Friday, February 29, 2008

DE NOVO PAZ

MONÓLOGO

Octávio Paz
Bajo las rotas columnas,
entre la nada y el sueño,
cruzan mis horas insomnes
las sílabas de tu nombre.
Tu largo pelo rojizo,
relámpago del verano,
vibra con dulce violencia
en la espalda de la noche.
Corriente oscura del sueño
que mana entre ruinas
y te construye de nada:
amargas trenzas, olvido,
húmeda costa nocturna
donde se tiende y golpea
un mar sonámbulo, ciego.

MONÓLOGO

Sob as rotas colunas,
Entre o nada e o sonho,
Cruzam minhas horas insones
As sílabas do teu nome.

Tu dilatada de rubor, relâmpago de verão,
Vibra com doce violência
Nas costas da noite.

Corrente escura do sono
Que brota entre ruínas
E te constrói do nada:
Amargas tramas, esquecimento,
Úmida costa noturna
Onde se estende e golpeia
Um mar sonâmbulo, cego.

Thursday, February 28, 2008

O MESTRE BENEDETTI

El infinito

Mario Benedetti

De un tiempo a esta parte
el infinito
se ha encogido
peligrosamente.


Quién iba a suponer
que segundo a segundo
cada migaja
de su pan sin límites
iba así a despeñarse
como canto rodado
en el abismo.
O infinito

De uns tempos para cá
o infinito
tem se encolhido
perigosamente.

Quem iria supor
que segundo a segundo
cada migalha
de seu pão sem limites
iria assim despedaçar-se
como um seixo rolando
no abismo.

Wednesday, February 27, 2008

DE VOLTA UM POETA MEXICANO

Los sueños al poder

Raúl Aceves

Del tiempo nuevo
no veremos sino la sombra
como la luz que se presiente
adentro del cuarto cerrado.
Se mezclarán
los ruidos de lo que comienza
con los ruidos de lo que acaba.
No sabremos si nuestro destino
fue el de pasarnos la vida
esperando y presintiendo.
El deseo nos mueve
como plumas en el viento,
nunca si somos plumas
o si somos viento.

Enramada (antología), 1984

Os sonhos de poder

Do novo tempo
Não veremos senão a sombra
Como a luz que se presente
No quarto fechado.
Se misturaram
Os ruídos do que começava
Com os ruídos do que acabava.
Não saberemos se nosso destino
Foi o de passar a vida
Esperando e pressentindo.
O desejo nos move
Como plumas ao vento,
Nunca sei se somos plumas
Ou se somos vento.

Monday, February 25, 2008

O POETA UNAMUNO

LA ORACIÓN DEL ATEO

Miguel de Unamuno

Oye mi ruego Tú, Dios que no existes,
y en tu nada recoge estas mis quejas,
Tú que a los pobres hombres nunca dejas
sin consuelo de engaño. No resistes

a nuestro ruego y nuestro anhelo vistes.
Cuando Tú de mi mente más te alejas,
más recuerdo las plácidas consejas
con que mi alma endulzóme noches tristes.

¡Qué grande eres, mi Dios! Eres tan grande
que no eres sino Idea; es muy angosta
la realidad por mucho que se expande

para abarcarte. Sufro yo a tu costa,
Dios no existente, pues si Tú existieras
existiría yo también de veras.


A Oração do Ateu

Ouve meu rogo Tu, Deus que não existes,
E em ti nada recolhes com minhas queixas,
Tu que aos pobres homens nunca deixas
Sem o consolo do engano. Não resistes

Ao nosso rogo e nossos desejos vistes.
Quando Tu de minha mente te afastas,
Mais recordo as fábulas fantásticas
Com que minha alma adoça as noites tristes.

Que grande és, meu Deus! Ès tão grande
Que não és senão idéia; é muito pequena
A realidade por muito que se expande

Para te abarcar. Sofro por tua pena
Deus não existente, pois se Tu existiras
Existiria eu também deveras.

