Sunday, April 29, 2012

Traindo um traidor


After a Death

by Tomas Tranströmer (translated by Robert Bly)

Once there was a shock
that left behind a long, shimmering comet tail.
It keeps us inside. It makes the TV pictures snowy.
It settles in cold drops on the telephone wires.

One can still go slowly on skis in the winter sun
through brush where a few leaves hang on.
They resemble pages torn from old telephone directories.
Names swallowed by the cold.

It is still beautiful to hear the heart beat
but often the shadow seems more real than the body.
The samurai looks insignificant
beside his armor of black dragon scales.

Depois da morte

Uma vez lá foi um choque
que deixou para trás uma longa cauda de cometa, cintilante.
Ela nos mantém inserida. Faz com que as imagens de TV nevem.
Nos acomoda em frias gotas sobre os fios de telefone.

Pode-se ainda ir devagar em esquis no sol de inverno
através do pincel, onde algumas folhas se penduram.
Assemelham-se as páginas arrancadas de listas telefônicas antigas.
Nomes engolidos pelo frio.

Ainda é lindo de ouvir o batimento cardíaco,
mas, muitas vezes, as sombras parecem ser mais reais do que o corpo.
O samurai parece insignificante
ao lado de sua armadura de escamas negras de dragão.

Poeminha do muito pouco



Sei que pensas que sou insensível
Por me comportar com a sensatez possível.

Os grandes amores, minha vida, digo calmo,
São os que não se realizam, como um salmo.

Não sabes, porém, a amargura que contém
Nem a dor que tal sabedoria, infelizmente, têm.

É claro que te desejaria dizer: -Vamos,
Quebremos as correntes e vivamos.

No entanto, o que parece simples nos seria 
A liberdade que nosso amor mataria.

Sei que vivemos pouco, mas, em certos momentos
O pouco é a fonte de todos os sentimentos

E mais precioso ainda por ser assim
Tão maravilhoso para você e para mim.

Ilustração: Site Contos Inconstantes 

Laughlin ainda uma vez


¿Por qué nos ocurre el amor?  

Laughlin James

No es tan simple
Como el imperativo biológico
De continuar la especie.
Claro que hay algo de eso,
Pero además tu modo de mirar-
Me, tu cara encendida de alegría
Y el modo de hacer oír tu voz
En la oscuridad. ¿Qué hace que tu amor
Me elija? Te lo pregunté alguna vez
Pero no quisiste responder.
Era tu secreto. Mejor así.

Por que nos ocorre o amor?

Não é tão simples
Como o imperativo biológico
De continuar a espécie.
Claro que há algo além disso,
Porém, também o teu modo de olhar
Para mim, com teu rosto se iluminando de alegria
E o modo de fazer ouvir a tua voz
No escuro. O que fez que o teu amor
Me eleja? Te perguntei uma vez
Porém, não quisestes responder.
Era o teu segredo. Melhor assim.

Saturday, April 28, 2012

Mais uma vez Laughlin James




Consonancia
 
Laughlin James
 
¿No es bueno preguntó ella (como
si fuera posible resolver la
cuestión) que ambos amemos
el cuerpo del otro uno fuerte
otro chico uno delicado otro alto?
¿No es bueno que ambos amemos el
modo que tu piel y la mía se gustan
el modo cuando ambas se tocan & acarician?
Es cierto que te amo yo por tu inte-
ligencia y vos a mí por mi manera
de ser pero ¿No tenemos mucha suerte
en que ambos cuerpos también se amen?

Sintonia

Não é bom perguntou ela (como
Se fosse possível resolver a

questão) que  ambos amemos  
o corpo do outro de uma forma tão forte

sendo um cara delicado e o outro alto?
Não é bom que ambos amemos

o modo que tua pele e a minha se gostam  
o modo quando ambas se tocam & acariciam?

É certo que eu te amo por tua
inteligência e tu a mim por minha maneira

de ser, porém, não temos muita sorte
em ambos os corpos também concordem?

Ilustração: viadeacesso.com 

Outra de Laughlin James



Una traducción

Laughlin James

Cómo vos decidiste traducirme
de uno a otro lenguaje vamos
a decir que del inglés de la amistad
al francés de los amantes Hacía
medio año que nos conocíamos cuando
un día hablando (era acerca de uno de
tus dibujos) de golpe te acurru-
caste contra mí y mis labios trazaste
hacia los tuyos eso sí fue un ágil
intercambio de nuestros lenguages
como diciéndome que ahora si yo quisiera
sí que podría hablarte en francés.

Uma tradução

Como tu decidistes traduzir-me  
de uma para outra língua vamos

dizer que do inglês da amizade
ao francês dos amantes. Fazia
metade de um ano que nos conhecíamos quando
numa conversa um dia (tratava-se de um dos

seus desenhos) de golpe  te curvastes
sobre mim e os meus lábios trouxestes

até os teus e isto foi uma ágil
troca de nossas linguagens

como dizendo-me que agora, se eu quisesse
sim poderia falar-te em francês.


