Sunday, February 27, 2011

Se eu não te disse nada...


Se eu não te disse nada
Nem nada te falei
Não quer dizer que menos te amei
Nem que não sinto tua falta....

A vida segue o ritmo das ondas
E, muitas vezes, sou um barco
desgovernado
que faz voltas para chegar ao porto
que nem sempre é do teu lado.

E nem sempre estar perto
é estar presente.

Só eu posso dizer
o que meu coração sente.
Só tu podes, aceitar, ou não,
o amor que tenho te dado
e perceber que, embora ausente,
só de ti tenho cuidado.

Ilustração: Beatriz Mignone

Saturday, February 26, 2011

O mestre Octavio Paz


Todos los días descubro…

Octavio Paz

Según un poema de Fernando Pessoa

Todos los días descubro
La espantosa realidad de las cosas:
Cada cosa es lo que es.
Que difícil es decir esto y decir
Cuánto me alegra y como me basta.
Para ser completo existir es suficiente.

He escrito muchos poemas.
Claro, he de escribir otros más.
Cada poema mío dice lo mismo,
Cada poema mío es diferente,
Cada cosa es una manera distinta de decir lo mismo.

A veces miro una piedra.
No pienso que ella siente,
No me empeño en llamarla hermana.
Me gusta por ser piedra,
Me gusta porque no siente,
Me gusta porque no tiene parentesco conmigo.
Otras veces oigo pasar el viento:
Vale la pena haber nacido
Sólo por oír pasar el viento.

No sé qué pensarán los otros al leer esto
Creo que ha de ser bueno porque lo pienso sin esfuerzo;
Lo pienso sin pensar que otros me oyen pensar,
Lo pienso sin pensamientos,
Lo digo como lo dicen mis palabras.

Una vez me llamaron poeta materialista.
Y yo me sorprendí: nunca había pensado
Que pudiesen darme este o aquel nombre.
Ni siquiera soy poeta: veo.
Si vale lo que escribo, no es valer mío.
El valer está ahí, en mis versos.
Todo esto es absolutamente independiente de mi voluntad.

Todos os dias descubro

Segundo um poema de Fernando Pessoa

Todos os dias descubro
A espantosa realidade das coisas:
Cada coisa é o que é.
Que difícil é dizer isto e dizer
Quanto me alegra e como me basta
Para ser completo existir é suficiente.

Tenho escrito muitos poemas.
Claro, que hei de escrever muitos outros mais.
Cada poema meu diz o mesmo,
Cada poema meu é diferente,
Cada coisa é uma maneira distinta de dizer o mesmo.

Às vezes olho uma pedra.
Não penso que ela sente
Não me empenho em chamá-la de irmã.
Gosto por ser pedra
Gosto porque não sente
Gosto porque não tem nenhum parentesco comigo.
Outras vezes ouço passar o vento:
Vale a pena haver nascido
Somente para ouvir passar o vento.

Não sei que pensarão os outros ao lerem isto
Creio que há de ser bom porque o penso sem esforço;
O penso sem pensar que outros me ouvem pensar,
O penso sem pensamentos,
O digo como o dizem minhas palavras.

Uma vez me chamaram de poeta materialista.
E eu me surpreendi: nunca havia pensado
Que pudessem me dar este ou aquele nome.
Nem sequer sou poeta: só vejo.
Se vale o que escrevo, não é valor meu.
O valor está aí, em meus versos.
Tudo isto é absolutamente independente de minha vontade.

Tão meu ...tão nosso....


Nosso amor não virou areia não...
Vejo no meu coração
Que, apesar do silêncio,
Se ele ainda bate é no compasso
Do teu jeito, do teu passo.

O que quero de ti
Sei que queres de mim.

Nem vou te falar que só em ti penso
E, se vivo ausente, a ausência recompenso
Com o intenso, o desejo sem fim,
Que sempre senti
De te amar com todo carinho
O máximo de tempo e de mansinho
Quando posso.

Este é o estranho amor ....tão meu... tão nosso.

Friday, February 25, 2011

Arturo Herrera


Próximo al viaje

Arturo Herrera

Aquí mi habitación.
Se detendrán todas estas cosas
que me acompañan.
Aunque en mi escritorio
se abisme el último grano de la vertical de arena,
continuará incesante en mi cuerpo.
Los libros tendrán algo de polvo,
cuando regrese, si regreso.
Se acostumbrará la tarde
a la penumbra de silencio.
Sólo dejo mi ausencia.


