Monday, January 31, 2011

E mais maquinal que nunca...Severo Sarduy


El rumor de las máquinas crecía...

Severo Sarduy

El rumor de las máquinas crecía
en la sala contigua: ya mi espera
de un adjetivo -o de tu cuerpo- no era
más que un intento de acortar el día.

La noche que llegaba y precedía
el viento del desierto, la certera
luz -o tus pies desnudos en la estera-
del ocaso, su tiempo suspendía.

No recuerdo el amor sino el deseo:
no la falta de fe, sino la esfera-
imagen confrontando su espejeo

con la textura blanca, verdadera
página -o tu cuerpo que aún releo-;
vasto ideograma de la primavera.

O rumor das máquinas crescia ...

O rumor das máquinas crescia
na sala ao lado, e a minha espera
de um adjetivo, o de teu corpo, não era
mais do que uma tentativa de encurtar o dia.

Na noite em que chegava e precedia
do vento do deserto, a certeira
luz, ou teus pés desnudos sobre a esteira,
o ocaso, o tempo suspendia.

Não me lembro de amor, mas, do desejo:
não a falta de fé, mas, a esfera
imagem confrontada que, no espelho, vejo

com a textura branca, verdadeira
página, o teu corpo ainda revejo
vasto ideograma da primavera.

Esta é, de fato, muito mecânica!


Aunque ungiste el umbral y ensalivaste...

Severo Sarduy

Aunque ungiste el umbral y ensalivaste
no pudo penetrar, lamida y suave,
ni siquiera calar tan vasta nave,
por su volumen como por su lastre.

Burlada mi cautela y en contraste
-linimentos, pudores ni cuidados-
con exiguos anales olvidados
de golpe y sin aviso te adentraste.

Nunca más tolerancia ni acogida
hallará en mí tan solapada inerte
que a placeres antípodas convida

y en rigores simétricos se invierte:
muerte que forma parte de la vida.
Vida que forma parte de la muerte.


Embora untado o limiar e ensalivado ...

Ainda que untado o limiar e ensalivado
não podia penetrar, lambeu e suave,
não poderia abrigar tão vasta nave,
por seu volume como por seu calado.

Burlada minha cautela, e em contraste
- linimentos, pudores nem cuidados-
dos exíguos anais foram esquecidos
de golpe e sem aviso tu entrastes.

Nunca mais tolerância nem acolhida
encontrará em mim criatura tão inerte
que a prazeres antípodas convida

e rigores simétricos se inverte:
morte que forma parte da vida.
A vida que forma parte da morte.

Um pícaro poeta cubano....Bocage? Não!!!!


El émbolo brillante y engrasado...

Severo Sarduy

El émbolo brillante y engrasado
embiste jubiloso la ranura
y derrama su blanca quemadura
más abrasante cuanto más pausado.

Un testigo fugaz y disfrazado
ensaliva y escruta la abertura
que el volumen dilata y que sutura
su propia lava. Y en el ovalado

mercurio tangencial sobre la alfombra
(la torre, embadurnada penetrando,
chorreando de su miel, saliendo, entrando)

descifra el ideograma de la sombra:
el pensamiento es ilusión: templando
viene despacio la que no se nombra.

O êmbolo brilhante e engraxado ...

O pistão brilhante e lubrificado
eufórico enrustites na ranhura
e derrama sua branca queimadura
mais ardente quanto mais pausado.

Uma testemunha fugaz disfarçada
lubrifica e percrustra a abertura
que o volume dilata e sutura
na sua própria lavra. E, no oval

mercúrio tangencial sobre a almofada
(A torre, untada penetrando,
escorrendo de seu mel, saindo e entrando)

decodifica o ideograma que o sombreia:
o pensamento é ilusão: temperando
vem lentamente a que não se nomeia.

Sunday, January 30, 2011

Browning bem traída


Sonnet XLIII

Elizabeth Barrett Browning

How do I love thee? Let me count the ways.
I love thee to the depth and breadth and height
My soul can reach, when feeling out of sight
For the ends of Being and ideal Grace.
I love thee to the level of everyday's
Most quiet need, by sun and candle-light.
I love thee freely, as men strive for Right;
I love thee purely, as they turn from Praise.
I love thee with the passion put to use
In my old griefs, and with my childhood's faith.
I love thee with a love I seemed to lose
With my lost saints,—I love thee with the breath,
Smiles, tears, of all my life!—and, if God choose,
I shall but love thee better after death


Soneto XLIII

Como eu te amo? Deixe-me contar os vários modos.
Eu te amo com a profundidade, a largura e altura
Que minha alma pode ir e além de onde a visão dura
Para os confins do Ser e da Graça ideal.
Eu te amo ao nível do cotidiano, de todos os dias
Com uma necessidade quieta, pelo sol e à luz de velas.
Eu te amo livremente, como os homens pelas causas belas;
Eu te amo puramente, como eles retornam das preces.
Amo-te com, colocada em uso, uma paixão
De minhas velhas mágoas e da minha fé infantil
Amo-te com um amor que me parecia esquecido
Com meus perdidos santos, eu te amo com a respiração,
Sorrisos, lágrimas, toda a minha vida! E, se Deus quiser,
Eu te amarei ainda melhor depois da morte.

