Monday, December 25, 2006

AINDA UM POETA DE COSTA RICA

COMPLICIDAD

Robinson Rodriguez Herrera

Nos hemos conjurado
amada mía, contra el mundo:
urdiendo íntimas tramas
encuentros furtivos,
colocando atentados
al falso pudor
de las beatas,
pintado las avenidas
con nuestros nombres,
buscando la misma oscuridad
que los complotados,
inventando claves y consignas,
resistiendo batallas
cotidianas,
Inmersos
en nuestra causa
ardiente y clandestina.

CUMPLICIDADE

Nós temos conspirado,
Amada minha, contra o mundo:
Urdindo íntimas tramas
encontro furtivos,
atentando
contra o falso pudor
das beatas,
pintando as avenidas
com nossos nomes,
buscando a mesma escuridão
que os fugitivos,
inventando chaves e segredos,
resistindo a batalhas
cotidianas,
Imersos
em nossa causa
apaixonada e clandestina.

UM POETA DE COSTA RICA

MUERTE

Robinson Rodriguez Herrera

Sigo los pasos de la noche,
de la diosa ancestral
hasta el altar del sacrificio.
He visto correr las estaciones
la prisa de los hombres
los aromas salobres,
las lágrimas fluyendo
como océanos.
Tú que me diste vida

MORTE
Eu sigo os passos da noite,
da deusa ancestral
até o altar do sacrifício.
Eu vi passar as estações
a pressa dos homens
os aromas salobros,
as lágrimas fluindo
como os oceanos.
Tu que me destes vida.

Sunday, December 24, 2006

A RELATIVIDADE DAS COISAS


A LUZ NEGRA
Sei que há coisas
que não se podem explicar
E outras que não se explicam.
Há uma luz
Brilhando na rua escura.
O foco, porém não muda
E inunda de luz
O lixo, a sujeira, as coisas sem graça.
A flor, no entanto,
Permanece bela
Mesmo na escuridão.

Friday, December 22, 2006

COMO SE FOSSE UMA CANTIGA

EU NÃO SABIA SABIÁ

Eu não sabia sabiá
Eu não sabia
Como o amor doía
Eu não sabia
E com o amor fui brincar
Agora canto que é pra não chorar

Voa sabiá, voa
Que quem tem asas
Tem é que voar

Voa sabiá, voa
Que quem perde o amor
Tem é que chorar

Eu não sabia sabiá
Eu não sabia
Como o amor é bom
Eu não sabia
E se choro é com a alegria
De quem ainda vai voltar a amar

Voa sabiá voa
Que não se ama
Tanto assim à-toa

Voa sabia voa
Que só com amor
É que a vida é boa.

FOTOS, FITAS & FLORES

Variações sobre flores

Entre as orquídeas
Os teus lábios entreabertos
Carnudos, vermelhos, tentadores
São a mais bela flor.
Bem os vejo,
Beija flor sedento,
Mas quando beijá-los tento
O vôo, o mel, o sonho perdi.
Enorme é a distância
Da realidade, do mar, de ti....
Que tão próxima
Jamais conheci.

AINDA ARMANDO RUBIO

DISTANCIA

Armando Rubio Huido

Indiferencia del mundo
y de las cosas
hacia mí;
indiferencia mía
hacia el mundo
y las cosas:
mutua correspondencia.
Transito
y caigo
de pie.
La misma puerta
entreabierta
en un desierto
marchito de sol.
La gaviota extraviada
en un espejismo de mar,
abre sus alas,
yerta,
sobre el vacío de las cosas


DISTÂNCIA

Indiferença do mundo
e das coisas
Até de mim;
Indiferença minha
com o mundo e as coisas:
correspondência mútua.
Transito
e caio
de pé.
A mesma porta
entreaberta
num deserto
murcho de sol.
A gaivota extraviada
Num reflexo do mar,
abre suas asas,
erva,
sobre o vazio das coisas

DOIS POEMAS DE ARMANDO RUBIO

CUALIDAD

Armando Rubio Huido

Que mi rostro
siga
siempre
pálido:
así
nadie
sospechará
mi muerte

Qualidade

Que meu rosto
Siga
Sempre
Sendo
Pálido;
Assim
Ninguém
Suspeitará
De minha morte


FOTOGRAFIA

Si la vida consiste en poner caras
pondré unos ojos dulces
y labios sonrientes,
para que Dios, fotógrafo en las nubes,
complete su álbum familiar.


