Sunday, November 30, 2014

Gardel, o inigualável


Agora,
que os velhos tempos já não voltarão mais,
restaram os cabarés silenciosos e as damas tristes,
testemunhas que foram dos teus palcos prediletos,
quando encantavas Buenos Aires
com canções doces e milongas sentimentais
que inundavam os corações de poesia
e faziam os casais dançarem enlevados
com a paixão nos sangues acelerados
pela beleza da música e dos desejos despertados.
Agora
só restam essas noites vazias,
em que me emborracho,
atrás da beleza que já não há,
em que tento, em vão, tanto buscar;
sabendo que sem ti
o tango jamais será o mesmo
embora o teu nome persista
em cada par que na pista
reviva esta magia que só o tango tem
e que só tu, Carlos Gardel, 
como ninguém,  
fizeste inigualável.  

Uma poesia de Sara Royo


...
Sara Royo

Cada uno llevamos nuestra bolsa de penas
y heridas que nos duelen a traición, alevosas.
El tiempo es un tramposo que parece que pasa
pero se queda siempre, escondido en los pliegues,
acechando un recuerdo, un olor, un paisaje,
y en dos zarpazos fieros nos lleva a ese minuto
en que nos mató a golpes de tristeza la vida.
No sabe de clemencia ni de balsámico olvido.
Morimos muchas veces. Más que resucitamos.
Hay días en que pesa tanto y tanto esa bolsa
que la despeñarías desde cualquier barranco
más va cosida a tu alma, a tu piel va cosida,
y tu tiempo y su tiempo son hermanos siameses.

...
Cada um de nós levamos nossas bolsas de penas
e feridas que nos doem a traição, aleivosias.
O tempo é uma fraude que parece que passa
Porém, fica sempre, escondido nas dobras,
Perseguindo uma recordação, um odor, uma paisagem,
e com dois ferrões ferozes nos levam a este minuto
em que nos matou a golpes de tristeza a vida.
Não sabe de clemência ou de balsâmico esquecimento.
Morremos muitas vezes. Mais que ressuscitamos.
Há dias em pesa tanto e tanto esta bolsa
que a despejarias em qualquer barranco
mas, vai costurada à tua alma, à tua pele vai cosida,
e tu tempo e seu tempo são irmãos siameses.

Fonte: http://elixirparaolvidar.blogspot.com.br/

Ilustração: efng2003.blogspot.com

Uma poesia de Darío



Muda

Darío

Sueño demasiado ahora
como si eso pudiese compensar
el estrechamiento del campo
y de las expectativas
o me fuese acostumbrando
despacio a las sombras
a la inercia, a la degradación
a suceder fuera del cuerpo.

Muda

Sonho demasiado agora
como se isso pudesse compensar
o estreitamento do campo
e das expectativas
ou me estou acostumando
lentamente às sombras
à inércia, à degradação
a se suceder fora do corpo.


Ilustração: caosnosistema.com

Saturday, November 29, 2014

Criança sedenta


Se for inverno ou verão
Eu bebo como se fosse primavera.
É a vida
E a vida tempo bom não espera
Segue em frente
Qualquer
que seja o tom,
A música, o ritmo diferente
Para nos fazer dançar.
O amanhã?
O amanhã que importa?
Hoje, por favor, abre tua porta,
O leite, a cama,
O peito macio me oferece,
Com a sofreguidão de quem ama,
Que prometo ser santo
E, como uma criancinha de colo,
Beber leite
Tanto, tanto, tanto...

(Do livro "Águas Passadas", Editora Per Se, 2013).
Ilustração: lojadnene.com

Friday, November 28, 2014

García Lorca de volta

 
 El amor duerme en  el pecho del poeta
                                                                                        
Federico García Lorca

Tú nunca entenderás lo que te quiero
 porque duermes en mí y estás dormido.
 Yo te oculto llorando, perseguido
 por una voz de penetrante acero.

Norma que agita igual carne y lucero
 traspasa ya mi pecho dolorido
 y las turbias palabras han mordido
 las alas de tu espíritu severo.

Grupo de gente salta en los jardines
 esperando tu cuerpo y mi agonía
 en caballos de luz y verdes crines.

Pero sigue durmiendo, vida mía.
Oye mi sangre rota en los violines.
¡Mira que nos acechan todavía!