Saturday, January 29, 2011

Bobinho, mas, doce...


Never Have I Fallen

Rex A. Williams

Your lips speak soft sweetness
Your touch a cool caress
I am lost in your magic
My heart beats within your chest
I think of you each morning
And dream of you each night
I think of your arms being around me
And cannot express my delight
Never have I fallen
But I am quickly on my way
You hold a heart in your hands
That has never before been given away

Nunca havia me apaixonado antes

Teus lábios falam docemente macios,
Com um toque fresco de carícia
E me perco na tua magia
Meu coração bate dentro do teu peito
E penso em ti cada manhã
E sonho em ti a cada noite.
Eu penso que teus braços me estreitam
E não podem expressar o meu prazer.
Nunca havia me apaixonado antes,
Mas, sigo mansamente o meu caminho
Tu segurastes meu coração em tuas mãos
Isto nunca tinha acontecido antes.

Friday, January 28, 2011

E mais uma vez César Simón



Algo secreto

César Simón
A Federico Chopin

Hay en tu vida algo secreto;
es una noche en una casa,
los balcones abiertos al jardín.
En las habitaciones ya no hay nadie,
y, fuera, sólo luz lunar.
Pero el piano suena quedamente
con una melodía muy antigua,
tan antigua que nunca ha enmudecido.
Un pájaro es quien canta, hay una rosa
y hay una espina, en el balcón.
Tú eres el pájaro que canta.
Tu voz es inmortal, porque no es tuya.
y tu carne es efímera y doliente.

De "Templo sin dioses" 1996

Algo secreto

Há em tua vida algo secreto;
és uma noite em uma casa
as varandas abertas ao jardim.
Nos quartos não já há ninguém,
e, fora, só o luar.
Porém, o piano soa silenciosamente
com uma melodia muito antiga,
tão velha que nunca se cala.
Um pássaro é quem canta, há uma rosa
e há um espinho na varanda.
Tú és o pássaro que canta.
Tua voz é imortal, porque não é tua.
E tua carne é efêmera e dolente.

Ainda César Simón



Cuando amas

César Simón

Permanece en silencio cuando amas.
Escucha al fondo
la vastedad de la respiración,
la gota de agua y el rumor del viento.
Y ven lejos.
Ven, al amor, de lejos.
Desde la noche,
desde el desierto,
arrimado a los muros,
a perecer en él, como acto único.

De "Extravío" 1985

Quando amas

Permanece o silêncio quando amas.
Escute ao fundo
a vastidão da respiração,
a gota de água e o rumor do vento.
E vem de distante.
Vem, ao amor, de muito longe.
Desd’a noite,
desd’o deserto
encostados nos muros,
a perecer nele, como um ato único.

Ilustração: http://soninhabb.blogspot.com/

César Simón


A una joven en el parque

César Simón

Y sí, la muerte es esto:
tú, criatura, ahora,
apoyada en el árbol,
conversando, jugando.
con el otro.

Es ahora.
Te veo.
Es un segundo.
Te irás. Te alejarás. Ahora
es todo lo más claro
posible.
De "Erosión" 1968 - 1971



A uma jovem no parque

E se, a morte é isto:
tu, criatura, agora
encostada na árvore,
conversando, brincando.
com outros.

É agora.
Te vejo.
É um segundo.
Te irás. Te ausentarás. Agora
é tudo o mais claro
possível.

Tuesday, January 25, 2011

Uma pequena homenagem a uma grande atriz


A menina Brenda Lígia

Os olhos de Brenda Lígia
Tem profundezas que seu riso não revela.
É que, por ser atriz, esconde o quanto é bela
E por ser tão simples esconde o quanto é régia.
Mas, por trás das luzes e cortinas,
Há uma menina que só aparece na mulher
Que luta e busca o que quer
E só se descobre, como é, sensacional,
Quando dança e brinca com o real
E se vê que, na menina, há muitas meninas,
E que seu maior brinquedo é se esconder
Para sua beleza não se perceber
Como se fosse possível com o riso
Disfarçar o que nos olhos faz sonhar.

Benedetti



Intimidad

Mario Benedetti


Soñamos juntos
juntos despertamos
el tiempo hace o deshace
mientras tanto
no le importan tu sueño
ni mi sueño
somos torpes
o demasiado cautos
pensamos que no cae
esa gaviota
creemos que es eterno
este conjuro
que la batalla es nuestra
o de ninguno
juntos vivimos
sucumbimos juntos
pero esa destrucción
es una broma
un detalle una ráfaga
un vestigio
un abrirse y cerrarse
el paraíso
ya nuestra intimidad
es tan inmensa
que la muerte la esconde
en su vacío
quiero que me relates
el duelo que te callas
por mi parte te ofrezco
mi última confianza
estás sola
estoy solo
pero a veces
puede la soledad
ser una llama.

