Thursday, March 31, 2016

Uma poesia de Roque Dalton Garcia

 
COMO TÚ                                                                                      
Roque Dalton Garcia

Yo, como tú,
amo el amor, la vida, el dulce encanto
de las cosas, el paisaje
celeste de los días de enero.

También mi sangre bulle
y río por los ojos
que han conocido el brote de las lágrimas.

Creo que el mundo es bello,
que la poesía es como el pan, de todos.

Y que mis venas no terminan en mí
sino en la sangre unánime
de los que luchan por la vida,
el amor,
las cosas,
el paisaje y el pan,
la poesía de todos.


COMO TU                       

Eu, como você,
amo o amor, a vida, o doce encanto
das coisas, a paisagem
celeste dos dias de janeiro.

Também o meu sangue ferve
e rio com os olhos
que conheceram os gomos de lágrimas.

Creio que o mundo é belo,
que a poesia é como o pão, de todos.

E que minhas veias não terminam em mim
senão no sangue unânime
dos que lutam pela vida,
o amor,
as coisas,
a paisagem e o pão,
a poesia de todos.


Ilustração: casadospoetasedapoesia.ning.com

Wednesday, March 30, 2016

ESTAÇÕES DO MEU AMOR



Como se fosse, meu amor, a primavera
É o meu carinho por ti que sempre se renova
Apagando as velhas coisas e criando novas,
No cotidiano dos dias construindo eras.

Como se fosse, meu amor, o verão
É esta paixão por ti, que sempre me aquece
Se elevando com a força mansa das preces
E, no abril que se aproxima, gerando canções.

Como se fosse, meu amor, o outono
É esta doçura, que sempre nos permeia
Que adoça o cotidiano e cria suas teias
Nos levando aos sonhos em noites de sonos.

Como se fosse, meu amor, o inverno
É esta saudade de ti, que não termina
Fonte de afagos, de ternura, eternas minas,
Me despertando os sentimentos mais ternos.


Ilustração: www.sabiaspalavras.com6

Tuesday, March 29, 2016

Uma poesia de Luis Cernuda Bidón

 
Contigo                                                                          
Luis Cernuda Bidón

¿Mi tierra?
Mi tierra eres tú.

¿Mi gente?
Mi gente eres tú.

El destierro y la muerte
Para mi están adonde
No estés tú.

¿Y mi vida?
Dime, mi vida,
¿Qué es, si no eres tú?

CONTIGO

Minha terra?
Minha terra és tu.

Minha gente?
Minha gente és tu.
O exílio e a morte
Para mim estão aonde
Tu não estais.

E minha vida?
Diz-me, minha vida,
O que é, se não és tu?


Ilustração: socialspirit.com.br

Monday, March 28, 2016

O OLHAR POÉTICO

Todo mundo sabe                                                     
(Mas, ninguém comenta o óbvio)
Que o mundo é mágico.
E regido por leis simples e secretas,
Que dão uma sensação de irreal ao real
Tornando o abstrato natural.
Sei que pode ser banal
Que a poesia seja apenas isto:
Revelar o que se sabe,
O que todos sabem,
De um modo bonito.


Ilustração: yanco.blogspot.com

Duas poesias de José Emilio Pacheco

Inmemorial

José Emilio Pacheco

El misterioso día
se acaba con las cosas que no devuelve

Nunca nadie podrá reconstruir
lo que pasó ni siquiera en este
más cotidiano de los mansos días

Minuto enigma irrepetible

Quedará tal vez
una sombra una mancha en la pared
vagos vestigios de ceniza en el aire

Pues de otro modo qué condenación
nos ataría a la memora por siempre

Vueltas y vueltas en derredor de instantes vacíos

Despójate del día de hoy para seguir ignorando y viviendo

IMEMORIAL

José Emilio Pacheco

O misterioso dia
Se acaba com as coisas que não devolve.

Nunca ninguém poderá reconstruir
o que se passou, mesmo neste
mais cotidiano dos dias mansos. 

Minuto, enigma irrepetível

Ficará talvez
uma sombra, uma mancha na parede,
vagos vestígios de cinzas no ar

Pois, de outro modo, que condenação
nos amarraria a memória para sempre. 

Voltas e voltas em torno de instantes vazios.

