Friday, November 30, 2018

Outra poesia de Francisco Villaespesa


El poema de la carne    
Francisco Villaespesa

Cuando me dices: Soy tuya,
tu voz es miel y es aroma,
es igual que una paloma
torcaz que a su macho arrulla.

Sobre mi mano dormida
de tu nuca siento el peso,
mientras te sorbo en un beso
todo el fuego de la vida.

Cuando ciega y suspirante
tu cuerpo recorre una
convulsión agonizante,

adquiere tu faz inerte
bajo el blancor de la luna
la palidez de la Muerte.

O POEMA DA CARNE

Quando me dizes: sou tua,
tua voz é mel e és aroma
és igual a uma pomba
torquaz que a seu macho arrulha.

Sobre minha mão dormindo
de tua nuca sinto o peso
enquanto te sorvo com um beijo
todo o fogo da vida.

Quando cega e suspirante
teu corpo flutua
em convulsão agonizante,

Adquire o teu rosto inerte
sob a brancura da lua
a palidez da morte.


William Butler Yeats de volta


Sweet Dancer                  
William Butler Yeats

The girl goes dancing there
On the leaf-sown, new-mown, smooth
Grass plot of the garden;
Escaped from bitter youth,
Escaped out of her crowd,
Or out of her black cloud.
Ah, dancer, ah, sweet dancer!

If strange men come from the house
To lead her away, do not say
That she is happy being crazy;
Lead them gently astray;
Let her finish her dance,
Let her finish her dance.
Ah, dancer, ah, sweet dancer!

DOCE DANÇARINA

A menina vai dançar ali
Na folha semeada, recém-cortada, lisa
Relva da grama do jardim;
Escapou da juventude amarga,
Escapou de sua multidão,
Ou caiu fora de sua nuvem negra.
Ah, dançarina, ah, doce dançarina!

Se estranhos homens vêm da casa
Para levá-la embora, não diga
Que ela é feliz sendo louca;
Leve-os gentil para o lado errado;
Deixe-a terminar sua dança,
Deixe-a terminar sua dança.
Ah, dançarina, ah, doce dançarina!

Ilustração: dancardanoiva.blogspot.com







Thursday, November 29, 2018

E, eis a poesia de Salvador Espriu


Danza de la muerte        
Salvador Espriu

Por el diverso azar
de nuestro tiempo, la lluvia
sutil ha de juntarnos.
En la noche que escucha
arderán lentos cirios,
cera rebelde, ejército
desazonado por el lejano
orden de las serenas
patrias de luz, de los nobles
portadores del silencio.

Dança da morte

Pelo diverso acaso
do nosso tempo, a chuva
sutil há de nos unir.
Na noite que escuta
arderão lentos círios,
cera rebelde, exército
enervados pela distância
ordem das serenas
pátrias de luz, dos nobres
portadores do silêncio.

Ilustração: andradetalis - WordPress.com.


Voltando Oscar Wilde com sua visão


A Vision                                                                          

Oscar Wilde

Two crowned Kings, and One that stood alone
With no green weight of laurels round his head,
But with sad eyes as one uncomforted,
And wearied with man's never-ceasing moan
For sins no bleating victim can atone,
And sweet long lips with tears and kisses fed.
Girt was he in a garment black and red,
And at his feet I marked a broken stone
Which sent up lilies, dove-like, to his knees.
Now at their sight, my heart being lit with flame,
I cried to Beatrice, 'Who are these?'
And she made answer, knowing well each name,
'AEschylos first, the second Sophokles,
And last (wide stream of tears!) Euripides.'


UMA VISÃO

Dois reis coroados e um que estava sozinho
Sem o peso verde de louros em torno da cabeça,
Porém, com os olhos tristes como um desconfortável,
E cansado com o gemido incessante do homem
Para os pecados que vítima alguma pode expiar,
E doces lábios longos com lágrimas e beijos alimentar.
Aconteceu estar ele com uma roupa preta e vermelha,
E a seus pés eu marquei uma pedra quebrada
Que enviou lírios, como pomba, de joelhos.
Agora à tua vista, meu coração iluminado com chamas,
Eu gritei para Beatrice: 'Quem são esses?'
E ela respondeu, conhecendo bem cada nome,
'A Esquilos primeiro, o segundo Sófocles,
E por último (imenso fluxo de lágrimas!) Eurípides.

Ilustração: Olx.

