Wednesday, July 29, 2009

SÓ HÁ UM



Caminho

Se a festa não começa e a tristeza não termina
Que me importa, menina,
Se a vida é meu brinquedo?
Sem saber e sem segredo
Vou experimentando o medo
Do amanhã
Na luta vã,
Na luta vã
De quem sabe que não há final feliz
E mesmo assim lutando contradiz
A certeza
Que um dia há de não ter
Como nunca teve.
Afinal vê:
Certo é só o morrer!

Tuesday, July 28, 2009

MINORE


Mar abierto

Gito Minore

Sobre tu piel
naufragan restos mortales
de antiguos dolores.
El mérito de este pirata
recaerá en la habilidad
de reciclar los viejos trastos
para navegarte con incierta elegancia,
o bien,
en empeñar las últimas balas

derrivando los arcaicos vestigios
y, una vez, sin horizontes
nadar a la deriva
tu mar abierto.

Mar aberto

Sobre teus pés
Naufragam restos mortais
De antigas dores.
O mérito deste pirata
Recairá na habilidade
De reciclar os velhos trastes
Para te navegar com incerta elegância,
Ou bem,
Em empenhar as últimas balas

Derivando os arcaicos vestígios
E, uma vez, sem horizontes
Nadar à deriva
Em teu mar aberto.

Sunday, July 26, 2009

RECORDAR



LEMBRANÇAS

O seu rosto esmaga todas as minhas lembranças
Dançando,como dançavam, suas tranças,
No palco esfumaçado da recordação.
Sei não, sei não, sei não...

Sei sim. A ilusão permanece em mim
Sem remédio, sem meio, sem fim,
Multiplicando a dor que não se cura,
Derramando dos seus labios a doçura.

Abro os olhos sua imagem, rápida, some,
E fico como um louco a sussurar seu nome
Feito um segredo oculto e inatingível
Além, muito além, do que é possível!

De "Imagens da Incerteeza",1988.

Wednesday, July 22, 2009

FRUSTRAÇÃO MASCULINA



DEVANEIO

Sempre soube que havia nascido para ser Colombo
ou Alexandre,
Mas, de grande, só tenho a conta no bar
E a vontade de amar você
Que não passa mesmo que a vida,
Esta grande trapaça,
Tenha transformado meu território
Neste pequeno espaço
Entre o escritório, o bar, a casa
E, para ser o conquistador que imaginei,
Não sei o que faço
Como um pássaro preso no laço
Que não tem como voar.

Tuesday, July 21, 2009

BORGES


A un poeta menor de la antología

Jorge Luis Borges

¿Dónde está la memoria de los días
que fueron tuyos en la tierra, y tejieron
dicha y dolor y fueron para ti el universo?

El río numerable de los años
los ha perdido; eres una palabra en un índice.

Dieron a otros gloria interminable los dioses,
inscripciones y exergos y monumentos y puntuales historiadores;
de ti sólo sabemos, oscuro amigo,
que oíste al ruiseñor, una tarde.

Entre los asfodelos de la sombra, tu vana sombra
pensará que los dioses han sido avaros.

Pero los días son una red de triviales miserias,
¿y habrá suerte mejor que ser la ceniza,
de que está hecho el olvido?

Sobre otros arrojaron los dioses
la inexorable luz de la gloria, que mira las entrañas y enumera las grietas,
de la gloria, que acaba por ajar la rosa que venera;
contigo fueron más piadosos, hermano.

En el éxtasis de un atardecer que no será una noche,
oyes la voz del ruiseñor de Teócrito.

A um poeta menor da antologia

Onde está a memória dos dias
que foram teus na terra, e teceram
a sina e a dor que foram teu universo?

O rio numerável dos anos
os há perdido; és uma palavra num índice.

Deram a outros a glória interminável os deuses,
inscrições, resenhas e monumentos historiadores pontuais;
de ti só sabemos, obscuro amigo
que ouvistes um rouxinol, uma tarde.

Entre os asfódelos da sombra, a tua sombra em vã
pensará que os deuses foram avaros.

