Friday, September 30, 2011

Ainda Eliseo Diego


COMIENZA UN LUNES

Eliseo Diego


La eternidad por fin comienza un lunes
y el día siguiente apenas tiene nombre
y el otro es el oscuro, al abolido.
Y en él se apagan todos los murmullos
y aquel rostro que amábamos se esfuma
y en vano es ya la espera, nadie viene.
La eternidad ignora las costumbres,
le da lo mismo rojo que azul tierno,
se inclina al gris, al humo, a la ceniza.
Nombre y fecha tú grabas en un mármol,
los roza displicente con el hombro,
ni un montoncillo de amargura deja.
Y sin embargo, ves, me aferro al lunes
y al día siguiente doy el nombre tuyo
y con la punta del cigarro escribo
en plena oscuridad: aquí he vivido.


Começa na segunda

A eternidade, por fim, começa na segunda-feira
e, no dia seguinte, só tem um nome
e é outro é o escuro, quando abolido.
E nele se apagam todos os sussurros
e aquele rosto que amávamos está desaparecido
e em vão é a espera, ninguém vem.
A eternidae ignora os costumes,
lhe dá o mesmo o vermelho ou o azul terno,
se inclina ao cinza, à fumaça, as cinzas.
Nome e data tu gravas no mármore,
os roça displicente com o ombro,
nem um montículo de amargura deixa.
E sem embargo, vês me aferro à segunda-feira
e ao dia seguinte dou o nome teu
e com a ponta do charuto escrevo
em plena a escuridão: aqui eu vivi.

Eliseo Diego


CALMA

Eliseo Diego


Este silencio,
blanco, ilimitado,
este silencio
del mar tranquilo, inmóvil,

que de pronto
rompen los leves caracoles
por un impulso de la brisa,

Se extiende acaso
de la tarde a la noche, se remansa
tal vez por la arenilla
de fuego,

la infinita
playa desierta,
de manera

que no acaba,
quizás,
este silencio,

nunca?

Calma

Este silencio,
branco, ilimitado,
este silencio
do mar tranqüilo, imóvel,

que de pronto
rompe os leves caracóis
por um impulso da brisa,

Se estende acaso
da tarde à noite, se remansa
talvez pelas areiazinhas
de fogo,

a infinita
praia deserta,
de maneira

Que não acaba,
talvez,
este silencio,

nunca?

Wednesday, September 28, 2011

Os versos que não fiz


Soneto dos versos que não te fiz

Eu fiz uns versos para ti tão bobos..
Versos que, na verdade, pouco dizem.
Eram só palavras sobre o quão felizes
São meus dias contigo, todos, todos...

Não consegui os versos lindos, raros,
Que na mente sonhei pra te dizer !
Postos no papel já nem são claros
Como os que pensava pra te oferecer.

Mas, se bons versos não te digo ainda...
E que me pareces cada vez mais linda
Como nenhum um verso meu bem diz !

Talvez é que te amo tanto ! E nem mais sei...
Se esta falta não é que todo amor já dei
E até sem versos me sinto mais feliz!

Monday, September 26, 2011

Ainda Pedro Salinas


DON DE LA MATERIA

Pedro Salinas

Entre la tiniebla densa
el mundo era negro: nada.
Cuando de un brusco tirón
—forma recta, curva forma—
le saca a vivir la llama.
Cristal, roble, iluminados,
¡qué alegría de ser tienen,
en luz, en líneas, ser
en brillo y veta vivientes!
Cuando la llama se apaga,
fugitivas realidades,
esa forma, aquel color,
se escapan.
¿Viven aquí o en la duda?
Sube lenta una nostalgia
no de luna, no de amor,
no de infinito. Nostalgia
de un jarrón sobre una mesa.
¿Están?
Yo busco por donde estaban.
Desbrozadora de sombras
tantea la mano. A oscuras
vagas huellas, sigue el ansia.
De pronto, como una llama
sube una alegría altísima
de lo negro: la luz del tacto.
Llegó al mundo de lo cierto.
Toca el cristal, frío, duro,
toca la madera, áspera.
¡Están!
La sorda vida perfecta,
sin color, se me confirma,
segura, sin luz, la siento:
realidad profunda, masa.

