Thursday, July 31, 2008

OUTRO POETA ARGENTINO

Ambiciones de paloma

Fernando Gril

bendito tus huesos porque tienem ambiciones de paloma
bendito es esternón porque no alcanza a arrinconar a tu corazón en su
corcoveo
bendita esa costilla que e has robado y que te dio luz o destino
feliz de tus carpos y metacarpos que me permiten atarte a mi cintura
feliz de tus tarsos e metatarsos que me traen hasta ti
sagrados sean tus húmeros tus cúbitos tus radios tus fémures tus rótulas
degradantes
gloriosos sean tus santos y venerables omóplatos tus clavículas tus
parietales occipital frontal y compañía
a todos tus huesos la glória porque serán polvo algún dia y volarás
com o vento volarás.

Ambições de pomba

bendito seus ossos porque têm a ambição da pomba
bendito é o esterno porque não alcança para encurralar o teu coração em seu
corcoveio
bendita essa costela que roubastes e que deu luz ou destino
feliz de teus carpos e metacarpos que me permitem te atar à minha cintura
feliz de seus tarsos e metatarsos que me trazem até a ti
sagrados sejam teus úmeros teus cúbitos teus rádios teus fêmures tuas rótulas
degradantes.
gloriosas sejam tuas santas e veneráveis omoplatas tuas clavículas teus
parietais occipital frontal e companhia
a todos teus ossos a gloria porque serão pó algum dia e tu voarás
com vento voarás.

TRES POEMAS DE LANGSTON HUGHES

Justice

Langston Hughes

That Justice is a blind goddess
Is a thing to which we black are wise:
Her bandage hides two festering sores
That once perhaps were eyes.

Justiça

Que a Justiça é uma deusa cega
É uma coisa para a qual nós negros somos sábios:
Sua venda esconde dois buracos feridos
Que talvez quem sabe sejam os olhos.


Problems

2 and 2 are 4.
4 and 4 are 8.
But what would happen
If the last 4 was late?
And how would it be
If one 2 was me?
Or if the first 4 was you
Divided by 2?

Problemas

2 e 2 são 4.
4 e 4 são 8.
Mas o que aconteceria
Se os últimos 4 chegassem tarde?
E como seria
Se um dos 2 fosse eu?
Ou se o primeiro 4 fosse você?
Dividido por 2?

Suicide's Note

The calm,
Cool face of the river
Asked me for a kiss.

Notas de um suicídio

A calma,
A face fria do rio

Wednesday, July 30, 2008

UM POETA ARGENTINO

Arden los besos

Ramón Fanelli

Arden los besos
al calor de sus cuerpos,
voces blancas
inconstantes
desintegrándose.
Vientres bordados
por la pasión de las formas,
un estilo inacabado
de oscuridad blanda,
amándose!
sin poder dormir
sin poder soñar
com ese insomnio
de eternidad.

Ardem os beijos

Ardem os beijos
ao calor de seus corpos
vozes brancas
inconstantes
desintegram-se.
Ventres bordados
pela paixão das formas,
um estilo inacabado
de obscuridade macia,
amando-se!
sem poder dormir
sem poder sonhar
com essa insônia
de eternidade.

Saturday, July 26, 2008

UM GRANDE POETA

EL VIAJE INFINITO

Jorge Carrera Andrade
Todos los seres viajande distinta manera hacia Su Dios:
La raíz baja a pie por peldaños de agua.
Las hojas con suspiros aparejan la nube.
Los pájaros se sirven de sus alas
para alcanzar la zona de las eternas luces.
El lento mineral con invisibles pasos
recorre las etapas de un círculo infinito
que en el polvo comienza y termina en el astro
y al polvo otra vez vuelve
recordando al pasar, más bien soñando
sus vidas sucesivas y sus muertes.
El pez habla a su Dios en la burbuja
que es un trino en el agua,
grito de ángel caído, privado de sus plumas.
El hombre sólo tiene la palabra
para buscar la luz
o viajar al país sin ecos de la nada.

A Viagem ao Infinito

Todos os seres viajam
De distintas maneiras até seu Deus:
A raiz cria degraus por debaixo d’àgua
As folhas com suspiros embelezam as nuvens.
Os pássaros se servem de suas asas
Para alcançar a zona das eternas luzes.

O lento mineral com invisíveis passos
Percorre as etapas de um circulo infinito
Que em pó começa e termina em estrela
E ao pó outra vez torna.
Recordando ao passar, mas ainda sonhando
Suas vidas sucessivas e suas mortes.