Saturday, February 23, 2008

MAIS UM POETA MEXICANO

Como desnudar uma mulher com saxofone

Rubén Medina

Cómo desnudar a una mujer
con saxofón
No es fácil.
El aire que sale del estómago
debe traer
la sal del mar.
Las llemas de los dedos
deben hablar
de palmeras
de membrana a surco
o de soles que trabajan
de noche.
Los sonidos,
agua y metal,
casi vena,
deben confundir
oído y hombro,
y descender las rodillas
con la misma suavidad
de quien maneja
un chevrolet 53
a 30 millas por hora,
en un freeway de Los Angeles.
Los ojos deben permanecer
cerrados
hasta que la noche
tenga 24 horas,
la semana más de siete días
y no existe la palabra
desempleo.
Y entonces,
abres los ojos,
y quizá
encuentres la sonrisa
de ella.
Pero esto no significa
más que un categórico
saludo de hola,
quihúbole,
wat's going on, ese,
porque también
en la plusvalía
hay
pasión.


Como desnudar a una mujer com saxofone

Como desnudar uma mulher


Com saxofone
Não é fácil.
O ar que sai do estômago
Deve trazer
O sal do mar
As palmas dos dedos
Devem falar
De palmeiras.
De membranas e sulcos
Ou a solos que trabalham
De noite.
Os sons,
De metais e água,
Quase veia,
Devem confundir
Ouvido e ombro
E deslizar as rodas
Com a mesma
Suavidade
De quem maneja
Um chevrolet 53
a 30 milhas por hora,
numa superodovia de Los Angeles.
Os olhos devem permanecer
Fechados
Até que a noite
Tenha 24 horas,
A semana mais de sete dias
E não exista a palavra
Desemprego.
E então,
abre os olhos,
e quem sabe
encontre o sorriso
dela.
Porém isto não significa
Mas que uma categórica
Saudação de óla,
Um meneio,
ou como vai indo, isto,
porquê também
há mais valia
na paixão.

COMO SE SONO FOSSE...

Ensaio da Morte

Para a morte ensaio todo dia
No sono inquieto e mesmo no acordar
E até em evitar gesto, palavra, ar...
Só por fome, ou sede, gasto energia.

Invejo, ao olhar pela janela, a pedra
Única coisa com que me identifico
Na sua mudez e permanente fico
Indiferente a erva que nela medra.

Imune aos viajantes, às vozes, cantos
ou ao calor do sol, à água ou ao vento.
Na dureza pétrea livre do pensamento
Só maleável ao passar dos anos, tantos...

Também me penso como um ser imóvel,
Mesmo obrigado aos esforços inúteis,
Resisto, desligando-me de modos sutis
De tudo que passa, fica e é provável.

Penso na morte e no seu significado
E na imobilidade em que o nada vigora.
Sonho com este tempo tão delicado
Que do fim da vida já não vejo a hora.

Friday, February 22, 2008

DOIS POEMAS DE PASOLINI





No meio de antigos papéis encontrei as duas versões que fiz dos poemas de Pasolini, porém, não encontrei os poemas originais nem a fonte, mas, suponho que sejam de "A Religião do Meu Tempo"

ANÁLISE TARDIA
(Fim dos anos Sessenta)
Pier Paolo Pasolini
Se bem, se bem que estou no fundo da fossa;
Que tudo aquilo que toco já hão tocado;
Que sou prisioneiro de um interesse indecente;
Que cada convalescença é uma recaída;
Que as águas estão estancadas e tudo tem um sabor velho;
Que também o humorismo forma parte do bloco inamovível;
Que não faço outra coisa senão reduzir o novo ao antigo;
Que não desejo todavia reconhecer quem sou;
Que já perdi até a antiga paciência de ourives;
Que a velhice há ressaltado por impaciência apenas a miséria;
Que não sairei nunca daqui por mais que sorria;
Que dou voltas de um lado ao outro pela terra como uma fera enjaulada;
De que tenho tantas cordas que tenho terminado por tirar de uma só;
Que me gosta enlamear-me porque o barro é matéria pobre e, portanto, pura;
Que adoro a luz somente se não oferece esperança.