Ilustração: filosofiahoje.com

Laughlin James



A media luz

Laughlin James

Tu cara es todavía tan hermosa
tiene un resplandor distinto
que proviene del sueño despierto y
acaricio tu mejilla siento tu
aliento sobre mis dedos a tientas
tus ojos están cerrados pero sospecho
que pueden ver & ahora miran
lo que está por venir ellos con-
templan tan lejano el futuro
como el fin de nuestros días juntos.

À meia luz

Teu rosto é, todavia, tão bonito
tem um resplendor distinto

que provém do sono desperto
acaricio tuas bochechas e te sinto

a respiração sobre meus dedos tateando
teus olhos estão fechados, porém, suspeito

que podem ver e agora olham
o que está por vir eles com-

templam o distante futuro
como o fim dos nossos dias juntos.

Ilustação:  encontrodasaudade.blogspot.com

Gonzalo Rojas




Vibraciones acerca de las cuales las estrellas no dan para más

Gonzalo Rojas

Escrito en Hesíodo: -No hay
música ni submúsica bajo el firmamento, lo que hay
es lambada
desde el Génesis, limpias las estrellas
en el ámbito de lo abierto, un mortal
y una mortal bellísimos
bailando.

Y en Guimaraes Rosa: -Un carpo único de baile
altas las palmeiras más bien
con olor
a Paraíso en la ciencia de la concupiscencia,
un beso, un casto
beso en la nuca, que se baila.
Alabemos entonces a la lambada, pienso yo,
por sagrada.

Vibrações acerca das estrelas que não se dão mais

Escrito em Hesíodo: "Não existe
submúsica nem música ou sob o céu, o que há
é a lambada
desde Gênesis, limpas as estrelas
no campo aberto, um mortal
e uma mortal belissimos
dançando.


E em Guimarães Rosa:-A dança única do carpo
das palmeiras mais elevadas
cheirando
a Paraíso na ciência da luxúria
um beijo, um casto
beijo na nuca, enquanto se dança.

Saudemos, então, a lambada, penso eu,
como sagrada.

Ilustração: wn.com 

Sempre no meu coração



Estou em ti mesmo na distância
Tão imensa quanto este amor que te dou
De forma tão voraz, tão inconsistente,
Mas, tão vivo, tão teu somente, semente
De sonhos e desejos, que ama e não precisa
De beijos (embora sejam tão preciosos).
Estou em ti mesmo quando te deixo
Seja nas madrugadas, ou não,
Num e-mail, num telefonema esparso,
Num avião, na vontade de ir a Belém,
Quem sabe Rio Branco ou Brasília,
Ao teu lado fazendo trilha
Sem estar neste tempo sem ti tão vão
Ainda que sempre estejas no meu coração.

Sunday, April 22, 2012

Julie Sopetrán



Vino

Julie Sopetrán

Es un brindis de invierno hecho de soledades
Pequeñas dimensiones de procesos vividos:
Cristales de la nada vilanos que se rompen
O el corazón volando por todos los toneles
Dejo que pase el tiempo perdida en tu mirada
Los vidrios de la tarde se han llenado de lunas
Y este sabor a mosto me reposa lo interno
Y me analiza estancias donde crece lo amargo
Acidez y dulzura, vendimia  y sedimento
Fermentación que aroma los orujos pisados
La cuba de mis sueños huele a llanto en el aire
Es como un sabor tártaro paladar de silencios
Y es que el dolor no es agua es un proceso largo
De haber llorado mucho dentro de tu pellejo.

Vinho

É um brinde de  inverno feito de solidões
Pequenas dimensões de processos vividos:
Cristais dos cardos azuis que se rompem
Ou o coração voando por todos os tonéis
Deixo que passe o tempo perdido nos teus olhos
Os vidros da tarde se hão preenchidos de luas
E este sabor a mosto deve repousar no interior
E me analisa ​​estadias onde cresce a amarga
Acidez e a doçura, vindima e sedimento,
Fermentação que dá aroma aos bagos pisados.  
A cuba de meus sonhos cheira à pranto no ar
É como um sabor tártaro, paladar dos silêncios
E é que a dor não é água; é um processo longo
De haver chorado muito dentro de sua pele.

Lourdes Espínola



Nacer Mujer-Poeta

Lourdes Espínola

La alternativa:
Saltar del balcón; despedazarlo.
Faldas, abanico, hilo, aguja:
me desnudo y rebelo.
¡Basta de mirar la vida
desde este balcón!
Cárcel semicircular
tímpano sordo, sorda boca
grito y digo
  del solitario oficio de escribir.
Manuscrito de internas visiones
  espejos de mujer abriéndose.
Nazco
rompiendo venenosos manantiales.

Nascer mulher poeta

A alternativa:
saltar da varanda; despedaçá-la.
Saias, leque, fio, agulha:
me desnudo e me rebelo.
Estou farta de olhar a vida
desta varanda!
Cárcere semicircular
orelha surda, surda boca
grito e falo
do solitário oficio de escrever.
Manuscrito de visões interiores,
espelhos de mulher abrindo-se.
Nasço
rasgando venenosos mananciais.