O dom da matéria

Entre as densas trevas
o mundo era negro, nada.
Quando um brusco safanão
-de forma reta e curvada-
acende de vez a chama.
Cristal, carvalho, iluminados,
que alegria de ser tem
em luz, em linhas, ser
vivendo em brilho e grãos!
Quando a chama se apaga,
fugitivas realidades,
essa forma, aquela cor,
se escapam.
Vives aqui ou na dúvida?
Adicione lentamente uma nostalgia
não de lua ou de amor,
nem de infinito. Nostalgia
de um jarro sobre uma mesa.
Onde estão?
Eu busco por onde estavam.
Desbravadora de sombras
tateia a mão. Às escuras
traços vagos, segue a ânsia.
De repente, como uma chama
sobe uma altíssima alegria
de preto: a luz do tato.
Chego ao mundo do certo.
Toca o cristal, frio, duro,
toca a madeira, àspera.
Onde estão!
A surda vida perfeita
sem cor, só me confirma,
seguro, sem luz, a sinto:
realidade profunda, massa.

Ilustração: Umberto Boccionni

Pedro Salinas


LA VOZ A TI DEBIDA

Pedro Salinas

La forma de querer tú
es dejarme que te quiera.
El sí con que te me rindes
es el silencio. Tus besos
son ofrecerme los labios
para que los bese yo.
Jamás palabras, abrazos,
me dirán que tú existías,
que me quisiste: jamás.
Me lo dicen hojas blancas,
mapas, augurios, teléfonos;
tú, no.
Y estoy abrazado a ti
sin preguntarte, de miedo
a que no sea verdad
que tú vives y me quieres.
Y estoy abrazado a ti
sin mirar y sin tocarte.
No vaya a ser que descubra
con preguntas, con caricias,
esa soledad inmensa
de quererte sólo yo.

A voz a ti devida

Tua forma de querer
é deixar-me que te queiras.
E assim que tu me rendes
com o silêncio. Teus beijos
são oferecerem-se aos lábios
para que os beije eu.
Jamais palavras, abraços,
me dirão que tu existias,
que me quisestes, jamais.
Me dizem as folhas brancas
mapas, augúrios, telefones;
tu, não.
E eu estou abraçado a ti
sem te perguntar, de medo,
que isto não seja verdade
que tu vives e me queres.
E estou abraçado a ti
sem olhar e sem tocar-te.
Não pode ser que descubra
com perguntas, com carícias,
esta solidão imensa
de querer-te somente eu.

Ilustração: http://navegandonotempo.blogspot.com/2005/08/os-namorados.html

Saturday, September 24, 2011

Mais uma vez Concha Garcia


Leve delicadeza

Concha García

No sé. Abro el buzón. Llegan
aquellas cosas mal puestas
en una silla o sobre ella.
Aturdirme de letras,
vivir tardíamente dos pasos
lo justo para intransitar lo cotidiano.
Verme en el espejo: sí, otro día.
Sí, son varios. Sí, fueron muchos.
No sé. Llegar, doblar la ropa
otear la casa, el interior de la casa,
de soslayo, y a veces de frente
sin dejar de examinarme. Es eso.
Sí es eso. La felicidad no tiene temblores
ni arquea días. Es eso. Fíjate
qué cotidiano. Qué leve delicadeza
casi a solas.

Leve delicadeza

Não sei. Abro a caixa de correio. Chegam
aquelas coisas mal postas
numa cadeira ou sobre ela.
As letras me atordoam
vivo tardiamente os passos
justo para intransitar o cotidiano.
Olho-me no espelho: sim, outro dia.
Sim, são vários. Sim, foram muitos.
Não sei. Chegar, dobrar a roupa
passear pela casa, no interior da casa,
de lado, e às vezes de frente
sem deixar de examinar-me. É isto.
Sim, é isto. A felicidade não tem tremores
nem escolhe os dias. É isto aí. Fixa-se
no cotidiano. Numa leve delicadeza
quase a sós.

Concha García


Alegoría del tiempo

Concha García

Somos moderadamente felices,
los dos vivíamos en una afinidad
absoluta: las palabras
no pueden expresar la experiencia.
Yo tampoco.

Alegoria do tempo

Somos moderamente felizes,
Nós dois vivemos numa afinidade
Absoluta: as palavras
Não podem expressar a experiência.
Eu tampouco.