Sonetos del amor oscuro (1936)

O amor dorme no peito do poeta

Tu nunca sabeo o que te quero
 porque dormes em mim e estais dormindo.
 Eu te oculto chorando, perseguido
 por uma voz de penetrante aço.

Norma que agita como carne e candieiro
trespassa já meu peito dolorido
e as turvas palavras hão mordido
as asas de teu espírito severo.

Grupo de pessoas pulando nos jardins
esperando teu corpo e minha agonia
em cavalos de luz e verdes crinas.

Porém, segue dormindo, minha vida.
Ouves meu sangue jorrar nos violinos.
Olhe que nos assombra,todavia!

Sonetos do Amor obscuro (1936)

Thursday, November 27, 2014

Poeminha da esperança no futuro

Esta falta tua me pegou                                                    
Quando havia acabado de te largar...
Talvez seja por culpa da chuvinha fina
ou de tua queixa, verdadeira e pequenina,
na sua imensidão,
de que não te amo não,
que me pegou de jeito, pelo coração.
Sei que é verdade:
o sentimento doloroso
da ausência do amor, muitas vezes,
causa um dor dos diabos
(e nem tu roubastes o pato que te pedi,
nem te dei a jaca prometida).
Assim é a vida:
segue em frente
com as promessas não cumpridas,
as felicidades interrompidas
e a esperança de que amanhã
os dias sejam melhores.


Outra poesia de Marian Raméntol




COMO UN MUERTO NUEVO

Marian Raméntol

De qué frío me vestiré,
con qué azul estrenaré de nuevo el mar
y desmentiré la gravedad
de esta inmensa noche.

Como un buzo
inmersionaré en la negación de tu muerte
y como un muerto nuevo
afirmaré la horizontalidad que nos separa.

Toda la humedad se consolida
en el recuerdo de la piel turbia
de este río que nunca se distrae
y en el que, inexorablemente,
cabemos todos.

Como um morto novo

De que frio me vestirei,
com que azul estreiarei de novo o mar
e desmentirei a gravidade
desta imensa noite.

Como um mergulhador
Mergulharei na negação de tua morte
e como um morto novo
afirmarei a horizontalidade que nos separa.

Toda a umidade se consolida
na memória da pele turva
deste rio que nunca se distrai
e nele que, inexoravelmente,
cabemos todos.


Ilustração: pt.wikipedia.org

Wednesday, November 26, 2014

Marian Raméntol




NO SÉ SI PODRÉ HACER UN PACTO CON LA MUERTE

Marian Raméntol

Olvido el trébol que me clasifica,
necesito mover los polos e inventarme
cataclismos de esmeraldas, barcos vagabundos
capaces de abrirme la sangre,
de llenarme de tierra la respiración.

Quisiera desaparecer verde y tranquila,
con mi vientre estrenando su traje de buzo,
mientras anoto el cuchicheo de los peces
y vacío de recuerdos el paladar.

Quisiera irme horizontal
como lo hizo ella, con la partitura del azul
entre los pechos y el misterio de sus ojos
ocultando mi caminar descalzo.

No sé si podré hacer un pacto con la muerte
pero mis mares
serán campanas en mitad del tiempo
y multiplicaran los pantanos
en su nombre.

Não sei se poderei fazer um pacto com a morte

Esqueço o tremor que me classifica,
necessito mover os pólos e inventar-me
cataclismos de esmeraldas, barcos vagabundos
capaz de me abrir o sangue,
de preencher-me de terra a respiração.

Quisera desaparecer verde e tranquila,
com meu ventre estreando seu traje de mergulhador,
enquanto anoto o sussurro dos peixes
e vazio de memórias o paladar.

Quisera ir-me horizontalmente
como ela, com a partitura azul
entre os seios e o mistério de seus olhos
ocultando o meu caminhar descalço.

Não sei se poderei fazer um pacto com a morte,
porém, meus mares
serão sinos na metade do tempo
e se multiplicarão os pântanos  
em seu nome.