AO PRINCÍPE

Pier Paolo Pasolini

Se regressa o sol, se cai a tarde,
Se a noite tem um sabor de noites futuras,
Se um sono de chuva parece regressar
De tempos demasiado amados e jamais possuídos de todo,
Já não encontro felicidade nem em gozar o sofrer por si mesmo:
Já não sinto diante de mim toda a vida...
Para ser poeta há que ter muito tempo:
Horas e horas de solidão são o único modo
Para que se crie algo, que é força, abandono,
Vício, liberdade, para dar estilo ao caos.
Eu, agora, tenho pouco tempo: por culpa da more
Que me vem em cima, no ocaso da juventude.
Porém por culpa também do nosso mundo humano
Que rouba o pão dos pobres e dos poetas da paz.

Thursday, February 21, 2008

UM POETA ERÓTICO

El vampiro

Efrén Rebolledo

Ruedan tus rizos lóbregos y gruesos
por tus cándidas formas como un río,
y esparzo en su raudal crespo y sombrío
las rosas encendidas de mis besos.

En tanto que descojo los espesos
anillos, siento el roce leve y frío
de tu mano, y un largo calosfrío
me recorre y penetra hasta los huesos.

Tus pupilas caóticas y hurañas
destellan cuando escuchan el suspiro
que sale desgarrando mis entrañas,

y mientras yo agonizo, tú, sedienta,
finges un negro y pertinaz vampiro
que de mi ardiente sangre se sustenta.

O Vampiro

Rolam teus cabelos escuros e soberbos
Por tuas cândidas formas como um rio,
E se espalham num caudal, crespo desafio,
As rosas incendiadas de meus beijos.

Enquanto os teus fios soltos em desejos,
Como anéis, sinto num leve roçar e frio,
Da tua mão me vêm o longo calafrio
Que me penetram os ossos malfazejos.

Tuas pupilas, caóticas e estranhas,
Brilham de prazer ao ouvir o suspiro
Que se desgarra das minhas entranhas,

Enquanto agonizo, tu, muito sedenta,
És qual um negro e pertinaz vampiro
Que com meu sangue ardente se sustenta.

Wednesday, February 20, 2008

LIVRE COMO O AR

CANCIÓN PARA C

Manu Cáncer

Sólo por tu pasión
yo daría mi vida,
yo daría mis ojos devaluados
yo daría mi luz y las cosas que veo,
yo daría mi boca por la tuya,
yo daría los trozos que han quedado en mí,
yo daría mi fuerza introducida,
yo daría mi caja de sentidos,
la sombra de mis pánicos
o mis parques desiertos,
pero por tu pasión
yo viajaría buscando las claves más precisas del futuro,
por tu pasión me vendería a plazos mí mismo,
derrocharía los relojes que habitan el dinero,
despreciaría el alfabeto pagano de los tristes.
Yo puedo ser un hombre, un grito, un clown,
pero por tu pasión
yo daría mi vida.

Canção para C

Só por tua paixão
Eu daria minha vida,
Eu daria meus olhos desvalorizados
Eu daria minha luz e as coisas que vejo,
Eu daria minha boca pela tua,
Eu daria as coisas que se acumularam em mim,
Eu daria minha força introvertida,
Eu daria minha caixa de sentidos,
A sombra dos meus pânicos
Ou meus parques desertos,
Porém por tua paixão
Eu viajaria buscando as chaves mais precisas do futuro,
Por tua paixão me venderia a prazo a mim mesmo,
Derrubaria os relógios que habitam o dinheiro,
Desprezaria o alfabeto pagão dos tristes.
Eu posso ser um homem, um grito, um palhaço,
Porém, por tua paixão
Eu daria minha vida.

Tuesday, February 19, 2008

COM VOCÊS JOHN GIORGIO


JUST SAY NO TO FAMILY VALUES

John Giorgio

On a day when

you're walking

down the street

and you see a hearse

with a coffin,

followed by

a flower car

and limos,

you know the day

is auspicious,

your plans are going to be

successful;

but on a day when

you see a bride and groom

and wedding party,

watch out,

be careful,

it might be a bad sign.

Just say no

to family values,

and don't quit

your day job.