Wednesday, September 21, 2011

Gabriel Celaya



AVISO

Gabriel Celaya

La ciudad es de goma lisa y negra

pero con boquetes de olor a vaquería,

y a almacenes de grano, y a madera mojada,

y a guarnicionería, y a achicoria, y a esparto.



Hay chirridos que muerden, hay ruidos inhumanos

hay bruscos bocinazos que deshinchan

mi absurdo corazón hipertrofiado.

Yo me alquilo por horas; río y lloro con todos;

pero escribiría un poema perfecto

si no fuera indecente hacerlo en estos tiempos.

Aviso

A cidade é de borracha e preta,

mas, com bocas de lobo com odor de leite,

e de armazenamento de grãos, e de madeira molhada,

e de material de couro, chicória e esparto.


Há gritos que mordem, ruídos desumanos,

Há afiados chifres que desinflam

meu insensato coração hipertrofiado.

Eu me alugo por horas; rio e choro com todos;

porém, escreveria um poema perfeito

se não fosse indecente fazê-lo nestes tempos.

Ilustração: ajaxianos.com.br

Borges


La Lluvia

Jorge Luis Borges

Bruscamente la tarde se ha aclarado
Porque ya cae la lluvia minuciosa.
Cae o cayó. La lluvia es una cosa
Que sin duda sucede en el pasado.

Quien la oye caer ha recobrado
El tiempo en que la suerte venturosa
Le reveló una flor llamada rosa
Y el curioso color del colorado.

Esta lluvia que ciega los cristales
Alegrará en perdidos arrabales
Las negras uvas de una parra en cierto
..
Patio que ya no existe. La mojada
Tarde me trae la voz, la voz deseada,
De mi padre que vuelve y que no ha muerto.

A Chuva

De repente a tarde se há aclarado
Porque já cai a chuva minuciosa.
Cai ou caiu. A chuva é uma coisa
Que, sem dúvida, sucede no passado.
.
Quem a ouve cair há recobrado
O tempo que a sorte venturosa
Lhe revelou uma flor chamada rosa
E de uma curiosa cor avermelhada.
.
Esta chuva que cega os cristais
Alegrará em perdidos bairros mais
As uvas pretas de uma videira em certo

Pátio que não existe mais. A molhada
Tarde me traz a voz, a voz desejada,
Do meu pai que volta e não está mais morto.

Saturday, September 17, 2011

Epitáfio para Neide Barros


A morte escolheu a flor mais bonita
E, sem pena, ceifou a rosa
Que mesmo assim deixou seu perfume
E a lembrança da sua imagem
Povoando o mundo de poesia.

Rosa, branca e doce Neide, a vida, agora, parece mais vazia.

Thursday, September 15, 2011

Miguel Hernández


TODO ESTÁ LLENO DE TI

Miguel Hernández

Aunque tú no estás, mis ojos
de ti, de todo, están llenos.
No has nacido sólo a un alba,
sólo a un ocaso no he muerto.
El mundo lleno de ti
y nutrido el cementerio
de mí, por todas las cosas,
de los dos, por todo el pueblo.
En las calles voy dejando
algo que voy recogiendo:
pedazos de vida mía
perdidos desde muy lejos.
.
Libre soy en la agonía
y encarcelado me veo
en los radiantes umbrales,
radiantes de nacimientos.
Todo está lleno de mí:
de algo que es tuyo y recuerdo
perdido, pero encontrado
alguna vez, algún tiempo.
Tiempo que se queda atrás
decididamente negro,
indeleblemente rojo,
dorado sobre tu cuerpo.
Todo está lleno de ti,
traspasado de tu pelo:
de algo que no he conseguido
busco entre tus huesos.

Tudo está pleno de ti

Ainda que tu não estejas, meus olhos
de ti, de todo estão plenos.
Não nasceu nem uma manhã
nem um só sol se deitou.
O mundo pleno de ti
e nutrido o cemitério
de mim, por todas as coisas,
dos dois, por todas as pessoas.
Nas ruas eu vou deixando
algo que vou recolhendo:
pedaços da minha vida
perdidos muito distante.

Livre sou na agonia
e encarcerado me vejo
nos radiantes umbrais,
radiantes de nascimentos.
Tudo está cheio de mim
de algo que tiver e recordo
perdido, porém, encontrado
alguma vez, em algum
tempo que ficou atrás
decididamente negro,
indelevelmente vermelho
dourado sobre teu corpo.
Tudo está pleno de ti,
repleto de teus cabelos:
de algo que não consegui
e que busco entre teus ossos.

