Wednesday, December 19, 2018

Uma poesia de Aída Elena Párraga


Ho deciso di accettare il tuo invito               

Aída Elena Párraga

Ho deciso di accettare il tuo invito
e ti aspetto all’angolo di qualche verso.
Qui, dove la poesia si fuma l’ultima sigaretta
e la notte con i tacchi alti le dà un bacio.
Il posto dove iniziano gli assalti,
rapine perpetrate contro l’anima.
L’angolo dove bruciano le tue vocali
e le mie gonne conoscono le tue risposte,
l’unico punto in tutto l’universo
dove sempre la colpa è del caso.

EU DECIDI ACEITAR O TEU CONVITE

Eu decidi aceitar o teu convite
e por ti o aspecto  do ângulo de qualquer verso.
Aqui, onde a poesia fuma o último cigarro
e a noite de salto alto lhe dá um beijo.
O lugar onde se iniciam os assaltos
rapinas perpetradas contra a alma.
O ângulo onde queima o teu vocal
e minhas saias sabem as tuas respostas,
o único ponto em todo o universo
onde sempre a culpa é do caso.

Ilustração: Homem Alpha.

Tuesday, December 18, 2018

Mais uma poesia de Prelutsky



Last Night I Dreamed of Chickens                                

Jack Prelutsky

Last night I dreamed of chickens,
there were chickens everywhere,
they were standing on my stomach,
they were nesting in my hair,
they were pecking at my pillow,
they were hopping on my head,
they were ruffling up their feathers
as they raced about my bed.

They were on the chairs and tables,
they were on the chandeliers,
they were roosting in the corners,
they were clucking in my ears,
there were chickens, chickens, chickens
for as far as I could see...
when I woke today, I noticed
there were eggs on top of me.

ONTEM À NOITE EU SONHEI COM GALINHAS

Ontem à noite eu sonhei com galinhas
havia galinhas por toda parte,
elas estavam de pé no meu estômago,
elas estavam se aninhando no meu cabelo,
elas estavam bicando meu travesseiro,
elas estavam pulando sobre minha cabeça,
elas estavam arrepiando suas penas
enquanto corriam por minha cama.

Elas estavam sobre as cadeiras e mesas,
elas estavam nos candelabros,
elas estavam empoleiradas nos cantos,
elas estavam batucando nos meus ouvidos,
havia galinhas, galinhas, galinhas
por toda parte até onde pude ver ...
quando acordei hoje, notei
que havia ovos em cima de mim.
Ilustração: EntreMentes.

E, de volta, Rafael Alberti


Metamorfosis del clavel                                                

Rafael Alberti

Al alba, se asombró el gallo.

El eco le devolvía
voz de muchacho.

Se halló signos varoniles,
el gallo.

Se asombró el gallo.

Ojos de amor y pelea,
saltó a un naranjo.
Del naranjo, a un limonar;
de los limones a un patio;
del patio, saltó a una alcoba,
el gallo.

La mujer que allí dormía
le abrazó.

Se asombró el gallo.

Metamorfose do cravo

Ao amanhecer, se assombrou o galo.

O eco lhe devolveu
a voz do menino

Se encontrou sinais varonis,
o galo.

Se assombrou o galo.

Olhos de amor e peleja,
saltou numa laranjeira.
Da laranjeira a um limoeiro;
dos limões a um pátio;
do pátio saltou a uma alcova,
o galo.

A mulher que ali dormia
o abraçou.

Se assombrou o galo.


Friday, December 14, 2018

Outra poesia de Jean Arp


L'air est une racine      

Jean Arp

les pierres sont remplies d'entrailles. bravo. bravo.
les pierres sont remplies d'air.
les pierres sont des branches d'eaux.

sur la pierre qui prend la place de la bouche pousse
une feuille-arête. bravo.
une voix de pierre est tête à tête et pied à pied
avec un regard de pierre.

les pierres sont tourmentées comme la chair.
les pierres sont des nuages car leur deuxième nature leur dance.
sur leur troisième nez. bravo. bravo.

quand les pierres se grattent des ongles poussent aux racines.
bravo. bravo.
les pierres ont des oreilles pour manger l'heure exacte.


O ar é uma raiz

as pedras estão cheias de entranhas. bravo. bravo.
as pedras estão cheias de ar.
as pedras são ramos de água.

na pedra que toma o lugar da boca cresce
uma folha de espinosa. bravo.
uma voz de pedra é da cabeça aos pés e pé a pé
como um olhar de pedra.

pedras são atormentadas como carne.
as pedras são nuvens porque sua segunda natureza
 é sua dança no seu terceiro nariz. bravo. bravo.

quando as pedras estão coçando, suas unhas crescem nas raízes.
bravo. bravo.
as pedras têm ouvidos para comer a hora exata.