Drugs

are sacred

substances,

and some drugs

are very sacred substances,

please praise them

for somewhat liberating

the mind.

Tobacco

is a sacred substance

to some,

and even though you've

stopped smoking,

show a little respect.

Alcoholis totally great,

let us celebrate

the glorious qualities

of booze,

and I had

a good time

being with you.

Justdo it,

just don't

not do it,

just do it.

Christian

fundamentalists,

and fundamentalists

in general,

are viruses,

and they're killing us,

multiplying

and mutating,

and they destroying us,

now, you know,

you got to give

strong medicine

to combata virus.

Who's buying?

good acid,

I'm flying,

slippingand

sliding,

slurping

and slamming,

I'm sinking,

dipping

and dripping,

and squirting

inside you;

never

fast forward

a come shot;

milk, milk,

lemonade,

round the corner

where the chocolate's made;

I love to see

your face

when you're

suffering.

Do it

with anybody

you want,

whatever

you want,

for as long as you want,

any place,

any place,

when it's possible,

and try to be safe;

in a situation where

you must abandon

yourself

completely

beyond all concepts.

Twat throat

and cigarette dew,

that floor

would ruin

a sponge mop,

she's the queen

of great bliss;

light

in your heart,

flowing up

a crystal channel

into your eyes

and out

hooking

the world

with compassion.

Just

say no

to family values.

We don't have to say No

to family values,

cause we never

think about them;

just

do it,

just make

love

and compassion .



Só diga não aos valores familiares

Um dia quando
você está caminhando
rua abaixo
E você vê
um carro fúnebre
com um caixão,
seguido por
um carro
carregado de flores,
você sabe que o dia será auspicioso,
seus planos irão ter
muito sucesso.
mas um dia quando
você vê uma noiva e um noivo
e um casamento,
observe em volta,
tenha cuidado,
isto pode ser um mau sinal.


Justo diga não
aos valores da família,
e não esqueça
o seu dia de trabalho.

Drogas
são sagradas
substâncias
e algumas drogas
são substâncias muito mais sagradas,
experimentem, por favor
para libertar um pouco
a mente.

O tabaco
é uma substância sagrada
para alguns,
e mesmo se pensa
em parar de fumar,
mostre um pouco de respeito.

O álcool
é totalmente grande,
para nós celebrarmos
suas gloriosas qualidades
de bebida alcoólica,
e eu tive
por um bom tempo
muito prazer com ele.

Apenas
faça-o,
apenas
não o faça,
faça-o apenas.

Cristãos
fundamentalistas,
e fundamentalistas em geral,
são vírus,
e eles nos liquidam,
multiplicando-se
e mudando
eles nos destroem,
agora, que você sabe,
pode criar uma medicina forte
para combater
o vírus.

Quem está comprando?
Ácido bom,
eu estou voando,
deslizando e deslizando,
surfando
e batendo,
eu vou afundando,
mergulhando
e gotejando,
e esguichando
dentro de você;
nunca
rápido adiante
como um tiro vindo;
leite, leite,
limonada,
corro para o canto
onde o chocolate é feito;
Eu amo ver
seu rosto
quando você está sofrendo.

Faça
com qualquer um
que você deseja,
enquanto
você deseja,
por quanto tempo você deseja,
em todo o lugar,
em qualquer lugar,
quando for possível,
e tente fazer seguro;
numa situação onde
você deve se abandonar
completamente
além de todas as noções.

A vulva da garganta
e o orvalho do cigarro,
este assoalho
poderiam arruinar
um esfregão de esponja,
ela é a rainha
da grande felicidade;
luz
em seu coração,
fluindo sobre
um canal de cristal
nos seus olhos
e para fora
se enganchando
no mundo
com compaixão.

Justo
diga
não
para os valores
familiares.

Nós não temos que dizer não
aos valores da família,
porque nós nunca
pensamos sobre eles;
apenas faça,
faça apenas o amor
e a compaixão.