Despojar-se do dia de hoje para seguir ignorando e viver.
  
GOTA DE LLUVIA

José Emilio Pacheco

Una gota de lluvia temblaba en la enredadera.
Toda la noche estaba en esa humedad sombría
que de repente
iluminó la luna.
  
GOTA DE CHUVA

Uma gota de chuva tremia a trepadeira.
Toda a noite permaneceu nesta umidade sombria
que, de repente,
se iluminou com a lua.


Ilustração: charivari.pt

Saturday, March 26, 2016

Dois poemas de Adolfo Burriel


 

Breve es el sueño, así

 

Adolfo Burriel


la picadura,

el vuelo de la abeja,

la lluvia,

el brillo

del pájaro y la llama,

la súplica del náufrago,

    y la costa,

 

breve es la lluvia,

es solitaria el alba,

la sombra del milagro.

 

Breve é o sonho, assim

 

A picada,

o voo da abelha,

a chuva,

o brilho

do pássaro e a chama,

a súplica do naufrago,

e a costa

 

Breve é a chuva,

é solitário o amanhecer,

a sombra do milagre. 

 

CIUDAD DE SUEÑO


Adolfo Burriel


Mi corazón
es un paisaje de recuerdos,
una ciudad de lunas,
el tuyo es hoy
sueño del río que nos huye
y del desierto,
estancia que se yergue entre los pliegues 
de un prodigio evocado,
cielos en fuga,
sinfonía al color
arrebatada.

 

Cidade de sonho

 

Meu coração

é uma paisagem de recordações,

uma cidade de luas,

o teu é hoje

sonho dos rios que nos foge

e do deserto,

morada que se ergue entre as dobras

de um sucesso evocado,

céus em fuga,

sinfonia de cores

arrebatada.

 

Friday, March 25, 2016

Uma poesia de Claudio Rodríguez Fer


 

TREN                                                                                                                     

 

Claudio Rodríguez Fer

 

Lo importante es irnos

y no donde vamos

y nunca llegar más lejos

que antes de partir.

 

Trem

 

O importante é irmos

e não onde vamos

e nunca chegar mais longe

que antes de partir

 

Ilustração: apmacf.blogspot.com

Thursday, March 24, 2016

DESPERTADOR

Eu me lembro                                                         Que dormia de olhos abertos
Nas noites de insônia
E que só a quentura de teu corpo,
Como uma carícia de brasas,
Me fazia acreditar
Ser um sonho
A vida que levava.
Enquanto minha alma bailava,
Voando por lugares tão remotos,
Sempre se metendo em confusões,
Sucedia que, em algum momento,
A única solução era acordar
Como se me encrencar
Fosse o alarme do despertar.


Wednesday, March 23, 2016

Mais uma poesia de Julio Cortázar

NOCTURNO                                                                                          
Julio Florencio Cortázar

Tengo esta noche las manos negras, el corazón sudado
como después de luchar hasta el olvido con los ciempiés del humo.
Todo ha quedado allá, las botellas, el barco,
no sé si me querían, y si esperaban verme.
En el diario tirado sobre la cama dice encuentros diplomáticos,
una sangría exploratoria lo batió alegremente en cuatro sets.
Un bosque altísimo rodea esta casa en el centro de la ciudad,
yo sé, siento que un ciego está muriéndose en las cercanías.
Mi mujer sube y baja una pequeña escalera
como un capitán de navío que desconfía de las estrellas.
Hay una taza de leche, papeles, las once de la noche.
Afuera parece como si multitudes de caballos se acercaran
a la ventana que tengo a mi espalda.

(esto de los caballos me recuerda a cierto relato)

NOTURNO

Tenho esta noite as mãos negras, o coração suado
Como depois de lutar até o esquecimento com centopeias de fumaça.
e depois de lutar ao esquecimento com centopeias fumaça.
Tudo ficou por lá, garrafas, o barco,
não sei se me queriam, e se esperavam me ver.
No jornal aberto sobre a cama se lê reuniões diplomáticas,
uma sangria exploratória o venceu alegremente em quatro sets.
Uma floresta imponente rodeia esta casa no centro da cidade,
Eu sei, sinto como um cego está morrendo nas proximidades.
Minha esposa sobe e baixa uma pequena escada
como um capitão de navio que desconfia das estrelas.
Há um copo de leite, papéis, as onze horas da noite.
Do lado de fora parece que multidões de cavalos se aproximam
da janela que tenho nas minhas costas.

