Thursday, August 31, 2017

Uma poesia de María Ángeles Maeso

Nada que perder                                 
María Ángeles Maeso

Sólo cuando nadie espera,
sólo cuando nada importa,
todos los senderos te salen al encuentro.

No todos. No el del amor. No el de la alegría.
Tampoco el de la calma.
No son tantos: Quitas de aquí y de allá
y el saldo disponible de tu ira siempre
es inferior a la paz solicitada.
Aún así, éste es el gran instante
en que ningún atajo
se atreve a preguntarte si tienes miedo.

Es la hora de la tajante estrella y tuya es.
La que vive en la columna del árbol.
Bébela. Aún no eres traficante o pordiosera.
Guerrillera de la bolsa o de Ruanda.

Aún es el instante en el que sabes
que puedes serlo todo. Apúralo.
Dura poco. Sabrás lo que es vivir
por donde nada importe
y aunque nadie espere.

NADA O QUE PERDER

Só quando ninguém espera,
só quando nada importa,
todos os caminhos te saem ao encontro.

Não todos. Não o do amor. Não o da alegria.
Tampouco o da calma.
Não são tantos: queimas aqui e ali
e o saldo disponível de tua ira sempre
é inferior à paz solicitada.

Ainda assim este é o grande instante
em que nenhum atalho
se atreve à perguntar se tens medo.

É a hora da afiada estrela e tua é.
A que vive na coluna da árvore.
Bebe. Ainda não és o traficante de drogas ou mendigo.
Guerrilheira da bolsa de valores ou de Ruanda

Ainda é o instante em que sabes
Que podes ser todo. Apressa-te.
Dura pouco. Saberás o que é viver
por onde nada importe
e ainda que ninguém espere.

Ilustração: Pintarest.  

O POETA PERDIDO

O poeta se perdeu
(talvez sempre foi perdido) 
em algum lugar do tempo;
em algum lugar da estrada
sem dar notícias nenhuma,
sem dar atenção à nada.

Não há sinal de que possa
retomar sua jornada.
Um poeta assim perdido,
sem poesia e sem rumo,
é um feixe de descaminhos,
labirintos sem saídas,
um novelo sem fio,
um desperdício de vida.  

Um poeta assim perdido
é um ser sem coração
que mata com um poema,
engana com uma canção.
Um homem triste e sozinho,
que sem beijos e sem carinho
vai morrer de solidão. 

Ilustração: Pão Diário. 

CHORO SOLTO

Eu te perdi, minha amada,    
Não sei se pela manhã
Ou pela madrugada.
Só sei que não me diz nada
O que devia ser alegria,
Mas, só de nada tem gosto.  
E a tristeza se alarga,
Pesando como uma carga,
Mesmo se não se vê no rosto.
Esta tristeza danada
Se espalha feito uma peste
Tingindo o azul celeste
De nuvens e de fumaça
E o tempo que correu tanto
Parece que já não passa
Me punindo com dor e pranto
O prazer que já não tenho
O prazer que já não canto
O choro que não contenho.


Ilustração: Melhor Com Saúde. 

Outra poesia de Yves Bonnefoy

Les chemins                      
Yves Bonnefoy

Chemins, parmi
La matiére des arbres. Dieux, parmi
Les touffes de ce chant inlassable d'oiseaux.
Et tout ton sang voúté sous une main rêveuse,
O proche, ô tout mon jour.

Qui ramassa le fer
Rouillé, parmi les hautes herbes, n'oublie plus
Qu'aux grumeaux du métal la lumière peut prendre
Et consumer le sel du doute et de la mort,


OS CAMINHOS

Caminhos, entre
a massa das árvores. Deuses, entre
as espessuras do canto incansável dos pássaros.
E teu sangue encharcado sob uma sonhadora mão,
Oh! Minha luz toda, oh! Próxima.

Quem pegou nas altas
ervas o ferro enferrujado, não esquece já
que as partículas metálicas da luz podem prender
e consumir o sal da dúvida e da morte.

Ilustração: Locais Bonitos – blogger. 

Wednesday, August 30, 2017

Uma poesia de Arménio Vieira

                                                                                     
Construcción en vertical

Arménio Vieira

Con palitos de fósforos
puedes construir un poema.

Pero atención: el uso de la cola
dañaría tu poema.

