Monday, July 31, 2017

Uma poesia de Edward Hirsch

In Memoriam Paul Celan            
Edward Hirsch

Lay these words into the dead man's grave
next to the almonds and black cherries---
tiny skulls and flowering blood-drops, eyes,
and Thou, O bitterness that pillows his head.

Lay these words on the dead man's eyelids
like eyebrights, like medieval trumpet flowers
that will flourish, this time, in the shade.
Let the beheaded tulips glisten with rain.

Lay these words on his drowned eyelids
like coins or stars, ancillary eyes.
Canopy the swollen sky with sunspots
while thunder addresses the ground.

Syllable by syllable, clawed and handled,
the words have united in grief.
It is the ghostly hour of lamentation,
the void's turn, mournful and absolute.

Lay these words on the dead man's lips
like burning tongs, a tongue of flame.
A scouring eagle wheels and shrieks.
Let God pray to us for this man.


Em Memoriam Paul Celan

Deixe estas palavras no túmulo do homem morto
próximo das amêndoas e cerejas pretas-
crânios minúsculos e gotas de sangue em flor, olhos,
e você, a amargura que atravessa sua cabeça.

Deixe estas palavras nas pálpebras do homem morto
como olhos claros, como medieval trompete de flores
que irão florescer, neste tempo, na sombra.
Deixe as tulipas decepadas brilharem com a chuva.

Deixe estas palavras em suas pálpebras afogadas
como moedas ou estrelas, olhos auxiliares.
Canopy o céu inchado com manchas solares
Enquanto o trovão se dirige ao chão.

Sílaba por sílaba, arranhada e manuseada,
as palavras se uniram na tristeza.
É a hora fantasmagórica de lamentação,
o turno do vazio, triste e absoluto.

Deixe estas palavras nos lábios do homem morto
como pinças ardentes, uma língua de fogo.
Uma águia vasculhando rodas e gritos.
Deixe Deus orar por nós para este homem.


Ilustração: Templo Cultural Delfos. 

E, novamente, Constantin Kavafis


LA CIUDAD

Constantin Kavafis

Dijiste: ”Iré a otra tierra, iré a otro mar,
Debe existir una ciudad mejor que ésta.
Todo esfuerzo mío es aquí una condena,
y mi corazón –como un muerto– está sepultado.
¿Hasta cuándo mi espíritu permancerá en este marasmo?
Donde vuelvo mis ojos, donde miro
Veo las negras ruinas de mi vida, aquí
Donde tantos años pasé y arruiné y perdí”.

No hallarás sitios nuevos, no hallarás otros mares.
La ciudad te seguirá. Darás vueltas por las mismas
calles. Envejecerás en los mismos barrios,
y en estas mismas casas encanecerás.
Siempre llegarás a esta ciudad. Para otra parte –no lo esperes–
no hay barco para ti, no hay camino.
Al arruinar tu vida aquí, en este pequeño rincón,
en toda la tierra la arruinaste.

A CIDADE

Dissestes: "Irei a outra terra, irei a outro mar,
deve existir uma cidade melhor que esta.
Todo esforço meu é aqui uma condenação,
e meu coração- como um morto- está sepultado.
Até quando meu espírito permanecerá neste marasmo?
Onde viro meus olhos, onde olho
Vejo as negras ruínas da minha vida aqui
Onde tantos anos passei e arruinei e perdi. "

Não acharás novos lugares, não acharás outros mares.
A cidade te seguirá. Darás voltas pelas mesmas
Ruas. Envelhecerás nos mesmos bairros,
e nestas mesmas casas encanecerás.
Sempre chegarás a esta cidade. Para outra parte, não o esperes-
não há barco para ti, não há caminho.
Ao arruinar a tua vida aqui neste pequeno rincão,
toda a terra arruinastes.


Ilustração: O Globo. 