Intimidade

Sonhamos juntos,
juntos despertamos
o tempo faz e desfaz
Enquanto isto
não lhe importa teu sonho
nem meu sonho
somos arriscados
ou muito cautelosos
pensamos que não cai
a gaivota
Acreditamos que é eterna
esta magia
que a batalha é nossa
ou de ninguém
vivemos juntos
sucumbirmos juntos,
porém, a destruição
é uma piada
um detalhe de uma rajada
um vestígio
um abrir e fechar
do paraíso
já nossa intimidade
é tão imensa
que a morte a esconde
no seu vazio
quero que me relates
a dor que te cala.
De minha parte te ofereço
a minha última confiança.
Estais sozinha,
estou sozinho,
porém, às vezes
a solidão pode
ser uma chama.

Monday, January 24, 2011

Vendedor de ilusões


Quase soneto de amor

Este meu desejo louco de realizar
Sempre o que é mais irrealizável
È que me leva a amar o improvável
E sempre mais querer, mais desejar.

Não tenho formas nas asas do querer
E ora sou um tigre majestoso
Ou o velho leão muito manhoso
E até mesmo um pavão posso ser.

O que me importa mais é descobrir
Maneiras novas do velho sentir,
Me renovar numa nova sensação.

Sou o hábito de amar reabilitado
Que procura despertar no ser amado
O melhor de toda vida, a ilusão.

Ricardo Peña de volta


La piel azul de tu sonrisa, el fuego...


Ricardo Peña

La piel azul de tu sonrisa, el fuego
de cada estrella, de cada flor dorada.

Emerge el canto de tu cabellera.
Emerge el sueño y la voz perdida.

Pienso que todo lo que tú trajiste
no ha muerto todavía.

Está en la flor del aire. Está en la flor
del fuego.

Golfo de luz apenas perceptible.
Arca de sal apenas entreabierta.

Mas, cómo habría de morir
lo que nevó tu sombra,
lo que calló la angustia de tu Muerte?

A pele azul de teu sorriso, o fogo ...

A pele azul de teu sorriso, o fogo
de cada estrela, de cada flor dourada

Emerge a canção em teu cabelo.
Emerge do sono e da tua voz perdida.

Penso que tudo que tu trouxestes
não está morto, todavia.

Está na flor do ar. Está na flor
do fogo.

Golfo de luz apenas perceptível.
Arca de sal apenas entreaberta.

Mas,como haveria de morrer,
o que enevoou tua sombra,
o que calou a angústia de tua morte?

Ricardo Peña revisitado


Tan sólo sonreíase...

Ricardo Peña

Tan sólo sonreíase
cuando yo la miraba.
No me miraba nunca,
sólo yo la miraba.

Andaba lentamente
por las nacientes albas.
No me besaba nunca.
Sólo yo la besaba.

Hundíase en los bancos
de las nocturnas aguas.
No me inculpaba nunca.
Sólo yo la inculpaba.

Ela apenas sorria ...

Ela apenas sorria
quando eu a olhava.
Não me olhava nunca
só eu a olhava.

Andava lentamente
pelas nascentes madrugadas.
Não me beijava nunca.
Só eu a beijava.

Misturava-se nas ondas
das noturnas águas.
Não me culpava nunca.
Só eu a culpava.

Juan de volta


Ausencia de amor

Juan Gelman

Cómo será pregunto.
Cómo será tocarte a mi costado.
Ando de loco por el aire
que ando que no ando.
Cómo será acostarme
en tu país de pechos tan lejano.
Ando de pobre cristo a tu recuerdo
clavado, reclavado.
Será ya como sea.
Tal vez me estalle el cuerpo todo lo que he esperado.
Me comerás entonces dulcemente
pedazo por pedazo.
Seré lo que debiera.
Tu pie. Tu mano.

Ausência de amor

Como será pergunto.
Como será tocar-te do meu lado.
Ando como louco pelo ar
onde não ando e ando.
Como será me acostumar
no teu país de seios tão distantes.
Ando como um pobre Cristo a te recordar
cravado recravado.
Seja já como for.
Talvez me estale o corpo todo o que tenho esperado.
Me comerás, então, tão docemente
pedaço por pedaço.
Serei o que deveria ser.
Teu pé. Tua mão.

Juan Gelman


PREGUNTAS

Juan Gelman

Ya que navegas por mi sangre
y conoces mis límites,
y me despiertas en la mitad del día
para acostarme en tu recuerdo
y eres furia de mi paciencia para mí,
dime qué diablos hago,
por qué te necesito,
quien eres, muda, sola, recorriéndome,
razón de mi pasión,
por qué quiero llenarte solamente de mí,
y abarcarte, acabarte,
mezclarme en tus cabellos
y eres única patria
contra las bestias del olvido.