Monday, April 16, 2012

Rock do gato escaldado


Você me deu um susto
E eu pulei como um gato
Azunhei, de fato, azunhei.
Só depois percebi
o quanto te feri,
o quanto te feri,
só quando vi tantos arranhões
o estrago me assustou...
Só posso me desculpar
dizendo que foi por amor,
foi por amor.
Fui, bem sei, injusto
nem avaliei o custo,
mas, toda ação
provoca uma reação.
Foi de susto,
Foi de susto.
Faça não...
Faço mais não...

Sunday, April 15, 2012

Delmira Agustini


Desde Lejos

Delmira Agustini

En el silencio siento pasar hora tras hora,
como un cortejo lento, acompasado y frío...
¡Ah! Cuando tú estás lejos, mi vida toda llora,
y al rumor de tus pasos hasta en sueños sonrío.

Yo sé que volverás, que brillará otra aurora
en mi horizonte, grave como un ceño sombrío;
revivirá en mis bosques tu gran risa sonora
que los cruzaba alegre como el cristal de un río.

Un día, al encontrarnos tristes en el camino,
yo puse entre tus manos pálidas mi destino
¡y nada de más grande jamás han de ofrecerte!

Mi alma es frente a tu alma como el mar frente al cielo:
pasarán entre ellas, tal la sombra de un vuelo,
¡la Tormenta y el Tiempo y la Vida y la Muerte!

De Longe

No silêncio sinto passar hora após hora,
como um cortejo lento, compassado e frio ...
Ah! Quando tu estais longe, minha vida toda chora
e ao rumor dos teus passos até em sonhos sorrio.

Eu sei que voltarás, que brilhará outra aurora
no meu horizonte, grave como um cenho sombrio;
reviverá no meu bosque tua imensa risada sonora
que os cruzava alegre como o cristal de um rio.

Um dia, ao nos encontrarmos tristes no caminho
Eu coloquei entre tuas mãos pálidas o meu destino
E nada maior jamais hão de oferecer-te!

Minha alma em frente à tua alma como o mar frente ao céu:
passarão entre elas, como a sombra que num vôo se perdeu,
a Tempestade e o Tempo e a Vida e a Morte!

Gustavo Adolfo Becquer


Antes que tu me Moriré

Gustavo Adolfo Becquer

Antes que tú me moriré: escondido
en las entrañas ya
el hierro llevo con que abrió tu mano
la ancha herida mortal.

Antes que tú me moriré: y mi espíritu,
en su empeño tenaz
se sentará a las puertas de la Muerte,
que llames a esperar.

Con las horas los días, con los días
los años volarán,
y a aquella puerta llamarás al cabo.
¿Quién deja de llamar?

Entonces que tu culpa y tus despojos
la tierra guardará,
lavándote en las ondas de la muerte
como en otro Jordán.

Allí, donde el murmullo de la vida
temblando a morir va,
como la ola que a la playa viene
silenciosa a expirar.

Allí donde el sepulcro que se cierra
abre una eternidad,
todo lo que los dos hemos callado
lo tenemos que hablar.

Antes que tu me mates

Antes que tu me mates: escondido
nas entranhas já
o ferro levo com que abriu tuas mãos
a ampla ferida mortal.

Antes que tu me mates: o meu espírito,
tenaz em seus esforços
vai sentar-se às portas da morte,
esperando que o chames.

Com as horas, o dia, com os dias
os anos voaram,
e aquela porta chamarás ao cabo.
Quem deixará de chamar?

Então, tua culpa e teus restos mortais
a terra guardará,
levando-te pelas ondas da morte
como em outro Jordão.

Lá, onde o zumbido da vida
tremendo morrer vai,
como a onda que chega à praia
silenciosamente a expirar.

Lá, onde o túmulo está fechado
se abre uma eternidade,
tudo o que temos calado
teremos que falar.

Ilustração: sobreeuevoce.tumblr.com

Saturday, April 14, 2012

Sem volta


Não sei, se é o caso de rir ou chorar.
Mas, se entre nós não há nada, como veio me falar,
Para o que não existe não há como voltar...

Só, novamente só.


Novamente
Tenho a glória de ser só...

Por um momento, só por um momento, pensei
Que valeria a pena todo o amor que amei,
Porém, a verdade é que o outro que se ama
É só a ilusão que temos de que é possível
O impossível desejo de sermos outro igual a nós.
E, ela, mais rápida que eu, compreendeu
Que o amor imortal mata os amantes
E, com algumas palavras, num só instante,
Baixou o pano da realidade e nos vimos,
Pobres atores, a encarar nossas dores
E o fato incontestável de que estamos sós
Ainda que os aplausos da platéia,
Criando a fantasia que tanto anseia,
Nos torne maiores do que somos.
E a sermos nós mesmos, voltamos,
Cada um por seu caminho, só.

