Tuesday, January 31, 2006

MARGARET WALKER


I Want to Write

Margaret Walker

I want to write
I want to write the songs of my people.
I want to hear them singing melodies in the dark.
I want to catch the last floating strains from their sob-torn
throats.
I want to frame their dreams into words; their souls into notes.
I want to catch their sunshine laughter in a bowl;
fling dark hands to a darker skyand fill them full of starsthen
crush and mix such lights till they become
a mirrored pool of brilliance in the dawn.

Eu Precisava Escrever

Eu precisava escrever
Eu precisava escrever as canções do meu povo.
Eu precisava ouvir aquelas melodias cantadas na noite.
Eu precisava segurar as últimas notas fluindo de suas chorosas gargantas.
Eu precisava unir os sonhos naquelas letras; suas almas nas notas.
Eu precisava segurar suas risadas de sol numa tigela;
Arremessando as negras mãos para um ainda mais negro céu
Para enchê-lo e povoar de estrelas
Então as migalhas e a mistura de cada luz irão fazer
Num espelho de água refletir o brilho do amanhecer.

Monday, January 30, 2006

AMOR, BEBIDA & PRAZER


The Mad Lover

Alexander Brome

I HAVE been in love, and in debt, and in drink,
This many and many a year;
And those three are plagues enough, one would think,
For one poor mortal to bear.
'Twas drink made me fall in love,
And love made me run into debt,
And though I have struggled and struggled and strove,
I cannot get out of them yet.
There's nothing but money can cure me,
And rid me of all my pain;
'Twill pay all my debts,
And remove all my lets,
And my mistress, that cannot endure me,
Will love me and love me again,--
Then I'll fall to loving and drinking amain.


O Louco Amante

Eu estava apaixonado, em débito e embriagado
Naquele ano e em muitos outros anos;
E as três pragas juntas eram bastante, devia ter pensado,
Para um pobre mortal carregar.
O excesso de bebida me fazia, em amor, cair
E o amor aumentava veloz meus débitos,
E pensava que lutava e lutava sem conseguir competir,
Eu não podia escapar do buraco que ia me tragar.
Não havia coisa alguma, porém que o dinheiro não pudesse curar,
E livre de toda minha dor;
Em todos meus débitos passado o apagador,
E removida todas minhas contas,
A minha amante, que jamais me resistiu,
Voltou a me amar, amar e amar novamente-
Então de novo amando e bebendo me vi contente!

Saturday, January 28, 2006

LIVRO...LIVROS


A Book

Emily Dickinson

THERE is no frigate like a book

To take us lands away,

Nor any coursers like a page

Of prancing poetry.

This traverse may the poorest take

Without oppress of toll;

How frugal is the chariot

That bears a human soul!

UM LIVRO

Não há nenhuma fragata como um livro

Para tomar nossas terras sempre,

Nem nenhum piloto como uma página

De empertigada poesia.

Este caminho pode ser feito mesmo pelo mais pobre

sem opressão ou pedágio;

Como é frugal a carruagem

Desses ursos da alma humana!

Friday, January 27, 2006

JOHN ASHBERY


What Is Poetry

John Ashbery

The medieval town, with frieze
Of boy scouts from Nagoya? The snow

That came when we wanted it to snow?
Beautiful images? Trying to avoid

Ideas, as in this poem? But we
Go back to them as to a wife, leaving

The mistress we desire?
Now theyWill have to believe it

As we believed it. In school
All the thought got combed out:

What was left was like a field.
Shut your eyes, and you can feel it for miles around.

Now open them on a thin vertical path.
It might give us--what?--some flowers soon?

O que é poesia

A cidade medieval, com friso
De escoteiros de Nagoya? A neve

Que veio quando nós querámos ver nevar?
Lindas imagens? Tentando evitar

Idéias, como neste poema? Mas nós
Voltamos para elas como para a esposa, partindo

A amante que nós desejamos? Agora eles
Terão que acreditar nisto

Como nós também acreditamos. Na escola
Todo o pensamento foi varrido para fora:

O que foi esquerda era como um campo.
Feche seus olhos, e poderá sentir milhas ao redor.

Abra-os então sobre um estreito caminho vertical.
Poderia nos dar-o que?-algumas flores tão cedo?

Wednesday, January 25, 2006

DOIS POEMAS MINIMALISTAS DE CREELEY


A Song

Robert Creeley

I had wanted a quiet testament
and I had wanted, among other things,
a song.That was to be
of a like monotony.
(A grace
Simply. Very very quiet.
A murmur of some lost
thrush, though I have never seen one.