Outra poesia de Alejandro Crotto


De lo que abunda el corazón hable la boca

Alejandro Crotto

En esta viva sal quedémonos que quema
sin consumir; en esta levadura
que de los huesos secos saca abejas, miel
multiplicada; en esta savia
que en el bloque del pecho
irriga un corazón de carne
y despierta los ojos
con su corriente limpia,
y remontémosla
dejándonos
en el fermento de sus uvas cada
día. De lo que abunda
el corazón hable la boca.


DO QUE ABUNDA O CORAÇÃO FALA A BOCA

Permanecemos vivo no sal que queima
sem consumir; nesta levedura
que de ossos secos saca abelhas, mel
multiplicados; nesta seiva
que no bloco do peito
irriga um coração de carne
e desperta os olhos
com sua corrente limpa,
e as remonta
deixando-nos
no fermento de suas uvas como cada
dia. Do que abunda
o coração fala a boca.


Ilustração: Camiseteria. 

Mais uma poesia de Lila Calderón


DIFERENCIAS SEMÁNTICAS

Lila Calderón

El tiempo se devuelve y enmudece/ perdemos/ estamos perdiendo el juego que nunca creímos jugar/ De voz en voz/ nuestras fuerzas se diluyen/ En este encuentro/ cada cual al otro lado de su destino/ espera/ Aparecemos sin cruzar las palabras confusas/ que nos someten/ Callar es a veces la solución/ el casillero vacío que impide el puzzle/ Que no nos entendamos/ no es extraño/ para eso se escriben las canciones/ que después recordaremos/ a la orilla de los años/ No se puede negar/ Siempre algo sobra o falta/ para comprender el rompecabezas/ No existe el paisaje perfecto/ No somos el uno para el otro/ y no hay otro para uno/ ni se puede extraer desde el espejo/ la imagen que nos complete/ Otra máscara desvanece su guiño/ y un montón de ropa nos dibuja en el recuerdo/ Nos amábamos sabiéndonos/ complejos/ en crisis/ escapando del pasado intentando abordarnos desde la duda / a tientas/ Cómo saber para ganar o perder tiempo/ para no caer sin poner las manos/ No tenemos siete vidas y el cuento es breve/ Un sol exageradamente sol invalida mi cortina/ como un signo/ asalta el cielo/ y hace latir los tejados/ Un sol como aquel que llegó contigo/ estalla en el horizonte/ y se derrama gota a gota/ La complicación es ahora rehacerse en dos/ Dejar de sentirte/ o adivinar tu rumbo/ Pero por si ésta fuese una despedida/ desearía/ que identifiques y te lleves contigo/ las palabras que siempre quisiste oír/ porque como dijo un amigo/ nuestros desencuentros son tan solo pequeñas diferencias semánticas/ Por supuesto/ debo reconocer que el lenguaje/ es el arma más mortífera de todas.
  
Diferenças semânticas

O tempo se devolve e emudece / perdemos / estamos perdendo o jogo que nunca acreditamos jogar / de voz em voz/ nossas forças se diluem / Neste encontro/ cada qual o outro lado do seu destino / espera / Aparecemos sem cruzar as palavras confusas / que nos submetem/ Calar, às vezes, é a solução /a casa vazia que impede o quebra-cabeças / que não nos entendemos / não é estranho / para isso se escrevem as canções/ que depois recordaremos / na borda dos anos /Não se pode negar / sempre algo sobra ou falta / para compreender o quebra-cabeça / Não há paisagem perfeita / Não somos um para o outro / e não há outro para um / nem se pode extrair do espelho / a imagem que nos complete / Outra máscara evapora sua piscadela / e um monte de roupas nos desenha a memória / Nos amávamos nos sabendo-nos/ complexo / em crise / escapando do passado tentando nos abordar a partir da dúvida / tateando / Como saber para ganhar ou perder tempo / para não cair, sem colocar as mãos / Não temos nove vidas e a história é breve /Um sol desproporcional invalida minha cortina / como um sinal / assalta o céu / e faz tremer os telhados / um sol como aquele que chegou contigo / estoura no horizonte / e se derrama gota a gota / A complicando é agora refazer-se em dois / Deixar de sentir-te / ou adivinhar o teu rumo /Porém, se isto fosse uma despedida / desejaria / que me identifiques e que leves contigo / as palavras que sempre quisestes ouvir / porque, como disse um amigo / nossas divergências são apenas pequenas diferenças semânticas / por suposto / devo admitir que a linguagem / é a arma mais mortal de todas.