Monday, November 24, 2014

Canção do amor que há de acontecer



Traz o teu corpo suave, doce, perfumado
para rasgar as águas da paixão que se agiganta,
num trabalho árduo e vagaroso, até acalmar a desabrochada flor do desejo.
Traz a feroz mansidão de tua boca, que por tudo passeia e colhe,
sorvedouro de líquidos e peles, ignorante de tudo
que não seja um desejo insano de sabores e doçuras,
uma ilimitada vontade de tudo absorver.
Traz o calor das tuas mãos, que são asas no segredo
do quarto, quando te amo despudorado nas brumas da noite,
com um amor que se estende até o cansaço, à rendição ao encanto do prazer
ou ao sonho verdadeiro de que voei contigo.
Então, como o arco que geme nas cordas de um violino
teu nome há de soar como um hino de vitória do amor
e poderei feliz, se não me fizer eterno, morrer sem nenhuma dor.


Ilustração: mirellejc.blogspot.com

Saturday, November 22, 2014

Um poema de Gloria Young


Hoy puede ser

Gloria Young

Hoy puede ser cualquier día
donde los sueños
se suben por las catedrales
o la sombra no está vestida.

Hoy puede ser cualquier día
donde la risa de los amantes
se ilumina y muere.

Hoy puede ser cualquier día
donde el tedio repliega sus oleajes
y guarda sus goznes
o un sueño espera sobre la escalinata
del pasmo.

Hoy puede ser cualquier día
sonoro y disonante
como el cadáver del silencio.

Pero mi dolor
mira
una ventana a la orilla del mar.

Hoje pode ser

Hoje pode ser qualquer dia
onde os sonhos
sobem pelas catedrais
ou sombra não está vestida.

Hoje pode ser qualquer dia
onde o riso dos amantes
se ilumina e morre.

Hoje pode ser qualquer dia
onde o tédio repõe seus óleos
e mantém suas dobradiças
ou um soonho espera sobre as escadas
do pasmo.

Hoje pode ser qualquer dia
sonoro e dissonante
como o cadáver do silêncio.

Porém, minha dor
olha
por uma janela na beira do mar.

Ilustração: misturao.blogspot.com

Friday, November 21, 2014

Duas poesias de Silvia Rodríguez Ares



Mano ausente

Silvia Rodríguez Ares

Es la mano ausente
la que toca mi hombro.
Solíamos
pasear en primavera.
El frío
-y todo lo demás-
no sé por qué
sucede.

A mão ausente

É a mão ausente
que toca meu ombro.
Usavamos
passear na primavera.
O frio
-e todo o resto-
Não sei por que
sucedeu.

EXORCISMO

Silvia Rodríguez Ares

Tenés
la soga al cuello.
Mirame
si querés salvarte.
Todo
lo que soy
es un hilo
que se corta.

Exorcismo

Tens
a corda no pescoço.
Olha-me
se queres te salvar.
Tudo
o que eu sou
é um fio
que se corta.


Thursday, November 20, 2014

Mais uma vez Derek Walcott


Love after Love

Derek Walcott

The time will come
when, with elation,
you will greet yourself arriving
at your own door, in your own mirror,
and each will smile at the other’s welcome,

and say, sit here.  Eat.
You will love again the stranger who was your self.
Give wine.  Give bread.  Give back your heart
to itself, to the stranger who has loved you

all your life, whom you ignored
for another, who knows you by heart.
Take down the love letters from the bookshelf,

the photographs, the desperate notes,
peel your own image from the mirror.
Sit.  Feast on your life.

O amor depois de amar

O tempo há de vir
quando, com alegria,
tu saudarás a ti mesmo partindo
na tua própria porta, no teu próprio espelho,
e cada qual sorrirá dando boas vindas ao outro,

e diz, senta-te aqui. Come.
Seguirás amando ao estranho que fostes para ti.
Oferece-lhe vinho. Oferece-lhe pão. Devolve teu coração
a ti mesmo, ao estranho que te amou

por toda a vida, a quem ignorastes
em favor de outro, quem te conhece de coração.
Toma tuas cartas de amor da estante,

as fotografias, as desesperadas notas,
desprega tua própria imagen do espelho.
Senta-te. Festeja tua própria vida.



Uma poesia de Anna Swir



LA ALEGRÍA DE ESTAR SOLA

Anna Swir

Me rodearé de silencio
y florecerán en mí voces.
Me cerraré
y habrá más lugar en mí.

Como los pechos libres de corpiño
se me airearán
mis ideas y las ajenas.
Naceré bajo mi propia mirada
estallaré en mí
como una ramificación.
Me alejaré de todo
y todo entrará en mí.
Veré la existencia y su relieve
y la sombra que arroja
ese relieve.