Which was you then. Sitting
and so, at peace, so very much now this same quiet.

A song.
And of you the sign now, surely, of a gross
perpetuity
(which is not reluctant, or if it is,
it is no longer important.

A song.
Which one sings,
if he sings it,
with care.

Uma Canção

Eu tinha desejado um testamento quieto
E eu tinha desejado, entre outras coisas,
Uma canção.
Que era para ser
Como a monotonia.
(Uma graça
simples. Muito, muito quieta.
Como o murmúrio de algum perdido
Tordo, embora nunca tenha visto um.

Qual era você, então. Sentada,
E desta maneira, tão em paz, assim, como agora, com a mesma quietude.

Uma canção.

E de você o sinal agora, certamente, de uma bruta
Perpetuidade

(o qual é não relutante, mas se for,
isto não tem importância nenhuma).

Uma canção
Que se canta e quem a canta
Canta com todo carinho.

LIFE
For Basil

Specific, intensive clarity,
like nothing else
is anything but itself —

so echoes all,
seen, felt, heard
or tasted, the one
and many. But

my slammed fist
on door, asking
meager, repentant
entry wants more.


VIDA

Para Basil

Específica, intensa claridade,
Como nada mais,
Coisa alguma,
Pode em si mesmo ser—

São ecos tudo,
O visto, o sentido, o escutado
Ou o provado, uma só
E muitas vezes. Mas

Meus golpes de punho sobre
A porta, são um pedido
Fraco, arrependido para entrar
De quem deseja mais.

UM MODERNO POETA AMERICANO


Place

Robert Creeley

This is an empty landscape,
in spite of its light,
air, water-
the people walking the streets.

I feel faint here,
too far off, too
enclosed in myself,
can’t make love a way out.

I need the old time density,
the dirt, the cold,
the noise through the floor-
my love in company.

Local

Esta é uma paisagem vazia,
Apesar das luzes,
Do ar, da água-
As pessoas caminhando pelas ruas.

Eu, aqui, me sinto fraco,
Tão distante de mim, tão
Fechado em mim mesmo,
Sem ter no amor uma saída.

Eu preciso da consistência dos velhos tempos,
A sujeira, o frio,
Os barulhos através do piso-
Meu amor na tua companhia.

Tuesday, January 24, 2006

UMA DOSE DO ROMANTISMO DE BUKOWSKI






A Love Poem

Charles Bukowski

all the women
all their kisses
the different ways they love and
talk and need.

their ears
they all have ears
and throats and dresses
and shoes and
automobiles
and ex-husbands.

mostly
the women are very
warm they remind me of
buttered toast with the butter
melted
in.

there is a look in the
eye: they have been
taken they have been
fooled. I don’t quite know what todo for
them.

I am
a fair cook a good
listener
but I never learned to dance – I was busy
then with larger things.

but I’ve enjoyed their different
beds
smoking cigarettes
staring at the ceilings.
I was neither vicious
nor unfair.
only a student.

I know they all have these
feet and barefoot they go across the floor as
I watch their bashful buttocks
in the dark. I know that they like me,
some even love me
but I love very few.

some give me orange and vitamin pills;
others talk very quietly of childhood
and fathers and landscapes; some are almost
crazy but none of them are without
meaning; some love well, others not so;
the best at sex are not always
the best in otherways; each has limits
as I have limits and we learneach other
quickly.

all the women
all the women all the bedrooms
the rugs the photos
the curtains, it’s something like a church
only at times there’s
laughter.

those ears those
arms those
elbows those eyes
looking, the fondness and the waiting
I have been held
have been held.

Poema de Amor

Todas as mulheres
Com todos os seus beijos
E suas maneiras diferentes de amar,
Conversar e ter necessidades.

Com suas orelhas que todas têm
Orelhas e
Gargantas, vestidos,
sapatos,
Automóveis e ex-
Maridos.

Principalmente
As mulheres são muito quentes
Elas me lembram torradas
Com manteiga derretida
Nelas.

Há mesmo um quê igual no
Olhar: elas parecem
Que foram tidas, no passado,
Como tolas. Não sei mesmo
O que fazer
Por elas.

Eu sou
Um bom cozinheiro,
Um bom ouvinte,
Mas nunca aprendi a dançar-Eu estava
Ocupado com problemas maiores.

Mas tive prazer em suas camas variadas
De fumar cigarros
Fitando os tetos.
Eu nunca fui nocivo
Nem desonesto.
Só um estudante.

