Monday, April 30, 2018

E, de volta, um poema de Manuel Altolaguirre


AMOR OSCURO                            
Manuel Altolaguirre

Si para ti fui sombra
cuando cubrí tu cuerpo,
si cuando te besaba
mis ojos eran ciegos,
sigamos siendo noche,
como la noche inmensos,
con nuestro amor oscuro,
sin límites, eterno
Porque a la luz del día
nuestro amor es pequeño.

AMOR ESCURO

Se, para ti, fui sombra
quando cobri teu corpo,
se quando te beijava
meus olhos eram cegos,
sigamos sendo noite,
como a noite imensos,
com nosso amor escuro,
sem limites, eterno....
Porque na luz do dia
Nosso amor é pequeno.

Uma poesia de Emilio Prados


Cerré mi puerta al mundo                      
Emilio Prados

Cerré mi puerta al mundo;
se me perdió la carne por el sueño…
Me quedé, interno, mágico, invisible,
desnudo como un ciego.

Lleno hasta el mismo borde de los ojos,
me iluminé por dentro.

Trémulo, transparente,
me quedé sobre el viento,
igual que un vaso limpio
de agua pura,
como un ángel de vidrio
en un espejo.

FECHEI A PORTA PARA O MUNDO

Fechei a porta para o mundo;
e perdi minha carne pelo sonho ...
Me quedei interno, mágico, invisível
nu como um cego.

pleno até mesmo a borda dos olhos,
me iluminei por dentro.

Tremulo, transparente
me quedei sobre o vento
igual a um copo limpo
de água pura,
como um anjo de vidro
num espelho

Ilustração: Pinterest.

Outra poesia de Gerardo Diego



NO VERTE

Gerardo Diego

Un día y otro día y otro día.
No verte.

Poderte ver, saber que andas tan cerca,
que es probable el milagro de la suerte.
No verte.

Y el corazón y el cálculo y la brújula,
fracasando los tres. No hay quien te acierte.
No verte.

Miércoles, jueves, viernes, no encontrarte,
no respirar, no ser, no merecerte.
No verte.

Desesperadamente amar, amarte
y volver a nacer para quererte.
No verte.

Sí, nacer cada día. Todo es nuevo.
Nueva eres tú, mi vida, tú, mi muerte.
No verte.

Andar a tientas (y era mediodía)
con temor infinito de romperte.
No verte.

Oír tu voz, oler tu aroma, sueños,
ay, espejismos que el desierto invierte.
No verte.

Pensar que tú me huyes, me deseas,
querrías encontrarte en mí, perderte.
No verte.

Dos barcos en la mar, ciegas las velas.
¿Se besarán mañana sus estelas?

NÃO TE VEJO

Um dia e outro dia e outro dia.
Não te vejo

Poder te ver, saber que andas tão perto
que é provável o milagre da sorte.
Não te vejo

E o coração e o cálculo e a bússola
fracassando todos os três. Não há quem te acerte.
Não te vejo

Quarta, quinta, sexta, não te encontrando,
Não respirar, não ser, não merecer-te.
Não te vejo

Desesperadamente amor, amar-te
e nascer de novo para amar querer-te.
Não te vejo

Sim, nascer a cada dia. Tudo é novo.
Nova és tu, minha vida, tu, minha morte.
Não te vejo

Andar às tontas (e era meio-dia)
com infinito medo de te quebrar.
Não te vejo

Ouvir tua voz, sentir teu perfume, sonhos,
Oh! Miragens que o deserto inverte.
Não te vejo

Pensar que tu me foges, me desejas,
querias se encontrar em mim, se perder.
Não te vejo

Dois barcos no mar, cegas as velas.
Se beijarão amanhã suas estrelas?

Ilustração: Medium.

Uma poesia de Gerardo Diego




 Insomnio

Gerardo Diego

Tú y tu desnudo sueño. No lo sabes.
Duermes. No. No lo sabes. Yo en desvelo,
y tú, inocente, duermes bajo el cielo.
Tú por tu sueño, y por el mar las naves.

En cárceles de espacio, aéreas llaves
te me encierran, recluyen, roban. Hielo,
cristal de aire en mil hojas. No. No hay vuelo
que alce hasta ti las alas de mis aves.

Saber que duermes tú, cierta, segura
cauce fiel de abandono, línea pura,
tan cerca de mis brazos maniatados.

Qué pavorosa esclavitud de isleño,
yo, insomne, loco, en los acantilados,
las naves por el mar, tú por tu sueño.