Ilustração: tododiaumtextonovo.blogspot.com

Foi assim


Vivias dizendo que, qualquer dia,
Sem palavras te abandonaria.
Tua impressão era a ilusão
De que, de repente, eu sumia.
E, lembro, que se retrucava que não,
Diversas vezes, rias
E, comentavas, que nem mesmo
Poderias se socorrer da polícia.
E, no fim, nem foi assim.
Inesperadamente,
E, de forma triste, dissestes
Que, entre nós, nada existia...
Como um locutor que o tempo noticia;
E, espantoso, vejo, como no cinema,
Por celular, com um telefonema!
O passado contemplo...
E , constato, que nem parece mais
Que, para ter paz,
Foi preciso passar tanto tempo.

Ilustração: webcortex.com.br

Nada entre nós


Se tudo que vivemos foi ilusão
Perdoa, por favor, todo o amor e a paixão
Que, por fantasia, fez meu carnaval viver.

Se tudo que vivemos foi tão pouco..
Desculpa, meu amor, sou mesmo louco
Por não conseguir deixar de amar você!

Se tudo que vivemos não foi nada
Perdôo, as palavras que usaste como espada
Para cruelmente matar meu bem querer.

Ilustração: http://thefalleneden.blogspot.com.br

Cristóbal de Castilejo


Al Amor

Cristóbal de Castillejo

Dame, Amor, besos sin cuento,
asido de mis cabellos,
y mil y ciento tras ellos,
y tras ellos mil y ciento,
y después
de muchos millares, tres;
y porque nadie lo sienta
desbaratemos la cuenta
y contemos al revés.

Ao amor

Da-me, amor, beijos sem conta,
agarra meus cabelos,
e um mil cem por trás deles,
e atrás deles um mil e cem,
e, depois
de muitos milhares, três;
e porque não se senta
desbaratemos a conta
e contemos para trás.

Sunday, April 08, 2012

Outra poesia de Rosalía Castro


Cando penso que te fuches

Rosália de Castro


Cando penso que te fuches,
negra sombra que me asombras,
ó pe dos meus cabezales
tornas facéndome mofa.

Cando maxino que es ida,
no mesmo sol te me amostras,
i eres a estrela que brila,
i eres o vento que zoa.

Si cantan, es ti que cantas;
si choran, es ti que choras;
i es o marmurio do río,
i es a noite, i es a aurora.

En todo estás e ti es todo,
pra min i en min mesma moras,
nin me abandonarás nunca,
sombra que sempre me asombras.

Quando penso que te fostes

Quando penso que te fostes,
negra sombra que me assombras
logo ao pé dos meus ouvidos
tornas fazendo-me mofa..

Quando imagino que és ida ,
no mesmo sol te me amostras,
e és a estrela que brilha,
e és o vento que voa.

Se cantam, és tu que cantas;
se choram és tu que choras;
e és o murmúrio do rio,
e és a noite, e és a aurora.

Em tudo estais é tu és tudo,
pra mim e em mim mesma moras,
não me abandonarás nunca,
sombra que sempre me assombra.

Ilustração: barbarafilipaa.blogspot.com

Uma poetisa galega


Castellanos de Castilla

Rosália de Castro


Castellanos de Castilla,
tratade ben ós gallegos;
cando van, van como rosas;
cando vén, vén como negros.

-Cando foi, iba sorrindo;
cando veu, viña morrendo;
a luciña dos meus ollos,
o amantiño do meu peito.

Aquel máis que neve branco,
aquél de dosuras cheio,
aquél por quen eu vivía
e sin quen vivir non quero.

Foi a Castilla por pan,
e saramagos lle deron;
déronlle fel por bebida,
peniñas por alimento.

Déronlle, en fin, canto amargo
ten a vida no seu seo...
¡Castellanos, castellanos,
tendes corazón de ferro!

Castelhanos de Castela

Castelhanos de Castela
Castelhanos de Castela,
trata bem aos gallegos;
quando vão, vão como rosas;
quando vem, vem como negros.

-Quando foi, ia sorrindo;
quando veio, vinha morrendo;
a luzinha dos meus olhos,
o amorzinho do meu peito.

Aquele mais que neve branco,
aquele de doçuras cheio,
aquele por quem eu vivia
e sem o qual viver não quero.

Foi a Castela por pão,
e saramagos lhe deram;
deram-lhe fel por bebida,
peninas por alimento.

Deram-lhe, enfim, canto amargo
tem a vida em seu seio ...
¡Castelhanos, Castelhanos,
tendes coração de ferro!

Saturday, April 07, 2012

Baldomero Fernández Moreno


Los Amantes

Baldomero Fernández Moreno

Ved en sombras el cuarto, y en el lecho
desnudos, sonrosados, rozagantes,
el nudo vivo de los dos amantes
boca con boca y pecho contra pecho.

Se hace más apretado el nudo estrecho,
bailotean los dedos delirantes,
suspéndase el aliento unos instantes...
y he aquí el nudo sexual deshecho.