Eu sei que todas têm pés,
E com eles descalços passeiam pelo assoalho
Enquanto observo as sombras de suas bundas
Na penumbra. Sei que gostam de mim
Algumas até me amam
Mas eu amo muito poucas.

Algumas me dão laranjas e
Pílulas de vitamina;
Outras falam mansamente da infância,
Dos pais, das paisagens. Algumas
São quase malucas, mas nenhuma delas
Completamente desprovida de razão.
Algumas amam bem, outras nem tanto;
As melhores no sexo nem sempre
São as melhores em outras coisas; Cada uma delas
Tem limites como tenho meus limites
E nós aprendemos
Rapidamente.

Todas as mulheres todas as mulheres
Todos os quartos de dormir, os tapetes,
As fotos, as cortinas são, mais ou menos,
Como uma igreja onde somente,
Raramente, se escuta
Uma risada.

Essas orelhas esses
Braços esses
Cotovelos esses
Olhos olhando, a ternura
E a espera
É o que me tem sustentado,
Me tem sustentado.

Monday, January 23, 2006

OUTRO POETA DA ESPANHA


Muerte en el olvido

Angel González

Yo sé que existo
porque tú me imaginas
Soy alto porque tú me crees
alto, y limpio porque tú me miras
con buenos ojos,
com mirada limpia.
Tu pensamento me hace
inteligente, y en tu sencilla
ternura, yo soy también sencillo
y bondadoso.
Pero si tú me olvidas
quedaré muerto sin que nadie
lo sepa. Verán viva
mi carne, pero será otro hombre
-oscuro, torpe, malo- el que la habita...

Morte no Esquecimento

Eu sei que eu existo
porque tu me imaginas
Eu sou alto porque você me crê
alto, e limpo porque tu me olhas
com bons olhos,
com teu puro olhar.
Teu pensamento me faz
inteligente, e tua sensível
ternura me faz sensível
e bondoso.
Porém se tu me esqueces
Eu estarei morto sem que nada
saiba. Verão viva
minha carne, porém outro homem
-escuro, torpe, ruim - o que a habita...

UM POETA MEXICANO


Por el tiempo pasas

José Carlos Becerra

Por el tiempo pasas, lo cruzas, sales de él,
rozas la superficie de la muerte
y distraída sigues hacia donde no sé si sigues

Eres tu la que cruzas el tiempo,
la que aparta a la muerte como se tratara de una cortina,
la que se destapa el espejo como se tratara de una lata de cerveza que luego
te bebes y la arrojas vacia sobre el asfalto.

Pelo tempo passas

Pelo tempo passas, o ultrapassas, segues além dele,
Roças a superfície da morte
E distraída segues até onde não é possível te seguir.

Tu és a que ultrapassas o tempo
A que separa a morte como se fosse uma cortina,
A que destapa o espelho como se fosse uma lata de cerveja que logo
Bebes e jogas vazia sobre o asfalto.

O GRANDE POETA DA NICARÁGUA


Melancolia

Rubén Dário

Hermano, tú que tienes la luz, dame la mia.
Soy como um ciego. Voy sin rumbo y ando a tientas
Voy bajo tempestades y tormentas
ciego de ensuenõ y loco de armonia.

Ese es mi mal. Soñar. La poesia
es la camisa férrea de mil puertas cruentas
que llevo sobre el alma. Las espinas sangrientas
dejan caer las gotas de mi melancolia.

Y asi voy, ciego y loco, por este mundo amargo;
a veces me parece que el camino es muy largo,
y a veces que es muy corto....

Y en este titubeo de aliento e agonia
cargo lleno de penas que apenas soporto
No oyes caer las gotas de mi melancolia?

Melancolia

Irmão, tu que tens a luz, a minha cede.
Sou como um cego. Vou sem rumo e ando às tontas.
Vou sob as tempestades e tormentas
Cego de sonho e um louco que harmonia pede.

Este é meu mal. Sonhar. A poesia
É a camisa de força de mil portas cruentas
Que levo sobre a alma. As espinhas sangrentas
Deixam cair às gotas de minha melancolia.

E assim vou, cego e louco, por este mundo amargo;
Às vezes me parece que o caminho é muito largo,
E, às vezes, me parece que é muito curto...

E neste titubeio de alento e de agonia
Sigo carregado de penas que apenas suporto.
Não ouves cair às gotas de minha melancolia?

