Wednesday, July 31, 2019

Uma poesia de Sylviane Dupuis


 
Sylviane Dupuis                                                                  

Creuser
– seule loi, pour qui encor s’obstine
à désirer : l’espace autour de nous
a fondu, là-bas n’est plus
qu’au-dedans – seul
labyrinthe

escavação
- única lei, para quem se obstina
a desejar: o espaço em volta de nós
derretido, não há mais
somente dentro - unicamente
labirinto

Ilustração: passapalavra.info.

Uma poesia de Alain Freixe



Lieu d’oubli                                           

Alain Freixe

                      A Sylvain Besançon,
(…)

labyrinthe
aux pierres voilées
de rêves
aux miroirs incendiés
d’air
lieu d’oubli
où seule importe
la musique
qui voit dans les lignes
leur mouvement d’aiguilles
incertaines
le temps
s’enrouler sur lui-même
comme la vague
avant qu’elle ne déferle
et ne se perde au rivage
comme si la nuit
des sables
avait besoin de la lumière
de ses eaux
de ses fils de soleil
pour coudre son noir
au vide de ses fonds

dehors
la bougie noire de l’écume
crépite dans les sables
entre les grains

(…)

LUGAR DO ESQUECIMENTO

                 Para Sylvain Besançon,
(...)
Um labirinto
com pedras veladas
de sonhos
com espelhos queimados
do ar
de esquecimento
onde apenas
a música
que vê nas linhas
do movimento de agulhas
incerto
o tempo a se
enrolar em si mesmo
como a onda
antes de quebrar
e não se perder na praia
como se a noite
das areias
precisasse da luz
de suas águas
dos filhos do sol
para costurar sua obscuridade
ao vazio de seus fundos

aparentemente
a vela escura de espuma
treme nas areias
entre os grãos
(...)

Ilustração: inni.

Tuesday, July 30, 2019

De volta a grande poesia de Jorge Luis Borges





SOY

Jorge Luis Borges

Soy el que sabe que no es menos vano
que el vano observador que en el espejo
de silencio y cristal sigue el reflejo
o el cuerpo (da lo mismo) del hermano.

Soy, tácitos amigos, el que sabe
que no hay otra venganza que el olvido
ni otro perdón. Un dios ha concedido
al odio humano esta curiosa llave.

Soy el que pese a tan ilustres modos
de errar, no ha descifrado el laberinto
singular y plural, arduo y distinto,

del tiempo, que es uno y es de todos.
Soy el que es nadie, el que no fue una espada
en la guerra. Soy eco, olvido, nada.

SOU

Sou o que sabe que não é menos vão
que o vão observador que no espelho
de silêncio e de cristal segue o vermelho
reflexo ou o corpo(dá no mesmo) do irmão.

Sou, tácitos amigos, o que sabe
que não há outra vingança ou o olvido
nem outro perdão. Um deus há concedido
ao ódio humano esta curiosa chave.

Sou o que pese tão ilustres modos
de errar, não decifrou o labirinto
singular e plural, árduo e distinto,

do tempo, que é de um e é de todos.
Sou o que é ninguém, o que não foi  uma espada
na guerra. Sou eco, esquecimento, nada.

Ilustração: quadrinhosdehistoria.wordpress.com.

TRIBUTO A UMA THURMAN




Ser  Uma Karuna Thurman                                                         
não é destino para qualquer um.
Antes de mais nada
é indispensável ter pés, mãos e um nariz grande
sem perder o charme e a calma
e ter um olhar que traz o céu,
revela o mar e a alma,
mas, pode ser o inferno
para quem não perceber
que se trata de alguém
nascida para vencer
qualquer obstáculo.
Uma
é uma atriz sem limites,
uma diva.
Com um simples olhar,
como sua personagem,
é capaz de matar
qualquer ilusão
de que não seja capaz de roubar
o seu coração!

Ilustração: filmes.band.uol.com.br.