O peixe fala com Deus na bolha
Que é o seu gorjeio na água,
Grito de anjo caído, privado de suas plumas.
O homem só tem a palavra
Para buscar a luz
Ou viajar ao país sem ecos do nada.

UMA POESIA DE OTTO RAÚL GONZALEZ

Diez colores nuevos
(fragmento)

Otto Raúl Gonzalez

Anadrio
Quien primero vio una nube de color anadrio
era un joven pastor de diecisiete abriles
que más tarde fue monarca de su reino
y hombre feliz hasta decir ya no,
porque el anadrio es el color de alegría
y de la buena suerte.
Y de la buena suerte!
Y de la buena suerte!
Y de la buena suerte!
En mil quinientos veinte
un español porquerizo de Castilla
vino a América y cuando se internó en la selva
vio un árbol de color anadrio;
ese mismo soldado de fortuna
más tarde coió con Carlos V
y fue virrey;
porque el anadrio es el color de la alegria
y de la buena suerte.
Y de la buena suerte!
Y de la buena suerte!
Y de la buena suerte!
En la época moderna otras personas
han visto objetos de color anadrio
y su suerte ha cambiado en forma radical.
Un pescador vio una sirena cuya cola
era anadria y desde entonces
pescó y pescó y pescó y ahora
es dueño de una flota ballanera;
porque el anadrio es el color de la alegria
y de la buena suerte.
Y de la buena suerte!
Y de la buena suerte!
Y de la buena suerte!
Vendia periódicos un niño,
rapaz sin desayuno,
de pobreza trajeado,
un día en su camino vio una piedra
que era, por supuesto, de color anadrio
Ese niño actualmente es accionista
de una inmensa cadena de periódicos;
porque el anadrio es el color de la alegria
y de la buena suerte.
Pinte usted
las paredes de su casa
de color anadrio
y le irá bien.
Dez Cores Novas
(Fragmentos)

Anadrio
Quem viu primeiro uma nuvem de cor anadrio
foi um jovem pastor de dezessete primaveras
que mais tarde foi monarca do seu reino
e homem feliz até dizer que não,
porque anadrio é a cor da alegria
e boa sorte.
E boa sorte!
E boa sorte! E boa sorte!
Em mil quinhentos e vinte
um criador de porcos espanhol de Castilla
veio as Américas e quando se internou na selva
viu uma árvore cor de anadrio
Este mesmo soldado da fortuna
lutou mais tarde com Carlos V
e foi vice-rei;
porque anadrio é a cor da alegria
e boa sorte.
E boa sorte!
E boa sorte!
E boa sorte!
Na época moderna outras pessoas
também viram objetos cor de anadrio
e suas sortes mudaram de forma radical.
Um pescador viu uma sereia
cuja cauda era da cor de anadrio
e, desde então,
pescou e pescou e pescou e agora
é dono de uma frota baleeira;
porque anadrio é a cor da alegria
e boa sorte.
E boa sorte!
E boa sorte!
E boa sorte!
Vendia jornais um menino,
sem meios para o almoço, marcado pela pobreza,
um dia no seu caminho viu uma pedra
que era, claro, cor de anadrio.
Esta criança agora é o maior acionista
de uma imensa cadeia de jornais;
porque o anadrio é a cor da alegria
e boa sorte.
Pinte você
as paredes de sua casa
da cor de anadrio
que vai lhe fazer bem.

Nota: Optei por deixar “anadrio” que é uma cor que só existe nos seus olhos quando brilham e não tem tradução em português, porém, suponho ser uma mistura de felicidade com prazer.

Ilustração: www.contocomverso.zip.net

Friday, July 25, 2008

UMA TRAIÇÃO A CUMMINGS

since feeling is first

e.e. cummings

since feeling is first
who pays any attention
to the syntax of things
will never wholly kiss you;

wholly to be a fool
while Spring is in the world

my blood approves,
and kisses are a far better fate
than wisdom
lady i swear by all flowers. Don't cry-
-the best gesture of my brain is less than
your eyelids' flutter which says
we are for eachother: then
laugh, leaning back in my arms
for life's not a paragraph
And death i think is no parenthesis