Fotografia

Se a vida consiste em colocar máscaras
Ponha uns olhos doces
E lábios sorridentes
Para que Deus, fotografo das núvens,
Complete seu albúm familiar

Thursday, December 21, 2006

NA SEGUNDA INFÂNCIA

Criança Sedenta

Se for inverno ou verão
Eu bebo como se fosse primavera.
É a vida
E a vida tempo bom não espera
Segue em frente
Qualquer que seja o tom,
A música, o ritmo diferente
Para nos fazer dançar.
O amanhã?
O amanhã que importa?
Hoje, por favor, abre tua porta,
O leite, a cama,
O peito macio me oferece,
Com a sofreguidão de quem ama,
Que prometo ser santo
E, como uma criancinha de colo,
Beber leite
Tanto, tanto, tanto...

AS MUITO INGÊNUAS QUE ME PERDOEM...




BROOKE SHIELDS DA AMAZÔNIA

É uma menininha nova
Tão novinha
Com uma experiênciazinha de mulher.
Bota no bolso só quem ela quer.
E na cama, para alguns poucos felizardos,
Tem um sorriso de quem é tão ingênua
Que faz filme sem ser artista de cinema!

( De Poesias Mal Comportadas)

Monday, December 18, 2006

UMA GRANDE TRAIÇÃO

VIII

Emily Dickinson

THAT I did always love,
I bring thee proof:
That till I loved
I did not love enough.

That I shall love alway,
I offer thee
That love is life,
And life hath immortality.

This, dost thou doubt, sweet?
Then have I
Nothing to show
But Calvary.


VIII

QUE eu tive sempre amor,
Eu trouxe a prova:
Mas o tanto que eu amei
Não foi bastante.

Que eu amarei sempre,
É minha oferta nova
Como o amor que é vida,
E, além da vida, imortalidade.

E qual a tua dúvida, doçura?
Se nada tenho eu
Para mostrar, para viver
Há um calvário, na verdade.

Saturday, December 16, 2006

E ASSIM FOI...


VARIAÇÕES EM TORNO DO ÓBVIO

Só tu, minha linda, tão maravilhosa
Como nos meus melhores sonhos
Poderia ter essa boca que calada
Transpira poesia; é puro pecado
E aberta surge como suave promessa
De carícias, beijos, horas longas de amor
E de dias mais doces e noites infindas.


Só os teus olhos negros, minha linda,
São perigosos como o mar mais traiçoeiro.
Saõ eles que me dizem sem palavras
Que devo ter pressa de amar, ser ligeiro,
Para não me enganar com o lento andar
Do tempo, pois são breves-na sua calma-
A delícia dos momentos mais felizes.

Tuesday, December 12, 2006

AINDA GERMÁN CARRASCO

DEL TITANIC Y EL ZEPPELIN

Germán Carrasco

Recuerdo la lectura de poemas, el eco de la ovación.
Una rubia bautizaba la proa de la nave con champagne:
espuma de mar, semen liviano del que nacen acróbatas
y bardos (cada metro el latigazo de una ola)
como el que los despedía en ese momento épico
del poderío americano: magnitud y misterio comparables
al del zeppelin nacional-socialista,
majestuoso velo sobre la insidia del sol:
metáforas colosales
aunque lamentablemente poco prácticas
cuya historia, junto a la de Babel,
escribimos con sumo cuidado
en barcos de papel, granos de arroz.

DO TITANIC E DO ZEPPELIN

Recordo a leitura de poemas, o eco da ovação.
Uma ruiva batizava a proa de um navio com champanhe:
espuma do mar, sêmen límpido do qual nascem acrobatas
e poetas (cada metro a chicotada de uma onda)
como a que os despedia neste momento épico
do poderio americano: magnitude e mistério comparáveis
ao do zeppelin nacional-socialista,
majestoso véu sobre a sedução do sol:
metáforas colossais
ainda que lamentavelmente pouco práticas
cuja história, junto a de Babel, escrevemos
com sumo cuidado
em barcos de papel, grãos de arroz.

UM OUTRO CARRASCO CHILENO



Germán Carrasco


Los bufones están en otra parte
No tienen noción están en otro círculo
al que arrastraron también a los escuchas
Los bufones están en otra parte
con las baquetas trompetas y contrabajos
en las manos como arañas de rincón.

HAMMELIN

Os bufões estão em outra parte
Não tem noção estão em outro círculo
arrastados também pelos ouvidos
Os bufões estão em outra parte
Com as baquetas, trompetas e contra-baixos
nas mãos como as aranhas de canto.

Sunday, December 10, 2006

AINDA JORGE...