Tuesday, September 13, 2011

Outra vez Eliseo Diego


CANCIÓN PARA TODAS LAS QUE ERES

Eliseo Diego

No solo el hoy fragante de tus ojos amo
sino a la niña oculta que allá dentro
mira la vastedad del mundo con redondo
azoro, y amo a la extraña gris que me recuerda
en un rincón del tiempo que el invierno
ampara. La multitud de ti, la fuga de tus horas,
amo tus mil imágenes en vuelo
como un bando de pájaros salvajes.
No solo tu domingo breve de delicias
sino también un viernes trágico, quien
sabe, y un sábado de triunfos y de glorias
que no veré yo nunca, pero alabo.
Niña y muchacha y joven ya mujer,
tu todas, colman mi corazón, y en paz las amo.

Canção para todas que és

Não só, é hoje, flagrante que os teus olhos amo
como também a menina oculta lá dentro
que olha para a vastidão do mundo, com um olhar redondo,
confuso, e eu amo o cinza estranho que me lembra
um pedaço do tempo de inverno.
Amparo. A multidão de ti, a fuga de tuas horas,
amo as tuas mil imagens em vôo
como um bando de pássaros selvagens.
Não só teu domingo, breve de delícias,
mas, também a sexta-feira trágica, quem
sabe, e um sábado de triunfos e glórias
que não verei eu nunca, porém, louvo.
a menina e a moça e a jovem e a mulher,
tu, que és todas, enche meu coração e, em paz, as amo.

Ilustração: http://maisfilme.blogspot.com/2011/01/grande-menina-pequena-mulher.html

Sunday, September 11, 2011

Lina Zerón


CALENDARIO

Lina Zerón

Entre gritos y suspiros aprehendí tu alfabeto.
Hiedra en el muro
me sustento.
Construí secretos pasadizos hacia ti.
A mi acantilada soledad le diste aliento,
pasión a mis indescifrables instintos,
dicha a mis trozos de invierno.
Fui presente que tu boca delineó en el paraíso,
en el pasado tu cuerpo agua fue en mi cuerpo,
de tristezas compartidas construimos un futuro.
Hoy emergen los murmullos...
calendario de recuerdos.
zumbido de la abeja.

Calendário

Entre gritos e suspiros aprendi teu alfabeto.
Erva no muro
Me sustento.
Construi secretos paraísos até a ti.
A minha acantonada solidão destes alento,
Paixão a meus indecifráveis instintos,
Sorte a meus pedaços de inverno.
Fui presente que tua boca desenhou no paraíso,
No passado teu corpo foi água no meu corpo,
De tristezas compartilhadas construímos um futuro.
Hoje emergimos dos murmúrios....
Calendário de recordações.
Zumbido de abelha.

Ainda Eliseo Diego


CALMA

Eliseo Diego

Este silencio,
blanco, ilimitado,
este silencio
del mar tranquilo, inmóvil,

que de pronto
rompen los leves caracoles
por un impulso de la brisa,

Se extiende acaso
de la tarde a la noche, se remansa
tal vez por la arenilla
de fuego,

la infinita
playa desierta,
de manera

que no acaba,
quizás,
este silencio,

nunca?

Calma

Este silencio,
branco, ilimitado,
este silencio
do mar tranqüilo, imóvel,

Que de pronto
rompe os leves caracóis
por um impulso da brisa,

Se estende acaso
da tarde a noite, se remansa
talvez pelas areiazinhas
de fogo,

A infinita
praia deserta,
de maneira

Que não acaba,
talvez,
este silencio,

nunca?

Eliseo Diego


TESTAMENTO

Eliseo Diego

Habiendo llegado al tiempo en que
la penumbra ya no me consuela más
y me apocan los presagios pequeños;

habiendo llegado a este tiempo;

y como las heces del café
abren de pronto ahora para mí
sus redondas bocas amargas;

habiendo llegado a este tiempo;

y perdida ya toda esperanza de
algún merecido ascenso, de
ver el manar sereno de la sombra;

y no poseyendo más que este tiempo;

no poseyendo más, en fin,
que mi memoria de las noches y
su vibrante delicadeza enorme;

no poseyendo más
entre cielo y tierra que
mi memoria, que este tiempo;

decido hacer mi testamento.