(Estes cavalos me lembram de uma certa história)

Ilustração: www.allodi.web719.kinghost.net


Tuesday, March 22, 2016

CANÇÃO


Eu não conseguia dormir                   relembrando o dia
em que sentei do teu lado,
por um acaso do destino,
no avião.
E nem sonhava em te beijar
nem pensava
que tanto tempo iria passar
querendo ficar sempre ao teu lado.
É isto é mesmo coisa do passado,
mas, lembrar da alegria
de ter tido tua companhia,
em certas horas,
ecoa, nos meus ouvidos,
como se fosse uma canção.

Ilustração: somostodosum.ig.com.br



Duas poesias de Leonard Cohen

Song                                             
Leonard Cohen

I almost went to bed
without remembering
the four white violets
I put in the button-hole
of your green sweater
and how i kissed you then
and you kissed me
shy as though I'd
never been your love

Canção

Eu quase fui para a cama
sem me lembrar
das quatro violetas brancas
Eu coloquei no buracos de botão
de sua camisola verde
e como eu te beijei, então,
e tu me beijaste
tímida como se pensasse
que nunca fui o seu amor

Do not forget old friends

Leonard Cohen

Do not forget old friends
you knew long before I met you
the times I know nothing about
being someone
who lives by himself
and only visits you on a raid

Não se esqueça dos velhos amigos

Não se esqueça dos velhos amigos
você sabia muito tempo antes de te encontrar
que, algumas vezes, eu não sei nada sobre
ser alguém
que vive sozinho
e somente vou visitá-lo rapidamente

Ilustração: lupoesias.blogspot.com


Duas poesias de Carolina Bravo

LOS CAMBIOS                                                                
Carolina Bravo

El futuro es una cosa
que tiembla todo el tiempo.
Fácil de ir,
se cuela con la espuma de los platos
hacia el resumidero;
donde mas agua
sale
sale, sale.

Siempre que estoy así
la casa se desborda,
no importa que casa sea,
se brota.

la humedad y yo no nos llevamos bien:
¿dónde iremos a vivir?

AS MUDANÇAS

O futuro é uma coisa
que estremece o tempo inteiro.
Fácil de ir,
se escoa com a espuma dos pratos
até o sumidouro;
de onde mais água
sai
sai, sai.

Sempre que estou assim
a casa se transborda,
não importa que casa seja,
se brota.

a umidade e eu não combinamos bem:
onde iremos viver?
  
SIN ASUNTO

Carolina Bravo

certezas inciertas
esperas que desesperan
el día que me quieras
los narcisos
la mirada desértica de llegar al mar
y todos mis poemas
hablan de eso.

SEM ASSUNTO

Certezas incertas
esperas que desesperam
o dia em que me queiras
os narcisos
a olhada desértica de chegar ao mar
e todos meus poemas
falam disso.


Ilustração: tygabox.com

Monday, March 21, 2016

Uma poesia de Estela Ela




Y SI EL POEMA ES UN ESPEJO
                                                      
                                                                                     "Porque la noche está de ojos abiertos"
                                                                                                    (Mario  Benedetti)                                                                     
Estela Ela 

Y si el poema es un espejo
en el que  miras hacia dentro
y engaña en su luna
circular, líquida, frágil...


Y si el poema es un  espejo
cruel, anodino, tenso
y a veces parece roto
y clava esquirlas de escarcha...

Su hoja es voluble
en la noche de ojos abiertos,
como agua de un estanque
oscilante y turbia
y en otros resquicios
inmóvil y honda hasta el cieno.

E se o poema é um espelho
                                              “Porque a noite está de olhos abertos”
                                                                                  (Mario Benedetti)
E se o poema é um espelho
em que olhas para dentro
e enganas na  sua lua
circular, líquida, frágil ...

E se o poema é um espelho
cruel, anódino, tenso
e, às vezes, parece quebrado
e crava lascas de gelo ...

Sua lâmina é volúvel
na noite, de olhos abertos,
como a água de uma lagoa
ondeante e turva
e em outras resquícios
imóvel e profunda até a lodo.


Ilustração: diariodakiro.blogspot.com