Thursday, January 19, 2006

POESIA ESPANHOLA


Destierro

Juan José Domenchina

Es la noche sin fin, la desvelada
noche, que con sus filos de cuchilla
implacable recorta en amarilla
muerte, nuestra silueta enajenada.

Vivir, cuando vivir no vale nada,
equivale a sembrar , com la semilla
infecunda, el dolor, que tanto humilla;
de una existencia rota e postergada.

Y el sinsomnio repite inexorable
el paso de la vida irrevocable,
que, sin dejarse de sentir, se aleja.

Donde nos llevará, tan sin camino,
tan juguete irrisório del destino,
Nuestra razón destartalada y vieja?

Exílio

É a noite sem fim, a desvelada
noite que, como os fios de uma faca, sela
implacável recorte em amarela
morte, nossa silhueta alienada.

Viver, quando viver não vale nada,
é igual semear, com uma semente
estéril, a dor tão humilhante
de uma existência rota e postergada.

E o insone repete de modo inexorável
o passo da vida irrevogável,
que, sem deixar de sentir, o leva embora.

Onde nos levará tão sem estradas,
irrisório brinquedo do destino, e suas jogadas,
Nossa razão, destrambelhada e velha senhora?


Canción Segunda

Juan Renano

Van cuatro jinetes
por la lejanía

largas capas negras,
negras sombras íntimas.

(Si yo me alejara,
tú me olvidadrias?)

Se oscurece el campo
bajo la llovizna.

Altas sierras negras,
negras las encinas.

(Si estuviera ausente,
tú me olvidarías?)

Tañe la campana
de una vieja ermita.

Campanadas negras,
negra despedida.

(Si yo me muriera,
tú me olvidarias?)

...Los cuatro jinetes
por el campo oscuro
bajo la llovizna.

Canção Segunda

Vão quatro cavaleiros
na distância.

Largas capas negras,
negras sombras íntimas.

(E se for embora
tu me esquecerias?)

Se escurece o campo
debaixo da garoa.

Altas serras negras,
negros os carvalhos.

(Se estiver ausente,
tu me esquecerias?)

Tange a campanhinha
de um velho seminário.

Campanhinhas negras,
negra despedida.

(Se estiver morto,
tu me esquecerias?)

...Os quatro cavaleiros
pelo campo escuro
debaixo da garoa.

Wednesday, January 18, 2006

UM POETA NORTE-AMERICANO


Number 8

Lawrence Ferlinghetti

It was a face which darkness could kill

in an instant

a face as easily hurt

by laughter or light

'We think differently at night'

she told me once

lying back languidly

And she would quote Cocteau

'I feel there is an angel in me' she'd say'

whom I am constantly shocking'

Then she would smile and look away

light a cigarette for me

sigh and rise

and stretchher

sweet anatomy

let fall a stocking

Número 8

Era uma face que a escuridão poderia matar
Num momento
uma face facilmente ferida
pela risada ou luz

'Nós pensamos diferentemente à noite'
ela me disse uma vez
De costas mentindo languidamente

E coquete citaria Cocteau

'Eu sinto que há um anjo em mim' ela diria
'A quem constantemente contrario'

Então ela poderia sorrir e olhar para fora
Aceso o cigarro para mim
O olhar e a inclinação

E, por extensão,
a sua doce anatomia

deixaria cair uma meia-calça

Sunday, January 15, 2006

DIZER HUMANO É DIZER AMIGOS...


RÁFAGAS 9

Camen Moreno Martín (Hannah)

Decir humano, es decir grandeza,
y aceptar la pequeñez,
es sacrificio, y es recompensa,
gemir, reír y esperar...
Decir humano, es decir dudas,
deseos y desnudez.
Decir humano, es decir vida,
es morir y renacer...
Decir humano, es decir grave,
y asumir la levedad,
perseverancia, olvido y queja,
y estar siempre por llegar...
Decir humano, es decir penas,
tristeza y soledad,
desesperanzas, nostalgia y juergas,
llorar, gritar y besar...
Decir humano, es decir madre,
ternura y sensibilidad,
es decir tierra, es decir padre,
y es decir orfandad...
Decir humano, es decir amigos,
lealtad y comprensión,
es decir traiciones, y desencantos,
y no perder la ilusión...
Decir humano, es decir hijo,
y es decir esterilidad,
es decir muerte, es decir vida,
y es decir comenzar...
Decir humano, es podredumbre,
y también divinidad;
carne mordida, por la injusticia,
trabajar y confiar…
Decir humano, es decir noches,
pasiones, odios y amor,
es decir día, fe y esperanza,
y es saber renunciar...
Decir humano, es decir cálido
y una piel junto a otra piel,
sentirse fuerte, débil y amado,
y capaz también de amar...
Decir humano, es decir libre,
y también esclavitud,
valor y lucha, renuncia y duelo,
tener siempre que elegir…
Sólo tu, hoy, igual a mí,
encarnas este decir.
(Este poema nació cómo canción, es decir: tiene música)

