Monday, November 30, 2020

Uma poesia de Thomas Hardy


THE MAN HE KILLED

    Thomas Hardy

Had he and I but met

By some old ancient inn,

We should have set us down to wet

Right many a nipperkin!

 

But ranged as infantry,

And staring face to face,

I shot at him as he at me,

And killed him in his place.

 

I shot him dead because--

Because he was my foe,

Just so: my foe of course he was;

That's clear enough; although

 

He thought he'd 'list, perhaps,

Off-hand like--just as I--

Was out of work--had sold his traps--

No other reason why.

 

Yes; quaint and curious war is!

You shoot a fellow down

You'd treat, if met where any bar is,

Or help to half a crown.

 

O HOMEM QUE ELE MATOU

Havia ele e eu, mas, e se nos encontramos

Em alguma velha antiga pousada,

Nós teríamos nos posto para molhar

De modo certo um penteado!

 

Porém, alistaram na infantaria,

E nos encarando cara a cara,

Eu atirei nele quando nos deparamos,

E matei-o em seu lugar.

 

Eu atirei e o matei porque-

Porque ele era meu inimigo,

Justo só: meu inimigo, de fato, ele era;

É claro que era o suficiente; entretanto

 

Ele pensou que ele devia listar, talvez,

Off-hand like - assim como eu

Estava sem trabalho - tinha vendido suas armadilhas -

Nenhuma outra razão por que.

 

Sim; quão pitoresca e curiosa a guerra é!

Você atira num colega o põe abaixo

Que o trataria bem, se o visse em qualquer bar é,

Ou o ajudaria com meia coroa.

Saturday, November 28, 2020

UM INSTANTE, APENAS UM INSTANTE

 


Sim. Eu negarei tudo, se me perguntarem,

de vez que te interessa negar o que aconteceu,

menos o afeto que trago como um troféu

de ter sido o teu mais efêmero amor,

erro de uma única e breve vez.

Sei bem que dirás que minto

(e pode ser verdade),

por minha memória ser fragmentada,

estilhaçada, destruída

por tanto amor que dei.

Reinaste em mim,

como uma rainha absoluta,

guia da criança perdida

numa misteriosa gruta

que me atordoava

e me convertia num amante sacerdote,

que venerava sua deusa

com beijos sobre o ventre,

com carícias brutas e delicadas,

com uma paixão desenfreada,

com os dedos em delírio

e uma sofreguidão incessante, 

tocando músicas inexistentes no teu corpo

que tremia como se estivesse em agonia.

Em agonia, nem sabia,

era eu que estava.

Antes de ti,

com certeza, estava morto.

Pena que, depois de ti, também.

Pode dizer o que quiseres.

Eu negarei, é claro,

porque tu queres,

porém, hás te lembrar

mesmo tudo tendo sido

muito rápido, célere, veloz,

da saciedade e da plenitude,

que permaneceu em nós,

como me disse um dia,

apesar de tanto tempo.

E se a boca mente,

a mente sempre sabe

distinguir entre a mentira e a verdade.

Podes negar tudo:

menos aquele momento de felicidade!

 

Ilustração: Wedfoto.net.

E, agora, mais uma poesia de Leopoldo María Panero

 


VII

Leopoldo María Panero

Nunca supe lo que el cielo era

Lo dije en otra ocasión, cuando llovía

Sobre mi mano

Y la saliva esculpía mi autorretrato

Y había una mujer hecha de ceniza

Y la ceniza era una mujer.

 

VII

 

Nunca soube o que o céu era

o disse em outra ocasião, quando chovia

sobre minha mão

E a saliva esculpia meu autoretrato

E havia uma mulher feita de cinza

E a cinza era uma mulher.


Ilustração: Freepik.


Friday, November 27, 2020

Revisando o Soneto de Laura Campmany

 


SONETO

Laura Campmany

En un soneto cabe cualquier cosa:

la tarde del revés, la golondrina

que asoló con sus alas mi oficina,

y el humo, convertido en mariposa.