Es este:
les dejo

el tiempo, todo el tiempo.

Testamento

Tendo chegado ao tempo
em que as penumbras já não me confortam mais
E me apoucam os presságios pequenos;

tendo chegado neste momento;

como, às vezes, as sementes de café
se abrem, de repente, para mim agora
as suas redondas formas amargas;

tendo chegado neste momento;

e perdida toda a esperança de
alguma merecida ascensão, de
ver o fluir sereno da sombra;

e não possuindo mais do que este momento;

não possuindo mais, finalmente,
que minha memória das noites e
e sua vibrante e enorme delicadeza;

não possuindo mais,
entre o céu e a terra que
minha memória, que este tempo;

decidi fazer meu testamento.

É este:
lhes deixo

o tempo, todo o tempo.

Miguel Arteche Salinas


DAMA

Miguel Arteche Salinas

Esta dama sin cara ni camisa,
alta de cuello, suave de cintura,
tiene todo el temblor de la hermosura
que el tiempo oculta y el amor desliza.
Esta dama que viene de la brisa
y el rango lleva de su propia altura,
tiene ese no sé qué de la ternura
de una dama sin fin, bella y precisa.
Aunque esta dama nunca duerma en cama
parece dama sin que sea dama
y domina desnuda el mundo entero.
Esta dama perdona y no perdona.
Y para eso luce una corona
esta dama que reina en el tablero.

Dama

Esta dama sem rosto nem camisa,
Alta de colo, suave de cintura,
Tem todo o esplendor da formosura
Que o tempo oculta e o amor desliza.
Esta dama que flutua com a brisa
E tem o tamanho de sua própria altura,
Tem este não sei o quê da ternura
De uma dama sem fim, bela e precisa.
Ainda que esta dama nunca durma na cama
Parece uma dama sem que seja dama
E domina desnuda o mundo inteiro.
Esta dama perdoa e não perdoa.
E para isto ilumina uma coroa
Esta dama que reina no tabuleiro.

Friday, September 09, 2011

Paolo Ruffilli


L’INTANTO

Paolo Ruffilli

L’origine segreta
la fessura
la scaturigine
la fonte, di un proiettarsi
al meglio, al positivo.
In ciò che, stante,
creduto per durare
diventa poi stato
inamovibile cessato.
Ma, intanto, è geiser
soffione boracifero
spumante.

Enquanto isto

A origem secreta
a fissura
a abertura original
A fonte de um projetar-se
na melhor das hipóteses, para o positivo.
Na qual, pois,
creio perdurar
tornando-se um estado
inamovível e imóvel.
Mas, enquanto isto, os gêiseres
se põem a borrifar
vinho espumante.

Thursday, September 08, 2011

Canção da Ausência


O tempo não se mede mais senão pela saudade...
Inútil as palavras para preencher
este vazio que se alonga além do mar e do infinito.
Claro que ninguém ouve,
mas, meu grito, tem subtons e densidades que os ouvidos não escutam,
silencioso, na sua forma bruta de cortar a carne sem deixar sinais visíveis.
Por um momento a ilusão de que estais aqui
é mais forte que tua ausência,
então, percebo que é fruto exclusivo da demência,
deste querer que o tempo ou a desesperança não extingue
e transformo em canto
como única forma de mostrar
que o meu amor ainda está vivo.

Toni García Arias


Ausencia

Toni García Arias

Qué poco dura
la huella de una página
o el sabor de un verso,
o el saber de tan débil arquitectura;
poesía;
mezcla de tejidos y piel y memoria,
alquimia de fluidos y sangre y fotos y nada
sobre la palma inerte de esta hoja
que mide su tiempo
en ausencias al cuadrado.

Ausência

O pouco que dura
o traço de uma página
ou o sabor de um verso,
ou o saber de tão débil arquitetura;
poesia;
mistura de tecidos e de pele e memória
alquimia de fluidos e sangue e fotos e nada
sobre a palma inerte desta página
que mede o seu tempo
em ausências ao quadrado.

