Friday, October 31, 2014

Com uma imensa licença


Poem

Jill Alexander Essbaum 

A clementine
Of inclement climate
Grows tart.

A crocus
Too stoic to open,
Won’t.

Like an oyster
That cloisters a spoil of pearls,
Untouched—

The heart that’s had
Enough
Stays shut.

Poema

A clemência
De um inclemente clima
Aumenta o ardor.

Um açafrão,
Também estóico, não
Irá se abrir.

Como uma ostra
Que se desenclausura derramando pérolas,
Não tocadas-

O coração que teve
O suficiente
Permanece fechado.

Thursday, October 30, 2014

Gilberto Owen Estrada


Elogio

Gilberto Owen Estrada

Las palabras más ricas,
Menguante aurirrosado de la luna,
Se me van por el lago, verticales,
En una temblorosa exaltación,
A colgarse de ti.

Que los poetas -que todo lo sueñan-
Y los amantes -que lo tienen todo-
Son aquí tus mendigos humillados.

Elogio

As palavras mais ricas
Derramadas em dourado da lua,
Se vão pelo lago, vertical,
Numa trêmula exaltação
A desprender-se de ti.

Que os poetas, que tudo sonham-
E os amantes, que tudo possuem-

Sejam aqui teus mendigos humilhados.

Ilustração: www.dicasfree.com 

Wednesday, October 29, 2014

No jogo da vida: um tema também de José Luis García Herrera


Embora de prismas diferentes compartilho uma poesia de José Luis Garcia Herrera que usa um tema caro aos poetas, inclusive que também já utilizei como podem ver abaixo:  

En el juego de la vida

José Luis García Herrera

En el juego de la vida, ausente de mí,
los dados tiemblan en mi mano.
Cualquier número, no importa,
caerá del lado de la muerte.
Ésta es la suerte, hoy,
y siempre que la tarde anuncia
el final del día y ya queda, lejanos,
los gritos de los niños
en el patio, el mar de los tejados,
los amaneceres del verano,
los pasos en la grava, regresando
siempre, siempre,
hacia este juego sin luz
que ya termina.


No jogo da vida

No jogo da vida, longe de mim,
os dados tremem na minha mão.
Qualquer número, não importa,
cairá do lado da morte.
Esta é a sorte, hoje,
e sempre que a tarde anuncia
o fim do dia, e sua queda, distante,
os gritos dos meninos  
no pátio, o mar de telhados,
os amanheceres do verão,
os passos na calçada, regressam
sempre, sempre,
até este jogo sem luz
que já termina.


No jogo da vida

Silvio Persivo

No jogo da vida as minhas cartas
surgem, inesperadamente, ruins
e me fazem temer
que neste jogo serei sempre
apenas um observador da mesa.
Tento esconder a tristeza
de uma mão tão sem futuro sorrindo,
mas, uma música distante
me desilude sobre seguir adiante,
pois, nenhum blefe ou acaso
há de me fazer deixar de ser
o perdedor sorridente.
Finjo uma calma que não tenho
E vejo que, apesar de tudo,
os outros jogadores
me olham com indisfarçada inveja
e, só por poder me sentir,
por um momento superior,
peço uma carta
para infundir maior temor aos adversários.
Prolongo o jogo sabendo
que não posso vencer,
porém, não tenho como perder mais,
se perdido estou.
Assim jogo uma partida ruim
como um vencedor. 

Ilustração: http://www.pokeronlineinfo.com/poker-gratis/

Outra poesia de Julíán Marchena Valle-Riestra


Deja correr el tempo

Julián Marchena Valle-Riestra

Deja correr el tiempo, que ya llegará el olvido,
Y así como se adornan las secas ramazones
De mágicos renuevos, tu corazón herido
Florecerá mañana con nuevas ilusiones.
No desesperes nunca. La sombra es precursora
De la luz que hay en ti. Detrás de la amargura
Que empaña el cristal nítido de un alma soñadora
Irradia la sonrisa, que todo lo depura.
Practica la severa virtud de ser sincero;
Fortalece tu espíritu para que seas blando,
Y si el dolor te hiere con su puñal certero
¡Sé como las guitarras que sollozan cantando!
No aventures tu paso más allá de la vida
Porque es abismo ignoto del cual nunca saldrás:
En cada tumba un pájaro de voz adolorida
Como el cuervo de Poe responde "Nunca más..."
Pero, eso sí, no dejes de sonreír a todo
A través de la niebla de tu melancolía;
Derrama tu perfume, que es la bondad, al modo
De una flor, aunque sepas que has de durar un día...