 

Le cabe la certeza luminosa

del rayo que ni cesa ni fulmina.

Le cabe la soberbia gongorina

que urdió en la noche el nombre de la rosa.

 

Si abarcara universos literales,

campos, espigas, lunas, mares, montes,

que, por caber, le caben catedrales

y lirios que resumen horizontes.

 

¿Y dices que no cabe el amor nuestro?

Si me das un papel, te lo demuestro.

 

SONETO

Em um soneto cabe qualquer coisa:

a tarde de revés, a andorinha

que assolou com suas asas a escrivaninha

e o fumo, convertido em mariposa.

 

Bem cabe a certeza luminosa

do raio que nem cessa nem fulmina.

Bem cabe a escrita gongorina

Que urdiu, na noite, o nome da rosa.

 

Se abarcasse os universos literais,

campos, espigas, luas, mares, montes,

que, por caber, lhe cabem catedrais

e lírios que resumem horizontes.

 

E dizes que não cabe o amor nosso?

Se me dás um papel, eu te demonstro.  


Ilustração: https://conceptodefinicion.de.

 


Thursday, November 26, 2020

E mais uma poesia de Karen Plata

 


Karen Plata

mamá espera la muerte

mamá es la muerte en casa sentada en la sala

yo soy su hija chiquita y mugrosa

yo me hinco a lamerle las piernas de tanto lodo que trae cargando

soy la posibilidad en todas las cosas

 

mamá espera a morte

mamá é a morte em casa sentada na sala

eu sou sua filha pequenina e suja

eu me posto a lamber suas pernas de tanta lama que vem carregando

sou a possibilidade de todas as coisas

Ilustração: Mensagens de Amor.

 

Mais uma poesia de David Maria Turoldo

 


Da Canti ultimi, Garzanti, 1991

 David Maria Turoldo

Non so quando spunterà l'alba

non so quando potrò

camminare per le vie del tuo paradiso

 

non so quando i sensi

finiranno di gemere

e il cuore sopporterà la luce.

 

E la mente (oh, la mente!)

già ubriaca, sarà

finalmente calma

e lucida:

 

e potrò vederti in volto

senza arrossire.

 

Do último canto, Garzanti, 1991

 

Eu não sei quando vai amanhecer

não sei quando posso

caminhar pelas ruas do teu paraíso

 

Não sei quando os sentidos

pararão de gemer

e o coração suportará a luz.

 

E a mente (oh, a mente!)

já embriagada será

finalmente calma

e lúcida:

 

e poderei ver o teu rosto

sem corar.

Ilustração: Fine Art American.

 

 

Wednesday, November 25, 2020

Mais uma poesia de Inti García Santamaria

             


LA PLAYA                                                                            

Inti García Santamaría

Todas las estrellas
son estrellas
fugaces.
 
Estas arañas veloces
son cangrejos malaquitas.
 
¿Reconoces a Cáncer en el cielo?
Todos los mapas cambian.
 
Los brillos de sal
sobre nuestros cuerpos oscuros
son estrellas
fugaces.

A PRAIA

Todas as estrelas

são estrelas

fugazes

 

Estas aranhas velozes

são caranguejos malaquitas.

 

Reconheces o Câncer no céu?

Todos os mapas mudam.

 

Os brilhos de sal

sobre nossos corpos escuros  

são estrelas

fugazes.

 

Ilustração: Pinterest.

Outra poesia de Francisco Brines

 


CUANDO YO AINDA SOU A VIDA

 Francisco Brines

La vida me rodea, como en aquellos años

ya perdidos, con el mismo esplendor

de un mundo eterno. La rosa cuchillada

de la mar, las derribadas luces

de los huertos, fragor de las palomas

en el aire, la vida en torno a mí,

cuando yo aún soy la vida.

Con el mismo esplendor, y envejecidos ojos,

y un amor fatigado.