Próximo da viagem

Aqui é a minha casa.
Nela repousam todas estas coisas
Que me acompanham.
Ainda que em meu escritório
Se perca o último grão da vertical arena,
Continuará incessante em meu corpo.
Os livros terão algo de pó,
Quando regressar, se regresso.
Se acostumará a tarde
À penumbra do silencio.
Só deixo minha ausência.

Tuesday, February 22, 2011

Juan Gelman


Alza tus brazos...

Juan Gelman

Alza tus brazos,
ellos encierran a la noche,
desátala sobre mi sed,
tambor, tambor, mi fuego.

Que la noche nos cubra con una campana,
que suene suavemente a cada golpe del amor.
Entiérrame la sombra, lávame con ceniza,
cávame del dolor, límpiame el aire:
yo quiero amarte libre.
Tú destruyes el mundo para que esto suceda
tu comienzas el mundo para que esto suceda.

Ergue teus braços ...

Ergue teus braços,
eles encerram a noite
desata-os sobre a minha sede,
tambor, tambor, meu fogo.

Que a noite nos cubra com um sino
que soe suavemente a cada golpe do amor.
Enterra-me a sombra, lava-me com cinza
esconde-me da dor, limpa-me o ar:
eu quero amar-te livre.
Tu destróis o mundo para que isto suceda.
Tu começas o mundo para que isto suceda.

Ilustração: http://rodrigoceli.blogspot.com/2010_05_01_archive.html

Monday, February 21, 2011

César Moro


El amor al desperdirse

César Moro

El amor al despedirse dice: sueña conmigo
el sueño es una bestia huraña
que hace revolverse los ojos con la respiración
entrecortada pronunciar tu nombre
con letras indelebles escribir tu nombre
y no encontrarte y estar lejos y salir dormido
marchar hasta la madrugada a caer en
el sueño para olvidar tu nombre
y no ver el día que no lleva tu nombre
y la noche desierta que se lleva tu cuerpo

O amor ao se despedir

O amor ao se despedir disse: sonha comigo
o sonho é um besta mal-humorada
que faz revolver os olhos com a respiração
entrecortada pronunciar o teu nome
com letras indeléveis escrever o teu nome
e não encontrar-te e estar distante e sair dormido
marchar até a madrugada cair no
sonho para esquecer o seu nome
e não ver o dia que não leva o teu nome
e a noite deserta que leva o teu corpo.

Sunday, February 20, 2011

Rosalia de Castro


Cada Noche

Rosalia de Castro

Cada noche llorando yo pensaba
que esta noche tan larga no fuera,
que durase y durase mientras
la noche de las penas me envuelve luchadora…

Más la luz insolente del día,
constante y traidora,
cada amanecer penetraba radiante de gloria
hasta el lecho donde me había tendido con mis congojas.

Desde entonces he buscado las tinieblas
más negras y profundas,
y las he buscado en vano,
porque siempre tras la noche encontraba la aurora…

Sólo en mí misma buscando en lo oscuro
y entrando, entrando en la sombra,
vi la noche que nunca se acaba en mi alma,
en mi alma sola.

Cada noite

Cada noite chorando eu pensava
que esta noite tão longa não fora,
que durasse e durasse, enquanto,
as penas da noite me envolvem lutadora…

Mais a luz insolente do dia,
constante e traidora,
cada amanhecer penetrava radiante de glória
até o leito onde me havia estendido com minhas angústias.

Desde então tenho buscado as trevas
as mais negras e profundas,
e as tenho buscado em vão,
porque sempre atrás da noite encontrava a aurora…

Só em mim mesma buscando no escuro
e me escondendo, me escondendo na sombra,
vi que a noite nunca se acaba em minha alma,
em minha alma sozinha.

Thursday, February 17, 2011

Paul Nguyen


Afterbelievers

Paul Nguyen

Love is like your shadow, stop trying to chase after it,
because it'll run away from you.
Learn hard to walk away from it
than it'll come after you.

Depois das crenças

O amor é como a tua sombra, pare de tentar persegui-lo,
porque ele vai fugir de você.
Aprenda como é difícil a partir dele
que ele virá atrás de você.

Ilustração: http://leticiabrack.com/imagens/trab_ilust001.png

Vicente Huidobro


SOMBRA

Vicente Huidobro

La sombra es un pedazo que se aleja
Camino de otras playas

En mi memoria un ruiseñor se queja
Ruiseñor de las batallas
Que canta sobre todas las balas

Sombra

A sombra é um pedaço que se afasta
a caminho de outras praias

Na minha memória um rouxinol se queixa
um rouxinol das batalhas
que canta sobre todas as balas

Wednesday, February 16, 2011

E Patrizia Valduga


In nome di Dio, aiutami! Ché tanto
amor non muta e muta mi trascino.
Ancora sete ho di te... soltanto
sola a te solo e col sole declino.