Un desorden de sábanas y almohadas,
dos pálidas cabezas despeinadas,
una suelta palabra indiferente,
un poco de hambre, un poco de tristeza,
un infantil deseo de pureza
y un vago olor cualquiera en el ambiente.

Os amantes

Veja nas sombras do quarto e no leito
nus, cor de rosa, ofegantes,
o nó vivo dos dois amantes
boca à boca e peito contra o peito.

Se faz mais apertado o nó estreito,
dançando sobre os dedos delirantes,
suspendendo-se ao alento dos instantes ...
e aqui está o nó sexual desfeito.

Uma desordem de lençóis e travesseiros,
duas cabeças pálidas desgrenhadas,
uma palavra solta indiferente,
um pouco de fome, um poço de tristeza,
um infantil desejo de pureza
e um vago odor qualquer no ambiente.

Friday, April 06, 2012

Conto como quem conta um conto


Sei, por conta própria,
Que vocês jamais acreditarão em mim,
Mas, trata-se da mais pura verdade,
Que, hoje, só conto por causa da idade
De vez que, quando se fica velho,
Pode-se dizer qualquer coisa que é explicável.
Todavia, a verdade verdadeira, notável
É que, assim como Che Guevara já esteve em Porto Velho,
Também, em priscas eras,esta terra viu de férias
O grande poeta mexicano Octávio Paz.
Aqui chegou, e esteve oculto, por meados dos anos oitenta
Segundo dizia –rindo- para descansar.
E, se testemunhas há, além de mim
São vazias garrafas de Côtes du Rhône partilhadas
Em imensas, longas e doces noitadas
Que incluíram o Araribóia, de saudosa memória,
E a Taba do Cacique que, em noite de glória,
O viu recitar, com risos e confidências,
Que amores bons requerem indecências
Assim como comida mexicana, pimenta.
É possível que tal semana não haja existido,
Porém, me lembro que fez questão
Também de andar de trem
E me disse sem pestanejar;
-Como nunca escreverei sobre estes dias-
Meus pecados não sou de confessar-
Um dia até mesmo tu hás de duvidar
Que estive aqui nestas orgias
E, com a suavidade com que sempre sorria,
Suavemente me disse adeus soletrando:
-Duvidar é não ter crenças absolutas.
É flertar com todos como as boas...

Caricatura: Waldo Matus

Delmira Agustini


Soneto de Amor

Delmira Agustini

Lo soñé impetuoso, formidable y ardiente;
hablaba el impreciso lenguaje del torrente;
Era un amor desbordado de locura y de fuego,
Rodando por la vida como en eterno riego.

Luego soñélo triste, como un gran sol poniente
que dobla ante la noche su cabeza de fuego:
después rió, y en su boca tan tierna como un ruego,
sonaba sus cristales el alma de la fuente.

Y hoy sueño que es vibrante, y suave, y riente y triste,
que todas las tinieblas y todo el iris viste,
que frágil como un ídolo y eterno como un Dios

Sobre la vida toda su majestad levanta:
y el beso cae ardiendo a perfumar su planta
en una flor de fuego deshojada por dos...

Soneto do Amor

O sonho impetuoso, formidável e ardente;
falava a imprecisa linguagem da torrente;
Era um amor que desbordava de loucura e fogo,
Rolando pela vida como um eterno jogo.

Logo sonhei-o triste, como um grande sol poente
que se inclina ante a noite com sua cabeça de fogo
depois riu, e sua boca tão macia quanto um rogo,
soou seus cristais sua alma vinda da fonte.

E hoje sonho que és vibrante e suave, e alegre e triste,
que toda a escuridão e a tudo a íris viste,
tão frágil como um ídolo e eterno como um Deus

Sobre a vida toda a sua majestade levanta:
e o beijo cai queimando a perfumar sua planta
numa flor de fogo desfolhada para dois ...

Ilustração: ivanihbianco.blogspot.com

Thursday, April 05, 2012

Lina Zerón


CONSAGRACIÓN DE LA PIEL

Lina Zerón

No debo amarte en domingo sereno,

ni por el miedo de una tarde de rezos,

ni ahora que los recuerdos son retazos

de gemidos feroces

y tu imagen avive los ojos de la hoguera.



No ahora que mi piel se mece en la nostalgia de tu piel

y llora,

ni aún cuando todos mis vacíos

están habitados por tus silencios

y tus caricias dejan caliente rastro

en mi memoria.



Necesito estar fuerte

para enfrentar tus narcóticos besos

tus devastadoras manos

que destilan veneno

y distraerme de tu cuerpo seduciéndome altivo

sobre el lomo del aire.



Necesito imponer cordura a mi nervioso vientre

para no amarte como si todo el mundo fuera tu boca

y los mares y los ríos tu indomable lengua

y mi sed nunca estuviera satisfecha.



Quiero dejar de sentir hambre de ti /de mi.



Si los océanos fueran tu sexo

bebería cada gota de mar

y devoraría cada grano de arena

sobre la playa firme de tu cuerpo.