Ilustração: opiniaocentral.wordpress.com. 

Thursday, July 27, 2017

Ainda a poesia de Constantin Kavafis




LAS VENTANAS

Constantin Kavafis

En estos oscuros cuartos donde paso
días pesados, voy de un lado al otro
para hallar las ventanas. – Cuando se abra
una ventana será un consuelo—.
Pero las ventanas no aparecen, o yo no puedo
hallarlas. Y quizás sea mejor que no las encuentre.
Quizás la luz sea un nuevo tormento.
Quién sabe qué cosas nuevas mostrará.


AS JANELAS

Nestes quartos escuros onde passo
dias pesados, vou de um lado ao outro
para encontrar as janelas.-Quando se abrir
uma janela será um consolo-.
Porém, as janelas não aparecem, ou não posso
encontrá-las. E, talvez, seja melhor que não as encontre.
Talvez a luz seja um novo tormento.
Quem sabe que coisas novas mostrará.



Uma poesia de Dacia Maraini

Ho sognato di volare                   
Dacia Maraini

Ho sognato di volare
tante volte in una
una volta in tante,
leggera sopra i tetti
con un sospiro di gioia nera
posandomi sui cornicioni
seduta in bilico su un comignolo
quanto quanto quanto
ho camminato sulle vie
ariose dell’orizzonte
fra nuvole salate e raggi di sole
un gabbiano dal becco aguzzo
un passero dalle piume amare
erano le sole compagnie
di una coscienza addormentata
vorrei saper volare
ancora in sogno ancora,
come una rondine,
da una tegola all’altra
e poi sputare sulle teste
dei passanti e ridere
della loro sorpresa, piove?
O sono lacrime di un Dio ammalato?
Volo ancora, ma nelle tregue del sonno
il piede non più leggero
scivola via, una mano si aggrappa
alla grondaia che scappa
vorrei volando volare
e riempire di allegrie
le spine del buio.

EU SONHEI EM VOAR

Eu sonhei em voar,
Tantas voltas numa
uma volta em tantas,
luz por cima dos telhados
com um suspiro de alegria negra
pousando sobre a cornija
sentada equilibrada em uma chaminé
quanto quanto quanto
hei andado pelas ruas
arejadas do horizonte
entre nuvens salgadas e raios solares
uma gaivota de bico afiado
um pardal de penas amorosas
foram as únicas companhias
de uma consciência adormecida
voarei por saber voar
ancorado em um sonho ancorado,
como uma andorinha,
sobre uma telha
e depois cuspirei nas cabeças
dos transeuntes e rirei
de sua surpresa, chove?
Ou são lágrimas de um Deus doente?
Voarei de novo, mas, na trégua do sono
o pé não mais ligeiro
se esvai, uma mão agarra
a calha que foge
voarei voando a voar
e preenchendo de alegria
os espinhos escuros.



Wednesday, July 26, 2017

O notável Oscar Wilde


My Voice

Oscar Wilde

Within this restless, hurried, modern world
We took our hearts' full pleasure - You and I,
And now the white sails of our ship are furled,
And spent the lading of our argosy.

Wherefore my cheeks before their time are wan,
For very weeping is my gladness fled,
Sorrow has paled my young mouth's vermilion,
And Ruin draws the curtains of my bed.

But all this crowded life has been to thee
No more than lyre, or lute, or subtle spell
Of viols, or the music of the sea
That sleeps, a mimic echo, in the shell.

MINHA VOZ

Dentro desse mundo agitado, apressado e moderno
Aproveitamos nossos corações cheios de prazer. Você e eu,
E, agora, as velas brancas do nosso navio estão furadas,
E perdemos o caminho do nosso transatlântico.