Outra poesia de Andrea Zanzotto




LA PERFEZIONE DELLA NEVE

Andrea Zanzotto

Quante perfezioni, quante
quante totalità. Pungendo aggiunge.
E poi astrazioni astrificazioni formulazione d’astri
assideramento, attraverso sidera e coelos
assideramenti assimilazioni –
nel perfezionato procederei
più in là del grande abbaglio, del pieno e del vuoto,
ricercherei procedimenti
risaltando, evitando
dubbiose tenebrose; saprei direi.
Ma come ci soffolce, quanta è l’ubertà nivale
come vale: a valle del mattino a valle
a monte della luce plurifonte.
Mi sono messo di mezzo a questo movimento-mancamento radiale
ahi il primo brivido del salire, del capire,
partono in ordine, sfidano: ecco tutto.
E la tua consolazione insolazione e la mia, frutto
di quest’inverno, allenate, alleate,
sui vertici vitrei del sempre, sui margini nevati
del mai-mai-non-lasciai-andare,
e la stella che brucia nel suo riccio
e la castagna tratta dal ghiaccio
e – tutto – e tutto-eros, tutto-lib. libertà nel laccio
nell’abbraccio mi sta: ci sta,
ci sta all’invito, sta nel programma, nella faccenda.
Un sorriso, vero? E la vi(ta) (id-vid)
quella di cui non si può nulla, non ipotizzare,
sulla soglia si fa (accarezzare?).
Evoè lungo i ghiacci e le colture dei colori
e i rassicurati lavori degli ori.
Pronto. A chi parlo? Riallacciare.
E sono pronto, in fase d’immortale,
per uno sketch-idea della neve, per un suo guizzo.
Pronto.
Alla, della perfetta.
«È tutto, potete andare.»


A PERFEIÇÃO DA NEVE

Quanta perfeição, quanta,
quanta totalidade. Incho pungindo.
E depois abstrações, astrificações, formulação de astros,
sideração, através de sidera et coelos
siderações assimilações -
no processo de aperfeiçoamento
para além do grande deslumbramento, da pleno e do vazio,
procuraria procedimentos
ressaltando, evitando
dúvidas tenebrosas; diria, saberei.
Mas, como nos sufoca, quanto exuberância da neve
Como se aplica: pela costa abaixo da manhã
pela costa acima da luz plurifonte.
Me coloquei fora da falha do movimento-desfalecimento radial
Aí o primeiro escalar da ascensão, da compreensão,
começa em ordem, desafia: eis tudo.
A tua consolação, insolação e a minha, fruto
deste inverno aliado, ensaiado
sobre os vértices vítreos de sempre, sobre as margens nevadas
do nunca-nunca-não-deixo-ir,
e a estrela que brilha no seu cacho
e a castanha colhida no frio
e-tudo-todo-eros, tudo-lib. liberdade no laço,
está no abraço: está
no convite, encontra-se no programa, no assunto.
Um sorriso, verdade? E a vi(da) (id-vid)
sobre a que não se pode criar hipóteses,
no limiar faz-se (acariciar)
Evoé ao longo das culturas de gelo e cor
e os tranquilos trabalhos de ourivesaria
Pronto. De quem estou falando? Reconectar.
Estou pronto, em fase imortal,
para um esboço-ideia da neve, para o seu esplendor.
Pronto.
Na perfeição.
«É tudo. Podeis seguir»

Ilustração: radiofresh.it.

Outra poesia de Archibald MacLeish





Psyche with the candle

Archibald MacLeish

Love which is the most difficult mystery
Asking from every young one answers
And most from those most eager and most beautiful--

Love is a bird in a fist:
To hold it hides it, to look at it lets it go.
It will twist loose if you lift so much as a finger.
It will stay if you cover it-- stay but unknown and
invisible.
Either you keep it forever with fist closed
Or let it fling
Singing in fervor of sun and in song vanish.
There is no answer other to this mystery.


PSIQUE COM LANTERNA

Amor que é o mistério mais difícil
Pede de cada jovem uma resposta
E mais dos mais ardentes e formosos

O amor é um pássaro na mão:
Para segurá-lo, esconde-o, o olhar, é deixa-lo ir.
Ele voará solto se levantares demasiado um dedo.
Ficará se o cobres - ficará, mais escondido e
invisível.
Guarda-o para sempre com o punho fechado
Ou deixe-o voar
Cantando no fervor do sol e na música desaparecida.
Não há outra resposta para este mistério.

Ilustração: pxhere.com.