INSÔNIA

Tu e teu sonho nu. Tu não o sabes.
Dormes. Não. Tu não o sabes. Eu em insônia,
e tu, inocente, dormes sob o céu.
Tu pelo teu sonho, e, pelo mar, os navios.

Em prisões espaciais, aéreas chaves
me prendem a ti, trancam, roubam. Gelo,
cristal de ar em mil folhas. Não. Não há voo
que alce até ti as asas dos meus pássaros.

Saber que dormes, certa, segura
retrato fiel de abandono, linha pura,
tão perto dos meus braços amarrados.

Que terrível escravidão ilhéu,
Eu, insone, louco, nas falésias,
os navios pelo mar, tu pelo meu sonho.

Ilustração: Petrópolis Para Crianças.

Uma poesia de Vanessa Navarro Reverte



Palabras que te busqué

Vanessa Navarro Reverte

Estas manos que acarician
los restos de tu fantasma
no saben escribir música;
si no, te compondrían una bella melodía.
Sólo por ti, por los instantes que regalas.

Las notas de un blues te tocan,
vuela con ellas tu alma,
no por mí; por mí no han sido creadas.

Mi música es la tinta
que dibuja estas páginas,
islas de blancura inmaculada.

Dibuja palabras, ingenuas sólo al nacer,
al ser alumbradas,
arenas que hoy te regalo.
Tus párpados, cuando se posen en ellas,
serán los que salven
o condenen su importancia.

Admiradas por el mundo,
inmortales por los siglos,
trascenderán, quizás,
el tiempo implacable
en alacenas, en libros,
en memorias virtuales.
Mas la primera vez que tu boca
forme los signos, dando su aliento
a las sílabas,
ése será el destino, la meta,
el final de la búsqueda.

Y si tú vibras con ellas
mi esfuerzo no habrá sido vano.

PALAVRAS QUE BUSQUEI PARA TI

Estas mãos que acariciam
os restos do teu fantasma
não sabem escrever música;
caso contrário, te comporiam uma linda melodia.
Só por ti, pelos momentos que me regalas.

As notas de um blues te tocam
voam com elas tua alma
não por mim; por mim não teriam sido criadas.

Minha música é a tinta
que desenha estas páginas,
ilhas de brancura imaculada.

Desenha palavras ingênuas  só ao nascer
ao serem iluminadas
areias com que te presenteio.
Tuas pálpebras, quando pousam nelas
serão aqueles que salvarão
ou condenarão sua importância.

Admiradas pelo mundo,
imortais por séculos,
transcenderão, talvez,
o tempo implacável
em armários, em livros,
em memórias virtuais.
Mas, a primeira vez que sua boca
moldar os sinais, dando seu alento
às sílabas,
este será o destino, a meta
o fim da pesquisa.

E se tu vibras com elas
meu esforço não terá sido em vão.

Ilustração: Dicas de Mulher.




Um poema de Jacques Roubaud





En moi régnait la désolation

Jacques Roubaud

Où ton inexistence était si forte, elle était devenue forme d’être.
En moi régnait la désolation, comme conversant à voix basse.
Mais les paroles n’avaient pas la force de franchir.
De franchir seulement, car il n’y avait pas quoi.
On se tourne vers le monde, on se tourne vers soi.
On voudrait n’habiter aucunement.
C’est le noyau habituel de l’infortune.
«Vous » était notre mode d’adresse, l’avait été.
Morte je ne pouvais plus dire que : « tu ».

Em mim reinava a desolação
Onde tua inexistência era tão forte, ela veio a ser uma forma de ser.
Em mim reinava a desolação, como conversando em voz baixa.
Mas, as palavras não tinham a força de atravessar.
De atravessar somente, pois, não havia o quê.
Voltamos para o mundo. Voltamos  para nós mesmos.
Não se queria viver de modo algum.
É o núcleo habitual do infortúnio.
“Você”, que era nosso endereço natural, tinha sido.
Morto eu já não poderia dizer senão : “tu”.
Ilustração: Vagalume.

Thursday, April 26, 2018

Outra poesia de Elvira Hernández


CIUDAD INTERIOR    
Elvira Hernández

No puedo ser otra que la pensativa del patio de los
Callados, la llorosa del Parque de los Reyes,
la olvidadiza
ni otra
que la que recoge papeles con sangre
ni
aquella que no quiere el balazo solipsista
porque nada desaparecerá

A ratos soy la misma, la Una, la del espejo
que camina con una araña en el ojal
la sombra
que se pegó al hombre que dobló la esquina
y duele su cuello guillotinado.