Ilustração: http://devaneiosepoemas.blogspot.com/2010/06/meu-desassossego-e-do-tamanho-da-tua.html

E Borges sobre o mesmo tema


Ausencia

Jorge Luis Borges

Habré de levantar la vasta vida
que aún ahora es tu espejo:
cada mañana habré de reconstruirla.
Desde que te alejaste,
cuántos lugares se han tornado vanos
y sin sentido, iguales
a luces en el día.
Tardes que fueron nicho de tu imagen,
músicas en que siempre me aguardabas,
palabras de aquel tiempo,
yo tendré que quebrarlas con mis manos.
¿En qué hondonada esconderé mi alma
para que no vea tu ausencia
que como un sol terrible, sin ocaso,
brilla definitiva y despiadada?
Tu ausencia me rodea
como la cuerda a la garganta,
el mar al que se hunde.

Ausencia

Hei de levantar a vasta vida
que ainda agora é o teu espelho:
Cada manhã irei reconstruí-la.
Desde que te fostes,
quantos lugares se tornaram inúteis
e sem sentido, igual
à luz durante o dia.
As tardes foram nichos de tua imagem
músicas com que sempre me aguardavas,
são palavras daquele tempo,
eu terei que quebrá-las com as minhas mãos.
Como poderei esconder a minha alma vazia
para que não veja a tua ausência
que, como um sol terrível, sem ocaso,
brilha definitiva e desapiedadamente ?
Tua ausência me rodeia
como a corda na garganta,
e o mar que se afunda.

Ilustração: http://menosehdmais.wordpress.com/page/72/

Neruda para alegrar a quinta-feira



AUSENCIA

Pablo Neruda

Apenas te he dejado,
vas en mí, cristalina
o temblorosa,
o inquieta, herida por mí mismo
o colmada de amor, como cuando tus ojos
se cierran sobre el don de la vida
que sin cesar te entrego.
Amor mío
nos hemos encontrado
sedientos y nos hemos
bebido toda el agua y la sangre,
nos encontramos
con hambre
y nos mordimos
como el fuego muerde,
dejándonos heridas.
Pero espérame,
guárdame tu dulzura.
Yo te daré también
una rosa.

Ausência


Apenas te havia deixado,
segues em mim, cristalina
ou temerosa
ou inquieta, ferida por mim mesmo
ou repleta de amor, como quando teus olhos
se fecham sobre o dom da vida
que sem cessar te entrego.
Meu amor
nos temos nos encontrado
sedentos e não temos
bebido toda a água e sangue,
nos encontramos
famintos
e nos mordemos
como o fogo morde,
deixando-nos feridos.
Porém, espera-me
guarda-me tua doçura.
Eu te darei também
uma rosa.

Ilustração: corujicesnoturnas.blogspot.com

Tuesday, September 06, 2011

Marié Rojas Tamayo


Cita a ciegas

Marié Rojas Tamayo

Anuda una venda alrededor de tus ojos
Déjate guiar por el aroma de la hierba buena
Colócate de espaldas al viento adverso
Siente el sol en la frente
Desdeña los caminos
Los campos de amapolas
Sumérgete en el bosque
Persigue el canto de las aves que huyen a tu paso
Sigue más allá de tu cansancio
Hasta hollar la línea del horizonte.
Allí donde el mar se une con el cielo
Donde cada noche aguardo tu presencia
Te daré mis amores.

Encontro às cegas

Amarra uma venda ao redor dos teus olhos
Deixa-te guiar pelo cheiro de menta
Coloca-te de costas contra o vento
Sente o sol de frente
Desdenha das estradas
Os campos de papoula
Mergulha na floresta
Persegue o canto dos pássaros que fogem de teu passo
Continua para além do seu cansaço
Até pisar a linha do horizonte.
Ali onde o mar encontra o céu
Onde a cada noite aguardo tua presença
Eu te darei meus amores.

Como uma criança


Cansaço

Bem que eu queria te dizer coisas doces
Te falar que os tempos que virão
Serão bem mais felizes,
Mas, no meu caminho, foram tantas cicatrizes
Que não sei mais da cor ou do perfume das flores.

Bem que queria soar nos teus ouvidos
Como uma música suave,
Um som de velhos filmes,
Uma sonata de Chopin,
Porém, me encontro assim desanimado
Tão sem sonhos
Que só posso dizer que sou teu fã
Que só quero descansar
Sempre a teu lado
E, se possível, te amar
Como uma criança
Sem pecado.