Porém, os dias são uma rede de misérias triviais,
E haverá sorte maior do que ser a cinza,
de que feita o esquecimento?

Sobre outros arrojaram os deuses
a inexorável a luz da glória, que olha as entranhas e enumera as fissuras,
da glória, que acaba por murchar a rosa que venera;
contigo forma mais piedosos, irmão.

No êxtase de um entardecer que não será uma noite,
ouves a voz do rouxinol de Teócrito.

UM GATO DE BORGES


A un gato

Jorge Luis Borges


No son más silenciosos los espejos
ni más furtiva el alba aventurera;
eres, bajo la luna, esa pantera
que nos es dado divisar de lejos.
Por obra indescifrable de un decreto
divino, te buscamos vanamente;
más remoto que el Ganges y el poniente,
tuya es la soledad, tuyo el secreto.
Tu lomo condesciende a la morosa
caricia de mi mano. Has admitido,
desde esa eternidad que ya es olvido,
el amor de la mano recelosa.
En otro tiempo estás. Eres el dueño
de un ámbito cerrado como un sueño.

A um gato

Não são mais silenciosos os espelhos
nem mais furtiva a madrugada aventureira;
és sob a lua, esta pantera
que nos é dado divisar de longe.
Por obra indecifrável de um decreto
divino te buscamos em vão;
mais remoto que o Ganges e o poente,
tu és a solidão, és o segredo.
Tuas costas condescendente a morosa
carícia da minha mão. Tens admitido
desde essa eternidade que já és esquecido,
o amor da mão receosa.
Em outro tempo estais. És como o dono
de um espaço fechado como um sonho.

REVISANDO



POEMA BRANCO

Não há muitos planos a serem feitos mais.
Nem mesmo a espera de algo especial.
Nem mesmo razões para crer num amanhã
Que só pode me legar o esquecimento.

Você, que nada exigia, senão o amor
Me dava sonhos
Sem precisar do sono.
E, agora, até meus sonhos
São brancos, planos longos, espaços
Que jamais serão preenchidos....

É assim que lembro,
Com admiração, dos dias de amor
Da falta da necessidade de explicações,
Do quanto os dias eram doces e intensos
De prazer e gozo.
Nada do que fiz ontem, hoje, amanhã e depois
Pode ser mais igual.
Pode trazer de volta o perdão
Para o crime do tempo perdido.

Só me resta fazer um poema
Um triste poema, branco como os versos,
de um suicídio reconhecido.
A confissão plena
De que sempre fostes mais sábia do que minha instrução
jamais poderia entender.

E, agora, que entendo
tão pouca importa
se a vida passou e vivi sem viver
e só resta este corpo de alma morta,
um fantasma de amor que vagueia
solitário na vasta desolação.

E o vazio dos dias que virão me contempla
Enquanto o silêncio em volta
Parece amplificar tua voz
Que ressoa do passado
Voltando a me dizer:
“-Meu lindo, que importa isto se nós vamos morrer?”

Sunday, July 19, 2009

DIAS ESTRANHOS


ESTE DIA

Este dia não foi meu
Feito outros que não são.
Foi um dia que se perdeu
Por descaso ou distração.

Os dias que não são meus
De outros também não são.
Perdidos como os ateus
Só se salvam na canção.

Não tenho pressa de os perder
Nem desejo de os contar.
Ganho muito em não os ter
E, os tendo, em me perdoar.

ESCONDA BEM


O AMOR OCULTO

É impossível esconder este amor
Que os menores gestos e os olhos revelam
Oh! Meu amor, estamos tão felizes!
De todos e de tudos devemos esconder
É preciso jamais esquecer
Que a humanidade não suporta a felicidade,
o prazer
Que vê sempre como a embriaguez
Uma porta aberta para a desgraça
A quem sempre dá vez!

YEATS FORTEMENTE TRAÍDO



WORDS

William Butler Yeats

I had this thought a while ago,
'My darling cannot understand
What I have done, or what would do
In this blind bitter land.'
And I grew weary of the sun
Until my thoughts cleared up again,
Remembering that the best I have done
Was done to make it plain;
That every year I have cried, 'At length
My darling understands it all,
Because I have come into my strength,
And words obey my call';
That had she done so who can say
What would have shaken from the sieve?
I might have thrown poor words away
And been content to live.