Poema de amor nocturno

Jorge Carrasco


Pero contágiate de mí, prueba mis jugosas flechas,
pon mi pátina de oro trémulo en tus riberas,
tus malezas ábreme para hallar el tibio nido:
busco tu sótano para morir en la sombra que supura.
Elige, amada, mi estocada final, di adiós a tu vida
en tres minutos, muere, muere de una vez
bajo mi hirviente cauce, sobre el olvido
de quien es en este segundo un inmenso latido de guitarra.
Vamos, pues, prepara el suspiro, el aullido
que te salva del ahogo inmemorial, el aleteo
ondulante que hiere todos los aires, todas las formas,
todo lo que cae en el temblor y no regresa.
Vamos, escúdate en tu lengua, en la tos rauda
de las sabandijas escapadas de tus miembros:
aquí va un suspiro crispado con miles de espadas
de mi centro altivo a tu centro suplicante.

Poema do Amor Noturno

Porém te contagiastes de mim, o prova minhas sinuosas setas,
postas como corrediças de ouro trêmulos em tuas costas,
tuas moitas abertas para encontrar o ninho morno:
eu procuro tua cavidade para morrer na sombra que supura.
Escolhe, amada, minha última estocada, dei adeus a tua vida
em três minutos, morre, morre de uma vez
abaixo do meu leite fervente, sob o esquecimento
de quem neste segundo solta um imenso gemido de guitarra.
Vamos, pois, prepara o suspiro, o grito
que te salva do sufoco imemorial, o vibrar
ondulante que fere todos os ares, todas as formas,
tudo o que cai no tremor e não regressa.
Vamos, usa tua língua como escudo, na correnteza
dos insetos escapados de teus membros:
aqui vai um suspiro eivado com milhares de espadas
de meu orgulhoso centro ao encontro de teu centro suplicante.

Friday, December 08, 2006

COM VOCÊS JORGE CARRASCO....

Pelo menos os poucos e bons amigos que tenho sabem que estou mais para "traidor" do que para tradutor. Se traduzo o faço mais pelo deleite, pelo gosto, por amar os textos que traduzo do que pela capacidade para tal. Inclusive por, em geral, não ter a determinação e o gosto que fazem, por exemplo, de minha querida amiga Lyla Rayol uma mestra na arte de traduzir. Ela persegue cada sentido, cada palavra. Sou a percepção, a poesia apenas. Algumas vezes traio o autor pela beleza de uma idéia. Não é o caso de Carrasco. Gostei muito de sua poesia e desta em especial. Fiquei empolgado e traduzi num sopro. Depois li e corrigi algumas "falhas", daí republicá-la com o devido carinho e respeito que o poeta e a poesia merecem. Ah! Esqueci de dizer também insisto em traduzir por não existir pessoas que traduzam as belas poesias que nos roedeiam nesta amada e esquecida América Latina. A poesia de Carrasco, porém vale mais do que todas as explicações:


TODOS HABLAN

Jorge Carrasco



Todos hablan de lo que tocan sus manos.
El portero habla de la suciedad de los pupitres.
El taxista habla de números de lejanas calles.
El padre habla de los hijos, sólo de los hijos.

El sol habla de las malezas de mi vereda.

Cada uno es esclavo de las cosas que trae al mundo.
La hembras arrastran las cadenas
de sus milenarios cachorros.
La tierra muele las piedras de sus órganos
para llamar a las raíces de todos los árboles.

El gobernante es esclavo de los hambrientos
que incendian las calles.

Y cada uno es rey de lo que sueña.
El portero que escribe en un pizarrón imaginario.
El taxista que habla como propietario de andenes.
El padre que quiere hablar de sus recuerdos,
sólo de sus recuerdos.

El sol que ve su danza en la copa
de los árboles de mi alma.

Y cada uno es dios de las cosas
que nunca va a traer al mundo.


TODOS FALAM

Todos falam do que suas mãos tocam
O porteiro fala da sujeira das maçanetas.
O taxista fala dos números de ruas distantes.
O pai fala dos filhos, só dos filhos.

O sol fala das ervas daninhas de minha vereda.

Cada um é escravo das coisas que traz ao mundo.
As fêmeas arrastam as correntes
de seus cachorros milenares.
A terra mói as pedras de seus órgãos
Para chamar as raízes de todas as árvores.

O governante é escravo dos famintos
Que incendeiam as ruas.

E cada é rei de seu sonho.
O porteiro que escreve num quadro imaginário.
O taxista que fala como proprietário de empresas.
O pai que ama falar de suas memórias,
Somente de suas memórias.

O sol que dança na copa das árvores
De minha alma.

E cada um é o deus das coisas
Que nunca vão trazer ao mundo.

A MANSIDÃO DA LUZ VERDADEIRA

No Teu Corpo

Só no teu corpo o luar brilha.
Só no teu corpo há estrelas.
Há céu apenas no teu corpo
E mar e luz e fantasia.