Desde que senti pela primeira vez

Desde que senti pela primeira vez
que se paga qualquer atenção
para a sintaxe das coisas
nunca deixei totalmente de pensar em lhe beijar;
certamente de ser um tolo
enquanto a primavera é o mundo
o meu sangue aprovou
e os beijos são uma sorte melhor
do que qualquer sabedoria,
minha linda, juro por todas as flores. Não chores
o melhor gesto do meu cérebro é menor
que um aceno com que suas pálpebras dizem
nós somos um para o outro: então
ria, inclinada para trás nos meus braços
que a vida não é um parágrafo
E eu penso que a morte não é parêntese

Ilustração: http://www.surita-farabotti.blogspot.com/

DOS TEMPOS

Lamento marítimo

Sorte, sorte porque me abandonaste?
E, logo quando, mais de ti preciso
para salvar, talvez, o meu espírito
porque meu corpo como acha arde
extinto sim, de forças, tão covarde
que, para nada mais, já tem vontade
nem mesmo de criar novo sentido.
Não digo que cansei de ter vivido,
nem dos nomes, das coisas e do tempo.
Apenas já não tenho nenhum alento,
nem como desfazer os descaminhos,
nem juntar os pedaços que ainda tento.
Quem sabe se imaginasse um mundo novo
ou desimaginasse tudo já passado
não me sobrasse além do desencanto
mesmo que fosse no canto mais perdido
um caminho de volta pros teus braços
e não me visse assim tão amarrado
num barco que pressinto naufragado.

DOCE CAPITU

BELAS TRAIDORAS

A ilusão! A ilusão! É bem mais importante
Que qualquer parcela de verdade.
Toda verdade é tão tola, ignorante
Da razão que guia nossa felicidade.

Não! Peço que não me contem! Não escuto.
Contra evidências valem mais os beijos
Doces realidades contra as quais não luto
E vem de encontro aos meus reais desejos.

Que importância tem se me apontam: o tolo!
Sou quem prova e aprecia o melhor bolo
Estranho, oblíquo, mágico do amor.

Que se lixem os que nunca saberão
Onde o êxtase e o encanto estão:
Nas meigas traidoras que amo sem temor.

Ilustração: http://www.beautful_angel.blogger.com.br/1161440817_www_glamurno_com_9.jpg

Thursday, July 24, 2008

SENTIMENTOS

BALADA DOS SONHOS PERDIDOS

Os sonhos jazem todos abandonados, secos, esquecidos.
Velhos brinquedos de uma criança adulta.
Os sonhos não mais existem.
Que outros, não eu, digam isto,
Embora saiba que o momento de sonhar passou.
Ó sonhos, por que não vos tornastes verdade?
Por que nos deixas assim, diante da realidade,
arída e insípida?

Os sonhos e os deuses não respondem,
De vez que é próprio do poder, calar.
Enquanto a esperança de novos tempos
Morre espremida na janela do engano
Insisto em desejar ainda um sonho
Mesmo quando este desejo
possa parecer loucura
E semelhante resistência à realidade
Sugira o louco que os insanos dizem são.

Se houvesse, ao menos, uma oportunidade...
Pequenina...um furo de agulha
Exisitira, enfim, uma razão plausível,
Para tão inglória luta,
Porém não há.
Na ausência do haver assim perdidos
Os sonhos permanecem na gaveta,
Adormecidos num sono eterno,
Qual estrelas que brilham na lama
Sem direito à imensidão do céu.

Tuesday, July 22, 2008

NOVAMENTE BLANCA VARELA

LA LECCIÓN

Blanca Varela

Como una moneda te apretaré entre mis manos
y todas las puertas cederán
y lo veré todo
y la sorpresa no quemará mi lengua
y comprenderé entonces el crecimiento de las plantas
y el cambio de pelaje en las pequeñas crías.
Hallaré la señal
y la caída de los astros
me probará la existencia de otros caminos
y que cada movimiento engendra dos criaturas,
una abatida y otra triunfante,
y en cada mirada morirá la apariencia
y desnudo y bello
te arrojará la fábrica entre nosotros.


A LIÇÃO

Como uma moeda te apertarei entre minhas mãos
e todas as portas cederam
e eu verei tudo
e a surpresa
não queimará minha língua
e eu compreenderei então o crescimento das plantas
e a mudança do pelo das pequenas crias.

Eu encontrarei o sinal
e a queda das estrelas
me provará a existência de outros caminhos
e que cada movimento gera duas criaturas,
uma abatida e outra triunfante,
e em cada olhar morrerá a aparência
e despido e bonito
te jogarei a fábrica entre nós.