RELAMPÂGOS 9

Dizer humano é dizer grandeza,
e aceitar a pequenez,
é sacrifício, e é recompensa,
para gemer, rir e esperar...
Dizer humano é dizer dúvidas,
desejos e nudez.
Dizer humano é dizer a vida,
é morrer e renascer...
Dizer humano é dizer grave,
E assumir a leveza,
perseverança, esquecimento e queixa,
e sempre estar para chegar...
Dizer humano é dizer penas,
Tristeza e solidão,
desesperança, nostalgia e brincadeiras,
Chorar, gritar e beijar...
Dizer humano é dizer mãe,
ternura e sensibilidade,
é dizer terra, dizer pai,
e é dizer orfandade...
Dizer humano é dizer amigos,
lealdade e compreensão,
dizer traições e desencantos,
e não perder a ilusão...
Dizer humano é dizer filho,
é é dizer esterilidade,
é dizer morte, é dizer a vida,
e é dizer começar...
Dizer humano é dizer podridão
e também divindade;
carne, mordida pelo injustiça,
para trabalhar e confiar...
Dizer humano é dizer noites,
paixões, ódios e amor,
é dizer o dia, a fé e a esperança,
e é saber renunciar...
Dizer humano é dizer morno
e uma pele ao lado de uma outra pele,
sentir-se forte, fraco e amado
e também capaz de amar...
Dizer humano é dizer livre
e é também escravidão,
valor e luta, renúncia e duelo,
ter sempre que escolher...
Somente tu, hoje, igual a mim,
Encarnas este dizer.

Saturday, January 07, 2006

UMA POESIA DE HORACIO


1/11
Tu ne quaesieres (scire nefas) quem mihi, quem tibi
finem di dederint, Leuconoe, nec Babylonios
temptarias números. Vt melius quicquid Eric pati!
Seu pluris hiemes seu tibuit Iuppiter ultimam
Quae nune oppositis debilitar pumicibus maré
Tyrrhenum, sapias, uina liques et spatio brevi
spem longam reseces. Dum loquitur, fugerit invida
Aetas: carpe diem, quam minimum crédula postero.

1/11
Não tentes (é inútil) saber do amanhã, do que, Lito Casara,
nos reserva o destino nem mesmo nos horóscopos da Babilônia
e aceita: o que tiver de ser assim será. Quer nos dê mais invernos,
Júpiter, ou somente este que, nas rochas, do rio Madeira as ondas
vão quebrar. Vive, bebe o teu vinho, no curto prazo, no longo,
nunca se sabe. Afinal enquanto loquaz falo o tempo se escoa
Goza teu dia, hoje, que o amanhã é incerto como o vento.

UM POETA DA ITÁLIA


VARIAZIONI SU NULLA
Giuseppi Ungaretti

Quel nonulla di sabbia Che trascorre
Dalla clessidra muto e va posandosi
E, fugaci, lê impronte sul camato,
Sul carnato Che muore, d’una nube...

Poi mano che rovescia la clessidra,
Il retorno por muoversi, de sabbia,
Il farsi argertea tácito di nube
Ai primi brevi lividi dell’alba...

La mano in ombra la clessidra volse,
E, de sabbia, il nonulla Che trascorre
Silente, é única cosa che ormai s’oda
E, essendo udita, in buio non scompaia.

VARIAÇÕES SOBRE O NADA

Qual grãos de areia que escorrem
Da ampulheta mudos e que vão passando
E, velozes, se acumulam em camadas,
São as carnes que morrem, de uma nuvem...

Pela mão que revira a ampulheta
Se retorna o movimento da areia
E se faz o prateado tácito da nuvem
Ao primeiro, breve e claro sinal da aurora..

A mão que, na sombra, a ampulheta gira
E, a areia, que em grãos escorre
Silenciosa, é a única coisa que então se ouve
E, sendo ouvida, na treva não se envolve.

Thursday, January 05, 2006

UM POETA SALVADORENHO


La Poesia es como el pan

ROQUE DALTON

Yo como tu
amo el amor,
la vida,
el dulce encanto de las cosas
el paisaje celeste de los dias de enero.