CIDADE INTERIOR

Eu não posso ser outra que a pensativa no pátio de
Callados, a chorosa do Parque de los Reyes,
a esquecida
nenhuma outra
que aquele que recolhe papéis com sangue
nem
aquela que não quer a bala solipsista
porque nada desaparecerá

Às vezes sou a mesma, a Una, a do espelho
que caminha com uma aranha na casa de botão
à sombra
que pegou ao homem que dobrou a esquina
e dói o seu pescoço guilhotinado.

Ilustração: Blog Acerto de contas.

Uma poesia de Jacques Roubad



En moi régnait la désolation

Jacques Roubaud


Où ton inexistence était si forte, elle était devenue forme d’être.
En moi régnait la désolation, comme conversant à voix basse.
Mais les paroles n’avaient pas la force de franchir.
De franchir seulement, car il n’y avait pas quoi.
On se tourne vers le monde, on se tourne vers soi.
On voudrait n’habiter aucunement.
C’est le noyau habituel de l’infortune.
«Vous » était notre mode d’adresse, l’avait été.
Morte je ne pouvais plus dire que : « tu ».


Em mim reinava a desolação

Onde tua inexistência era tão forte. Tornou-se uma forma de ser.
Em mim reinava a desolação, como conversando em voz baixa.
Mas, as palavras não tinham a força de atravessar.
De atravessar somente, pois, não havia o quê.
Voltamos para o mundo. voltamos para nós mesmos.
Não se queria viver de modo algum.
É o núcleo habitual do infortúnio.
“Você” era nosso endereço natural, tinha sido.
Morto eu já não poderia dizer senão : “tu”.

Ilustração: Não me Kahlo.



Uma poesia de Elvira Hernández





SIEMPRE LEO NOTICIAS EN LOS DIARIOS

Elvira Hernández

                                                                              Para José Luis Mangieri
Una vez vi que la cabeza de Lenin se había
subido al piano y tocaba todas las teclas.
Después la vi por el suelo. Se cayó.

He visto páginas en blanco, ojos en blanco,
estómagos y cerebros en blanco, ningún
glóbulo blanco, hombres de blanco, blanqueos
al por mayor y mucha gente levantando bandera
blanca.

Hojeo de ojeada. Paso por los puzzles,
los consejos caseros, los horóscopos.

No veo ningún artículo sobre el azar del espacio
y el Zar del Tiempo.

SEMPRE LEIO NOTÍCIAS NOS DIÁRIOS

Uma vez vi que a cabeça de Lenin havia
subido ao piano e tocava todas as teclas.
Depois a vi no solo. Caiu.

Eu vi as páginas em branco, olhos em branco,
estômagos e cérebros em branco, nenhum
glóbulo branco, homens de branco, clareadores
por atacado e muitas pessoas levantando bandeiras
brancas.

Folheio rapidamente. Passo pelos quebra-cabeças,
os conselhos caseiros, os horóscopos.

Não vejo nenhum artigo sobre o acaso do espaço
e o czar do tempo.

Tuesday, April 24, 2018

Outra poesia de Galal-Mohamed Samir



 Fino a che sangue non separi                              

Galal-Mohamed Samir
Tu cercavi la quiete:
disperata ostinazione amorosa
per te stessa.
Tu che quiete non avevi,
io che
quiete non conosco.
ATÉ QUE O SANGUE NÃO SEPARE

Tu que procuravas a paz:
desesperada obstinação amorosa
por si mesmo.

Tu que não tiveste paz,
eu que
que não tive paz contigo.

Ilustração: Psico Online. 

Uma poesia de Galal-Mohamed Samir



A Benedictus de Spinoza                                                    
Galal-Mohamed Samir

Noi diciamo
la durata temporalità
temporale l’atemporalità
allo scandire il nostro tempo.
Noi diciamo
la durata il calcolabile
rappresentabile che non ci riguarda
Ne abbiamo il sentore.
Essa è sentore
d’eternità; dell’eterno
condizione fondante,
questo solo sentore.
Di questa specie noi
solo 
diciamo.

A Benedictus de Spinoza

Nós dizemos
a duração temporal
temporalidade intemporal
para marcar o nosso tempo.

Nós dizemos
a duração do calculável
representáção que não nos diz respeito
Nós sentimos o cheiro.

É um sentido do olfato
da eternidade; do eterno
condição fundamental,
essa única dica.

Desta espécie nós
só dizemos.


Ilustração: psicologiasemtabus - WordPress.com.