Deixa correr o tempo

Deixa correr o tempo, que já chegará o esquecimento,
E assim como se adornam os ramos secos
De mágicas renovações, o teu coração ferido
Florescerá amanhã com novas ilusões.
Não se desespere nunca. A sombra é precursora
Da luz que há em ti. Por trás da amargura
Que suja o cristal límpido de uma alma sonhadora
Se irradia o sorriso que tudo purifica.
Pratique a severa virtude de ser sincero;
Fortalece teu espírito para que sejas brando,
E se a dor te fere com o punhal certeiro
Sê como as guitarras que lamentam cantando!
Não se aventurem os teus passos além da vida
Porque é abismo desconhecido, do qual nunca sairás:
Em cada túmulo um pássaro de voz aflita
Como o corvo de Poe responde, "nunca mais ..."
Porém, isto sim, não deixes de sorrir de tudo
Através da névoa de tua melancolia;
Derrama o teu perfume, que é a bondade, ao modo  
De uma flor, ainda que saibas que hás de durar um dia ...


Ilustração: prioliveiralima.blogspot.com

Uma poesia de Julián Marchena Valle-Riestra


Vuelo supremo

Julián Marchena Valle-Riestra

Quiero vivir la vida aventurera
De los errantes pájaros marinos;
No tener, para ir a otra ribera,
La prosaica visión de los caminos.
Poder volar cuando la tarde muera
Entre fugaces lampos ambarinos
Y oponer a los raudos torbellinos
El ala fuerte y la mirada fiera.
Huir de todo lo que sea humano;
Embriagarme de azul... Ser soberano
De dos inmensidades: mar y cielo,
Y cuando sienta el corazón cansado
Morir sobre un peñón abandonado
Con las alas abiertas para el vuelo.

Voo supremo

Quero viver a vida aventureira
Dos errantes pássaros marinhos;
Não ter, para ir à outra ribeira,
A prosaica visão dos caminhos.
Poder voar quando a tarde morre
Entre fugazes lampejos ambarinos  
E opor aos rápidos torvelinhos
A asa forte e o olhar feroz.
Fujir de tudo o que é humano;
Embriagar-me de azul...ser soberano
De duas imensidões: mar e céu,
E quando sentir o coração cansado
Morrer sobre um paredão abandonado
Com as asas abertas para o voo.


Ilustração: isabel-meneses.blogspot.com

Tuesday, October 28, 2014

Juan Zorrilla de San Martin



Juan Zorrilla de San Martín

¡Cayó la flor al río!
Los temblorosos círculos concéntricos
Balancearon los verdes camalotes,
Y, entre los brazos del juncal, murieron.

Las grietas del sepulcro
Engendraron un lirio amarillento.
Tuvo el perfume de la flor caída,
Su misma extrema palidez... ¡Han muerto!

Así el himno cantaban
Los desmayados ecos;
Así lloraba el uruti en las ceibas,
Y se quejaba en el sauzal el viento.

Fragmento X

Caiu a flor no rio!
Os trêmulos círculos concêntricos
Balançaram os nenúfares verdes,
E, entre os braços dos juncos, morreram.

As rachaduras do sepulcro
Engendraram um lírio amarelento.
Teve o perfume da flor caída,
Sua mesma extrema pálidas... Estão mortos!

Assim o hino cantavam
Os desmaiados ecos;
Assim chorava o urutu nas ceibas,
E gemia no salgueiro o vento.

Monday, October 27, 2014

Outra poesia de Piedad Bonnett

Canción                                                         


Piedad Bonnett

Nunca fue tan hermosa la mentira
Como en tu boca, en medio
De pequeñas verdades banales
Que eran todo
Tu mundo que yo amaba,
Mentira desprendida
Sin afanes, cayendo
Como lluvia,
Sobre la oscura tierra desolada.
Nunca tan dulce fue la mentirosa
Palabra enamorada apenas dicha,
Ni tan altos los sueños
Ni tan fiero
El fuego esplendoroso que sembrara.
Nunca, tampoco,
Tanto dolor se amotinó de golpe,
Ni tan herida estuvo la esperanza.

Canção

Nunca foi tão formosa a mentira
Como em tua boca, em meio
De pequenas verdades banais
Que eram todo
Teu mundo que eu amava,
Mentira desprendida
Sem vontades, caindo
Como chuva,
Sobre a escura terra desolada.
Nunca tão doce foi a mentira,
Palavra enamorada apenas dita,
Nem tão altos os sonhos
Nem tão feroz
O fogo esplendoroso que semeara.   
Nunca, tampouco,
Tanta dor se amotinou de um golpe,
Nem tão ferida esteve a esperança.  