Perguntas

Já que navegas por meu sangue
e conheces meus limites
e me despertas no meio do dia
para deitar-me na tua lembrança
e és a fúria da minha paciência para mim
me diga que diabos faço,
porque preciso de ti
quem és, em silêncio, só, recorrendo-me,
razão da minha paixão,
porque quero encher-te tão somente de mim,
e abarcar-te, acabar-te,
misturar-me em teus cabelos
e és a única pátria
contra as feras do esquecimento.

Whitman revisitado em 2011


Ou, a traição já é outra

O HYMEN! O HYMENEE

Walt Whitman

O Hymen! O hymenee! why do you tantalize me thus?
O why sting me for a swift moment only?
Why can you not continue? O why do you now cease?
Is it because if you continued beyond the swift moment you would soon certainly kill me?

O hímen! O himeneu

Ò Hímen! O himeneu!Por que tu me atormentastes assim?
Ou porquê de tanto prazer só por um momento?
Porque não pôde continuar? Qual a razão para cessar agora?
Será que se continuasse para além deste prazer tão breve certamente me mataria?

Saturday, January 22, 2011

Rafael Guillén


Pronuncio amor

Rafael Guillén

Vengo de no saber de dónde vengo
para decir amor, sencillamente.
Para pensar amor, sobre la frente
sostengo qué sé yo lo que sostengo.

Para no detener lo que detengo
siembro en surcos y versos mi simiente.
Para poder subir, contra corriente,
tengo sujeto aquí, no sé qué tengo.

Venir es un recuerdo, si se llega.
Pensar es una huida, si se toca.
Sembrar es una historia, si se siega.

Sólo acierta en amor quien se equivoca
y entrega mucho más de lo que entrega.
Después, toda esperanza será poca.

Pronuncio amor

Venho de não saber de onde venho
para dizer amor, simplesmente.
Para pensar amor, sobre o em frente
Sustento que sei o que não tenho.

Para não deter o que detenho
semeio em estrofes e versos minha semente.
Para poder subir contra a corrente,
Tenho agarrado aqui, não sei o que tenho.

Voltar é recordar, quando se chega.
Pensar é uma fuga, se se toca.
Semear é uma história, se há colheita.

Só acerta em amor quem se equivoca
e entrega muito mais do que oferece.
Depois, toda a esperança será pouca.

Ilustração: http://www.thatianapagung.com.br/blog/?p=58

Rafael Guillén novamente


Miedo un instante

Rafael Guillén

Tengo miedo de ti, o de mí. Cabalgo,
cabalgas tú mi piel por los umbrales
sombríos del amor. Y nunca sales
a mi luz, a tu luz. Y nunca salgo.

Tengo un algo de ti. Tienes un algo
de mí por tus distancias siderales.
¡Ah, si Dios me dijese lo que vales
para poder saber lo que yo valgo!

Estoy, estás, como cumpliendo un rito,
como dando postura por el viento
a esta voz con que gritas, con que grito.

Todo termina, justo, en el momento
en que casi nos toca lo infinito.
tienes miedo, y me mientes. Y te miento.

Medo de um momento

Eu tenho medo de ti, ou de mim. Cavalgo,
cavalgas tu, por minha pele, nos umbrais,
sombras de amor . E nunca mais
a minha luz, a tua luz. E nunca salgo.

Tenho uma coisa tua. Tens algo
de mim por tuas distâncias siderais.
Ah, se Deus me disesses o que vales
para saber o que eu valho!

Estou, estais como cumprindo um rito
como espalhando pelo vento
esta voz com que gritas, com que grito.

Tudo termina, justo, no momento
em que nos toca quase o infinito.
tens medo, e me mentes. E eu te minto.

Ilustração: http://meme.yahoo.com/vendedora_de_sonhos/p/LmlkgrH/

Rafael Guillén


Anclado en mi tristeza de profeta...

Rafael Guillén

Anclado en mi tristeza de profeta
sé cuánto ha de valer lo que hoy recibo;
cuánto valdrá después esto que vivo
sujeto a este después que me sujeta.

Mi plenitud en ti quedó incompleta
y espera un no sé qué definitivo.
Mientras, cerca de ti, escribo y escribo,
poeta al fin, en tiempo de poeta.

Sé cuánto ha de valer; eso es lo triste.
Valdrá más de lo mucho que poseo
el recordar lo mucho que me diste.

Profetizado don, con que falseo
esta presente gracia que me asiste
y esa futura gracia que preveo.

Ancorada na minha tristeza de profeta ...

Ancorada na minha tristeza de profeta
Eu sei o valor do que hoje recebo;
quanto depois isto que vivo
sujeito a este depois que me sujeita.

Minha plenitude em ti queda incompleta
e espera um não sei o quê definitivo.
Ainda que, perto de ti, escrevo e escrevo,
poeta, ao fim, em tempo de poeta.