O marea d'amore viverti accanto
e arresto del cuore, amor mio divino,
che eterni della vita luce e canto.
La mia ne muore... dal ricordo sino

al qui ancora verso il cuore in cammino,
verso te, mio dissorte eppur destino...
se non di morte... ora di te rimpianto...

e il mare discolora il mio mattino.
Ma tu incatenami all'amato incanto,
resta, è giorno, vieni più vicino.

Em nome de Deus, me ajuda! Que tanto
Amor não muda e se muda fica seu fascínio.
Ainda tenho sede de ti..., portanto,
Volto a ti ímpar, sol, no nascer e no declínio.

O mar do amor vive ao teu lado tanto
e prende o meu coração, meu amor divino,
que a eterna luz da vida canto.
Em mim não morre ... como o badalar de sino

Ainda versejo, o coração no caminho, lamento
um verso teu, meu consorte, que me move ao destino ...
se não de morte ... agora de arrependimento ...

e o mar se descolora na manhã.
Mas, a magia do teu amor, meu encanto,
permanece, é o dia, que traz o amanhã.

Ilustração: Desamor, de Sissi.

Ainda Patrizia Valduga


Di tutto ciò far senza,
e del troppo sognare...
E sulla terra in levità passare.

Com tantas coisas por fazer,
e do muito para sonhar ...
Move-se a terra no seu leve passar.

Patrizia Valduga


Ulteriore finzione:
eternità, assenza
di fine, morte che muore, efficienza...

Além da ficção:
eternidade, ausência
do fim, morte que morre, eficiência ...

Sunday, February 13, 2011

Claudio Sesín


El amor en la niebla

Claudio Sesín

Cielos desesperados,
luces negras,
montañas que han tomado los espacios del sueño.
Sopla una brisa crespa y, cerrando los ojos,
sus sonidos me acercan a la ronda de los siglos.

Vienen como bandadas de memoria
cosas que siento antes que sucedan.
Vienen de otro mundo milenario
sombras de fuego tejiendo el infinito.

El mar sólo es soñado y sin embargo,
su eco baña al monte igual que a un niño,
pero, el temblor que siento no es el suyo,
algo se unió a mi alma y la amamanta,
algo viene de abajo de este sitio
y me impulsa a subir,
a llegar hasta un círculo magnífico
para ver estos mundos asimétricos,
en todos soy pedazos de silencio,
y vos,
la otra parte de mí mismo

O amor na névoa

Céus desesperados
luzes negras,
montanhas que tem tomado os espaços do sonho.
Sopra uma brisa e fechando os olhos,
seus sons me acercam da ronda dos séculos.

Chegam como bandas da memória
coisas que sinto antes que aconteçam.
Chegam de outro mundo milenar
sombras de fogo tecendo o infinito.

O mar só é sonhado e, sem embargo,
seu eco banha a montanha como uma criança
porém, o tremor que sinto não é seu,
algo que se uniu a minha alma e a amamenta,
algo que vem abaixo a deste local
e me impulsiona a subir,
a chegar até um círculo magnífico
para ver estes mundos assimétricos,
em todos sou pedaços de silêncio,
e tu,
a outra parte de mim mesmo.

O sentido e a direção


Não. Eu não preciso de ti.
Preciso apenas saber que existes
Que pensas em mim
Como o amigo e o amante distante.
Preciso apenas que enchas o ar com o perfume dos teus pensamentos
e o balsámo de tuas palavras.
Nem preciso gritar o meu amor
que sua voz secreta ecoa nas paredes e se desdobra nos ares, nas areias
qual mil segredos que o vento abafou inutilmente.
Noites e dias em que a fome do teu amor
me pede a leitura da tua pele, o sabor de teus beijos,
a transformação, enfim, do amor em realidade física
é motivo somente para novos poemas.
E, se, por felicidade um dia te encontro, a doçura de tua presença,
o simples olhar, o toque das tuas mãos,
a certeza de que existes
é a confirmação de que a vida tem sentido.
E nada mais tenho pedido
e, se mais vier,
seja o que Deus quiser.

Saturday, February 12, 2011

Samuel Taylor Coleridge


Desire

Samuel Taylor Coleridge

Where true Love burns Desire is Love's pure flame;
It is the reflex of our earthly frame,
That takes its meaning from the nobler part,
And but translates the language of the heart.