No tiembles: tu corazón,
aún más que tu mano,
te puede traicionar. ¡Cuidado!
Un poema así es arduo.
Sin cola y en vertical,
puede durar una eternidad.

Cuando esté acabado,
no lo firmes, el poema no es tuyo.

CONSTRUÇÃO EM VERTICAL

Com palitos de fósforos
podes construir um poema.

Porém, atenção: o uso da cola
danaria teu poema.

Não tremas: teu coração,
ainda mais que a tua mão,
te pode trair. Cuidado!

Um poema assim é árduo.
Sem cola e em vertical,
pode durar uma eternidade.

Quando estiver acabado,
Não o ponha de pé, o poema não é o teu.


Ilustração: PáginaDois. 

Tuesday, August 29, 2017

SEM O AZUL DE ZANZIBAR


Ah! A minha emoção,
em evaporação,
transluziu
transvariou
se espalhou, 
se desmanchou
na flor do corpo dela.
Tudo se confundiu
no mundo que fugiu
no gozo cor de rosa
que transformou em prosa
o nirvana na janela.
Ah! Não me aperte não!
O êxtase é ilusão;
concreta só a mão
no corpo,
na carne dela.
Já vejo tudo azul
vem um vento lá do sul
que saí do Guaporé
e, em inversa direção,
cai em Paracuru
cria maracatu,
espalha areia e guizo
lá por Jericoacoara
contente com meu riso,
que ri de tua cara,
vermelha e amarela,
estrela afogueada,
pelos barrancos altos
de Canoa quebrada
já não sabe de nada.
Não quero nem saber
se come mortadela
perdida em sua coxinha
navego céu e mar,
velas soltas pelo ar,
só sei mesmo é gozar
em Belém do Pará
nem sei mais de bazar,
de Tânia ou Jezebel,
até mesmo de mel, 
do céu de Calcutá,
da lua em Bagdá
ou mesmo se algum dia
irei a Zanzibar
eu quero é me acabar
de tanto te querer
vou gozar até morrer!


Uma poesia de Gilda Policastro

Puzzle

Gilda Policastro

Quando vai a trovare qualcuno malato
di solito passi davanti a un altro
malato nella stanza solo
nel letto sbagliato
Quando esci dalla stanza lo vedi
addormentato sul fianco uguale
al tuo malato soltanto
nel letto sbagliato
Te ne ricordi l’indomani
che sei passato dritto
non hai salutato
e nemmeno guardato
quell’altro
malato
uguale
solo
nel letto
sbagliato

Quebra-cabeças

Quando for encontrar alguém doente
de solidão, passa na frente de outro
doente na sala sozinho
no leito errado
Quando sair da sala, o vê
adormecido do mesmo lado
da tua pessoa doente
no leito errado
Tu lembras dele no dia seguinte
que  passou direto
sem o ter saudado
e nem mesmo guardou
aquele outro
doente
igualmente
no leito
errado

Ilustração: Uol Economia. 

Monday, August 28, 2017

Uma poesia de Samir Galal Mohamed


Fino a che sangue non separi

Samir Galal Mohamed

Tu cercavi la quiete:
disperata ostinazione amorosa
per te stessa.

Tu che quiete non avevi,
io che
quiete non conosco.

Até que o sangue não separe

Tu que procuravas a quietude:
desesperada obstinação amorosa
por ti mesma.

Tu que, em silêncio, não tivestes razão,
eu que
não aquietei contigo.


Ilustração: Inquietude-blogger. 

Poeminha da flor no olhar



Nos teus olhos ainda há a flor do desejo.
Vejo.
E procuro teu beijo
Como forma de recuperar o ar,
Mas, afundo,
E, no fundo, sei
Que só há o mar
E, ainda, contra tudo,
A vontade de amar.

Só o amor nos salvará!

Ilustração: Blog do Gabriel Melo. 

Thursday, August 24, 2017

Uma poesia de Deborah Ager

The Tortoise In Keystone Heights                              
Deborah Ager

When I knew, it was raining.
Winter in decline. I was tired.
You in your soaked shirt diffused
into the western sky bulging with clouds,
speeding cars a few feet away—
why would they not slow down?

Though afternoon, a slip of moon
busied itself with rising,
and it had to mean something.
If only the moon were not out.
You shoveled the crushed tortoise
and her eggs off the highway into the dirt.

Those soft, white eggs.
This is how I love you:
drenched with Florida rain
and looking like hell,
Florida itself a hell,
the moonlit rain a rain of fire.