SEJA LÁ COMO FOR...

Vou dizer...um dia

Não vou dizer teu nome.
Teu nome não vou dizer.
Só porque, aí, me consome
Esta ausência de querer.

Teu nome nunca digo.
Eu nunca dito teu nome.
Apenas com ele brigo
Se tua imagem me some.

Um dia direi teu nome
Com o doce som da alegria
De quem matou sua fome.
Sem ter esta nostalgia.

Ilustração: picasaweb.google.com/.../ej346wOfhZGTBPj4VH6ktQ

Monday, July 21, 2008

UMA POESIA DE T.S. ELIOT

Toilets

by T.S. Eliot

Let us go then, to the john,
Where the toilet seat waits to be sat upon
Like a lover's lap perched upon ceramic;
Let us go, through doors that do not always lock,
Which means you ought to knock
Lest opening one reveal a soul within
Who'll shout, "Stay out! Did you not see my shin,
Framed within the gap twixt floor and stall?
"No, I did not see that at all.
That is not what I saw, at all.

To the stall the people come to go,
Reading an obscene graffito.

We have lingered in the chamber labeled "Men"
Till attendants proffer aftershave and mints
As we lather up our hands with soap, and rinse.

Banheiros

Vamos, então, para o João,
Onde o assento da privada nos espera para sentar
Tal como uma amante com o colo sobre cerâmica;
Vamos, por portas que nem sempre tem fechaduras,
O que significa que você deve bater antes
Sob pena de abrir uma e revelar mais do que uma alma interna
Que vai gritar, "Parado aí! Você não consegue ver minha perna,
Enquadrada entre a fresta do chão e a porta do sanitário? "
Não, eu não vi em todos.
Não é isto que eu vi, em tudo.

Para os sanitários as pessoas vêm,
Para ler algum obsceno grafite.
Temos placas pregadas nas portas "Homens"
E atendentes oferecendo loção após barba e balas de hortelã
Como nós com as mãos lavadas com sabonete e enxaguadas.

Ilustração: www.usp.br/agen/rede478.htm

COISAS DO PASSADO

Drama

Derramar lágrimas de amor
Por um amor
Que não há.
Ameaçar morrer ou matar
Pelo amor de um melodrama,
Pelo prazer de ver
No rosto que se ama
A sombra de um remorso.
Beber...dois dias, três dias, uma semana
Escandalizando o mundo e as damas
Pelo conhecimento profundo do palavrão.
Depois curado
Achar tudo muito engraçado
Que, por tão pouco,
Se tenha feito tanto sem razão.

Ilustração: http://www.smuc.ac.uk/nick_photos/Drama-Phy-Th-index.jpg

Saturday, July 19, 2008

MAIS UM POEMA DA PERUANA BLANCA

ASÍ SEA

Blanca Varela

El día queda atrás,
apenas consumido y ya inútil.
Comienza la gran luz,
todas las puertas ceden ante un hombre
dormido,
el tiempo es un árbol que no cesa de crecer.
El tiempo,
la gran puerta entreabierta,
el astro que ciega.
No es con los ojos que se ve nacer
esa gota de luz que será,
que fue un día.
Canta abeja, sin prisa,
recorre el laberinto iluminado,
de fiesta.
Respira y canta.
Donde todo se termina abre las alas.
Eres el sol,
el aguijón del alba,
el mar que besa las montañas,
la claridad total,
el sueño.

Assim Seja

O dia de ontem
Apenas consumido e já inútil.
Começa a grande luz,
todas as portas cedem diante de um homem
adormecido,
o tempo é uma árvore que não cessa de crescer.
O tempo,
A grande porta entreaberta
O astro que os cega.
Não é com os olhos que se vê nascer
Esta gota de luz que será
que foi um dia.
Canta a abelha, sem pressa,
atravessa o labirinto iluminado,
em festa.
Respira e canta
Quando tudo termina abre as asas.
És o sol,
O aguilhão da madrugada,
a mar beija a montanha,
a claridade total,
o sono.

TRÊS POEMAS DE BLANCA VARELA

CURRICULUM VITAE

Blanca Varela

digamos que ganaste la carrera
y que el premio
era otra carrera
que no bebiste el vino de la victoria
sino tu propia sal
que jamás escuchaste vítores
sino ladridos de perros
y que tu sombra
tu propia sombra
fue tu única
y desleal competidora.