También mi sangre bulle
y rio por los ojos
que han conocido el brote de las lágrimas.
Creo que el mundo é bello,
que la poesia es como el pan,
de todos.

Y que mis venas no terminan em mí,
sino que en la sangre unánime
de los que luchan por la vida,
el amor,
las cosas,
el paisaje y el pan,
la poesia de todos.

A Poesia é como o pão

Eu igual a tu
amo o amor,
a vida
o doce encanto das coisas
o céu azul dos dias de janeiro.

Também meu sangue ferve
e rio pelos olhos
que conhecem o jorrar das lágrimas.
Creio que o mundo é belo,
que a poesia como o pão,
deve ser de todos.

E que minhas veias não terminam em mim,
mas no sangue de toda humanidade,
dos que lutam pela vida,
o amor,
as coisas,
a paisagem e o pão,
pela poesia de todos.

Tuesday, January 03, 2006

UM POETA CUBANO


Canción del amor prohibido
José Angel Buesa


Solo tu y yo sabemos lo que ignora la gente
al cambiar um saludo ceremonioso y frio
porque nadie sospecha que es falso tu desvio
ni cuanto amor esconde mi gesto indiferente.

Solo tu y yo sabemos porque mi boca miente,
relatando la historia de um fugaz amorio;
y tu apenas me escuchas y yi no te sonrio...
y aun nos arde en los lábios algún beso reciente.

Solo tu y yo sabemos que existe uma simiente
germinando em la sobra de este surco vacio,
porque su flor profunda no se vê, ni se siente.

Y asi dos orillas tu corazón y el mio
pues, aunque las separa la corriente de un rio,
por debajo del rio se unem secretamente.


Canção do Amor Proibido

Só tu e eu sabemos o que ignora toda gente
quando trocamos uma saudação cerimoniosa e fria
porque ninguém suspeita que isto é falso e só desvia
Quanto amor esconde o gesto indiferente.

Só tu e eu sabemos porque minha boca mente,
relatando a história de um amor fugaz
e tu apenas me escutas e não sorris mais
porque nos arde nos lábios algum beijo recente.

Só tu e eu sabemos que existe uma semente
germinando no excesso deste sulco vazio,
porque sua flor profunda não se vê, nem sente.

E se bordas do seu coração e do meu, assim,
pareça que os separe a corrente de um rio, ao fim,
por debaixo dele se unem mais secretamente.

Monday, January 02, 2006

ELA ME LEVA



Mesmo sendo o mesmo,
o que se repete,
agora, no ano novo,
Serei outro.

Outras coisas me aguardam
E até diria, com ousadia,
Que sinto que algo de mim se sacia
Mesmo quando apenas
É recomendável
Que mude, e nem sei como.
Não para ser perfeito,
Mas, para ter algum jeito.

Talvez seja ilusão,
Preâmbulo do explodir,
Como fruto do que não foi feito.
Há o otimismo que mantenho
A certeza de que, numa esquina do tempo,
A vida há de me fazer feliz-
Ainda que tarde

E dessa forma
[como se me enganar fosse uma arte]
Conservo,
Como uma lâmpada maravilhosa,
A chama da ilusão.

Só a fé e a poesia
Podem salvar um homem.

E sigo ainda contente
Quando o fato de ser o mesmo
Enlouqueceria outra mente.
Embora o ano seja novo,
E a alegria um fator ausente,
Levo a vida
E a vida vai me levando.

Sunday, January 01, 2006

DÚVIDAS DA ERA VIRTUAL


IDENTIDADE

I
Toda referência do mundo:
É meu quarto.
Não há ser ou não ser.
Há ter ou não ter quarto!

II
Não ter aposento é o verdadeiro exílio.
Para estancar os movimentos
Basta se acomodar no lugar conhecido,
Reconhecido.
Saber que finalmente estaco
Num local pelo qual,
Como um cego, caminho
Sem esbarrar nos arranjos, na mobília,
Sem enfrentar burocracias, reclamações, filas.

III
As familiares sombras
Por um segundo me fazem crer
Que não há nada a temer.
Que seja possível me proteger
Dos males do mundo
E pareço me apropriar do meu verdadeiro, próprio eu
Que, lá fora, vira um nome, um número, uma imagem.

IV
Não importa onde esteja
– para buscar o que de mim resta –
E me descobrir como ser
É de meu quarto
Que tenho de saber.

Fora dele só existe o exílio.