Desejo

Onde o verdadeiro amor queima o desejo é, de amor, chama pura;
É o reflexo da nossa terrestre moldura,
Isto leva o seu significado a parte mais nobre de doação,
E nos traduz a linguagem do coração.

Uma traição bem calculada


Come slowly

Emily Dickinson

Come slowly, Eden
Lips unused to thee.
Bashful, sip thy jasmines,
As the fainting bee,
Reaching late his flower,
Round her chamber hums,
Counts his nectars -alights,
And is lost in balms!

Vamos devagar

Vamos devagar, meu paraíso,
Lábios não utilizados por ti.
Envergonhado, jasmins de teus goles,
Como a abelha desmaio,
Chegando atrasado a sua flor,
Rodeio e canto suas pétalas,
Conto os seus néctares-lasso,
E me perco em bálsamos!

Friday, February 11, 2011

Alvar Dual


Oh Vida, hay instantes

Alvar Dual

Oh Vida, hay instantes
en que tu delicadeza
regala excelente tesoro
comparable en brillo y belleza
al dorado símbolo del oro,
sin embargo a veces eres autocrata
que se rie de nuestras ansiedades
porque de tu sentido se origina
toda clase de dualidades
Que difícil es aprender
de tu altruísmo sin igual,
que imperfecta es tu bonanza
pero es tan hermoso tu manancial.
Sin él, no hay ninguna esperanza

(Del libro Variedades)

Oh! Vida,há instantes

Oh vida, há instantes
em que tua delicadeza
nos presenteia com um excelente tesouro
comparáveis em brilho e beleza
ao dourado símbolo do ouro,
sem embargo, às vezes, és o autocrata
que ri de nossas ansiedades
porque de teu sentido se origina
todos os tipos de dualidades
Que difícil é aprender
de teu altruísmo sem igual,
imperfeita que é a tua bonança,
porém, é tão formoso o teu manancial.
Sem ele, não há nenhuma esperança

Thursday, February 10, 2011

Há flores que são para sempre


Nunca voy a olvidarte

Juan Andrés Leiwir

Esa misteriosa luz
que a veces ilumina la frente
caprichosa inspiración,
que aparece cuando quiere,
logro que una vez un poeta
con mucha pasión escriba:
“Nunca digas nunca…”
“Nunca digas siempre…”
Pero no puedo com el estar de acuerdo,
se que mi corazón no me miente
yo digo: “Nunca” voy a olvidarte
y digo: “Siempre” voy a quererte.

Nunca vou te esquecer

Esta misteriosa luz
que, às vezes, ilumina a fronte
inspiração caprichosa,
que aparece quando bem quer,
levou a que uma vez uma poeta
com imensa paixão escrevesse:
“Nunca digas nunca...”
“Nunca digas sempre...”
Porém, não posso com ele estar de acordo,
sei que meu coração não me mente
eu digo: “Nunca” vou te esquecer
e digo: “Sempre vou te querer”.

Mais um poema de Girondo


DICOTOMÍA INCRUENTA

Oliverio Girondo

Siempre llega mi mano
más tarde que otra mano que se mezcla a la mía
y forman una mano.

Cuando voy a sentarme
advierto que mi cuerpo
se sienta en otro cuerpo que acaba de sentarse
adonde yo me siento.

Y en el preciso instante
de entrar en una casa,
descubro que ya estaba
antes de haber llegado.

Por eso es muy posible que no asista a mi entierro,
y que mientras me rieguen de lugares comunes,
ya me encuentre en la tumba,
vestido de esqueleto,
bostezando los tópicos y los llantos fingidos.

Dicotomia incruenta

Sempre chega a minha mão
mais tarde que outra mão que se mistura com a minha
e formam uma mão.

Quando vou me sentar
Percebo que o meu corpo
se senta em outro corpo, que simplesmente acabou de se sentar
onde me sento.

E no preciso instante
entrar em uma casa,
descubro que já estava
antes de haver chegado.

Assim é muito possível que não assista o meu funeral,
e que, enquanto me reguem com lugares comuns,
já me encontre na sepultura,
vestido de esqueleto,
bocejando dos tópicos e dos prantos fingidos.

Wednesday, February 09, 2011

Darío Leiva


Séptimo

Darío Leiva

“Yo me acuesto y me duermo,y me despierto tranquilo porque el Señor me sostiene” Salmo 4.6

Me perdí en tu territorio
en la comisura de tus signos
en la magia de tus códigos no escritos.

Me llevas por la cornisa de tu sueño
experimento la metamorfosis
te apoderas de mis vísceras
tienes la voz azul oscura casi negra
hueles a silencio con música de arena.

