Thursday, April 30, 2020

Uma poesia de Juan Boscán




UN NUEVO AMOR, UN NUEVO BIEN ME HA DADO...

Juan Boscán

Un nuevo amor un nuevo bien me ha dado,
ilustrándome el alma y el sentido,
por manera que a Dios yo ya no pido
sino que me conserve en este estado.

A mi bien acrecienta el mal pasado,
tan sin temor estoy de lo que ha sido;
y en las hierbas compuestas que he bebido,
mi fuerza y mi vivir se han mejorado.

Anduvo sobre mí gran pestilencia
hasta matar los pájaros volando
y casi cuando en vida fue criado;

este influjo crüel se fue pasando,
y así, de esta mortal, brava dolencia
con mas salud quedó lo que ha quedado

UM NOVO AMOR UM NOVO BEM ME FOI DADO

Um novo amor que um novo bem me foi dado,
Ilustrando-me a alma e o sentido,
de uma maneira que a Deus não havia pedido
senão que me conserve neste estado.

Para o meu bem, acrescenta o mau passado,
Tão sem temor estou do que há sido;
e nas ervas compostas que hei bebido,
minhas forçae e meu viver hão melhorado.

Andava sobre mim grande pestilência
Que até matava os pássaros voando
e quase quando fui criado na vida;

essa influência cruel se foi passando,
e assim, desta doença mortal, brava dolência
com mais saúde ficou o que há ficado.

Ilustração: https://www.dicasdemulher.com.br/.

Outra poesia de Robert Hayden



Perseus

Robert Hayden

Her sleeping head with its great gelid mass
of serpents torpidly astir
burned into the mirroring shield--
a scathing image dire
as hated truth the mind accepts at last
and festers on.
I struck. The shield flashed bare.

Yet even as I lifted up the head
and started from that place
of gazing silences and terrored stone,
I thirsted to destroy.
None could have passed me then--
no garland-bearing girl, no priest
or staring boy--and lived.

PERSEU

Sua cabeça adormecida com uma grande massa gelada
de serpentes entorpecidas e agitadas
ardendo no espelhado escudo
uma assustadora imagem medonha
como a verdade odiada, que a mente finalmente aceita
e festeja.
Eu bati. O escudo relampejou nu.

Ainda assim quando eu levantei a cabeça
e comecei a partir deste lugar
de contemplação de silêncios e pedras aterrorizadas,
eu estava sedento por destruir.
Ninguém poderia ter passado por mim, então-
nenhuma garota com guirlanda, nenhum padre
ou garoto me encarado - e vivido.


Wednesday, April 29, 2020

Outra poesia de Pita Amor





CANSADA

Pita Amor

Cansada de esperarte
con mis brazos vacíos de caricias,
con ansias de estrecharte
pensaba en las delicias
de esas noches, pasadas y fictícias

CANSADA

Cansada de esperar-te
com meus braços vazios de carícias.
com ânsias de estreitar-te
pensava nas delícias
dessas noites, passadas e fictícias.


Tuesday, April 28, 2020

APELINHO AO CORONAVÍRUS





O que sei de ti, vírus insensível,
é que levarás muitos de nós
(espero que não os muito próximos
que já perdi amigos demais).
Sei que és feroz
na forma como te disseminas,
no afã com que as forças eliminas
dos mais frágeis.
Sei que de nada
adianta o mero isolamento.
És um inimigo implacável, solerte,
que aguarda o exato momento
para realizar tua captura
e se multiplicar pelas criaturas.
É o teu meio de sobreviver
(não censuro o que faz parte da natureza)
mas, espero, víruszinho esperto
que, no Brasil, aja certo
e cumpra tua tarefa sendo ameno.
Por favor, seja ligeiro,
e, pelo menos uma vez,
o número de mortos
deixe por menos!


Uma poesia de Belén Francese sobre o Coronavírus





POEMA AL CORONAVIRUS

Belén Francese

Maldito virus siniestro
No te tememos, con recaudos y aislamientos, lavados de manos y distanciamiento te enfrentaremos.
Vete maldito vete de aquí !!!
Te echaremos te venceremos por juntos vivos y sanos nos queremos.
( llore )

POEMA AO CORONAVÍRUS

Maldito vírus sinistro
Não te tememos, com coleções e isolamento, lavagem das mãos e distanciamento te enfrentaremos.
Vai-te maldito vai-te daqui !!!
Te chutaremos, te venceremos juntos vivos e sãos nos queremos.
(chore)

Ilustração: https://4.bp.blogspot.com.