Monday, February 18, 2008

A RUA É UM ESPELHO

LA CALLE
Octavio Paz
Es una calle larga y silenciosa.
Ando en tinieblas y tropiezo y caigo
y me levanto y piso con pies ciegos
las piedras mudas y las hojas secas
y alguien detrás de mí también las pisa:
si me detengo, se detiene;
si corro, corre. Vuelvo el rostro: nadie.
Todo está oscuro y sin salida,
y doy vueltas y vueltas en esquinas
que dan siempre a la calle
donde nadie me espera ni me sigue,
donde yo sigo a un hombre que tropieza
y se levanta y dice al verme: nadie.

A Rua

É uma rua larga e silenciosa
Ando na escuridão e tropeço e caio
E me levanto e piso com os pés cegos
As pedras mudas e as folhas secas
E alguém atrás de mim também as pisa:
Se me detenho, se detém;
Se corro, corro. Volto o rosto: ninguém.
Tudo está escuro e sem saída,
E dou voltas e voltas nas esquinas
Que retornam sempre a rua
Onde ninguém espera nem me segue,
Onde sigo um homem que tropeça
E se levanta e diz ao ver-me: ninguém.
Ilustração original do Site espelhodesombras.blogs.sapo.pt/134275.html

Saturday, February 16, 2008

UMA POETISA MEXICANA

PRESAGIO

Blanca Luz Pulido

NADA en el mundo te alcanza todavía:
son tus labios de sombra,
y tu voz un fantasma.
Has surgido a la luz para mis ojos,
y te aumenta mi sangre,
y te encumbran mis venas.
Ya sin saberlo te acercas a tu forma,
y encenderás la llama
en la incesante noche que te espera.
Y sin saberlo escribirás tu nombre,
tu no nacido nombre, entre mis labios.

Del libro Raíz de Sombras.


Presságio

Nada no mundo te alcança todavia:
São teus lábios de sombra,
E tua voz de fantasma.
Tu surgistes da luz para meus olhos,
E aumentas meu sangue,
E encobres minhas veias.
Já sem sabê-lo te acercas a tua forma,
E acenderás a chama
Na incessante noite que te espera.
E sem sabê-lo escreverás teu nome,
Teu não nascido nome, entre meus lábios.

Do livro Raiz de Sombras

Thursday, February 14, 2008

NOVAMENTE PAZ

INMÓVIL EN LA LUZ, PERO DANZANTE...

Octávio Paz

Inmóvil en la luz, pero danzante,
tu movimiento a la quietud se cría
en la cima del vértigo se alía
deteniendo, no al vuelo, sí al instante.

Luz que no se derrama, ya diamante,
detenido esplendor del mediodía,
sol que no se consume ni se enfría
de cenizas y fuego equidistante.
Espada, llama, incendio cincelado,
que ni mi sed aviva ni la mata,
absorta luz, lucero ensimismado:
tu cuerpo de sí mismo se desata
y cae y se dispersa tu blancura
y vuelves a ser agua y tierra oscura.

Imóvel na luz, porém, dançante

Imóvel na luz, porém, dançante,
Teu movimento a quietude cria
Em cima da vertigem se alia
Detendo, no seu vôo, assim ao instante.

Luz que não se derrama, já diamante,
Detido esplendor do meio-dia,
Sol que não se consome nem esfria
De cinzas e de fogo eqüidistante.

Espada, chama, fogueira esculpida,
Que a minha sede nem aviva nem mata,
Absorta luz, estrela ensimesmada.

Teu corpo de si mesmo se desata
E cai e se dispersa em tua brancura
E voltas a ser água e terra escura.

Wednesday, February 13, 2008

A POESIA É DE PAZ

LA HORA ES TRANSPARENTE

OCTÁVIO PAZ

La hora es transparente:
vemos, si es invisible el pájaro,
el color de su canto.

Mis ojos te descubren
desnuda

y te cubren
con una lluvia cálida
de miradas

Baja
desnudala
luna
por el pozo

la mujer
por mis ojos

A HORA É TRANSPARENTE

A hora é transparente:
Vemos, se é invisível o pássaro,
A cor de seu canto.