Eu sei o quanto há de valer; isto é o triste.
valerá muito mais do que possuo
o recordar o muito que me deste.

Profético dom com que falseio.
esta presente graça que me assiste
e esta futura graça que prevejo.

Thursday, January 20, 2011

Ainda Leduc


Aquí se habla del tiempo perdido que como dice el dicho, los santos lloran

Renato Leduc

Sabia virtud de conocer el tiempo;
a tiempo amar y desatarse a tiempo;
como dice el refrán: dar tiempo al tiempo...
que de amor y dolor alivia el tiempo.

Aquel amor a quien amé a destiempo
martirizóme tanto y tanto tiempo
que no sentí jamás correr el tiempo,
tan acremente como en ese tiempo.

Amar queriendo como en otro tiempo
-ignoraba yo aún que el tiempo es oro-
cuánto tiempo perdí -ay- cuánto tiempo.

Y hoy que de amores ya no tengo tiempo,
amor de aquellos tiempos, cómo añoro
la dicha inicua de perder el tiempo...

De "Breve glosa al Libro de buen amor" 1939

Aqui se fala do tempo perdido que, como diz o ditado, os santos choram

Sábia virtude de conhecer o tempo;
a tempo de amar e desatar-se a tempo;
como diz o refrão: dar tempo ao tempo ...
que da dor e do amor alivia o tempo.

Aquele amor que adorei na hora errada
martirizou-me tanto, tanto tempo
que não senti jamais correr o tempo
tão amargamente como naquele tempo.

Amar querendo como em outro tempo
-ignorava eu ainda que o tempo é ouro-
Quanto tempo perdido-aí-quanto tempo.

E hoje, que para amor já não tenho tempo
amo aqueles tempos, que saudades,
do gozo perverso de perder tempo ...

Do "Breve brilho do Livro do Bom Amor" 1939

Renato Leduc


Inútil divagación sobre el retorno


Renato Leduc


Más adoradas cuanto más nos hieren
van rodando las horas,
van rodando las horas porque quieren.

Yo vivo de lo poco que aún me queda de usted,
su perfume, su acento,
una lágrima suya que mitigó mi sed.

El oro del presente cambié por el de ayer,
la espuma... el humo... el viento...
Angustia de las cosas que son para no ser.

Vivo de una sonrisa que usted no supo cuándo
me donó. Vivo de su presencia
que ya se va borrando.

Ahora tiendo los brazos al invisible azar;
ahora buscan mis ojos con áspera vehemencia
un prófugo contorno que nunca he de alcanzar.

Su perfume, su acento,
una lágrima suya que mitigó mi sed.
¡Oh, si el humo fincara, si retornara el viento,
si usted, una vez más, volviera a ser usted!

De "Algunos poemas deliberadamente románticos
y un prólogo en cierto modo innecesario" 1933

Inútil divagação sobre o retorno

Inútil divagar sobre o retorno
Mais adoradas quanto mais nos fere
vão rodando as horas
vão rodando as horas porque querem.

Eu vivo do pouco que ainda me resta de tenho você,
seu perfume, seu sotaque,
uma lágrima sua que mitigou a minha sede.

O ouro de presente troquei pelo de ontem
a espuma ... o fumo ... o vento ...
A angústia das coisas que não devem ser.

Vivo de um sorriso que você não sabe quando
deu. Vivo de sua presença
que vai se esfumaçando.

Agora se estendem meus braços invisíveis ao acaso;
agora buscam meus olhos com forte veemência
contornos fugitivos que nunca hei de ver.

Seu perfume, seu sotaque,
uma lágrima sua que mitigou a minha sede.
Ah, se o fumo ficasse, se voltasse o vento,
Se você, uma vez mais, voltasse a ser você!

Wednesday, January 19, 2011

Azúa outra vez


VI. Un poco de silencio es ya todo silencio...

Félix de Azúa

Un poco de silencio es ya todo silencio
sobre la arista jónica y el zodiacal
Júpiter
olímpico molesto por el ángulo recto
hace resplandecer su dentadura de truhán

«Mira ( dice) aquí pongo yo la palabra»

grabada como el famoso ruiseñor
para un emperador dormido

y aunque la devoremos
queda allí la palabra luciente como aceite
y la palabra no es el acto

la palabra no es el acto
y un poco de silencio es ya todo silencio.

VI. Um pouco de silêncio é já todo o silêncio e ...

Um pouco de silêncio é já todo o silêncio e
sobre a aresta jônica e o zodiacal
Júpiter
olímpicos molestados com o ângulo reto
fazem resplandecer seus dentes de palhaço.

"Olha (diz) aqui ponho eu a palavra"

gravada como famoso rouxinol
para um imperador adormecido

e ainda que a devoremos
queda lá a palavra brilhando como azeite
e a palavra não é o ato

a palavra não é o ato
e um pouco de silêncio e já todo o silêncio.