Me haces conocer el colmillo de la luna
me muestras el rectángulo del sol
juegas con imágenes a piedra papel y tijera
y al sumergirme en tu mar de inspiración
mi soledad esboza sus poemas.

Sétimo

Perdi-me em teu território
nas curvas de teus sinais
na magia de teus códigos não escritos.

Me levas pelas bordas dos teus sonhos
experimento a metamorfose
te apoderas de minhas vísceras
tens a voz azul escura quase negra
cheiras a silêncio com música de areia.

Me fazes conhecer a poeira da lua
me mostras o retângulo do sol
jogas com imagens a pedra, o papel e a tesoura
e ao submergir em teu mar de inspiração
minha solidão esboça seus poemas.

Tuesday, February 08, 2011

Hamletianamente falando...


O risco de ser ou não ser

Isto de querer ser o que não se é, meu amor,
Pode ser uma ótima coisa
Quando se é atriz ou ator.

Isto de querer ser o que se é, meu amor,
Pode ser uma coisa muito boa
Dependendo do caráter de quem for.

Já isto de não querer não ser uma coisa nem outra
Me parece assim tão natural
Que acontece com qualquer pessoa normal.

Oh! Querida mulher!


Oh! Querida mulher! Sabes que te amo...
Porém, bem pouco sabes do quanto,
De como é difícil te olhar com o espanto
Pelo tempo distante do qual pouco reclamo.

Sou assim. Não espero os julgamentos.
As minhas nuances são tão transparentes
Que se minto, as mentiras são patentes,
Mas, menos inequívocos, são os sentimentos!

Oh! Querida mulher! Posso passar sem beijos.
Esquecer que és tão fortemente sensual
E ignorar que o desejo que despertas é natural
Que outro amante se mataria de desejos.

Pareço até mesmo muito indiferente
À paixão, que insuflas tão quieta,
Que dizem até de mim: -Pobre pateta!
Não merece o tesouro na sua frente.

Oh! Querida mulher! Jamais é simples assim.
Sob a calma se arma o fogo que arde em mim!

Monday, February 07, 2011

Antonio Gamoneda de volta


Amor

Antonio Ganomeda

Mi manera de amarte es sencilla:
te aprieto a mí
como si hubiera un poco de justicia en mi corazón
y yo te la pudiese dar con el cuerpo.

Cuando revuelvo tus cabellos
algo hermoso se forma entre mis manos.

Y casi no sé más. Yo sólo aspiro
a estar contigo en paz y a estar en paz
con un deber desconocido
que a veces pesa también en mi corazón.

Amor

Minha maneira de te amar é sensível:
te aperto a mim
como se houvesse um pouco de justiça no meu coração
e eu a te pudesse dar com o corpo.

Quando aliso teus cabelos
alguma coisa formosa se aninha entre as minhas mãos.

E quase não sei mais. Só aspiro
a estar contigo na paz e estar em paz
como um dever desconhecido
que, às vezes, pesa também no meu coração

Ilustração: http://nuvemsobreoatlantico.blogspot.com/2007_06_01_archive.html

Antonio Gamoneda ainda


Aún:

Hubo un tiempo en que mis únicas pasiones eran la pobreza
y la lluvia.
Ahora siento la pureza de los límites y mi pasión no existiría
si dijese su nombre.

Ainda:

Houve uma época em que minhas únicas paixões eram a pobreza
e a chuva.

Agora sinto a pureza dos limites e minha paixão não existiria
se dissesse teu nome.

Ilustração: http://raiosdevivencia.files.wordpress.com/2008/04/luar.jpg

Antonio Gamoneda


Sábado:

Antonio Gamoneda

1. El animal que llora, ése estuvo en tu alma antes de ser amarillo;

el animal que lame las heridas blancas,

ése está ciego en la misericordia;

el que duerme en la luz y es miserable,

ése agoniza en el relámpago.


La mujer cuyo corazón es azul y te alimenta sin descanso,

ésa es tu madre dentro de la ira;

la mujer que no olvida y está desnuda en el silencio,

ésa fue música en tus ojos.


Vértigo en la quietud: en los espejos entran sustancias
corporales y arden palomas. Tú dibujas juicios y tempestades
y lamentos.

Así es la luz de la vejez, así
la aparición de las heridas blancas.


Sábado:

1. O animal que chora, este esteve na tua alma antes de ser amarelo;
o animal que lambe as feridas brancas
este está cego na misericórdia;
o que dorme na luz e é miserável,
este agoniza no relâmpago.