Necesito calma en la espera,

música de alas al viento

para volver arrojarme al precipicio de tus besos;

Y si de ti algo queda

después de la explosión del agua

entonces volveré amarte.



Estoy aquí,

como Penélope,

desde esta plenitud atroz

enviándote delirantes palabras,

apetitos disfrazados,

besos de papel

viajando con mi mente

por todo tú,

todo tú desnudo,

todo tú dispuesto,

toda yo escurriendo mis labios por tu cuerpo,

llenándome de ti/ de mi,

oteando mi sombra sobre tu sombra,

en la espera de la humedad nadante.



Si, aquí,

anclada en mi desnudez de flor de otoño,

soñando con el reencuentro,

el sublime deseo que nos incita,

silentes hasta que la prudencia nos libere

todos los humeantes apetitos contenidos,

todas las manos guardadas para tocarnos,

todos los espumosos besos

derramados hasta las ingles,

y después…que el destino nos guíe como a ciegos

perdidos en infinitos cuerpo sin tiempo.



Estoy agotada de vivir al borde de los suspiros,

se extinguió el cielo blanco de nubes

que protegía nuestros besos,

no somos mas dos anónimos amantes

viviendo un invisible romance.



Un trueno inmenso de quimeras

a despedirnos nos urge.



Tus labios se han cerrado como bares en madrugada,

tu risa ya no cae como hielos sobre vasos plenos

y las promesas de amor

no son mas que un par de copas sucias

y es entonces que el dolor enardece mi alma.



Me veo recargada sobre el horizonte

como un ave Fénix

y recuerdo tus manos en las tinieblas de mi piel

y sufro,

e invento pecados,

torturas de amor con máscaras y látigos

y vuelvo a ser aquella generosa tierra

- donde tocas florezco.


Me odio por amarte

por añorar tus húmedos labios,

acudo al recuerdo de tu sexo,

y caigo muerta sobre la cama

por las escaleras muerta ruedo,

vago por los senderos muerta

al mar muerto llego

y muerta me quedo en el fondo del océano.



¿Para qué amarte tanto?

muchos años perfumé tu cuerpo,

mil espinas feroces quité de tu alma,

desterré febriles lluvias de tus ojos,

y mis caricias se extendieron

como trigo sobre tu piel de aurora.



Cuánta, cuánta lluvia ha caído desde aquella vez

que caminamos al muelle del olvido.



Hoy una brizna de niebla duerme en tus ojos

destruyendo la noche en la eternidad de mis sueños.



Estoy mejor sin ti

ahora que el silencio condenó tu boca blasfema,

que mi sosiego se ciñe a tu ausencia,

y confino tu recuerdo a la sombra del espejo.



Estoy mejor sin ti,

sin la sobrecama nocturna de caricias

forjada con olor de ignotas pieles

y los besos de buenas noches

extraviados antes de llegar a casa.



Sin ti me va muy bien,

Mayo trajo consigo nuevas flores

que he zurcido a la funda de mi almohada

para que ni en sueños se cuele tu memoria.



No soy mas la pasajera de tu tren del miedo

no me asusta mas tu indiferencia

propia de los muertos

ni mi amor diluido en la infinita

inexistencia de tu alma.



Si, estoy mejor sin ti,

dejé de ser tierra que anhela tu lluvia

árbol en espera que el ave anide en sus ramas

me volví interminable sendero

¿y tú?

insalvable distancia.



Hace mucho fui gitana azul,

tiré mis cartas con la mano izquierda

mientras la otra tocaba con desprecio tu recuerdo.



Cadenciosos futuros reverberaron en mis labios

y el sol de marzo calentó mis andariegas manos

que me condujeron al viejo edificio de tu cuerpo.



Ayer, fui una iglesia colmada de oraciones,

un ángel cercando el cuadro de mi santo preferido,

-“San Judas Tadeo en ti confío mis secretos” -

mi moral sujeta con alambres ortopédicos

por que éste amor que por él siento

es un disfraz de noche de espantos mal cosido.



Hoy tú eres ave carroñera despavorida tras los restos

que me busca fuera y dentro de sus delirios

entre las letras del teclado

donde a veces soy luminoso texto

otras oscuridad de invierno

pero nunca la mismo.



Mañana seré cirquera,

prestidigitadora,

Tú, una ronda de poemas tirados

por esta talladora de la vida

entre los versos de mi último libro.


En el futuro ni 2 segundos por teléfono serás.


Consagração da pele


Não, não devo amar-te num domingo sereno,

não por medo de uma tarde de orações,

ou agora que as memórias são fragmentos

de ferozes gemidos

e a imagem dos teus olhos um atiçar da fogueira.



Não agora que minha pele se mede pela nostalgia da tua pele

e chora,

não agora quando todo o meu vazio

são habitados por teu silêncio

e tuas carícias deixa um rastro quente

na minha memória.


Necessito estar forte

para enfrentar teus narcóticos beijos

tuas mãos devastadoras

que destilam veneno

e distrair-me de teu corpo seduzindo-me orgulhoso

sobre o colchão de ar.