¿Cuál será la esperanza? Vivir aún;

y amar, mientras se agota el corazón,

un mundo fiel, aunque perecedero.

Amar el sueño roto de la vida

y, aunque no pudo ser, no maldecir

aquel antiguo engaño de lo eterno.

Y el pecho se consuela, porque sabe

que el mundo pudo ser una bella verdad.

 

QUANDO EU AINDA SOU A VIDA

A vida me rodeia, como naqueles anos

já perdidos, com o mesmo esplendor

de um mundo eterno. A rosa cortada

do mar, as luzes caídas

dos pomares, o fragor das pombas

no ar, a vida em torno de mim,

quando ainda sou vida.

Com o mesmo esplendor e envelhecidos olhos,

e um amor fatigado.

Qual será a esperança? Viver ainda;

e amar, enquanto se esgota o coração,

um mundo fiel, embora perecível.

Amando o sonho roto da vida

e, ainda que não pudesse ser, não maldizer

aquele antigo engano do eterno.

E o peito se consola, porque sabe

que o mundo pode ser uma bela verdade.

 

 

Sunday, November 22, 2020

Outra poesia de Mónica Braun

 


Estancia en Nueva York

Mónica Braun


Nos topamos de frente con la mujer más hermosa del mundo
y quedamos sin palabras.
Una mujer de madera suavísima; una mujer sin sombra.
Blancos sus ojos y los ojos de corales
atados a su pie firme y esbelto como un árbol.
Una mujer de labios imposibles,
para no ser besados jamás.

Sus ojos andaban perdidos en la tela.
Ah. Su breve respiración, sus ojos perfectos.
El color de su piel, susurramos. Es una diosa, me dijiste,
y la hermosura estaba en tu mirada.
Besé tus ojos llenos para siempre de ocres y naranjas:
toda la sangre de África llenó con su rumor nuestros oídos.

Con esa mujer hubiera podido contemplarte:
abrir para ti sus piernas y su boca,
sin más ruido que el de sus huesos blandamente tendidos
:::::en la cama verte penetrarla con lentitud de paloma
:::::que cae en un inverso nacimiento.

Ni lo imagines, dijiste como quien escucha una blasfemia.
Esa noche nos amamos como dos bestias fugaces.

ESTADIA EM NOVA YORK

Acabamos em frente da mulher mais bonita do mundo

e ficamos sem palavras.

Uma mulher de madeira suavíssima; uma mulher sem sombra.

Brancos seus olhos e os olhos de corais

atados ao seu pé firme e esbelto como uma árvore.

Uma mulher de lábios impossíveis,

para não serem beijados jamais.

 

Seus olhos andavam perdidos na tela.

Ah! Sua breve respiração, seus olhos perfeitos.

A cor de sua pele, sussurramos. É uma deusa, me dissestes,

e a beleza estava em teu olhar.

Beijei teus olhos cheios para sempre de ocres e laranjas:

todo o sangue da África encheu com seu rumor nossos ouvidos.

 

Com essa mulher eu poderia ter te contemplado:

abrir para ti suas pernas e sua boca,

sem mais ruído do que seus ossos suavemente estendidos

::::: na cama ver-te penetrá-la com a lentidão de uma pomba

::::: que cai em um inverso nascimento.

 

Nem o imagina, dissestes como quem escuta blasfêmia.

Nessa noite, nós nos amamos como duas bestas fugazes.

 

Ilustração: Youtube.

Outra poesia de Sawako Nakayasu

 


DECAY

Sawako Nakayasu

The great desire is to get inside of it-the poem, the painting, the movie, the music.

An ant, perceiving itself to have failed to get in anywhere, takes one brave leap off a cliff, thereby making its last and final attempt to get into something, anything, anyhow.