Curriculum Vitae

digamos que vencestes a corrida
e que o prêmio foi outra corrida
que não bebestes o vinho da vitória
mas o seu próprio sal
Jamais escutastes os hinos ao vencedor
mas sim o ladrar dos cães
e tua sombra
a tua própria sombra
foi tua única e desleal competidora.


HISTORIA

puedes contarme cualquier cosa
creer no es importante
lo que importa es que al aire mueva tus labios
o que tus labios muevan el aire
que fabules tu historia tu cuerpo
a toda hora sin tregua
como una llama que a nada se parece
sino a una llama

História

Podes me contar qualquer coisa
crer não é importante
o que importa é que o ar move teus lábios
ou que teus lábios movem o ar
que contes a tua história,
o teu corpo a toda hora
sem tréguas como
uma chama a que nada se parece
senão a uma chama


TODA LA PALIDEZ INEXPLICABLE ES EL RECUERDO

VII

Toda la palidez inexplicable es el recuerdo.

Travesía de muralla a muralla,
el abismo es el párpado,
allí naufraga el mundo
arrasado por una lágrima.

Toda a palidez inexplicável é a memória

VII

Toda palidez inexplicável é a memória.

Travessia de parede à parede,
O abismo é a pálpebra,
Ali naufraga o mundo
Destruído por uma lágrima.

Friday, July 18, 2008

HISTÓRIA COMUM






Flor da Ruína

Que de tudo necessitava para destruir
Era uma realidade que não sabia explicar
E explicava que, se as coisas não quebrassem,
Os comerciantes não venderiam nada.

Mas, no íntimo, sofria com tal mistério.
Ainda mais por ter as coisas e as pessoas
Como um complemento do prazer de viver
No qual, sem saber, se incluía o destruir

E funcionava como uma espécie de magia
Porque, no fundo, os que queriam afundar
Descobriam, num olhar, o seu destino-
Que não se negava como não costuma.

E logo, numa onda, em espuma morria
Toda vontade e o naufrago a se arrastar
Consentia em ir, ao léu, pelo mar de sua agonia
Mole, fraco, frágil e , ao fim, masoquista.

Ela nem sentia nas conquistas prazer
Tanto que mudava de par e de sexo
Na busca infrutífera de mudar seu ser
Que rosa do lôdo vicejava no esgoto.

Assim, pouco a pouco, sua grandeza
Em realeza convertida ganhou os salões
E a mulher da vida virou grande dama,
Mas, seus feitos na cama não a satisfaziam.

De forma que arranjou formas de ruir
Quem a elevou e muitos, muitos mais,
Numa fúria de destruição tão cruel
Que a si mesmo envenenou e matou

Sem precisar mais do que palavras,
Seu sexo ardente, sua naturalidade
Em se dar e dspertar fortes paixões
Que seu instinto não negava em satisfazer.

E eram muitos a procura-lá como um farol
De luxúria, gozos e gastos exagerados
E eles eram mais culpados por se apegar
Ao que sabiam ser sua fatal ruína.

Ela era só uma menina que se queixava
De que mal gostava de seu brinquedo
Este acabava destruído por um mundo
Que nunca lhe satisfez os sentidos.

UM POEMA DE ALDINGTON

Daisy

Richard Aldington


You were my playmate by the sea.
We swam together.
Your girl's body had no breasts.

Today I pass through the streets.
She who touches my arm and talks with me
Is who knows? Helen of Sparta,
Dryope, Laodamia.

And there you are
A whore in Oxford Street.


Daisy

Você foi minha companheira pelo mar.
Nós nadamos juntos. Seu corpo de menina não tinha seios.
Hoje eu passo pelas ruas.
Ela quem toca meu braço e fala comigo
Você sabe quem sou? Helena de Esparta,
Dryope, Laodâmia.
E aí está você

SIMPLESMENTE BORGES

A LUIS DE CAMOENS

Jorge Luis Borges

Sin lástima y sin ira el tiempo mella
Las heroicas espadas. Pobre y triste
A tua pátria nostálgica volviste,
Oh Capitán, para morir en ella
Y con ella. En el mágico disierto
La flor de Portugal se habia perdido
Y el áspero espanhol antes vencido
Amenazaba sua costado abierto.
Quiero saber si aquen de la ribera
Última comprendiste humildemente
Que todo lo perdido, el Occidente
Y el Oriente, el acero e la bandera
Perduraria (ajeno a toda humana
Mutación) en tu Eneida lusitana.