Monday, September 05, 2011

Mónica Silvia Ugobono


INTRÍNSECA INCOMPATIBILIDAD

Mónica Silvia Ugobono

Si yo fuese de mar
envolvería tu cuerpo
con la espuma de mis venas.
Tus caricias naufragarían en mis labios.
Si tuviese el mar entre los huesos
construiría arrecifes para tus voces;
con corrientes variables,
abatiría tu mundo de escombros,
llevándome en todo regreso
una partícula de tus ruinas.
Si mi cuerpo fuera
un suave vaivén de transparencias
bañaría tus anhelos
y en cada uno de sus muelles
haría desembarcar a la confianza extraviada.
Pero mis miembros están rígidos
por la constante contemplación de las mareas.
Mi única fe se llama resignación.
Mi cuerpo ... duro estaño.

Intrínseca incompatibilidade

Se eu fosse de mar
envolveria teu corpo
com a espuma de minhas veias.
Tuas carícias naufragariam nos meus lábios.
Se tivesse o mar entre os ossos
construiria recifes para tuas vozes;
com correntes variáveis,
abateria teu mundo de escombros,
levando-me em todo regresso
como uma partícula de tuas ruínas.
Se meu corpo fosse
um suave vai e vem de transparências
banharia teus desejos
e em cada um dos pilares
desembarcaria a confiança perdida.
Porém, meus membros estão rígidos
pela constante contemplação das marés.
Minha única fé se chama resignação.
O meu corpo ... duro estanho.

Luis Fernando Moran


Feel love?

Luis Fernando Moran

Vamos se como el alcohol
quema mis labios
mientras las diosas ovulan su ultma oportunidad
juntate a la danza sensual de crear amor en lecho de sexo
mientras nos lanzamos a la perdicion de ser lo que somos
seres necesitados de algo a que amar
para hacerlo mierda ...

Sentir amor?

Vamos como o álcool
que queima os meus lábios
enquanto as deusas ovulam sua última oportunidade
junta-te à dança sensual de criar amor no leito de sexo
enquanto nos lançamos à perdição de ser o que somos
seres necessitados de algo a que amar
para fazer do amor o nada ...

Ainda Manuel González Navarrete


FINAL DE DÍA

Manuel González Navarrete

A veces, al terminar el día,
dejo esta flaca indumentaria
en un sillón tan viejo como yo.

Desde aquí miro la vida,
mis ojos se pierden tras la ventana
y se me clava la noche
por una costilla.

Mi mujer, cuando quiere,
se sienta a mi lado;
habla sin informarme de nada,
yo río al enterarme de todo.

Siempre es posible oír a Bach
desde el sillón, y
es posible también extender la mano,
tocar la piel deseada.

A veces, al terminar el día,
pongo mis huesos en este sillón
y el amor y la vida transcurren
frente a la ventana.

Final de Dia

Às vezes, ao terminar o dia,
deixo esta fraca indumentária
numa cadeira tão velha quanto eu.

Daqui olho para a vida,
meus olhos se perdem por trás das janelas,
e me fixo na noite
por uma pequena réstia

Minha mulher, quando quer,
senta ao meu lado,
fala sem me informar de nada,
eu rio ao me inteirar de tudo.

Sempre é possível ouvir Bach
da cadeira, e
também estender a mão
e tocar a pele desejada.

Às vezes, ao terminar o dia,
ponho meus ossos nesta cadeira
e o amor e a vida transcorrem
em frente a esta janela.

Manuel González Navarrete



NO ME CABE LA NOCHE
A Kiauitzin
Y la muerte no tendrá senorío
Dylan Thomas

Manuel González Navarrete


Miré tu rostro de sol moreno,
tu piel nocturna,
poblada de flores y mariposas,
esperaba...
Te llevaron a guardar,
no supe dónde.
¿ A qué esconderte ? pensé,
¿ En qué lugar del mundo depositarte ?
Será como envolver la luna
en tus cabellos,
cubrir el Valle de Anáhuac
con tus manos,
sembrar un cempoalzuchitl
en su seno.
No podrán, concluí,
no me cabe la noche
en tanta vida.
En estos días lluviosos,
la muerte cumple con su deber,
quejumbrosa, compungida;
lleva a cuestas un pueblo,
de flores y mariposas,
anochecido.