Wednesday, November 28, 2018

Uma poesia de Carlos Edmundo de Ory


 
DAME                                   
Carlos Edmundo de Ory

Dame algo más que silencio o dulzura
Algo que tengas y no sepas
No quiero regalos exquisitos
Dame una piedra

No te quedes quieto mirándome
como si quisieras decirme
que hay demasiadas cosas mudas
debajo de lo que se dice

Dame algo lento y delgado
como un cuchillo por la espalda
Y si no tienes nada que darme
¡dame todo lo que te falta!

Dá-me

Me dê algo mais que o silêncio ou doçura
Algo que tenhas e não sabes
Não quero presentes requintados
Me dê uma pedra

Não fiques quieta me olhando
como se quisesses me dizer
que há muitas coisas caladas
debaixo do que se diz

Me dê algo lento e fino
como uma faca nas costas
E se você não tens nada o que me dar
Me dê tudo que o que te falta!

Ilustração: GDAN.

Uma poesia de Francisco Villaespesa


En la penumbra                                   
Francisco Villaespesa

¡La hora confidencial!… Entre banales
palabras, toda entera, te respiro
como un perfume, y en tus ojos miro
desnudarse tu espíritu. ..Hay fatales

silencios… Se oscurecen los cristales;
y se esfuma la luz en un suspiro,
temblando sobre el pálido zafiro
que azula entre tus manos imperiales.

Las tinieblas palpitan… Andan miedos
descalzos por las sedas de la alfombra,
mientras que, presintiendo tus hechizos,

naufraga la blancura de mis dedos
en la profunda y ondulante sombra
del mar tempestuoso de tus rizos.

NA PENUMBRA

A hora confidencial! ... Entre banais
palavras, toda inteira, te respiro
como um perfume, e em teus olhos miro
desnudar-se teu espírito ..Em fatais

silêncios ... Se escurecem os cristais;
e a luz desaparece em um suspiro,
tremendo na pálida safira
que azula entre tuas mãos imperiais.

As escuridões palpitam ... Andam com medo
descalças pelos sedas do tapete,
enquanto, pressentindo teus feitiços,

naufraga a brancura dos meus dedos
na sombra profunda e ondulante
do mar tempestuoso de teus risos.

Ilustração: Francisco Villaespesa.


Tuesday, November 27, 2018

PIRÂMIDE





Observai que um observador vigia/quanto mais alto e maior a distância/mas, dois observadores vêem mais/ segundo Einstein, aquele linguarudo rapaz/se postados de lados, ou alturas, divergentes./Não convém, pois, sr. Gerente, enganar os clientes/ servindo pratos diferentes/ dos que estão previstos e anunciados/ porque se o estomago aparece embrulhado/com certeza não será culpa da bebida./Será do pobre cozinheiro, o processado,/ porque, meu filho, assim é a vida./ O mais alto, como sempre se sabe, não tem culpa de nada/ e quanto mais baixo mais leva pancada/ e menos inocência pode ter/ daí, que só há um remédio: se acostume com seu padecer!


Monday, November 26, 2018

Do passado já nem tão recente


Eu só sei que nada sei

Quem deve ter dito isto/ talvez tenha sido Cristo/ ou Sócrates quem sabe?/ Será, porém, quem não cabe/ na cabeça de quem se gaba/ de tanto ter aprendido na vida/ que só mostramos a ferida,/ porém, nunca metemos o dedo?/ Sabemos bem que ainda é cedo/ e esperar não mete medo/ mas, como dói, quando se soma/ o quanto se gasta na nova Roma/ enquanto nos assola a fome./ Ora, senhor, os soldados que ganham a guerra/ aqui e em todas as terras/ ficam com o melhor do botim,/ mas, não esquecem/ dos que pra empurrar a máquina padecem/ e sempre lhes dão um pouquinho/ que dê para a comida e a bebida./ Até mesmo os bárbaros sabem/ que as piores ruindades/ não provém dos inimigos/ e sim dos que estão do lado/ quando se sentem assim tão desprezados.  

Ilustração: A Soma de Todos os Afetos. 

Friday, November 23, 2018

Outra poesia de Javier Sologuren


Reloj de sombra               
Javier Sologuren

Con una larga garra de tristeza busco
la pálida altura de una planta femenina;
tal como un viento quejumbroso busco
la intempestiva desnudez, sombra y efigie,
grito distante del pájaro que emigra,
pena con que hiere una imagen a su espejo.