A LUIS DE CAMÕES

Sem lástima nem ira o tempo há enferrujado
As heróicas espadas. Pobre e triste
A tua pátria saudoso voltaste
Oh! Capitaão, para ser nela enterrado
E com ela. No mágico deserto
A flor de Portugal se havia perdido
E o áspero espanhol antes vencido
Ameaçava o seu costado aberto.
Quero saber, se aquém da ribanceira
Ùltima, compreendeste humildemente
Que tudo que se perdeu, o Ocidente,
E o Oriente, as armas e a bandeira,
Perdurará (alheio a toda humana
Mudança) na tua Eneida lusitana.

Ilustração: http://www.arquimedeslivros.com/loja/images/camoes.jpg

Thursday, July 17, 2008

AMOR EM TEMPOS DE INDIFERENÇA

OS VELHOS CASAIS

Vivemos na mesma casa. O quarto é comum,
Comum a cama, a insatisfação do fim de semana,
A imensa solidão que nos afasta e irmana
Nossos corpos que, de dois, não faz nenhum.

Vivemos a mesma vida. Mas que vida?
Um arrastar de espectros medíocres
Incapazes de gritar contra a medida
Social que nos torna mortos, biltres.

Vivemos o mesmo pesadelo. No espelho
As marcas do tempo, olhos vermelhos,
Sem chorar nos sentimos até fortes.

Vivemos o mesmo tédio. A coragem,
Que nos falta, nos serve de pajem
E nem precisamos esperar por nossas mortes.

É UM CICLO

TENTAÇÃO




E quando na noite o amor acontece
Selvagem, sempre cego de paixão,
Acredito que o amor é uma ilusão,
No entanto o existir permanece.

E quando a manhã tudo esclarece
Sob o brilho do sol e da floresta
A vida toda até parece uma festa
E me junto aos mais fíeis em uma prece

E mal a tarde morre lentamente
De volta toda dúvida me assalta
Por ter tanto desejo tão latente

E bem embriagado logo almejo
Parar o coração que já me salta
Na sensação deliciosa de outro beijo.


Ilustração: http://www.blackheath-gallery.co.uk/imag-sp2005/gorg.jpg

Wednesday, July 16, 2008

WILLIAM BLAKE

Likable Wilma

by William Blake


Wilma, Wilma, in thy blouse,
Red-haired prehistoric spouse,
What immortal animator
Was thy slender waist's creator?
When the Rubble clan moved in,
Was Betty jealous of thy skin,
Thy noble nose, thy dimpled knee?
Did he who penciled Fred draw thee?
Wilma, Wilma, burning bright, ye
Cartoon goddess Aphrodite,
Was it Hanna or Barbera
Made thee hot as some caldera?


Adorável Wilma
Wilma, Wilma, na tua blusa,
Cabelos vermelhos pré-históricos do marido,
Que imortal animador
Foi o criador da tua esbelta cintura?
Quando a clã movia-se nos escombros,
Betty teve inveja de tua pele,
Do teu nobre nariz, da covinha de teu joelho?
Foram eles por Fred desenhados?
Wilma, Wilma, queimando brilhante, vós
Deusa dos quadrinhos, Afrodite,
Foi Hanna ou Barbera
Quem te fez tão quente como uma caldeira?

E. E. CUMMINGS

Nice smug me

by e. e. cummings

this here verse's
disjuncti
i used to
stick to regular metered
poetry
now i write onetwothreefourfive poemsjustlikethat
Jesus

but this is simple work
and what i want to know is
how much am i going to get paid for this
mister editor

Sinto-me orgulhoso
Estes versos aqui
desconjuntados
Eu usei
para esticar a métrica
da poesia
agora eu escreverei umdoistresquatrocincopoemascertoscomo
Jesus

mas este trabalho é simples
e o que eu quero saber
é quanto vou receber de pagamento por este
Mister editor

Tuesday, July 15, 2008

NATURALMENTE SIMPLES

A COMPLEXIDADE DE UM SIMPLES

Ser simples costuma ser complexo.
Agarro-me em idéias que me agarram
Enquanto só me valia saudável, o sexo,
Que as conveniências todas barram.

Ultrapasso na mente os grilhões
Que, na vida, realmente, não ultrapasso
E meu avanço se traduz em escorregões
Que são sem ritmo, melodia ou compasso.