Ilustração: encantodaciganadooriente.blogspot.com

Um poema de Piedad Bonnett


A lo lejos

Piedad Bonnett

No insistas. Alguien allá a lo lejos está matando el sueño.
Alguien destaza el corazón del tiempo.
Alguien allá a lo lejos acaba con él mismo.

Lá longe

Não insistas. Alguém lá longe está matando o sonho.
Alguém destroça o coração de tempo.
Alguém lá longe acaba com o mesmo.


Ilustração: carva55.wordpress.com

Saturday, October 25, 2014

Outra poesia de Jaime Mario Torres Bodet



Confianza

Jaime Mario Torres Bodet

Esta tarde ya sé que me quieres.
Me lo dicen tus ojos dormidos,
Que el silencio es, en ciertas mujeres,
Una fronda cargada de nidos...
Hay palabras que el alma retiene
En tus ojos brumosos y vagos
Como el cielo de otoño que viene
A morir en la paz de los lagos.
Esta tarde tu amor me penetra
Como llanto de lluvia en negrura,
O, más bien, ese ritmo sin letra
Que de un verso olvidado perdura.
Y me torna profundo y sencillo
Como el oro de un sol tamizado
Que renueva, en las tardes, el brillo,
Del barniz de algún mueble apagado.

Confiança

Esta tarde já não sei se me queres.
Me dizem os teus olhos sonolentos,
Que o silêncio é, em certas mulheres,
Um árvore carregada de ninhos ...
Há palavras que a alma retém
Em teus olhos de brumas e vagos
Como o céu do outono que vem
Para morrer na paz dos lagos.
Esta tarde, o teu amor me penetra
Como pranto de chuva na escuridão,
Ou melhor, este ritmo, sem letras
Que de um verso esquecido perdura.
E me torna profundo e sensível
Como o ouro de um sol peneirado
Que renova, nas tarde, o brilho,

De verniz de algum móvel apagado.

Um poema de Jaime Mario Torres Bodet

Lied

Jaime Mario Torres Bodet

La mañana está de fiesta
Porque me has besado tú
Y al contacto de tu boca
Todo el cielo se hace azul.

El arroyo está cantando
Porque me has mirado tú
Y en el sol de tu mirada
Toda el agua se hace azul.

El pinar está de luto
Porque me has dejado tú
Y la noche está llorando,
Noche pálida y azul,

Noche azul de fin de otoño
Y de adiós de juventud,
Noche en que murió la luna,
Noche en que te fuiste tú...

Cançãozinha

A manhã está em festa
Porque me beijaste tu
E ao contato de tua boca
Todo o céu se faz azul.

O riacho está cantando
Porque me olhaste tu
E sob o sol de teus olhos
Toda a água se fez azul.

Os açaizeiros estão de luto
Porque  me deixaste tu
E a noite está chorando,
Noite pálida e azul

Noite azul de fim de outono
E de adeus à juventude,
Noite em que morreu a lua,
Noite em que te fostes tu... 

Ilustração: www.flickr.com

Uma poesia de Jorge Rojas


Lección del mundo

Jorge Rojas

Este es el cielo de azulada altura
Y este el lucero y esta la mañana
Y esta la rosa y esta la manzana
Y esta la madre para la ternura.
Y esta la abeja para la dulzura
Y este el cordero de la tibia lana
Y estos: la nieve de blancura vana
Y el surtidor de líquida hermosura.
Y esta la espiga que nos da la harina
Y esta la luz para la mariposa
Y esta la tarde donde el ave trina.
Te pongo en posesión de cada cosa,
Callándote tal vez que está la espina
Más cerca del dolor que de la rosa.


A lição do mundo

Este é o céu azul alto
E esta é a estrela e esta é a manhã
E esta é a rosa e esta a maçã
E esta mãe para a ternura.
E esta abelha para a doçura
E este é o cordeiro da macia lã
E estes: a neve de brancura vã
E o fornecedor de líquida formosura
E esta a espiga que nos dá a farinha  
E esta a luz para a borboleta
E esta tarde onde a ave canta.
Te ponho na posse de cada coisa,
Calando-te talvez que está o espinho
Mais perto da dor do que da rosa.

Ilustração: www.osmais.com


Thursday, October 23, 2014

Mais um poema de Eliseo Diego


Eliseo Diego

por selva oscura...