Por isso, minhas bochechas, antes de seu tempo, são pálidas,
Por chorar muito, minha alegria fugiu,
A tristeza empalideceu o vermelhão da minha jovem boca,
E destruiu os desenhos das cortinas da minha cama.

Porém, toda essa vida excessiva foi para você
Não mais do que lira ou alaúde, ou feitiço sutil
De violas, ou a música do mar
Que dorme, a um eco mímico, na concha.

Ilustração: Equilibrio em Vida.


Tuesday, July 25, 2017

De volta Aleyda Romero

La transparencia del tiempo

Aleyda Romero                                                                                          Para Víctor Manuel                             
                                               
Me descubro en tus ojos                       
Como la primera vez,                           
No me oculto.                                 
Pero vos sos predecible                       
No intento triquiñuelas,                       
Ya me conoces,                                 
Puedo descansar en vos.                       
Te encuentro,                                 
Disfruto ese romance de tu mirada             
Ese preludio                                   
Ese ritual.                                   
Esa batalla donde sucumben mis emociones.     
Renovada,                                     
Por este amor que no corroe el tiempo,         
Que vence la rutina,                           
Que busca otra vez;                           
Sumergido en la transparencia del tiempo.     
Desaparecemos.                                 
Ni vos,                                        
Ni yo,                                         
Ni antes,                                     
Ni después…                                   
Juntos.              

A transparência do tempo
                                                
Descubro-me em teus olhos
Como a primeira vez,
Não escondo.
Porém, és previsível
Não tentas me ludribiar,
Já me conheces,
Posso descansar em ti.
Te encontro,
Desfruto esse romance de teu olhar
Esse prelúdio
Esse ritual.
Essa batalha onde sucumbem minhas emoções.
Renovada,
Por este amor que não corrói o tempo,
Que supera a rotina,
Que busca outra vez;
Submerso na transparência do tempo.
Desaparecemos.
Nem vós,
Nem eu,
Nem antes,
Nem depois ...

Juntos.

Ilustração: Universidade do Porto. 

Monday, July 24, 2017

Uma outra poesia de Francisco de Quevedo


Soneto amoroso definiendo el amor

Francisco de Quevedo

Es hielo abrasador, es fuego helado,
es herida que duele y no se siente,
es un soñado bien, un mal presente,
es un breve descanso muy cansado.

Es un descuido que nos da cuidado,
un cobarde, con nombre de valiente,
un andar solitario entre la gente,
un amar solamente ser amado.

Es una libertad encarcelada,
que dura hasta el postrero paroxismo;
enfermedad que crece si es curada.

Este es el niño Amor, éste es su abismo.
¡Mirad cuál amistad tendrá con nada
el que en todo es contrario a sí mismo!

SONETO AMOROSO DEFININDO O AMOR

Este gelo abrasador é fogo congelado,
É ferida que dói e não se sente,
É um sonho bom, um mal presente,
É um breve descanso muito cansado.

É um descuido que nos dá cuidado,
um covarde, com nome de valente,
um andar solitário entre a gente,
um amar somente de ser amado.

É uma liberdade encarcerada,
que dura até o próximo paroxismo;
doença que cresce se for curada.

Este é o menino amor, este é o seu abismo.
Veja qual a amizade terá com o nada
E que no todo é contrário a si mesmo!

Ilustração: http://www.amblo.net

Friday, July 21, 2017

Outra poesia de Héctor Rosales


TEMPRANO DOLOR                                                        

Héctor Rosales

Precocidad maldita, dijera-bajo el parral
en el patio dominado por lucero- el anciano
interpretando mi tensa vigilia.

Las luces vegetales eran niños
arriba, en redondas durmiendo gravedades negras.

Precocidad maldita, tenía razón.
El otõno ya me estava doliendo.

DOR PRECOCE

Maldita precocidade, disse debaixo da videira
no pátio dominado pela luz das estrelas
interpretando minha tensa vigília.

Luzes vegetais eram crianças
no alto, em redondas gravidades negras dormindo.

Maldita precocidade, tinha razão.
O outono já me estava doendo.