On its way down, or perhaps at the moment it lands (neither of us are quite sure which), it makes an undeniable percussive sound as its body breaks, pops, and for the entire duration of the decay of this sound, it is as inside as it can get, there, inside that sound, however short-lived, who cares if it is witnessed or not.

A QUEDA  

O grande desejo é estar nele - o poema, a pintura, o filme, a música.

Uma formiga, percebendo que não conseguiu entrar em qualquer lugar, dá um valente salto de uma rocha, fazendo assim sua última e final tentativa de entrar em alguma coisa, qualquer coisa, de qualquer maneira.

Em sua queda, ou talvez no momento em que pousa (nenhum de nós tem certeza de qual), faz um som percussivo inegável quando seu corpo se quebra, estala, e durante toda a duração de decadência deste som, é o mais por dentro que se pode ficar, ali, por dentro daquele som, por mais efêmero que seja, quem se importa se é testemunhado ou não.

 Ilustração: https://www.ocarcara.org/.

Saturday, November 21, 2020

Uma poesia de Mónica Braun

 

EL DURMIENTE

 Mónica Braun

::::A veces dormías y yo estaba como nunca sola. Odiando tu

::::respiración, el roce de tu mano sobre mis piernas, el espacio

::::en que se había dormido tu deseo. Ya no te importaba mi

::::carne ni esa soledad ni ese reclamo. Abandonabas el peso

::::de tu cuerpo sobre las sábanas, dejabas que cayera todo, yo

::::caía también. Estaba dentro de un sueño ajeno, ya no era mía

::::mi respiración ni mi sangre era mi sangre. Yo era el miedo.

 

::::Nadie me escuchó llorar. Nadie se dio cuenta del frío. No hubo

::::manera de evitar esa caída. Nadie pudo despertarte.

 

O DORMINHOCO

As vezes dormias e eu estava como nunca só. Odiando tua

respiração, o roçar de tua mão sobre a minhas pernas, o espaço

em que havia dormido o teu desejo. Já não te importava minha carne

nem essa solidão nem essa reclamação. Abandonavas o peso

de teu corpo sobre os lençóis, deixavas que caísse todo, eu

caia também. Estava dentro de um sonho alheio, já não era mais meu nem 

minha respiração nem meu sangue era meu. Eu era o medo.

 

Ninguém me escutou chorar. Ninguém se deu conta do frio. Não houve 

maneira de evitar esta queda. Ninguém pode te despertar.

Ilustração: Pinterest.


Friday, November 20, 2020

Outra poesia de Samuel Wagan Watson


VALLEY MAN

Samuel Wagan Watson

He had rough hands
street hands
black hands
hands

that reached out
and felt the dark places

but
feeling the dark places
He would always return
with something in his face
his face that held abuse
served in an irrational way by society
the material society
a society existent on the dark places

the dark places
places that could not harness him
but only create temporary peace with him
for so many moments
He destroyed the dark places’ grasp

and finally
He danced up a wind
and mocked the dark places
until He laid silent,
waiting…

for when the brolga met his breath
inviting his dance to join hers
when,
once again
He felt the dance of the young

 

O HOMEM DO VALE

 

Ele tinha mãos rudes

mãos de rua

mãos negras

mãos

que alcançavam longe

e sentiam os lugares escuros

 

porém,

sentindo os lugares escuros

Ele poderia sempre retornar

com alguma coisa no rosto

seu rosto que revelava o abuso

servido como meio irracional pela sociedade

a sociedade material

uma sociedade existente nos lugares escuros

 

os lugares escuros

lugares que não poderiam atrelá-lo

porém, somente criar paz temporária com ele

por tantos momentos

Ele destruiu o aperto dos lugares escuros

 

e finalmente

Ele dançou contra o vento

e zombou dos lugares escuros

até que ele calou silencioso,

esperando…

 

para quando o grou-australiano encontrasse sua respiração

convidando sua dança para se juntar à dele

quando,

outra vez

Ele sentiu a dança dos jovens

Ilustração: https://www.petz.com.br/.