Errante luz blanca bajo el vacío del cielo,
pequeño reloj que sólo fuera una lágrima,
hora en que todo ser es una pálida violeta,
estatua de pronto, arrastrada por la música
en un ramo de tinieblas y nevadas agujas.

Hora en que busco algo que no es tuyo ni mío
con una mirada puesta en lo que huye.

RELÓGIO DE SOMBRA

Com uma larga garra de tristeza, busco
a altura pálida de uma planta feminina;
tal como um vento queixoso busco
a intempestiva nudez, sombra e efígie,
grito distante do pássaro que migra,
dor com que fere uma imagem a seu espelho.

Errante luz branca sob o vazio do céu,
pequeno relógio que só foi uma lágrima,
hora em que todo ser é uma pálida violeta,
estátua logo, arrastada pela música
Em um ramo de escuridão e agulhas de neve.

Hora em que busco por algo que não é seu nem meu
com um olhar posto no que foge.

Ilustração: Pinterest.

WILDLIFE




A evolução da espécie é, com certeza,
uma das maravilhas da Natureza,
pois, somente no século XXI se prova
Que de toda coisa antiga nasce a nova.
Se nossos antepassados eram piratas, 
bandoleiros, mercenários, escravocratas
estão, agora, todos salvos, redimidos
porque, em nossa época, o chique é ser bandido.
Alguém matar o pai, a mãe e ir ao cinema
é o caminho ideal para ser ídolo em Ipanema
tanto quanto ser cantor ou usar crack
 ou se notabilizar por ser um hacker.
Enfim chegamos a tal grau de perfeição
que, para governar, é bom não ter instrução
e ser um criminoso é a maior arte
porque só na quadrilha se reparte
o luxo, o lucro, a lama, a hipocrisia
de se tomar dos outros com ousadia
a fé, a esperança e a caridade
mentindo sempre em nome da Verdade.


Ilustração: Perólas aos porcos. 

Wednesday, November 21, 2018

Mais uma poesia de Charles Baudelaire




L’Ame du Vin

Charles Baudelaire 

Un soir, l’âme du vin chantait dans les bouteilles:
«Homme, vers toi je pousse, ô cher déshérité,
Sous ma prison de verre et mes cires vermeilles,
Un chant plein de lumière et de fraternité!
Je sais combien il faut, sur la colline en flamme,
De peine, de sueur et de soleil cuisant
Pour engendrer ma vie et pour me donner l’âme;
Mais je ne serai point ingrat ni malfaisant,
Car j’éprouve une joie immense quand je tombe
Dans le gosier d’un homme usé par ses travaux,
Et sa chaude poitrine est une douce tombe
Où je me plais bien mieux que dans mes froids caveaux.
Entends-tu retentir les refrains des dimanches
Et l’espoir qui gazouille en mon sein palpitant?
Les coudes sur la table et retroussant tes manches,
Tu me glorifieras et tu seras content;
J’allumerai les yeux de ta femme ravie;
À ton fils je rendrai sa force et ses couleurs
Et serai pour ce frêle athlète de la vie
L’huile qui raffermit les muscles des lutteurs.
En toi je tomberai, végétale ambroisie,
Grain précieux jeté par l’éternel Semeur,
Pour que de notre amour naisse la poésie
Qui jaillira vers Dieu comme une rare fleur!»

A alma do vinho

Uma noite, a alma do vinho cantava nas garrafas:
"Homem, em tua direção empurro, ó querido deserdado,
Nesta minha prisão de vidro e meu lacre vermelho,
Um canto cheio de luz e fraternidade!
Bem sei o quanto foi preciso, na colina em chamas,
De trabalho, suor e sol ardente
para engendrar minha vida e me dar alma;
Mas, eu não vou ser ingrato ou mal agradecido,
Porque sinto imensa alegria quando caio
Na garganta de um homem que muito trabalhou,
E seu peito quente é um doce túmulo que acho
mais propícia ao prazer que as adegas frias.
Entendes tu o coro dos domingos
E a esperança que treme no seio palpitante?
Cotovelos na mesa e arregaçando as mangas,
Tu hás de me glorificar e serás feliz;
Acenderei os olhos de tua esposa encantada;
A teu filho devolverei sua força a cor
E serei para tão frágil atleta da vida
Óleo que enrijece os músculos do lutador.
Sobre ti cairei, ambrosia vegetal,
Grão precioso lançado pelo eterno semeador,
Para que, enfim, do nosso amor nasça a poesia
Que brotará para Deus como uma rara flor!

Ilustração: Doni Otimismo. 