A noite não me cabe

Mirei teu rosto de sol moreno,
tua pele noturna,
povoada de flores e borboletas,
que esperava....
Te levaram a guardar
não sei aonde.
Por que te esconder? Pensei.
Em que lugar do mundo te depositar?
Será como envolver a lua
em teus cabelos,
cobrir o Vale de Anáhuac
com tuas mãos,
semear um campo de trigo
no teu seio.
Não poderão, conclui,
não me cabe a noite
em tanta vida.
Nestes dias chuvosos,
a morte cumpre com o seu dever,
queixosa, compungida;
leva nas costas um povo,
de flores e borboletas,
anoitecido.

Ainda José Martí


EN UN DULCE ESTUPOR

José Martí

En un dulce estupor soñando estaba
Con las bellezas de la tierra mía:
Fuera, el invierno lívido gemía,
Y en mi cuarto sin luz el sol brillaba.
La sombra sobre mí centelleaba
Como un diamante negro, y yo sentía
Que la frente soberbia me crecía,
Y que un águila al cielo me encumbraba.
Iba hinchando este gozo el alma oscura,
Cuando me vi de súbito estrechado
Contra el seno fatal de una hermosura:
Y al sentirme en sus brazos apretado,
Me pareció rodar desde una altura
Y rodar por la tierra despeñado.

Num doce estupor

Em um doce estupor doce sonhando estava
Com as belezas da minha terra:
Lá fora, o inverno lívidogemia
E no meu quarto sem luz o sol brilhava.
A sombra sobre mim brilhava
Como um diamante negro, e eu sentia
que o orgulho na frente me crescia,
E que uma águia no céu me acobertava.
Inchava de alegria este gozo em alma escura,
Quando me vi de súbito abalado
Contra o seio fatal de uma formosura:
E ao sentir-me em seus braços apertados,
Me pareceu rodar lá das alturas
e a rodar e cair pelo penhasco.

Friday, September 02, 2011

José Martí

Y TE BUSQUÉ José Martí Y te busqué por pueblos, Y te busqué en las nubes, Y para hallar tu alma, Muchos lirios abrí, lirios azules. Y los tristes llorando me dijeron: – ¡Oh, qué dolor tan vivo! ¡Que tu alma ha mucho tiempo que vivía En un lirio amarillo! – Mas dime – ¿cómo ha sido? ¿Yo mi alma en mi pecho no tenía? Ayer te he conocido, Y el alma que aquí tengo no es la mía. in Versos de Amor E eu te busquei E eu te busquei nas pessoas, E eu te busquei nas nuvens E para encontrar a tua alma Muitos lírios abri, lírios azuis. E os tristes chorando me disseram: - Oh, que dor tão viva! Que a tua alma já vivia a muito tempo Num lírio amarelo! - Mas diga-me - como foi? Eu, minha alma, no meu peito não tinha? Ontem eu te conheci, E a alma que eu tenho aqui não é a minha.

Thursday, September 01, 2011

YET I DO MARVEL Countée Cullen I doubt not God is good, well-meaning, kind And did He stoop to quibble could tell why The little buried mole continues blind, Why flesh that mirrors Him must some day die, Make plain the reason tortured Tantalus Is baited by the fickle fruit, declare If merely brute caprice dooms Sisyphus To struggle up a never-ending stair. Inscrutable His ways are, and immune To catechism by a mind too strewn With petty cares to slightly understand What awful brain compels His awful hand. Yet do I marvel at this curious thing: To make a poet black, and bid him sing! Ainda posso me maravilhar Eu não duvido que Deus é bom, bem-intencionado, gentil, E que Ele não se inclina a dizer por que A toupeira um pouco enterrado continua cega, Por que a carne que O reflete deve morrer algum dia, Ou qual a razão de seu plano de torturar Tantalus E, atingido pelo fruto volúvel, declarar Por um mero e bruto capricho a pena de Sísifo De lutar eternamente numa escada sem fim. Inescrutáveis os Seus caminhos são, e imune Ao catecismo para uma mente muito estreita Com pequenos cuidados pode-se entender um pouco O que compele o cérebro e Sua mão terrível. Ainda que possa me maravilhar com esta coisa curiosa: Que crie um poeta negro que lhe ofereça o seu cantar!