Félix de Azúa


Tamerlán

Félix de Azúa
guevara


La gente dijo de él que fue muy frívolo
juventud amor y muerte: la flor entre los huesos.
La gente dice que su muerte es bienvenida
pero muchos lloramos, la célebre experiencia
el sereno final.

Le rezamos rodeando el catafalco y observando
cuervos ansiosos por besar su carne.
Somos nosotros los cirios, cuatro hermanos
y sus coronas fúnebres
a nosotros sorprenderá la aurora cubiertos de rocío.
Cuando todos descansen empezaremos a cavar su hoyo
¡nueva matriz! , que de ti salga un nuevo Tamerlán.

Tamerlão
guevara

As pessoas disseram que era demasiado frívolo
juventude, amor e morte: a flor entre os ossos.
As pessoas dizem que sua morte é bem-vinda
porém, muitos choram, a célebre experiência,
o sereno final.

Nós rezamos rodeando o caixão e observando
os corvos ansiosos para beijar sua carne.
Somos nós as velas, quatro irmãos
e suas coroas fúnebres.
E nos surpreende o amanhecer orvalhado.
Quando todos descansarem começaremos a cavar buracos
Nova matriz! Que de ti saia um novo Tamerlão.

Friday, January 07, 2011

Para começo de ano Neruda não faz nenhum mal


Poesia

Pablo Neruda

Y fue a esa edad... Llegó la poesía
a buscarme. No sé, no sé de dónde
salió, de invierno o río.
No sé cómo ni cuándo,
no, no eran voces, no eran
palabras, ni silencio,
pero desde una calle me llamaba,
desde las ramas de la noche,
de pronto entre los otros,
entre fuegos violentos
o regresando solo,
allí estaba sin rostro
y me tocaba.


Yo no sabía qué decir, mi boca
no sabía
nombrar,
mis ojos eran ciegos,
y algo golpeaba en mi alma,
fiebre o alas perdidas,
y me fui haciendo solo,
descifrando
aquella quemadura,
y escribí la primera línea vaga,
vaga, sin cuerpo, pura
tontería,
pura sabiduría
del que no sabe nada,
y vi de pronto
el cielo
desgranado
y abierto,
planetas,
plantaciones palpitantes,
la sombra perforada,
acribillada
por flechas, fuego y flores,
la noche arrolladora, el universo.


Y yo, mínimo ser,
ebrio del gran vacío
constelado,
a semejanza, a imagen
del misterio,
me sentí parte pura
del abismo,
rodé con las estrellas,
mi corazón se desató en el viento.


Poesia

E foi nesta idade... que chegou a poesia
a me buscar. Não sei, não sei de onde
saiu, se do inverno ou do rio.
Não sei como, nem quando,
não, não eram vozes, não eram
palavras, nem silêncio,
porém, desde de uma rua me chamava,
desde dos princípios da noite,
de pronto entre os outros,
entre fogos violentos
ou regressando só,
ali estava sem rosto
e me tocava.

Eu não sabia o que dizer, minha boca
não sabia
nomear,
meus olhos eram cegos,
e algo golpeava minha alma,
febre ou asas perdidas,
e me fui fazendo só,
decifrando
aquela queimadura,
e escrevi a primeira linha vaga,
vaga, sem corpo, pura
tolice,
pura sabedoria
do que não sabe nada,
e vi de pronto
o céu
descerrado
e aberto,
planetas,
plantações palpitantes,
a sombra perfurada,
crivada
por flechas, fogo e flores,
a noite dominadora, o universo.

E eu, mínimo ser,
ébrio do grande vazio
constelado,
à semelhança, à imagem
do mistério,
me senti parte pura
do abismo,
rodeado das estrelas,
meu coração se desatou ao vento.

Julia Prilutzky Farny


26

Julia Prilutzky Farny

Ni una palabra quedará, siquiera,
Amor que eras mi amor, que eras mi vida.
Ya no te digo adiós, ni hay despedida
Ni volveré a llorar por lo que fuera.
Dónde quedó el terror frente a la espera,
Dónde el pretexto fácil de la huida:
Estoy de pronto, como adormecida,
Brazos ausentes, párpados de cera.
Amor que eras mi amor, estas tan lejos
Que tu imagen se vela en los espejos
Y está la niebla donde había llamas.
Oigo que rondas pero no te veo,
Vuelvo a escuchar tu voz, pero no creo.
Ya no importa si estás ni si me llamas.


26

Nem uma palavra ficará, sequer agora,
Amor que eras meu amor, que eras minha vida.
Já não te digo adeus, nem há despedida,
Nem voltarei a chorar pelo que se fora.
Aonde ficou o terror frente à espera,
Aonde o pretexto fácil da saída:
Estou de pronto, como adormecida,
Braços ausentes, pálpebras de cera.
Amor que eras meu amor, estais tão distante
Que tua imagem nos espelhos se dilui
E fica a nevoa onde havia chamas.
Sei que me rondas, porém, não te vejo
Volto a escutar tua voz, porém, não creio.
Já não importa se estais aqui se não me chamas.