Uma poesia de Jorge Suárez


                  
EL CAMINANTE                                       
Jorge Suárez

Fiel monólogo, lengua demorada
en la miel del recuerdo, pero en vano:
todo recuerdo es un licor lejano
y toda evocación es siempre nada.
Nada, la red febril de tu mirada
captura solo el humo del verano
y la piel que acaricias en tu mano
es ya tacto sin luz. Acongojada
por tanta sombra, sus farolas verdes
prende la calle taciturna. Muerdes
tu soledad, tu soledad, tu grito,
mientras que va dejando tu pisada
rosas de polvo, sobre la calzada,
camino de la muerte, al infinito.

CAMINHANTE

Monólogo fiel, língua demorada
no mel da recordação, porém, em vão:
tuda recordação é um licor distante
e toda evocação é sempre nada.
Nada, a rede febril do teu olhar
captura só a fumaça do verão
E a pele que acaricias na tua mão
já está tocando sem luz. Angustiado
por tanta sombra, suas lâmpadas verdes
prendem a rua taciturna. Mordes
tua solidão, tua solidão, teu grito,
enquanto vais deixando tua pegada
rosas de pó, sobre a calçada,
caminho da morte, até o infinito.


Monday, April 27, 2020

Uma poesia Grazia Di Lisio


Un‘offerta rubata         
Grazia Di Lisio

Si sfalda la rete dell’inganno
consueto e si resta a fissare
il destino dalla propria
impotenza umiliati.
Un riconoscersi appena -
un secco silenzio - .
Splenderà il fulgore di croco
nel brusio della vita appassita?
Non m’aspetto che questo:
un’armonia disarmante
nella spenta vivezza
un’offerta rubata.


Uma oferta roubada

Se desfaz a rede de engano
usual e se põe a olhar
o seu próprio destino
impotência humilhada.
Um reconhecimento apenas-
um silêncio seco-.
Brilhará luminoso o açafrão
no zumbido da vida murcha?
Eu não espero isto:
uma harmonia desarmante
na vivacidade gasta
uma oferta roubada.

Uma poesia de Pita Amor


VI EN EL ESPEJO                                  
Pita Amor

Vi en el espejo un personaje raro
un pájaro de sombras taciturno,
del polaco Chopin, oí un nocturno
y vendí mi reloj a un viejo avaro

Tu traje oscuro, que costó tan caro
las refulgentes luces de Saturno
el comandante que cambió de turno
y la niña que juega con el aro

Un telegrama que me ha enviado Emilio
y yo pidiéndole al demonio auxilio
las tabernas de vinos asesinos

los burdeles de vicios clandestinos
los imanes, las grises cerraduras…
También las misteriosas cerraduras.

VI NO ESPELHO

Vi no espelho um personagem raro
um pássaro de sombras taciturno,
do polonês Chopin, ouvi um noturno
e vendi meu relógio a um velho avaro

Teu traje escuro, que custou tão caro
as brilhantes luzes de Saturno
o comandante que trocou de turno
e a garota que joga com o aro

Um telegrama que me enviou Emilio
e eu pedindo-lhe ao demônio auxílio
as tabernas de vinhos assassinos

os bordéis de vícios clandestinos
os ímãs, as cinzentas fechaduras ...
Também as misteriosas fechaduras.


Sunday, April 26, 2020

Ramón Almagro, de volta




LA PREGUNTA (fragmento)

Ramón de Almagro

Porque odio la soledad, que ya mucho he sufrido,
Porque te quiero y no quiero ser causa de otro fracaso,
Por eso cuando te miro, por eso cuando te abrazo
Nada quiero yo saber de la vida que has tenido,
Y si murmuro a tu oído, la pregunta que tendré,
Será la misma de siempre
Decime amor, ¿me querés?

A PERGUNTA (fragmento)

Porque odeio a solidão, que já há muito sofro,
Porque te quero e não quero ser causa de outro fracasso.
Por isso quando te olho, por isso quanto te abraço
Nada quero eu saber da vida que tivestes,
E se murmuro a teu ouvido, a pergunta que terei,
Será a mesma de sempre
Diz-me amor, me queres?


Saturday, April 25, 2020

Uma poesia de Charles d'Orléans


Souper au bain et dîner au bateau...          

Charles d'Orléans

Souper au bain et dîner au bateau,
En ce monde n’a telle compagnie ;
L’un parle ou dort et l’autre chante ou rit,
Les autres font ballades ou rondeau.

Et on y boit du vieux et du nouveau,
On l’appelle le déduit de la pie ;
Souper au bain et dîner au bateau,
En ce monde n’a telle compagnie.