Poeminha para elogiar John Travolta



Para quem começou a carreira dançando
não há dúvida que John Travolta
rodopiou muito nos palcos e nas telas.
E mais certeza se tem
do grande ator que é
quando consegue sucesso até
no papel de mulher.
Em certos momentos,
como um bom piloto,
voa tão alto
que parece Marlon Brando
(ou será que Marlon Brando
é Travolta disfarçado?).
De qualquer forma,
não se pode ignorar
quem no cinema
cresce tanto
que a tela,
com seu mágico encanto,
parece ficar pequena.



Outra poesia de Maurizio Cucchi


AGNESE                                              
Maurizio Cucchi

Il mio risveglio è stato nel tuo nome
sussurrato e un saluto un bianco sogno
Agnese che ritorni ombra che passi figuretta
bianca sottile che non mi ami.
Io ti seguo con l’occhio e con la penna
mentre scivoli e c’è la guerra
in Santa Maria Fulcorina. Sono poco
un adolescente un angelo una fantasia
sono un signore che ti pensa e inventa
mite e vile affettuoso e coltivo
la mia mania.

AGNES
(Mas, poderia ser Li ou Tânia)

Meu despertar estava em teu nome
sussurrado e uma saudação de um branco sonho
Agnes, que retorna à sombra de uma pequena figura
branca fina que não me ama.
Eu te sigo com o olhar e a caneta
enquanto desliza e há guerra
em Santa Maria Fulcorina. Sou pequeno
um adolescente um anjo uma fantasia
Sou um cavalheiro que pensa em ti e inventa
vil e covarde afetuoso e cultivo
a minha mania.

Ilustração: flickr.com.

Outra poesia de Katherine Mansfield


MALADE                        
Katherine Mansfield

The man in the room next to mine
has the same complaint as I.
When I wake in the night I hear him turning.
And then he coughs.
And I cough.
And after a silence I cough. And he coughs again.
This goes on for a long time.
Until I feel we are like two roosters
calling to each other at false dawn.
From far-away hidden farms.

DOENTE

O homem do quarto vizinho ao meu
tem a mesma doença que a minha.
Quando acordo de noite o escuto dando voltas e depois tosse.
E tusso eu.
E depois de um silêncio eu tusso. E ele tosse de novo.
Isto se passa por um longo tempo.
Até que sinto que somos como dois galhos
chamando-se em um falso amanhecer
desde fazendas grandes e escondidas.

Ilustração: Artmajeur.

Monday, July 29, 2019

Uma poesia de Katherine Mansfield


WHY LOVE IS BLIND                             

Katherine Mansfield

The Cupid child tired of the winter day
Wept and lamented for the skies of blue
Till, foolish child! He cried his eyes away-
And violets grew.


POR QUE O AMOR É CEGO 

O Cupido criança cansada dos dias de inverno
chorava lamentando-se pelo céu triste
Até que, menino tolo! Chorou até seus olhos doerem;
e as violetas cresceram.

Ilustração: Coisas Do Amor...

Uma poesia de Archibald MacLeish


ARS POETICA              
Archibald MacLeish

A poem should be palpable and mute
As a globed fruit

Dumb
As old medallions to the thumb

Silent as the sleeve-worn stone
Of casement ledges where the moss has grown -

A poem should be wordless
As the flight of birds

A poem should be motionless in time
As the moon climbs

Leaving, as the moon releases
Twig by twig the night-entangled trees,

Leaving, as the moon behind the winter leaves,
Memory by memory the mind -

A poem should be motionless in time
As the moon climbs

A poem should be equal to:
Not true

For all the history of grief
An empty doorway and a maple leaf

For love
The leaning grasses and two lights above the sea -

A poem should not mean
But be

ARS POETICA


Um poema deve ser palpável e mudo
como uma fruta redonda

Sem voz
Como os medalhões antigos para o polegar

Silenciosa como a pedra usada na manga
das bordas do batente onde o musgo cresceu -

Um poema deveria ser sem palavras
Como o vôo dos pássaros

Um poema deve estar imóvel no tempo
enquanto a lua sobe

Deixando, como a lua solta
ramo por ramo as árvores as árvores enredadas pela noite,

Deixando, como a lua por trás das folhas de inverno,
lembrança por lembrança a mente -

Um poema deve estar imóvel no tempo
enquanto a lua sobe

Um poema deve ser igual a:
não é certo

Por toda a história do luto
uma porta vazia e uma folha de bordo

Por amor
as gramas inclinadas e as luzes sobre o mar -

Um poema não deve significar
sim ser

Ilustração: Saatchi Art.