Miguel Arteche



NO HAY TIEMPO SI EN EL AGUA DE DIAMANTE


Miguel Arteche

No hay tiempo si en el agua de diamante
que roza nuestros cuerpos
tú y yo nos sumergimos : el agua tuya con el agua mía
de tu boca , y apenas el hundir
de los secretos labios en el mar.
Sólo tu piel abierta
como la abierta noche de la noche
donde tus muslos amanecen.
Y el silencio en los olivos.

Sem tempo na água do diamante

Não há tempo, se na água do diamante
que toca os nossos corpos
tu e eu submergimos: a tua água com a água de minha
de tua boca, e apenas a fusão
dos secretos lábios no mar.
Basta abrir a tua pele
como a aberta noite da noite
onde teus músculos amanheceem.
E o silêncio das oliveiras.

Eugenio Montejo



VUELVE A TUS DIOSES PROFUNDOS

Eugenio Montejo

Vuelve a tus dioses profundos;
están intactos,
están al fondo con sus llamas esperando;
ningún soplo del tiempo las apaga.
Los silenciosos dioses prácticos
ocultos en la porosidad de las cosas.
Has rodado en el mundo más que ningún guijarro;
perdiste tu nombre, tu ciudad,
asido a visiones fragmentarias;
de tantas horas ¿qué retienes?
La música de ser es disonante
pero la vida continúa
y ciertos acordes prevalecen.
La tierra es redonda por deseo
de tanto gravitar;
la tierra redondeará todas las cosas
cada una a su término.
De tantos viajes por el mar
de tantas noches al pie de tu lámpara,
sólo estas voces te circundan;
descifra en ellas el eco de tus dioses;
están intactos,
están cruzando mudos con sus ojos de peces
al fondo de tu sangre.

Volta a teus deuses mais profundos

Volta a teus deuses profundos;
estão intactos,
estão ao fundo com suas chamas esperando;
nenhum sopro do tempo as apaga.
Os silenciosos deuses práticos
ocultos na porosidade das coisas.
Rodaram mais pelo mundo do que qualquer calhau;
perdestes teu nome, tua cidade,
asilado em visões fragmentárias;
De tantas horas o que reténs?
A música do ser é dissonante,
porém, a vida continua
e certos acordes prevalecem.
A Terra é redonda pelo desejo
De tanto gravitar;
a Terra arredondará todas as coisas
cada uma a seu tempo.
De tantas viagens marítimas
de tantas noites ao pé de tua lâmpada,
só estas vozes te rodeiam;
decifra nelas o eco de teus deuses;
estão intactos,
estão cruzando mudos com seus olhos de peixe
no fundo de teu sangue.

Thursday, January 06, 2011

Ainda Marzal



..T ...

Carlos Marzal

Cuando deje las sábanas, mañana,
pensaré que mi sueño de la noche
no ha sido sólo un sueño
y que lo que me aguarda no es la huraña
mañana de mañana.
Acogeré mi cuerpo esperanzado,
como un feliz presagio inmerecido,
y si hay un cuerpo aislado,
será maravilloso descubrirlo,
saber que las monedas que he pagado
De La vida de frontera


.. T ...

Ao sair da floresta, na manhã,
pensei que o meu sonho da noite
não havia sido só um sonho
e que o que me espera não é o mal-humorado
amanhã de manhã.
Acolhe meu corpo esperançoso,
como um feliz presságio imerecido
e se houver um corpo distante,
será maravilhoso descobri-lo,
saber das moedas que paguei
pela vida de fronteira

Carlos Marzal



Un mar de lágrimas

Carlos Marzal

Sufrirás. Ya has sufrido.
Tal vez estés sufriendo.
Y aunque sepas por qué (si es que lo sabes),
ese conocimiento no será tu consuelo.

El adiós a los tuyos; el azar,
implacable; la incógnita del cielo,
todo lo que se pierde
hechos y vida abajo, tiempo abajo,
o también vida arriba, hacia lo que te espera,
todo, configura el sabor de tus lágrimas,
un sabor sin sabor, ya que no lo comparte
quien te ha visto sufrir
-no puede compartirlo-,
un sabor que no entiendes,
un cúmulo de lágrimas que trazan,
no sé dónde,
un mar por el que bogan,
y no sé para qué,
inútiles por siempre, inconsolables,
quién sabe desde cuándo,
su alma,
tu alma
y la mía.

De "Los países nocturnos" 1996

Um mar de lágrimas

Sofrerás. Já tens sofrido.
Talvez estejas sofrendo.
E ainda que saibas porque (se é que sabes)
este conhecimento não será teu consolo.