Meus olhos te descobrem
Nua
E te cobrem
Com uma cálida chuva
De olhares

Desce
Nua

A lua
pelo poço

A mulher
Por meus olhos


A ilustração é de

Tuesday, February 12, 2008


QUE DIOS NOS LIBRE


Nicanor Parra

Que Dios nos libre de los comerciantes
sólo buscan el lucro personal

que nos libre de Romeo y Julieta
sólo buscan la dicha personal

líbrenos de poetas y prosistas
que sólo buscan fama personal

líbrenos de los Héroes de Iquique
líbrenos de los Padres de la Patria
no queremos estatuas personales

si todavía tiene poder el Señor
que nos libre de todos esos demonios
y que también nos libre de nosotros mismos
en cada uno de nosotros hay
una alimaña que nos chupa la médula
un comerciante ávido de lucro
un Romeo demente que sólo sueña con poseer a Julieta
un héroe teatral
en convivencia con su propia estatua

Dios nos libre de todos estos demonios
si todavía sigue siendo Dios

Que Deus nos livre

Que Deus nos livre dos comerciantes
Que só buscam o lucro pessoal

Que nos livre de Romeu e Julieta
Que só buscam a sorte pessoal

Livre-nos de poetas e prosadores
Que só buscam a fama pessoal

Livre-nos dos heróis de Iqüique
Livre-nos dos pais da pátria
Não queremos estátuas pessoais.

Se, todavia, tens poder Senhor
Que nos livre de todos esses demônios
E que também nos livre de nós mesmos
Porque em cada um de nós há
Sempre uma besta que nos chupa a medula
Um comerciante ávido de lucro
Um Romeu demente que só pensa em possuir Julieta
Um herói teatral
Que só pensa em conviver com sua própria estátua.

Deus nos livre de todos estes demônios
Se, todavia, segue sendo Deus.

Monday, February 11, 2008

UM MESTRE MODERNO: PHILIP LARKIN

High Windows

Philip Larkin

When I see a couple of kids
And guess he's fucking her and she's
Taking pills or wearing a diaphragm,
I know this is paradise

Everyone old has dreamed of all their lives-
Bonds and gestures pushed to one side
Like an outdated combine harvester,
And everyone young going down the long slide


To happiness, endlessly. I wonder if
Anyone looked at me, forty years back,
And thought, That'll be the life;
No God any more, or sweating in the dark

About hell and that, or having to hide
What you think of the priest.
HeAnd his lot will all go down the long slide
Like free bloody birds. And immediately

Rather than words comes the thought of high windows:
The sun-comprehending glass,
And beyond it, the deep blue air, that shows
Nothing, and is nowhere, and is endless.

E Na pobre versão persivesca:

Janelas Altas

Quando vejo um casal de crianças
E percebo que eles estão brincando e ela
Está tomando pílulas ou vestindo um diafragma,
Sei que isto é paraíso.

Todos os velhos têm sonhado todas suas vidas-
Com obrigações e poses empurradas para um lado
Como se um projetor desatualizado combinasse,
Que cada jovem pudesse diminuir o longo filme

Para a felicidade ser interminável. Pergunto-me se
Alguém me olhasse, quarenta anos atrás,
Pensaria, esta será toda a vida;
Nenhum Deus mais nada, nem o suor no escuro,

Nada do inferno ou algo mais, nem ter de esconder
O que você pensa do sacerdote. Ele
E seu lote, todos vão escorregar pelo longo filme
Livres como sangrentas aves. E imediatamente

Invés de palavras vem o pensamento das alta janelas:
O sol-compreensão de vidro,
E além dele, o azul profundo do ar, o que não demonstra
Nada, e está longe, e é também interminável.

Thursday, February 07, 2008

A VIDA COMO ELA NÃO É

COMO UM GUARDA-CHUVA

Há o teu perfume que não esqueço.
A sensação de tuas mãos
Que ainda sinto até agora
Num tempo tão distante.

Há o calor, o calor impressionante
De teus lábios, de teus beijos
Que me induzia
A sentir o calor que sentia.

Mas, há acima de tudo
A saudade, a violenta saudade do amor
Da flor que formosa se abria
Para o prazer
E, como um guarda-chuva,
Se molhava de emoção e gozo.