A sofisticada poesia de Oscar Wilde


CHANSON                    
Oscar Wilde

A ring of gold and a milk-white dove
Are goodly gifts for thee,
And a hempen rope for your own love
To hang upon a tree.

For you a House of Ivory,
(Roses are white in the rose-bower)!
A narrow bed for me to lie,
(White, O white, is the hemlock flower)!

Myrtle and jessamine for you,
(O the red rose is fair to see)!
For me the cypress and the rue,
(Finest of all is rosemary)!

For you three lovers of your hand,
(Green grass where a man lies dead)!
For me three paces on the sand,
(Plant lilies at my head)!

CANÇÃO

Um anel de ouro e uma pomba branca como leite
São bons presentes para ti
E uma corda de cânhamo para o seu amor próprio
Pendurar em uma árvore.

Para ti uma casa de marfim
(Rosas são brancas no caramanchão)!
Uma cama estreita para eu mentir
(Branco, ó branco, é a flor da cicuta)!

Mirtilo  e jasmim para ti
(Ò rosa vermelha tão justa de se ver)!
Para mim o cipreste e a arruda,
(O melhor de tudo é o alecrim)!

Para vós três amantes da sua mão
(Grama verde onde jaz um homem morto)!
Para mim três passos sobre a areia
(Plantem lírios na minha cabeça)!


Outra poesia de Duque de Rivas


Letrilla                           
Duque de Rivas

Decidme, zagales,
¿qué fuerza tendrán
los ojos de Lesbia,
que así me hacen mal?
Desde que los vide
ni sé descansar;
perdí mi reposo,
no puedo parar.
Sin duda que fuego
oculto tendrán,
pues, cuando me miran,
me siento abrasar.
Mas no da este fuego
incomodidad,
sino solamente…
no lo sé explicar.
Decidme, zagales,
¿qué fuerza tendrán
los ojos de Lesbia,
que así me hacen mal?

Letrilha

Diga-me, zagales,
que força terão
os olhos de Lesbia,
que assim me fazem mal?
Desde de que os vi
nem sei descansar;
perdi meu repouso,
não posso parar.
Sem dúvida que fogo
oculto terão,
pois, quando me olham
me sinto queimar.
Mas, não me dá este fogo
desconforto
sim somente ...
não o sei explicar.
Diga-me, zagales,
que força terão
os olhos de Lesbia,
que assim me fazem mal?

Ilustração: Gente – iG.

Wednesday, December 12, 2018

Uma poesia de Edgardo Pígoli


Como un hombre que dispone de tiempo                      
Edgardo Pígoli

como el mar.
despacio. como un hombre
que dispone de tiempo. voy puliendo.
paso la mano por esa superficie
lisa. brillante.
ya lo escribieron todo. llegué tarde.
en esfuerzo. ahora abandono.
como el mar. voy puliendo.
haciendo la piedra pequeña.
una mirada. casi un ojo infinito
que espera. no entiende.
lleno de preguntas. tenue.
va y viene. puliendo.
como el mar. sin querer.
solo. enorme en el pequeño trabajo
escaso. húmedo. pulo.
sin saber. recuperar la playa.
perderla. otra vez. cálida.
fría. puliendo. el trabajo de todos.
secreto. silencioso.
como el mar. con el sol en su lomo.

Como um homem que dispõe de tempo

como o mar.
devagar. como um homem
que dispõe de tempo. vou pulindo.
passo a mão por esta superfície
lisa. brilhante.
eles já escreveram tudo. cheguei tarde.
em esforço. agora abandono.
como o mar. vou pulindo.
fazendo a pedra pequena.
uma olhada. quase um olho infinito
que espera. não entende.
cheio de perguntas. tênue.
vai e vem. pulindo.
como o mar. sem querer.
sozinho. enorme no pequeno trabalho
escasso. úmido. pulo.
sem saber. recuperar a praia.
perdê-la. outra vez. morna.
fria. pulindo. o trabalho de todos.
secreto. silencioso.
como o mar. com o sol nas suas costas.

Ilustração: Dephositos.

Uma poesia do Duque de Rivas


A Lucianela                                    
Duque de Rivas

Cuando, al compás del bandolín sonoro
y del crótalo ronco, Lucianela,
bailando la gallarda tarantela,
ostenta de sus gracias el tesoro;

y, conservando el natural decoro,
gira y su falda con recato vuela,
vale más el listón de su chinela
que del rico Perú las minas de oro.