Palavras

Há pouco tempo atrás pensei
“Minha querida toda incompreensão encerra
Do que fiz, ou quanto farei
Nesta cega e amarga terra”.

E do sol me afastei
Até meus pensamentos clarearem
Que meu melhor feito, ao que sei,
Foi de sempre expressar-me claramente.

Assim ano a ano repetirei: “Enfim,
Minha querida, entende tudo que meus termos expressem,
Pois, trago esta imensa força em mim
De que comando e as palavras me obedecem”.

Quem sabe, se assim fosse, poderia dizer
Que, talvez, seja possível outro final
Onde possa das pobres palavras me desfazer
Para somente viver afinal.

Ilustração: assimsimplesmenteeu.blogspot.com

Wednesday, July 15, 2009

BOCCANERA


Comentario VI

Jorge Boccanera

Si pierdo la memoria qué pureza
Pedro Gimferrer

oh Gimferrer si en verdad perdiese la memoria
si pudiera un día despertarme
no acordarme de nada
llegar hasta mi casa y no reconocerla
golpear su puerta y preguntar por mí
si pudiera olvidarme en realidad de
practicar la magia

si pudiera desconocer mi cama
mis zapatos mi último poema
el lugar donde se guarda el vino
y esta barba y aquella camisa
y olvidarme al fin de esa mujer
que sigue echando humo todavía.

(de Contraseña)

Comentário VI

Se perco a memória que pureza
Pedro Gimferrer

Oh! Gimferrer se na verdade perdesse a memória
Se pudesse um despertar
Sem recordar de nada
Chegar até minha casa e não reconhecê-la
Golpear sua porta e perguntar por mim
Se pudesse esquecer na realidade de
praticar a magia

Se pudesse desconhecer minha cama
Meus sapatos, meu último poema
O lugar onde se guarda o vinho
E esta barba e aquela camisa
E me esquecer, ao fim, desta mulher
Que segue exalando fumaça, todavia.
(de Contrasenha)

Monday, July 13, 2009

AMY LOWELL



Decade

by Amy Lowell

When you came, you were like red wine and honey,
And the taste of you burnt my mouth with its sweetness.
Now you are like morning bread,
Smooth and pleasant.
I hardly taste you at all for I know your savour,
But I am completely nourished.

Década

Quando tu chegastes estavas como vinho tinto e mel,
E o teu gosto queimou minha boca com a tua doçura.
Agora, na manhã, estais como pão,
Suave e agradável.
Eu não gosto de ti digo a todos os que conheço sobre o teu sabor,
Mas eu estou completamente saciado.

Saturday, July 11, 2009

SALDO



Hoje a poesia me coloca
Entre a escolha da fuga
ou do isolamento.
Não há mais meio em mim de ser poético,
Exceto se renuncio a ser real,
Guardando, como guardo em mim,
todas as mágoas do mundo.
E não posso cantar
O desespero de tanta vida
Inutilmente derramada
Quando as palavras já não dizem nada
E a poesia, que é tudo que me resta,
Me parece infantil, inútil e sem sentido.
Confesso: sou um poeta sem inspiração,
um menino perdido.

EPISÓDIO



Sob os céus coloridos de Xangai
Vou dançar,
Mas, podia ser em qualquer lugar
Onde ninguém me entendesse
E houvesse um alguém para amar.
Sei que a língua não é uma barreira
Que não entender pode ser uma alegria
Se a loucura como a vida for passageira
De um lugar, um luar, uma aventura.
Vou viver sem saber onde estou
Mergulhado no alcool e no amor
Até quando um chinês me sentir
Ou, sem dinheiro, tiver que partir.
Vou dizer um adeus sem chorar
Seja aqui ou outro lugar
Tudo é igual
Se o roteiro assim for
De morrer de bebida e de amor.