(De Poemas Mal-Comportados)

Tuesday, February 05, 2008

COM VOCÊS...NERUDA

CUERPO DE MUJER

Pablo Neruda

Cuerpo de mujer, blancas colinas, muslos blancos,
te pareces al mundo en tu actitud de entrega.
Mi cuerpo de labriego salvaje te socava
y hace saltar el hijo del fondo de la tierra.

Fui solo como un túnel. De mí huían los pájaros
y en mí la noche entraba su invasión poderosa.
Para sobrevivirme te forjé como un arma,
como una flecha en mi arco, como una piedra en mi honda.

Pero cae la hora de la venganza, y te amo.
Cuerpo de piel, de musgo, de leche ávida y firme.
¡Ah los vasos del pecho! ¡Ah los ojos de ausencia!
¡Ah las rosas del pubis! ¡Ah tu voz lenta y triste!

Cuerpo de mujer mía, persistiré en tu gracia.
Mi sed, mi ansia si límite, mi camino indeciso!
Oscuros cauces donde la sed eterna sigue,
y la fatiga sigue, y el dolor infinito.


CORPO DE MULHER

Corpo de mulher, brancas colinas, musculos brancos,
Te pareces com o mundo na tua atitude de entrega.
Meu corpo de lavrador bruto te socava
E faz saltar o filho do fundo da terra.

Fui só como um túnel. De mim escapavam os pássaros
E, em mim, na noite entrava sua invasão poderosa.
Para sobreviver te forjei como uma arma,
Como uma flecha em meu arco, como uma pedra em minha funda.

Porém, cai, na hora da vingança, e te amo.
Corpo de pele, de musgo, de leite ávida e firme.
Ah! Os vasos do peito! Ah! Os olhos da ausência!
Ah! As rosas do púbis!Ah! Tua voz lenta e triste!

Corpo de mulher minha, persistes em tua graça.
Minha sede, minha ânsia sem limite, meu caminho indeciso!
Escuros leitos onde a eterna sede segue,
E a fadiga segue, e a dor infinita.

Ilustração da página

Monday, February 04, 2008

UM OUTRO POETA MEXICANO

SE ME HACE

Francisco Segovia

SE ME HACE un gentío la garganta
y en las venas se me embalsama un ruido
(el llanto y su mortaja de gangrena
disecando, mortificando sangre
No me quiebra la tristeza
Es su ruido el que me quiebra
el que me abre por la fuerza los dos puños
Es su ruido el que me asienta
(en el sólido tumulto de mi carne)
sobre esta silla del mal endurecido
(Sentado
sobre la silla viva
a punto de implotar de miedo
y tremendamente culpable)

La sirena en el espejo, 1990


SE ME FAZ

SE ME FAZ um embrulho na garganta
e nas veias se me embalsama um ruído
(o pranto e sua mortalha de gangrena
que disecando e mortificando o sangüe
Não me quebra a tristeza
É seu ruído o que me quebra
o que me abre por força os punhos
é seu ruído o que me assenta
(no sólido tumulto de minha carne)
sobre a cadeira do mal endurecido
(Sentado
sobre a cadeira viva
a ponto de explodir de medo e
e tremendamente culpado)

A Sirena no Espelho, 1990

A ilustração é de

Friday, February 01, 2008

DE VOLTA LANGAGNE

DEFINICIONES

Eduardo Langagne

Ella está hecha a semejanza de las cosas que amo.
Se parece a la noche,
o mejor: a una noche sin ausencias.
Ella es exacta.
Cuando la noche escurre, su cuerpo se humedece.
Me permite trepar por mis temblores
y agitar su nombre desde la oscuridad.
Ella es irrepetible.
Nació en las piedras donde empieza mi desorden.

Donde Habita el Cangrejo.

Definições

Ela foi feita à semelhança das coisas que amo.
Se parece com a noite,
Ou melhor: a uma noite sem ausências.
Ela é exata.
Quando a noite escorre, seu corpo se umedece.
Me permite trepar por seus tremores
E agitar seu nome desd’a escuridão.
Ela é irrepetível.
Nasceu entre as pedras onde começa a desordem.