A mulher cujo coração é azul e te alimenta sem descanso,
esta é a tua mãe com ira;
a mulher que não te esquece e está nua no silêncio,
esta foi música para os olhos.

Vertigem na quietude: nos espelhos entram substâncias
corporais e ardem pombos. Tu ensaias juízos e tempestades
e lamentos.

Assim é a luz da velhice, assim
é a aparição das feridas brancas.

Sunday, February 06, 2011

Julio Mariscal Montes


Te queria, lo sé

Julio Mariscal Montes

Te quería, lo sé.
Lo supe luego, cuando tu ausencia reposó mi sangre.
Pero andaba la lepra del deseo tan aína en el labio
que iba a decir - estrella -,
y se trocaba en madrugada de coñac y sombra...
Y ahora que vuelve el viento de las cinco
a levantar castillos en mi frente,
y las nubes de otoño arremolinan tu recuerdo
en el cuenco de mi mano,
necesito vestir mi voz de tarde
con citas y alamedas de domingo,
para decirte, amor, cómo te quise,
cómo te quiero todavía,
aunque sé que mi voz ha de perderse
en el largo sahara de tu olvido...

Te queria, eu sei

Te queria, eu sei.
Eu sabia, logo, quando tua ausência repousou o meu sangue.
Porém, andava a lepra de desejo tão rápida no lábio
que ia dizer - estrela -
e se trocava na madrugada de conhaque e sombra ...
E agora volta o vento das cinco
a levantar castelos na minha frente,
e as nuvens de outono rodopiam tua memória
na palma da minha mão,
necessito vestir minha voz de tarde
com compromissos e alamedas de domingo,
para te dizer, amor, como eu te quis,
como te quero, todavia,
ainda que eu saiba que a minha voz há de perder-se
no largo Saara de teu esquecimento ...

Ilustração: http://supremapoesia.blogspot.com/2010/08/nem-bela-e-nem-completa.html

Saturday, February 05, 2011

Julia Prilutzky Farny de novo


XV

Julia Prilutzky Farny

Este miedo de ti, de mí... De todo,
Miedo de lo sabido y lo entrevisto,
Temor a lo esperado y lo imprevisto,
Congoja ante la nube y ante el lodo.
Déjame estar. Así No te incomodo?...
Abajo ya es la noche, y hoy has visto
Cómo acerca el temor: aún me resisto
Pero me lleva a ti de extraño modo.
Déjate estar. No luches: está escrito.
Desde lejos nos llega, como un grito
O como un lerdo vértigo rugiente.
Me darás lo más dulce y más amargo:
Una breve alegría, un llanto largo...
Sé que voy al dolor. Inútilmente.

XV

Este medo de ti, de mim...de tudo,
Medo do conhecido e do entrevisto,
Temor ao esperado e ao imprevisto,
Angústia diante da nuvem e do lodo.
Deixa-me estar. Assim. Não te incomodo?
Lá embaixo já é noite, e hoje já foi visto
Como se acerca o temor: ainda resisto.
Porém, me leva a ti de estranho modo.
Deixa-te estar. Não lutes: está escrito.
Desde distante nos chega, como um grito
Ou como uma calma vertigem estridente
Me darás o mais doce e o mais amargo:
Uma breve alegria, um pranto largo...
Sei que vai doer. Inutilmente.

Julia Prilutzky Farny


26

Julia Prilutzky Farny

Ni una palabra quedará, siquiera,
Amor que eras mi amor, que eras mi vida.
Ya no te digo adiós, ni hay despedida
Ni volveré a llorar por lo que fuera.
Dónde quedó el terror frente a la espera,
Dónde el pretexto fácil de la huida:
Estoy de pronto, como adormecida,
Brazos ausentes, párpados de cera.
Amor que eras mi amor, estas tan lejos
Que tu imagen se vela en los espejos
Y está la niebla donde había llamas.
Oigo que rondas pero no te veo,
Vuelvo a escuchar tu voz, pero no creo.
Ya no importa si estás ni si me llamas.


26

Nem uma palavra ficará, sequer agora,
Amor que eras meu amor, que eras minha vida.
Já não te digo adeus, nem há despedida,
Nem voltarei a chorar pelo que se fora.
Aonde ficou o terror frente à espera,
Aonde o pretexto fácil da saída:
Estou de pronto, como quê adormecida,
Braços ausentes, pálpebras de cera.
Amor que eras meu amor, estais tão distante
Que tua imagem nos espelhos se dilui
E fica a nevoa onde havia chamas.
Sei que me rondas, porém, não te vejo
Volto a escutar tua voz, porém, não creio.
Já não importa se estais aqui se não me chamas.