Tuesday, July 07, 2009

BÉCQUER


Amor Eterno

Gustavo Adolfo Bécquer

Podrá nublarse el sol eternamente;
Podrá secarse en un instante el mar;
Podrá romperse el eje de la tierra
Como un débil cristal.
¡Todo sucederá!
Podrá la muerte
cubrirme con su fúnebre crespón;
pero jamás en mí podrá apagarse
la llama de tu amor.

Amor eterno

Pode nublar-se o sol eternamente;
Pode secar num instante o mar;
Pode romper-se a terra no seu eixo
Como um débil cristal.
Tudo sucederá!
Pode a morte
Cobrir-me com seu manto fúnebre;
Porém, jamais, em mim, poderá apagar
A chama de teu amor.

Ilustração: By Analycia09 - See more amor eterno pictures

O VAZIO



El Vacío que Dejaste

Daniela Aragunde

Te fuiste de mi vida,
una mañana con olor a primavera
huiste como un rayo de luz
dejando en mi una profunda herida.

No sé como haré para llenar tu vacío
tan grande como el dolor que siento
y menos aún podré entender,
porque me has dejado en el olvido.

y ahora que te fuiste,
el cielo ya no es el mismo
la luna ya no brilla como antes,
pues no la admiro contigo

Triste y sola me encuentro
y solo me quedan tus recuerdos
una flor marchita, una vieja carta
y un amor golpeando en mi pecho.

O vazio que deixastes

Te fostes da minha vida,
Uma manhã com odor de primavera
Fostes como um raio de luz
Deixando em mim uma profunda ferida.

Não sei como farei para sanar o teu vazio
Tão grande como a dor que sinto
E menos ainda posso entender
Porque me deixastes sem me esquecer.

E agora que te fostes,
O céu já não é o mesmo
A lua já não brilha como antes,
Pois, não mais a admiro contigo

Triste e só me encontro
E só me sobram tuas recordações
Uma flor murcha, uma carta velha
E um amor golpeando no meu peito.

Ilustração: http://diariodeumcaranguejo.files.wordpress.com/2009/05/coracao-vazio.jpg

Monday, July 06, 2009

UM CEGO FELIZ



Tu fostes como o sol;
Como o sol fostes
E como o sol tu parecias
Ter vida e eternidade
Na larga fronte a aurora trazias
Com um sorriso que a tudo iluminava
E voltavas como surgias
Na hora certa brilhante e sedutora
A cada dia.
Como o sol tu fostes,
Como o sol tu és
Com uma luz tão forte
Que a cegueira me trouxe
E, mesmo na escuridão,
Vi a vida doce!

Ilustração: www.deuscego.blogspot.com/

CAI HAIS II



Um poeta morto

Os desastres sempre acontecem-
Só os inconscientes são felizes-
Apertou o gatilho e riu dos que padecem.

Ilustração: http://diariodeumpoetamorto.blogspot.com

CAI HAIS I



Consciência

Um dia se deu conta que a felicidade
É feito um papagaio no céu:
Levanta, rodopia e cai com velocidade.

Saturday, July 04, 2009

SER FELIZ



Minimal Sounds

Rita Redshoes

Bicycles, hats
Pianos and cats
Blue is my pillow
Red is my bed

Umbrellas, cakes
Planets and milkshakes
Pink is my heart
White is my flight

Make me see
Dreams in my house
Happiness in me

Sons mínimos

Bicicletas, chapéus
Pianos e gatos
Azul é minha almofada
Vermelha, minha cama

Guarda-chuvas, bolos
Planetas e leite
Pink é o meu coração
Branco é o meu voo

Faça-me ver
Que minha casa são os sonhos
Que a felicidade está em mim.

Ilustração: http://media.photobucket.com/image/felicidade/danimi_dias/felicidade32.jpg

DEFINIÇÕES



What is Love?

by Stuart Macfarlane

What is love that I would fight dragons to rescue you?
What is love that I would walk a million miles to be by your side?
What is love that I would steal the stars to make a sparking ring for you?
What is love?
I do not know but one thing is for certain,
I love you with all my heart and could not live without your love.

O que é o Amor?