Dois poemas de Walt Whitman


Sometimes with One I Love

Walt Whitman

Sometimes with one I love, I fill myself with rage, for fear I effuse unreturn’d love;
But now I think there is no unreturn’d love—the pay is certain, one way or another;
(I loved a certain person ardently, and my love was not return’d;   
Yet out of that, I have written these songs.)

ALGUMAS VEZES COM ALGUÉM QUE AMO
Algumas vezes com alguém que amo, fico cheio de fúria, pelo medo de extravasar, sem retorno, o amor;
Porém,  agora penso que não há amor sem retorno- o pagamento é certo, de uma forma ou de outra;
(Eu amei certa pessoa ardentemente, e meu amor não teve retorno;
Ainda assim, apesar de tudo, escrevi estas canções.)

TO YOU

Walt Whitman

Stranger! if you, passing, meet me, and desire to speak to me, why should you not speak to me?
And why should I not speak to you?

PARA VOCÊ 

Estranho! Se você, passando, me encontrar e desejar me falar, por que não falaria comigo?
E por que eu não falaria com você?

Ilustração: Amor de almas.

Tuesday, November 20, 2018

A VIDA CONTINUA



"Meus amigos a vida é uma mudança"
predicava o pastor Valdemar,
diante da mulher que ia enterrar,
pregando a religião e a esperança
para quem só queria sair de lá,
porém, era um sermão tão edificante
que, nele aprendi ser preciso ir adiante,
pois, só fica no cemitério
o corpo de quem já morreu
e o religioso homem não disse,
mas, sugeriu ser suma tolice
não ficar feliz por não ter sido eu.

Ilustração: Blog da Luzia. 

Outra poesia de Alí Chumacero


Jardín de ceniza              
Alí Chumacero

Haber creído alguna vez
viendo la noche desplomarse al mundo
y una tristeza al corazón volcada,
y después ese cuerpo que oprimen nuestras manos:
la mujer que sonríe
y sobre el lecho se nos vuelve
cadáver mutilado en el recuerdo,
como mentira ínfima
o rosa desde siglos viviendo en el silencio.
Y sin embargo en ella nos perdemos,
muertos contra sus brazos, en su misterio mudos
tal una voz que nadie escucha,
frutos ya de cadáver de amor, petrificados;
su placer nos sostiene sobre un mentido mundo,
ahí nos consumimos continuando
en la vana tarea interminable,
y luego no creemos nada,
somos desolación o cruel recuerdo,
vacío que no encuentra mar ni forma,
rumor desvanecido en un duro lamento de ataúdes.

JARDIM DE CINZAS

Haver acreditado alguma vez
vendo a noite mergulhar no mundo
e uma tristeza no coração derrubado,
e depois esse corpo que oprimem nossas mãos:
a mulher que sorri
e sobre o leito nos  devolve
o cadáver mutilado na memória,
como uma pequena ínfima
ou rosa desde séculos vivendo em silêncio.
E, sem embargo, nos perdemos,
mortos contra seus braços, em seu mudo mistério
tal  uma voz que ninguém escuta,
frutos já do cadáver do amor, petrificados;
seu prazer nos sustenta sobre um mundo mentiroso
aí nos consumimos continuando
na vaidosa tarefa interminável,
e, logo, não acreditamos em nada,
somos desolação ou memória cruel,
vazio que não encontra mar nem forma,
O rumor desvanecido em um duro lamento de ataúdes.

Ilustração: galeria de desenhos – Colorir. 



Monday, November 19, 2018

Uma poesia de Javier Sologuren


Memento                         
Javier Sologuren

Los que caímos más de siete veces
y aun en cada paso,
y, sin embargo, no somos los caídos;
sentimos un extraño dolor por los caídos;
nosotros, tú y yo, los que caemos,
con profunda unción de hijo a padre
encendemos de vida a los caídos:
la vida enajenada en las batallas,
en la turbia agonía de los tiempos;
esa vida que anida en el recuerdo
de los que son, de los que fueron, los caídos.


MEMENTO

Os que caíram mais de sete vezes
e ainda em cada passo,
e, sem embargo, não somos os caídos;
sentimos uma dor estranha pelos caídos;
nós, tu e eu, os que caímos,
com profunda unção de filho a pai
acendemos as vidas dos caídos:
vida perdida em batalhas,
na agonia sombria dos tempos;
essa vida que nidifica na memória
dos que são, dos que foram, os caídos.

Ilustração: Sebastião Pereira.