Ainda Clara Valverde


Qué puedo hacer...

Clara Valverde

Qué puedo hacer para que me hables silencio
te guardes las palabras
y escuches lo que no te digo:
que quiero perderme y tú seas el que busca.
Mientras el tiempo espera
seré luna de tu planeta
tus brazos, la gravedad.
Pero tú no me oyes no hablar
y yo le estoy cogiendo cariño a este deseo.


Que posso fazer

Que posso fazer para que me fales em silêncio
Te guardes das palavras
E escutes o que não te digo:
Que quero perder-me e que tu sejas o que busca.
Ainda que o tempo de espera
Seja a lua de teu planeta
Teu braços, a gravidade.
Porém, tu não me ouves não falar
E eu estou colhendo carinho para este desejo.

Ilustração: http://ichbinmrdarcy.wordpress.com/2010/01/06/blackbird/

Clara Valverde


En Tránsito

Clara Valverde

Pensaba que había dejado su alma
en el camino,
enzarzada en alguna nube
en tránsito.
No, su alma aún estaba ahí
en ese país lejano
abandonada entre libros polvorientos
que tristemente se quedaron
por falta de sitio en el baúl.

No trânsito

Pensava que havia deixado tua alma
No caminho
Emaranhada em alguma nuvem
Em trânsito.
Não tua alma ainda estava aí
Neste país distante
Abandonada entre livros empoeirados
Que tristemente ficavam abandonados
Por falta de lugar no baú.

Friday, February 04, 2011

E ainda Jorge Debravo


Este es mi amor

Jorge Debravo

Este es mi amor, hermanos, este esfuerzo
denso, maduro, alto,
estos dedos agónicos y este
manojo de entusiasmo.

Yo no os amo dormidos:
Yo os amo combatiendo y trabajando,
haciendo hachas deicidas,
libertando.

Amo lo que de dioses se os revela
ante el miedo y el látigo,
lo que suda, viviente y guerrillero,
en el fondo del hueso americano,
lo que es amor no siendo más que carne,
lo que es lucha no siendo más que paso,
lo que es fuego no siendo más que grito,
lo que es hombre no siendo más que árbol.

Este é o meu amor

Este é o meu amor, meus irmãos, este esforço
denso, maduro, alto,
estes dedos agônicos este
feixe de entusiasmo.

Eu não os amo dormidos:
Eu os amo combatendo e trabalhando,
fazendo artes deícidas,
libertando.

Amo o que de deuses se revela
ante o medo e o chicote,
o que sua, vivente e guerrilheiro,
no fundo do osso americano,
o que é amor não sendo mais que carne,
o que é luta não sendo mais do que passo
o que é fogo não sendo mais que grito,
o que é o homem não sendo mais que árvore.

Debravo de volta


Profundidad

Jorge Debravo

He aprendido a mirar de una manera más viva:
como si mis abuelos por mi sangre miraran;
como si los futuros habitantes
alzaran mis pestañas.

Yo no miro la piel sino lo que en la piel
es fuego y esperanza.
Lo que aún en los muertos
sigue nutriendo razas.
Lo que es vida y es sangre
tras la inmovilidad de las estatuas

Profundidade

Eu aprendi a olhar de uma forma mais viva:
como meus avós através do meu sangue olharam;
como se os futuros habitantes
levantassem os meus cílios.

Eu não olho a pele sim o que na pele
é fogo e esperança.
O que resta dos mortos
segue nutrindo as raças.
O que é vida e é sangue
por trás da imobilidade das estátuas

Jorge Debravo


Esta canción amarga

Jorge Debravo

Sufro tanto que a veces ni siquiera
sé si sufro por mí o por el obrero.
El sufrimiento nace, simplemente.
Es como un árbol ciego.

No lo busco, lo llamo ni lo aguardo.
Nace cuando lo quiere.
Es como un chorro de alcohol, como una
almohada de alfileres.

Es amargo y sangriento a medianoche
y a veces -sin permiso- en las aceras.
Me anuda la camisa hasta asfixiarme.
Me riega ácidos malos en las venas.

Sin embargo, hermanos, cuando falta
es como si mi carne estuviera vacía.
Como si no corriera el jugo de mi sangre.
Como si a chorros, roja, se me huyera la vida.

Esta canção amarga

Eu sofro tanto que às vezes nem sequer
Sei se sofro por mim ou pelos outros.
O sofrimento nasce, simplesmente.
É como uma árvore cega.

Não o procuro, nem o chamo nem o aguardo.
Nasce quando quer.
É como um jorro de álcool, como uma
almofada de alfinete.

