana las nalgas y los senos,
la vuelve um muchachito y le da plenos
poderes de liviana arquitectura.

Al viento va la cabellera oscura,
es toda fruta y es toda venenos;
el remar de sus musclos epicenos
inventa uma fugaz psicultura.

Amazona de mono azul, el arte
la fija en este rito paralelo,
cambiante estela a salvo de mudanza;

viejo poeta, mirala mirarte
con ojos que constelan otro cielo
donde no tiene puerto tu esperanza.


Soneto erótico

Um soneto no modo pensativo

Para C.C., que passeava pelas ruas de Nairobi

Seu macacão azul apertava a cintura,
Amansava as nádegas e os seios,
Tornando-a um rapazinho com plenos
Poderes de uma clara arquitetura.

No vento flutua a cabeleira escura,
Que é toda fruta e toda venenos;
Ao remar de seus músculos epicenos
Que inventa uma fugaz piscicultura.

Amazona de macacão azul, a arte
Conserva-a num rito paralelo,
cambiante estrela a salvo da mudança;

O velho poeta, ao mirá-la, mira a arte
Com os olhos que, no céu, tem outro anelo
No qual não tem porto nem esperança.

Wednesday, April 02, 2008

UM POETA DO MÉXICO

CONTRADICTIO (1)

Marco Antonio Campos

El ajedrez de la muerte
se quedó en una pieza
Arrojo los naipes, trémulo, incendiado
y no dicen mi suerte
Y tuve una bestia de orgullo
que arrastró mi bestia
Moribunda,
una mujer pasea triste, descalza en la calle
Y es tarde para ser otro hombre
Salgo de mi casa, pontífice, ajeno,
con el crucifijo -una mujer-
colgado en mi tristeza
Si regreso, señor,
quiero ser otro pero no Campos
¿Para qué vivir agarrado como loco al reloj?
Ya la gula de vivir se detuvo en mi garganta
Y mísera mi perra más odiada fue la angustia
Pero, Señor, yo converso en voz alta,
Antes, en otro oceáno,
arrepentí, modifiqué el pasado
Y tus ojos caminaron tristes, inmensos,
en las pájinas de mis libros
Mañana partiré, me iré del todo
Aunque hoy puedo decir:
tengo amigos, no amo a mujer alguna,
el tétano del sol duerme en la ciudad de México

Muertos y Disfraces, 1974


CONTRADIÇÃO (1)

O xadrez da morte
Esbarrou numa peça.
Arrojou os naipes, trêmulo, incendiado
E não disse minha sorte.
E tive um besta orgulho
Que arrastou minha besta
Moribunda,
Uma mulher passeia triste, descalça na rua,
E é tarde para ser outro homem
Saio de minha casa, pontífice, alheio,
Com o crucifixo-uma mulher-
Preso em minha tristeza
Sem regresso, senhor,
Quero ser outro, porém não Campos
Para que viver agarrado como louco ao relógio?
Já o desejo de viver se deteve em minha garganta
E mísera minha cadela mais odiada foi a angústia,
Porém, senhor, eu converso em voz alta,
Antes, em outro oceano,
Me arrependi, modifiquei o passado,
E teus olhos caminharam tristes, imensos
Nas páginas de meus livros,
Amanhã partirei, irei de todo
Ainda que hoje não possa dizer:
Tenho amigos, não amo mulher alguma
O gérmen do sol dorme na cidade do México.

Mortos e Disfarces, 1974.

Tuesday, April 01, 2008

OUTRO POETA DA COLÔMBIA

CANCIÓN

Piedad Bonnet

Nunca fue tan hermosa la mentira
como en tu boca,
en mediode pequeñas verdades banales
que eran todo
tu mundo que yo amaba,
mentira desprendida
sin afanes, cayendo
como lluvia,
sobre la oscura tierra desolada.
Nunca tan dulce fue la mentirosa
palabra enamorada apenas dicha,
ni tan altos los sueños
ni tan fiero
el fuego esplendoroso que sembrara.
Nunca, tampoco,
tanto dolor se amotinó de golpe,
ni tan herida estuvo la esperanza.
Canção

Nunca foi tão formosa a mentira
Como em tua boca, no meio
De pequenas verdades banais
Que eram todo
Teu mundo que eu amava,
Mentira desprendida
Sem pressa, caindo
Como a chuva,
Sobre a terra escura desolada.
Nunca tão doce foi a mentirosa
Palavra enamorada apenas dita,
Nem tão alto os sonhos
Nem tão feroz
O fogo esplendoroso que acendia.
Nunca, tampouco,
Tanta dor se amotinou de um golpe
Nem tão ferida esteve a esperança.