¡Cómo late tu seno! ¡Cuán gallardo
su talle ondea! ¡Qué celeste llama
lanzan los negros ojos brilladores!

¡Ay! Yo en su fuego me consumo y ardo,
y en alta voz mi labio la proclama
de las gracias deidad, reina de amores.

Para Lucianela

Quando, ao compasso do bandolim sonoro
e do ronco do címbalo, Lucianela,
dançando a galante tarantela,
ostenta de suas graças o tesouro;

e, conservando o natural decoro,
gira e sua saia com recato atira,
vale mais, de sua sandália, a tira
que do rico Peru as minas de ouro.

Como seu seio pula! Como galante
sua cintura vibra! Que celestial chama
lançam seus negros olhos brilhantes!

Ah! Eu no seu fogo me consumo, ardente
e em voz alta meus lábios a proclama
as graças da divindade, rainha dos amores.


Tuesday, December 11, 2018

E, volta a poesia de Guillaume Apollinaire


L'adieu                            
Guillaume Apollinaire

J'ai cueilli ce brin de bruyère
L'automne est morte souviens-t'en
Nous ne nous verrons plus sur terre
Odeur du temps
Brin de bruyère
Et souviens-toi que je t'attends

O ADEUS

Escolhi este pedaço de urze
O outuno está morto, lembre-se
Nós não nos veremos sobre à terra
Odor de tempo
Urze
E lembre-se, estou te esperando

Ilustração: Fotolog.


Uma poesia de Jean Arp



Et frappe et frappe et frappe

Jean Arp

et frappe encore et encore une fois
et ainsi de suite
et une fois deux fois trois fois jusqu'à mille
et recommence de plus belle
et frappe la grande table de multiplication et la petite table de multiplication
et frappe et frappe et frappe
page 222 page 223 page 224 et ainsi de suite jusqu'à la page 299
passe la page 300 et continue par la page 301 jusqu'à la page 400
et frappe ceci une fois en avant deux fois en arrière trois fois en haut et quatre fois en bas
et frappe les douze mois
et les quatre saisons
et les sept jours de la semaine
et les sept tons de la gamme
et les six pieds des iambes
et les nombres pairs des maisons
et frappe
et frappe le tout ensemble
et le compte y est
et fait un.

E BATE E BATE E BATE

e bate de novo e de novo bate
e assim por diante
e uma vez duas vezes três vezes até mil bate
e começa de novo
e atinge a grande mesa de multiplicação e a pequena tabuada
e bate e bate e bate
página 222 página 223 página 224 e assim por diante na página 299
vá para a página 300 e continue na página 301 para a página 400
e bate esta uma vez em frente duas vezes para trás três vezes para cima e quatro vezes para baixo
e bate os doze meses
e as quatro estações
e os sete dias da semana
e os sete tons do intervalo
e os seis pés das pernas
e os números pares das casas
e bate
e bate tudo junto
e a conta está fechada
e dá um.

Ilustração: alex brinquedos.


Monday, December 10, 2018

Uma poesia Vicente Gaos



AMOR                                                                             

Vicente Gaos

¡Qué profundo es mi sueño!
¡Qué profundo y qué claro,
qué transparente es, ahora, el universo!
Si pensando en ti, siempre,
si, soñado contigo, me desvelo,
y te miro por dentro, con mis ojos,
si te miro por dentro...
veo la oscura entrada de mi vida,
tu sorda luz de fuego,
y ya no sé si a ti te estoy mirando,
o si contemplo el cielo:
el último transfondo del poniente,
sin nubes y sin velos,
más arriba de todas las estrellas,
donde está dios, despierto.
O el inicial trasfondo de la noche
donde estás tú, durmiendo.

Y yo sobre la tierra, oscurecido
por tanta luz, yo, ciego,
soñando en dios, soñando en ti, soñando
lo mucho que te quiero.

AMOR

Que profundo é o meu sonho!
Quão profundo e  que claro,
que transparente, agora, é o universo!
Se pensando em ti, sempre,
sim, sonhei contigo, e acordo
e te olho por dentro, com meus olhos,
se te olho por dentro ...
vejo a entrada escura da minha vida
tua surda luz de fogo,
e já nem sei se é a ti que estou olhando
ou se eu contemplo o céu:
o último horizonte do oeste,
sem nuvens e sem véus,
acima de todas as estrelas,
onde está Deus desperto.
Ou o fundo inicial da noite
onde estás tu dormindo?

E eu sobre a terra, escurecido
por tanta luz, eu, cego
sonhando com Deus, sonhando em ti, sonhando
o muito que te quero.

Ilustração: Thais Velloso.