Un poema no es más
que una conversación en la penumbra
del horno viejo, cuando ya
todos se han ido, y cruje
afuera el hondo bosque; un poema

no es más que unas palabras
que uno ha querido, y cambian
de sitio con el tiempo, y ya
no son más que una mancha, una esperanza indecible;

un poema no es más
que la felicidad, que una conversación
en la penumbra, que todo
cuanto se ha ido, y ya
es silencio. 

Não é mais

Pela selva escura...

Um poema não é mais
que uma conversação na penumbra
do velho forno, quando já
todos se foram e cruzei
afora o fundo bosque; um poema

não é mais que umas palavras
que alguém quis e trocam
de lugar com o tempo e já
não são mais que uma mancha, uma esperança indecifrável;

Um poema não é mais
Que a felicidade, que uma conversação
Na penumbra sobre tudo
quanto se foi e já
é silencio. 


Ho Xuan Huong de volta



Day and Night

Ho Xuan Huong


Peekaboo we used to play;
my hands covered my face,
your hands covered your face,
incredible, there we were gone.

That is what we play now, your
hands on my face and my hands
on your eyes.
Incredible
how we disappear into each other.



Dia e Noite

Peekaboo  nós costumávamos brincar;
minhas mãos cobrindo o meu rosto,
tuas mãos cobrindo o teu rosto,
incrível, era assim e foi.

Isto é o que jogamos agora, tuas
mãos no meu rosto e minhas mãos
sobre teus olhos. Incrível
como nós desaparecemos um no outro.


Ilustração: hsp7.blogspot.com

Tuesday, October 21, 2014

Ainda que o silêncio seja enorme...


Don't Forget

S.Eric 

Breath my air and feel
My love
Kiss my lips and taste
My love
Watch my eyes and see
My love
Don't forget to be
My love

Não se esqueça de mim

Respire meu ar e sinta
meu amor
beije meus lábios e prove
o meu amor
olha nos meus olhos e veja
meu amor
não se esqueça de ser
meu amor


Ilustração: umanjoateu.wordpress.com 

Ainda a poesia de Jorge Cuesta




Jorge Cuesta

Abro de amor a ti mi sangre rota,
Para invadirte sin saberte amada.
El íntimo sollozo es negra espada
Que en la dureza de su luz se embota.

Al borde de mi sombra tu alma brota,
Así mi linde está más amparada.
Y aunque la fuga es más precipitada
Tu ausencia es cada vez menos remota.

Tu luz es lo que más me apesadumbra
Y si enciendes mis ojos con tu vida
El corazón me dobla la penumbra.

Mi soledad tu nombre dilapida
A la sombra del aire que te encumbra
Y apaga el lujo de tu voz vencida.
  
Amor na Sombra

Abro de amor a ti meu sangue que brota
Para invadir-te sem que saibas amada.
O íntimo soluço como negra espada
Que na dureza de sua luz se embota.

No limite da minha sombra tua alma salta,
Assim, minha margem é mais protegida.
E ainda que a fuga seja mais precipitada
Tua ausência é  cada vez menos remota.

Tua luz é o que mais me entristece, assombra
E se acendes meus olhos com tua vida
O coração me dobra na penumbra.

Minha solidão teu nome dilapida
Ao te elevar do ar, na sombra,  
E apaga o luxo de tua voz vencida.


Ilustração: artonico.wordpress.com

A poesia de Jorge Cuesta

Una palabraobscura

Jorge Cuesta

En la palabra habitan otros ruidos,
Como el mudo instrumento está sonoro
Y al inhumano dios interno el lloro
Invade y el temblor de los sentidos.

De una palabra oscura desprendidos,
La clara funden al ausente coro,
Y pierden su conciencia en el azoro
Preso en la libertad de los oídos.

Cada voz de ella misma se desprende
Para escuchar la próxima y suspende
A unos labios que son de otros el hueco.

Y en el silencio en que sin fin murmura,
Es el lenguaje, por vivir futura,
Que da vacante a una ficción un eco.


Uma palavra obscura

Na palavra habitam outros ruídos,
Como o mudo instrumento é sonoro
E ao desumano deus interno o choro
Invade e ao tremor dos sentidos.

De uma palavra obscura desprendidos,
O intervalo derrete o ausente canto
E perdem a consciência de espanto
Prisioneiro na liberdade dos ouvidos.

Cada voz dela mesmo se desprende
Para ouvir ao próximo e suspende
A alguns lábios que são de outros o oco.

E no silêncio em que sem fim murmura​​,
Está a linguagem, por viver futura,
Que do vazio dá a uma ficção um eco.