Eu preciso impor calma ao ventre nervoso

para não te amar como se todo o mundo estivesse na tua boca

e os mares e os rios de tua indomável língua

e a minha sede nunca estivessem satisfeitas.



Eu preciso deixar de sentir fome de ti / de mim.


Se os oceanos fossem o teu sexo

beberia cada gota do mar

e devoraria cada grão de areia

sobre a praia firme de teu corpo.



Necessito de calma na espera,

asas para a música do vento

para voltar a me jogar no precipício de teus beijos;

E se de ti algo ficar,

depois da explosão de água

então voltarei a te amar.



Estou aqui,

como Penélope,

a partir desta plenitude atroz

enviando-te palavras delirantes,

apetites disfarçados,

beijos de papel

viajando com minha mente

em torno de ti,

tu, todo nu,

todo disposto,

toda eu escorrendo meus lábios por todo teu corpo,

enchendo-me de ti/de mim,

minha sombra espiando por cima da tua sombra,

na espera de nadar na humidade.



Sim, aqui,

ancorada na minha flor de nudez de outono,

sonhando com o reencontro,

o sublime desejo que nos incita,

silenciosos até que a prudência nos libere

todos os conteúdos latentes dos apetites

todas as mãos guardadas para nos tocar,

todos os beijos espumantes

derramados até em inglês,

e depois ... quando o destino nos guie como cegos

perdidos em infinitos corpos sem tempo.


Estou cansada de viver nas bordas de suspiros,

extinguiu-se o céu branco de nuvens

que protegia os nossos beijos,

não somos, mais dois amantes anônimos

vivendo um romance vida invisível.


Um trovão enorme de sonhos

nos convida a dizer adeus.


Teus lábios estão fechados, como os bares no início da manhã,

teu riso já não cai como gelo nos copos cheios

e as promessas de amor

são apenas como bebidas sujas

é, então, que a dor inflama minha alma.


Estou inclinada no horizonte

como uma fênix

e lembro-me de tuas mãos na escuridão da minha pele

e sofro,

e invento pecados,

tortura de amor com máscaras e chicotes

e volto a ser aquela terra generosa

- Onde tocas floresço.


Eu me odeio por te amar

por implorar os teus lábios molhados,

me acode a memória do seu sexo,

e caio morta na cama

pelas escadas mortas abaixo vou rolando,

vago pelos caminhos mortos

ao Mar Morto chego

e morta quedo no fundo do oceano.



Por que amar-te tanto?

muitos anos perfumei o teu corpo,

mil espinhos ferozes removi de tua alma,

bani a chuva febril dos teus olhos,

e minhas carícias se estenderam

como o trigo na tua pele de aurora.


Quanta, quanta chuva caíu desde aquela época

em que caminhamos para o cais do esquecimento.


Hoje uma névoa de sono em teus olhos

destrói a noite na eternidade dos meus sonhos.


Estou melhor sem ti

Agora que o teu silêncio condenou tua boca blasfema

o meu sossego adere à tua ausência,

e limita a tua memória na sombra do espelho.


Estou melhor sem ti,

sem sobrecolcha noturna de carícias

forjada com o odor de peles desconhecidas

e os beijos de boa noite

extraviados antes de chegar a casa.


Sem ti eu estou indo muito bem,

Maio trouxe novas flores

que bordei no pano de minha fronha

para que nem mesmo em sonhos guarde tua memória.


Não sou mais a passageira de teu trem do medo

não me assusta mais a tua indiferença

própria dos mortos

nem meu amor diluido na infinita

ausência de tua alma.


Sim, estou melhor sem ti,

deixei de ser terra que anseia tua chuva

árvore, na espera que a ave se aninhe em seus ramos

me tornei um interminável caminho

E tu?

intransponível distância.



Faz muito tempo que a cigana era azul

tirei minhas cartas com a mão esquerda

enquanto a outra tocava com desprezo tua recordação.


Cadenciados futuros reverberaram da minha boca

e o sol aquecia as mãos sofregas de Março

que me conduziram ao velho prédio do teu corpo.


Ontem, fui uma igreja cheia de orações,

um anjo rodeando a imagem do meu santo favorito,

- "São Judas Tadeu a ti confio meus segredos" -

minha moral suspensa com fios ortopédicos

que este amor que por ele sinto

é um disfarce de uma noite de horrores mal costurado.


Hoje és uma ave apavorada atrás dos restos

que me busca fora e dentro de seus delírios

entre as letras no teclado

onde às vezes sou brilhante texto

outras vezes escuridão de inverno,

porém, nunca a mesma.


Amanhã serei de circo,

prestidigitadora,

tu, uma rodada de poemas tirados

por esta talhadora de vidas

entre as linhas do meu último livro.

No futuro nem 2 segundos, por telefone, serás.