O que é o amor que me faria lutar com dragões para resgatá-la?
O que é o amor que me faria andar a pé um milhão de milhas para estar ao seu lado?
O que é o amor que me faria roubar as estrelas para fazer um anel brilhante para você?
O que é o amor?
Eu não sei, mas uma coisa é certa,
Eu te amo com todo o meu coração e não poderia viver sem o seu amor.

Ilustração: http://um-pedaco-de-mim.blogspot.com/2009/02/amor-podemos-defini-lo.html

PRISMAS


Mirror, Mirror

by Spike Milligan

A young spring-tender girl
combed her joyous hair
'You are very ugly' said the mirror.
But,
on her lips hung
a smile of dove-secret loveliness,
for only that morning had not
the blind boy said,
'You are beautiful'?

Espelho, espelho

Uma jovem candidata a garota primavera
com seus cabelos penteados festivamente
"Está muito feia ”, disse o espelho.
Mas,
Nos seus lábios pendurados
um sorriso secreto de pomba com a graciosidade,
De uma manhã que não tinha
a cegueira do rapaz disse,
'Você está linda'?

Friday, July 03, 2009

INÚTIL


Afterbelievers

Paul Nguyen

Love is like your shadow, stop trying to chase after it,
because it'll run away from you.
Learn hard to walk away from it
than it'll come after you.

Depois das crenças

O amor é como a tua sombra, pare de tentar persegui-lo,
porque ele vai fugir de você.
Aprenda como é difícil a partir dele
que ele virá atrás de você.

Thursday, July 02, 2009

WILDE



La Fuite de la Lune

by Oscar Wilde

To outer senses there is peace,
A dreamy peace on either hand,
Deep silence in the shadowy land,
Deep silence where the shadows cease.

Save for a cry that echoes shrill
From some lone bird disconsolate;
A corncrake calling to its mate;
The answer from the misty hill.

And suddenly the moon withdraws
Her sickle from the lightening skies,
And to her sombre cavern flies,
Wrapped in a veil of yellow gauze.


O Voo da lua

Para outros sentidos é a paz,
Um sonho de paz em uma das mãos,
Profundo silêncio sombrio na terra,
Profundo silêncio onde as sombras cessam.

Salva como um grito que ecoa estridente
De algum pássaro solitário e desconsolado;
Uma codorna apelando para a sua companheira;
A resposta de uma colina enovoada.

E de repente a lua denuncia
Com sua foice nos brilhantes céus,
E, para sua sombria caverna voam as moscas,
Envoltas num véu de gaze amarela.

Wednesday, July 01, 2009

SEM CAMINHO


Caminhar

Eu quero caminhar e nada mais.
Não sigo tuas pegadas pelo cais
Nem olho para as velas junto ao porto.
Só caminho e nada mais.
Só caminho
Por um caminho morto.

Caminho mesmo onde não há caminho
E faço o caminho ao caminhar
Sem esperança de poder voltar
Ou te encontrar por acaso no caminho
Que não há.

Não olho para trás
Nem para as estrelas.
Só vejo as pedras e as cobras
Nas veredas
Que me cansam
Como a falta de ilusão.

BENEDETTI


Ayer

Mario Benedetti

Ayer pasó el pasado lentamente
con su vacilación definitiva
sabiéndote infeliz y a la deriva
con tus dudas selladas en la frente

ayer pasó el pasado por el puente
y se llevó tu libertad cautiva
cambiando su silencio en carne viva
por tus leves alarmas de inocente

ayer pasó el pasado con su historia
y su deshilachada incertidumbre/
con su huella de espanto y de reproche

fue haciendo del dolor una costumbre
sembrando de fracasos tu memoria
y dejándote a solas con la noche.

Ontem

Ontem o passado passou lentamente
com a sua vacilação definitiva
sabendo-te infeliz e à deriva
com tuas perguntas seladas na sua frente

Ontem passou o passado no poente
e levou tua liberdade tão cativa
mudando o teu silêncio em carne viva
contra os teus leves alarmes de inocente

Ontem passou o passado com tua história
e seu desgastado e incerto lume
com seu rastro de horror e reprovação

Foi fazendo da dor apenas um costume
semeando de fracassos tua memória
e deixando-te só com, da noite, a solidão.