UMA TARTARUGA NAS ALTURAS DE PORTO VELHO

Quando eu soube, estava chovendo.
O inverno se acabando. Eu estava cansado.
Você na sua encharcada blusa desbotada
sob o céu ocidental arredondando as nuvens,
acelerando os carros a poucos metros de distância-
por que eles não diminuíram a velocidade?

Apesar da tarde, um deslizamento de lua
pareceu elevar-se,
e tinha que significar alguma coisa.
Se somente a lua não estivesse fora de hora.
Você retirou a tartaruga esmagada
e seus ovos para fora da estrada como se fosse sujeira.

Aqueles ovos macios e brancos.
É assim que eu amo você:
encharcada com a chuva de Porto Velho
e parecendo o inferno,
A própria Porto Velho é um inferno,
a chuva iluminada pela lua é uma chuva de fogo.

Ilustração: O significado das tatuagens. 

Wednesday, August 23, 2017

Outra ousadia com Juan Carlos Bustriazo Ortiz

 
DÉCIMA SEXTA PALABRA                       
Juan Carlos Bustriazo Ortiz

Adiós, adiós. Hasta mañana, lengua,
lueguito ou no, luegura si ne llega,
levántar me, nacerme de la huesa,
la sabanura, almohada, estotra greda
de la que subo taza, vaso o luenga
jarra de Juan. Hasta mañana, lengua!
(Ellos ya están cantando: “cuchilocóoooo!)

DÉCIMA SEXTA PALAVRA

Adeus, adeus. Até amanhã, língua,
linguinha ou não, linguada se me chega,
levantar-me, nascer-me da ossada,
a florestura, almofada, estaoutra greta
da qual subo taça, copo lenga
jarra de Silvio. Até amanhã, lenga-lenga!
(Eles já estão cantando: “Facaaaá!).


Ilustração: Overmundo. 

POEMAS MAL COMPORTADOS



NOIADÃO                                                                            


Foi o baseado.
Foi o baseado
que me deixou neste estado.
Agora já não posso deixar de balançar
para todo lado
e não estou num navio nem no mar.
Todos até pensam que estou louco
Quando não é nada disto não.
Agora é que estou normal,
normal
e é, por isto, que preciso a cabeça balançar,
sem parar, sem parar
Ajustando os neurônios no lugar.
Alcancei o nirvana.
Estou na terceira dimensão.
Vocês que pensam que são normais
é que são loucos.
Sou o novo,
sou o iniciador de um novo tempo,
o batedor da nova era
que ninguém espera.
Sou o normal da terceira dimensão! 


Ilustração: helenolima.com. 

Tuesday, August 22, 2017

Uma ousadia com a poesia de Juan Carlos Bustriazo Ortiz

PRIMERA PALABRA  
Juan Carlos Bustriazo Ortiz

Y aqui estoy yo, pensoso y descendiente
junto a esta luz meralda, que se mece,
el Juan azul, el Carlos marilloso,
espiando aqui, dentrocullá, que torto.
Quién me dirá que-buscas-em-lo-huyente?-
La-cepa-o-ya-la borra-de-tu-gente?
Aqui estoy yo, racimo alabancioso.

Fantasmas más, fantasmas menos, duerme.


PRIMEIRA PALAVRA

E aqui estou eu, pensativo e descendente
junto desta luz esmeralda, que se mexe,
o Silvio azul, o maravilhoso Persivo,
espiando aqui, ali dentroacolá, que torto.
Quem me dirá o que-buscas-no-fugidio?
A-cepa-ou-já-a-borra-de-tua-gente?
Aqui estou eu, um cacho exaltado.

Fantasmas mais, fantasmas menos, dorme.


Ilustração: Skoob. 

Uma poesia de Laura Liberale


La disponibilità della nostra carne

Laura Liberale

Dalla secca frizione dei corpi
dal ritmo inesatto dell’attrito
dalla fallacia del vostro legno
generaste un ardore primitivo
un fuoco di rovina.

Bruciò, l’esca di carne.

La colpa, inestinguibile.


A disponibilidade de nossa carne

Da fricção seca dos corpos
do ritmo inexato do atrito
da falácia de vossa madeira
gerastes um ardor primitivo
um fogo de ruína.

Queimada, a isca de carne.


A culpa, inextinguível. 

Ilustração: Diário do Nordeste.