Ilustração: http://haydeecerantola.blogspot.com.b

Zurita de volta


Guárdame En Ti

Raúl Zurita

Amor mío: guárdame entonces en ti
en los torrentes más secretos
que tus ríos levantan
y cuando ya de nosotros
sólo que de algo como una orilla
tenme también en ti
guárdame en ti como la interrogación
de las aguas que se marchan
Y luego: cuando las grandes aves se
derrumben y las nubes nos indiquen
que la vida se nos fue entre los dedos
guárdame todavía en ti
en la brizna de aire que aún ocupe tu voz
dura y remota
como los cauces glaciares en que la primavera desciende.

Guarda-me em ti


Amor meu, guarda-me, então em ti
nos lugares mais secretos
que teus rios vão subir
e quando de nos dois
não sobrar algo mais que uma réstia
me guarda também em ti
guarda-me em ti como uma interrogação
das águas que correm.
E logo, quando os grandes pássaros
caírem e as nuvens nos indiquem
que a vida se foi entre os dedos
guarda-me, todavia, em ti
na brisa do ar que ainda ocupe a tua voz
dura e remota
como os fontes glaciais que, na primavera, descem.

Raul Zurita


El Primer Canto De Los Ríos

Raúl Zurita


Es el amor … ése es el amor
Ay ése es el amor…
Ay ése es el amor que hemos llorado tanto … se
largan los ríos que se aman … partiendo
Cauce abajo … arrojándose sobre las praderas
que lloraban mirándose … Nosotros somos las
montañas que lloraron mirándose dicen los ríos
que las llamaban … arrastrándolas
Borrascosos … tras las largas praderas que los
vientos subían … Quiénes nos subieron el dolor
de esas montañas se van diciendo las inmensas
praderas del cielo … Somos todos los pastos de
este mundo les contestan largándose los ríos
que se aman … abiertos … tirados … rompiéndose

O primeiro canto dos rios


É o amor...esse é o amor ...
E isso é o amor ...
E isso é o amor que temos chorado tanto ... se
largam os rios que se amam ...partindo

Canal abaixo ... jogando-se nas pradarias
que choravam olhando-se ... Nosostros somos as
montanhas que chorando olhando-se dizem os rios
que as chamavam...arrastando-as ...

Tormentosas ... atrás as largas pradarias pelos quais
os ventos sobem ... Quem nos dirão da dor
dessas montanhas que vão dizendo para as imensas
pradarias do céu ... Nós somos todos as gramas
deste mundo que contestam largando-se nos rios
que se amam ... abertos ... atirados ..quebrando-se ...

Sunday, April 01, 2012

Jorge Galán


Bajo los párpados

Jorge Galán

Ayer vi a una mujer que había amado y no podía recordar este
amor.
Me he vuelto viejo como un jardín que a nadie asombra,
la canción que ayer me emocionaba no consigue volver a emocionarme,
el asombro es una delicia que no baja a mi lengua.
En “Pequeño amor”, el enamorado pide la salvación, y al final nos dice sin esperanza:
Pequeño amor ¿a dónde
puedo mirar? ¿a dónde
podré no hallarme solo rodeado por mis muertos.


Sob as pálpebras

Ontem eu vi uma mulher que havia amado e não conseguia lembrar deste
amor.
Me tornei velho como um jardim que a ninguém assombra,
a canção que ontem me emocionou não consgue me animar de novo,
a maravilha é um prazer que não cai na minha língua.
Em "Pequeno amor", o apaixonado pede pela salvação, e, no final,
diz não ter esperança:
Pequeno amor, onde
posso olhar? Onde
poderei não me sentir só rodeado por meus mortos.

Ilustração
: http://professorjoaofcsantos.blogspot.com.br/

Alan Mills


Artesanía berlinesa

Alan Mills

He aprendido a escribir poemas,
Disuelvo millones de letras,
Mientras canto sin sonido,
Olas turbulentas de la página,
A mis amigos les nacen ojos,
Ahora los llamo Lectores,
Ya me es imposible mirarlos,
Antes bebíamos por las noches,
Sus sombras eran mi sombra,
Vivían al interior de mi mente,
Pero nadie nos dijo que un libro
Era una secuencia de tiempo,
Apenas llenábamos las copas,
Mientras se escuchaba el oleaje,
Como el rumor de algo muriendo,
La página se llenaba de colores,
Cuando no sabía escribir poemas
La tinta era un despliegue negro,
Y los Lectores no eran mis amigos,
Sino las sombras de sus sombras.

Artesanía berlinesa

Eu aprendi a escrever poemas,
Dissolver milhões de letras,
Enquanto cantava sem som
As ondas turbulentas da página,
A meus amigos lhes nasce olhos,
Agora os chamo de leitores,
Já me é impossível vê-los,
Antes nós bebiamos nas noites,
Suas sombras eram a minha sombra,
Viviam dentro da minha mente,
Mas, ninguém nos disse que um livro
Era uma sequência de tempo,
Apenas enchemos os copos,
Enquanto se ouvia as ondas,
Como o rumor de algo morrendo,
A página é repleta de cores,
Quando não sabia escrever poemas
A tinta era uma exposição negra,
E os leitores não eram meus amigos,
Sim as sombras de suas sombras.

Ilustração: absolutalemania.com