Il ne me chaut ni de chien ni d’oiseau ;
Quand tout est fait, il faut passer sa vie
Le plus aise qu’on peut, en chère lie.
À mon avis, c’est métier bon et beau,
Souper au bain et dîner au bateau.

ALMOÇAR NO BANHO E JANTAR NO BARCO

Almoçar no banho e jantar no barco,
Neste mundo não existe companhia;
Um fala ou dorme e o outro canta ou grita,
Uns fazem baladas, outros fazem ronda.

E se bebe os vinhos velhos e novos,
Isso se chama o prazer de beber;
Almoçar no banho e jantar no barco,
Neste mundo não existe companhia.

Não me acompanham pássaros ou cachorros;
Quando tudo está feito, há que passar a vida
O melhor que puder, em companhia querida.
No meu entender é uma boa ocupação,
Almoçar no banho e jantar no barco.

Ilustração: Youtube.

E, de volta, Ramón de Almagro


MI POEMA DE ABRIL                                 


Ramón de Almagro

Picoteando la cáscara
De algún viejo recuerdo
Con la lluvia de abril
Nacerá mi poema
Le pondré mil colores
Los más puros y claros
Una música tenue
Y un perfume de nardos.
Como una luciérnaga
Brillará titilando
Y subirá por los aires
Escapando de mi alma
Se estirarán mis manos
Sin poder alcanzarlo,
Se quedarán mis labios
Como siempre rogando:
Que una estrella lo guíe
Que lo lleve a tu lado,
Pues si tú lo encontraras,
Si llegas a escucharlo
Mi poema de abril
Quizá viva hasta mayo.

MEU POEMA DE ABRIL

Picando a casca
de alguma velha recordação
com a chuva de abril
nascerá o meu poema
porei nele mil cores
as mais puras e claras
uma música suave
e um perfume de nardos.
Como um vaga-lume
vai brilhar luminoso
e subirá pelo ar
Escapando de minha alma
se estirarão minhas mãos
sem poder alcançá-lo,
ficarão os meus lábios
como sempre rezando:
que uma estrela o guie
e o leve ao teu lado,
pois, se tu o encontrares,
Se chegas a escutá-lo
meu poema de abril
talvez viva até maio.


Friday, April 24, 2020

Outra poesia de Donata Berra





Sempre mi scordo di te, sempre

Donata Berra
                                  a Roberto
Sempre mi scordo di te, sempre
mi perdo, ardo per altro, guardo
agli incanti, dove attenti
stanno in agguato trabocchetti,
lacci, e la ventura. Inseguo
i mulinelli tutti,
l'aria sventata dei libecci in fuga
su verso il bosco che ignaro trascolora
e si dipinge ancora
avanti il sonno.
Cerco qua e là
come a caccia di mirtilli,
fuori disegno,
spinta e malsicura.

Se ti ritrovo, se a te ritorno, è allora
alla stagione degli alberi di cachi
coi neri rami nudi carichi d'oro.

SEMPRE ME ESQUEÇO DE TI, SEMPRE

Sempre me esqueço ti, sempre
me perco, ardo por outras coisas, guardo
encantamentos, onde atento
às armadilhas estão à espera,
atacadores e sorte. Persigo
eu todos os rolos,
o ar frustrado de fugir liberto
em direção à floresta que cores inocentes
e ele ainda se pinta
dormir à frente.
Eu procuro aqui e ali
como a perseguir mirtilos,
fora do desenho,
impulsionado e inseguro.

Se eu te encontrar, se eu retornar a ti, é então
para a estação das árvores de caqui
com os ramos pretos e nus, carregados de ouro.



Thursday, April 23, 2020

Outra poesia de Luis García Montero


DISCIPLINA SECRETA                      
Luis García Montero

La casa como barco
en alta mar de junio.

Las calles como trenes
de noche sosegada.

Estas cosas no pasan en el mundo.

Estoy por afirmar
que ahora vivo en un libro de poemas.

Pero si tú me miras,
decidida a existir
desde el fondo templado de tus ojos,
también existe el mundo.

Y muy probablemente
yo acabaré por existir contigo.

A DISCIPLINA SECRETA

A casa como o barco
em alto mar de junho,

As ruas como trens
de noite sossegada.

Estas coisas não passam no mundo.

Estou por afirmar
Que agora vivo em um livro de poemas.

Porém, se tu me olhas,
decidida a existir
desde o fundo  temperado de teus olhos
também existe o mundo.

E muito provavelmente
Eu acabarei por existir contigo.

Ilustração: Youtube.