É amargo e sangrento à meia-noite
e, às vezes, sem permissão, nas calçadas.
Me amarra a camisa para me sufocar.
Me joga ácidos maus nas veias.

No entanto, os irmãos, quando falta
É como se meu corpo estivesse vazio.
Como se não corresse o suco do meu sangue.
Como se em jatos, vermelhos, minha vida fugisse.

Thursday, February 03, 2011

E, amorosamente, Girondo


¡TODO ERA AMOR!

¡Todo era amor... amor!
No había nada más que amor.
En todas partes se encontraba amor.
No se podía hablar más que de amor.
Amor pasado por agua, a la vainilla,
amor al portador, amor a plazos.
Amor analizable, analizado.
Amor ultramarino.
Amor ecuestre.
Amor de cartón piedra, amor con leche...
lleno de prevenciones, de preventivos;
lleno de cortocircuitos, de cortapisas.
Amor con una gran M, con una M mayúscula,
chorreado de merengue,
cubierto de flores blancas...
Amor espermatozoico, esperantista.
Amor desinfectado, amor untuoso...
Amor con sus accesorios, con sus repuestos;
con sus faltas de puntualidad, de ortografía;
con sus interrupciones cardíacas y telefónicas.
Amor que incendia el corazón de los orangutanes,
de los bomberos.
Amor que exalta el canto de las ranas bajo las ramas,
que arranca los botones de los botines,
que se alimenta de encelo y de ensalada.
Amor impostergable y amor impuesto.
Amor incandescente y amor incauto.
Amor indeformable. Amor desnudo.
Amor amor que es, simplemente, amor.
Amor y amor... ¡y nada más que amor!

Tudo era amor!

Era tudo o amor ... amor!
Não havia nada mais que amor.
Em todas as partes se encontrava o amor.
Não se podia falar mais que de amor.
Amor passado por água, à la baunilha,
Amor ao portador, amor à prazo.
Amor analisável, analisado.
Amor ultramarino.
Amor equestre.
Amor de papel maché, amor de leite ...
Pleno de prevenções, de preventivos;
Pleno de curto-circuitos, de rodapés.
Amor com um grande M, com M maiúsculo,
Coberto de merengue,
Coberto de flores brancas ...
Amor espermatozóico, esperançoso.
Amor desinfetado, amor melado ...
Amor com acessórios, com peças de reposição;
Com sua falta de pontualidade, de ortografia;
Com interrupções cardíacas e telefônicas.
Amor que incendeia o coração dos orangotangos,
dos bombeiros.
Amor que exalta o coaxar das rãs nas valas,
que arranca os botões das botas,
que se alimenta de e de salada.
Amor impostergável e amor imposto.
Amor incandescente e amor incauto.
Amor indeformável. Amor nu.
Amor, amor que é simplesmente amor.
Amor e amor ... E nada mais que amor!

Mais uma vez Girondo


ESCRÚPULO

Oliverio Girondo

Me parece que vivo
que estoy entre los ruidos
que miro las paredes,
que estas manos son mías,
pero quizás me engañe
y paredes y manos
sólo sean recuerdos
de una vida pasada.
He dicho "me parece"
yo no aseguro nada.

Escrúpulo

Me parece que vivo
que estou entre os ruídos
que olho as paredes,
que estas mãos são minhas,
porém, quem sabe me engane
e paredes e mãos
sejam só recordações
de uma vida passada.
Ele disse “me parece”
Eu não asseguro nada.

Uma poesia de Oliverio Girondo



VISITA

No estoy.
No la conozco.
No quiero conocerla.
Me repugna lo hueco,
La afición al misterio,
El culto a la ceniza,
A cuanto se disgrega.
Jamás he mantenido contacto con lo inerte.
Si de algo he renegado es de la indiferencia.
No aspiro a transmutarme,
Ni me tienta el reposo.
Todavía me intrigan el absurdo, la gracia.
No estoy para lo inmóvil,
Para lo inhabitado.

Cuando venga a buscarme,
Díganle:
"se ha mudado".

Visita

Não estou.
Não a conheço.
Não quero conhecê-la
Eu odiava aquele buraco,
O amor ao mistério,
O culto às cinzas,
Enquanto se desintegra.
Jamais mantive contato com o inerte.
Se há algo que reneguei é a indiferença.
Não aspiro a ser transmutar-me,
Nem me tenta o repouso.
Todavia me intrigam o absurdo, a graça.
Não estou para o imóvel,
Para o desabitado.

Quando vier buscar-me,
Diga:
"mudou-se".