O adeus aos teus, a azar,
implacável, o mistério do céu
tudo o que está perdido
fatos e a vida abaixo, tempo abaixo,
ou também vida acima ou até mesmo, o que te espera,
tudo configura o sabor de tuas lágrimas,
um sabor sem sabor, já que não são compartilhadas
quem te viu sofrer
-não pode compartilhar
um sabor que não entendes,
um monte de lágrimas que trazem,
Eu não sei de onde,
um mar na qual vagam,
eu não sei para que,
inúteis para sempre inconsoláveis,
Quem sabe desde quando,
sua alma,
tua alma
e a minha.

Wednesday, January 05, 2011

Sobre um poema de Jiménez...


Uma bela ousadia de Jefferson Bessa

abrem-se as cores do corpo
aberto para mim, para quem o vê.
de súbito, acordo eternamente
à verdade de quem deve abrir-se
não sou eu, nem nós, nem ninguém
porque se quero desfolhar alguém
vejo qualquer coisa inexistente.

nem como rosa, nem como cravo
hoje nada arrancarei de sua pele
não perderei, nem perderá um pelo.
sentará frente a mim de corpo nu
e aos meus olhos, sim, libertará
a minha visão já esquecida de mim
para só olhar e olhar um corpo vivo

Homero Aridjis



Déjame...

Homero Aridjis

Déjame
estoy lleno de ti,
no te perderé,
llevo conmigo tu esperanza invicta
y los diluvios de tu claustro;
he visto levantarse de tus pupilas
el sentimiento inaugural del hombre,
pero todavía no tengo la sangre
y la tierra y la palabra
no me pertenecen


Deixa-me

Deixa-me
Estou pleno de ti,
não te perderei,
levo comigo tua esperança invicta
e os dilúvios de teu claustro;
vi no levantar de tuas pupilas
o sentimento inaugural do homem,
porém, todavia, não tenho o sangue
e a terra e a palavra
não pertencem.

Sunday, January 02, 2011

E ainda Juan Ramón Jiménez



Te deshojé como una rosa...

Juan Ramón Jiménez

Te deshojé como una rosa,
para verte tu alma,
y no la vi.
Mas todo en torno
-horizontes de tierra y de mares-,
todo, hasta el infinito,
se colmó de una esencia
inmensa y viva.

Te desfolhei como uma rosa...

Te desfolhei como uma rosa,
para ver tua alma,
e não a vi.
Mas, em tudo em torno
-horizontes da terra e dos mares-
tudo, até o infinito,
foi inundado por uma essência
imensa e viva.

Ilustração: cristianaarcangeli.com.br

Juan Ramón Jiménez




Jardín

Juan Ramón Jiménez

Yo no sé cómo saltar
desde la orilla de hoy
a la orilla de mañana.

El río se lleva, mientras,
la realidad de esta tarde,
a mares sin esperanza.

Miro al oriente, al poniente,
miro al sur y miro al norte.

Toda la verdad dorada
que cercaba al alma mía,
cual con un cielo completo,
se cae, partida y falsa.

Y no sé cómo saltar
desde la orilla de hoy
a la orilla de mañana.

De "Estío"

Jardim

Eu não sei como saltar
das fronteiras do hoje
para as bordas do amanhã.

O rio leva, no entanto,
a realidade desta tarde,
a mares sem esperança.

Eu olho para o oriene, o poente,
olho ao sul e olho ao norte.

Toda a verdade dourada
que cercava a minha alma,
como se fosse um céu cheio
caiu, perdida e falsa.

Eu não sei como saltar
das fronteiras de hoje
para as bordas do amanhã.

Ainda Juan Ramón Jimenez



Desnudos

Juan Ramón Jiménez
(Adioses. Ausencia. Regreso)

Nacía, gris, la luna, y Beethoven lloraba,
bajo la mano blanca, en el piano de ella...
En la estancia sin luz, ella, mientras tocaba,
morena de la luna, era tres veces bella.

Teníamos los dos desangradas las flores
del corazón, y acaso llorábamos sin vernos...
Cada nota encendía una herida de amores...
-El dulce piano intentaba comprendernos.-

Por el balcón abierto a brumas estrelladas,
venía un viento triste de mundos invisibles...
Ella me preguntaba de cosas ignoradas
y yo le respondía de cosas imposibles...


Nus

(Ausência Adeuses. Regresso)
Nascia, cinza, da lua, e Beethoven chorava,
sob a mão branca, no piano dela ...
Na sala sem luz, ela, ainda tocava,
morena da lua, era três vezes bela.

Tínhamos nós dois dessangradas flores
do coração, e, acaso, choravamos sem nos ver ...
Cada nota acendia uma ferida de amores ...
"O doce piano tentava compreender .-

Na varanda aberta para estrelas nas névoas,
vinha um vento triste de mundos invisíveis ...
Ela me perguntando sobre as coisas ignoradas
E eu lhe respondendo sobre coisas impossíveis ...

Ilustração: http://sofismascuriosos.blogspot.com