Veré cada verdad,
como recién lavada.
La soledad me dará a mí misma
y al mundo.

(Tradução de Emma Gunst).

A alegria de estar só

Me rodearei de silencio
E florescerão em mim vocês.
Me fecharei
E haverá mais lugar em mim.

Como os seios livres de sutiãs
Serão arejadas
Minhas ideias e as alheias.
Nascerei sob meu próprio olhar
Estalando em mim
Como uma ramificação.
Me afastarei de todos
e tudo entrará em mim.
Verei a existência e o seu reverso
e a sombra que projeta
este reverso.

Verei cada verdade,
Como recém-lavada.
A solidão me dará a mim mesma
e ao mundo.


Ilustração: www.vibreleve.com

Wednesday, November 19, 2014

Uma poesia de Antonio Daganzo


Atacar tan sólo es defenderse....

Antonio Daganzo

Atacar tan sólo es defenderse:
así la única vena,
ovillada en el cuerpo,
implica desafío al tiempo que temor.
Destello secretísimo en lo oscuro,
rompiendo líneas rectas,
que quiso ser tesoro y se quedó en relámpago.
A lo sumo joyel
versado en asechanzas de ladrones.

Atacar tão só é defender-se

Atacar tão só é defender-se:
assim a única veia,
enrolada no corpo,
implica o desafio ao tempo do temor.
Um brilho secretíssimo no escuro,
quebrando as linhas retas
que quiseram ser tesouro e  se tornaram relâmpagos.
No sumo, jóias
versadas nos ardis de ladrões.


Ilustração: osilenciodoscarneiros.blogspot.com

Monday, November 17, 2014

Outra poesia de Julián Marchena Valle-Riestra


Anochecer campestre

Julián Marchena Valle-Riestra

Cuando la tarde muere y soñolientos
Van hundiéndose en sombras los caminos,
Se duerme entre las frondas ya sin trinos
El alma vagabunda de los vientos.
Rezan las viejas sus rosarios lentos
En tanto que, al fulgor de mortecinos
Faroles, ruidos mozos cuentan cuentos
De brujas y fantasmas y asesinos.
Sube del valle virginal fragancia;
Una campana sueña en la distancia.
El paisaje se borra. Se diría
Que la noche cerró, muda y avara,
Como un tintero que se derramara
Sobre una página de tricomía.

Anoitecer campestre 

Quando a tarde morre e sonolentos
Vão fundindo-se em sombras os caminhos,
Adormece entre as folhas já sem trinos
A alma vagabunda dos ventos.
Rezam as velhas seus rosários lentos  
Enquanto que, ao fulgor dos morticínios
Faróis, ruídos,  moços contam contos  
De bruxas e fantasmas e assassinos.
Sobe do vale virginal fragrância;
Um sino sonha na distância.
A paisagem que se escurece. Se diria
Que a noite se fecha, muda e avara,
Como um tinteiro que se derramará
Sobre uma página colorida.


Ilustração: caminhosdovaledoparaiba.blogspot.com

Sunday, November 16, 2014

José Manuel Soriano Degracia


Semillas

José Manuel Soriano Degracia

Amelia sembraba semillas en el jardín.

Las cubría de tierra con el calor de sus manos
mientras me explicaba que el tiempo,
el mimo y el agua,
las convertirían en hermosas criaturas de colores.

A la mañana siguiente
abrí un pequeño surco con mis dedos
y sin que nadie me viera
sembré una semilla
que había dibujado en un cartón.

Transcurridos unos años aún sonrío al recordarlo:

todo era verdad,
el tiempo transformó
aquella semilla en estas palabras.

 (del libro Leuret, 2014)


Sementes

Amélia plantou sementes no jardim.

As cobria de terra com o calor de suas mãos
enquanto me explicava que o tempo
o carinho e a água
as convertiam em belas criaturas de coloridas.

Na manhã seguinte
abri um pequeno sulco com os meus dedos
e sem que ninguém me visse
semeei uma semente
que havia desenhado num cartão.

Depois de alguns anos ainda sorrio ao recordar:

era tudo verdade,
o tempo transformou

aquela semente nestas palavras.

Ilustração: www.zun.com.br