Só no teu corpo o sol flutua.
Só no teu corpo o ar balança.
Há mundo apenas no teu corpo
E som e festa e magia.

Só no teu corpo as coisas vivem.
Só no teu corpo os homens sonham.
Há terra apenas no teu corpo
E silencio e gozo e vida.

Thursday, December 07, 2006

EMILY OUTRA VEZ

LIV

Emily Dickinson


EXPERIMENT to me
Is every one I meet
If it contain a kernel?
The figure of a nut

Presents upon a tree,
Equally plausibly;
But meat within is requisite,
To squirrels and to me.

LIV

EXPERIMENTE para mim
Sempre que uma encontrar
Se ela contém a semente?
A figura de uma castanha

Presentes sobre uma árvore,
Igualmente são plausíveis;
Mas ter carne dentro é um requisito,
Para os esquilos e para mim.

Sunday, December 03, 2006

E BORGES, SEMPRE BORGES

1964
I
Ya no es mágico el mundo. Te han dejado.
Ya no compartirás la clara luna
Ni los lentos jardines. Ya no hay una
Luna que no sea espejo del pasado,
Cristal de soledad, sol de agonías.
Adiós las mutuas manos y las cienes
Que acercaba el amor. Hoy solo tienes
La fiel memoria y los desiertos días.
Nadie pierde (repites vanamente)
Sino lo que no tiene y no ha tenido
Nunca, pero no basta ser valiente
Para aprender el arte del olvido.
Un símbolo, una rosa, te desgarra
y te puede matar una guitarra.
II
Ya no seré feliz. Tal vez no importa.
Hay tantas otras cosas en el mundo;
Un instante cualquiera es más profundo
Y diverso que el mar. La vida es corta
Y aunque las horas son tan largas, una
Oscura maravilla nos acecha,
la muerte, ese otro mar, esa otra flecha
Que nos libra del sol y de la luna
Y del amor. La dicha que me diste
Y me quitaste debe ser borrada;
Lo que era todo tiene que ser nada.
Sólo me queda el goce de estar triste,
Esa vana costumbre que me inclina
Al sur, a cierta puerta, a cierta esquina

1964
I
O mundo já não é mágico. Deixaram-te sair.
Já não compartilhas a lua clara
nem os jardins lentos. Já não há
uma lua que não seja espelho do passado,
Cristal da solidão, sol das agonias.
Adeus às mãos e os cenas mútuas
que cercavam o amor. Hoje só tens
a fiel memória e os dias desertos.
Ninguém perde (repetes inutilmente)
Senão o que não tem e que tinha tido,
porém não é bastante ser bravo
aprender a arte do esquecimento.
Um símbolo, uma rosa, se desgarra
E te pode matar uma guitarra.
II
Já não eu serei feliz. Talvez não importa.
Há muitas outras coisas neste mundo;
Um instante qualquer é mais profundo
e diverso do que o mar. A vida é curta
embora as horas sejam assim tão largas,
uma obscura maravilha nos achega,
a morte, esse outro mar, essa outra seta
que nos livra do sol, da lua
e do amor. A felicidade que me destes
e me tomastes deve ser apagada;
O que era tudo não deve ser nada.
Só me resta o gozo de estar triste,
Este vão costume que me inclina
ao Sul, para certa porta, para certa esquina.

Friday, December 01, 2006

UM POETA DA AMÉRICA CENTRAL...

Que também pinta ( a ilustração é dele) e ganhou o prêmio Nobel de Literatura.

Fama

Derek Walcott

Esto es la fama: domingos,
una sensación de vacío
como en Balthus,
callejuelas empedradas,
iluminadas por el sol, resplandecientes,
una pared, una torre marrón
al final de una calle,
un azul sin campanas,
como un lienzo muerto
en su blanco
marco, y flores: gladiolos, gladiolos
marchitos, pétalos de piedra en un jarrón.
Las alabanzas elevadas al cielo
por el coro interrumpidas.
Un libro de grabados que pasa él mismo las hojas.
El repiqueteo
de tacones altos en una acera.
Un reloj que arrastra las horas.
Un ansia de trabajo.

Fama

Isto é a fama: domingos,
uma sensação de vazio
como em Balthus,
com as ruas laterais pavimentadas de pedras,
iluminadas pelo sol, resplandecentes,
uma parede, uma torre marrom
no final de uma rua,
um azul sem sinos,
como um lenço morto
em seu branco
linho, e flores:
gladíolos, gladíolos
em botão, pétalas de pedra
num vaso. As preces elevadas
ao céu por um coro
interrompidas. Um livro
dos escritos que passa automaticamente
as folhas. O sapateado
dos saltos altos no palco.
Um relógio que arrasta as horas.
Uma ânsia de trabalho.