Se eu fosse simples...com que alegria
Não aceitaria o que me acontecia,
Mas, minha simplicidade é tão complexa
Que mesmo sem arco dispara a flecha.

Na verdade sou toda a sabedoria
Que, em dez mil anos, foi acumulada.
Sou o antes, a história, a pré-história.
Um resumo de tudo que não diz nada.

Monday, July 14, 2008

O SONHO É O REAL

PONTOS DE PARTIDA
Os teus peitinhos!
Os teus peitinhos!
Amo vê-los assim durinhos,
eretos, excitados.
Os teus petinhos!
Os teus peitinhos!
Em azeitonas negras terminados
São fonte e gozo de todos meus pecados.
Os teus peitinhos!
Os teus petitinhos!
Me lembram sempre
que tu és criança
(por mais que o tempo já tenha passado)
E mais ainda criança sou
Que não posso vê-los
Sem pensar em amor!

A REALIDADE É IRREAL

NA PONTA DOS PÉS

O teu pézinho dançando
sem motivo
Faz minha imaginação
também dançar.
Penso em beijá-lo
como aperitivo
Do corpo todo
que vivo a desejar.
Será uma festa! Meu Deus,
como será!
Beijar teus pés, desnudos,
perfumados,
Uma vitória do amor
mais deslavado
E a certeza de um tempo
iluminado.

Friday, July 11, 2008

Seja Rebelde

Que é tudo veloz
Que é tudo rápido
Atestam as luzes que se afastam,
As palavras que se dissolvem,
As imagens que desaparecem.

Sei que te ofereceram um controle remoto,
Que te deram um veículo sem limites
Que te disseram que podes ir e voltar à vontade
Que tens a mais completa liberdade.

Não creia!Não creia!
Escapa mentalmente
Faz de conta que acredita,
Porém, saibas
Que só serás livre
Enquanto não aceitar
O que aí está
E brincar como criança
Com as regras
Fazendo apenas tua vontade.

Se segues a lógica da velocidade
Será mais um robô,
Um boi na manada.
O que fazes não significará nada
E tua alma,
Para sempre, estará perdida.

Ilustração:http://baixaki.ig.com.br/imagens/wpapers/BXK15424_velocidade_maxima800.jpg

VIVER SE VIVE DE QUALQUER JEITO

Violência

Tenho medo de lâminas
Assim como tremo
Só de pensar em revolveres.
As balas, porém, já fazem
Parte do cotidiano
Incorporadas à paisagem,
Nos buracos e nos sons,
Como um trem no interior.
Com tudo nos acostumamos,
Mas, a ausência da tua voz,
Querida, é algo desumano.
É um peso insuportável
No meu coração
Sem contar o vazio
Que se espalha por todo lugar
E a maior das violências
Que é não poder te amar.

Ilustração: http://abyssusabyssuminvocat.zip.net/

É CLARO QUE O CASAL XX EXISTE

Casal Feliz

Quem nos vê abraçados
Trocando juras de amor
Há de ficar encantado
Com tanto amor.

Quem nos vê sorridentes
Sem brigas e sem dramas
Há de pensar que, entre nós,
A felicidade aportou,
Mas, é apenas na cama
Que se conhece o amor.

Eu represento, ela finge.
Tudo parece normal.
Ela é feliz em outros braços,
Em outros braços, tentei
Porém, é tudo tão louco
Que, de verdade, não sei
Se ela, alguma vez, me amou
Se, alguma vez, a amei.

E trocamos juras de amor.
Todos dizem: São tão felizes!E nosso amor vive em crises
Numa calma tão total
Que nem as paredes discordam
Que somos o par ideal.

(De Poemas Mal-Comportados)
Ilustração: http://www.madrugadeiro.blogger.com.br/

Thursday, July 10, 2008

JULHO...JULHOS...

Estopim

O vento frio da manhã batia no seu rosto
E ela seguia com o olhar, indiferente ao tempo,
Uma estrela invisível, que não se percebia
Tão enevoado andava o cinza céu de julho.

Impossível saber que nela viviam calmas
Duas almas incapazes de viverem juntas,
Mas, a suavidade, a graça de suas feições
Escondiam um ar selvagem de paixão, se acaso,

Por pouco caso, se acendia a chama do desejo
Ainda que numa manhã feita para o leito
E o sono. O abandono a um beijo soltava
Nela a fera que queria morder, gritar, amar.

(Do livro A Alquimia da Vida, Editora Castanheira, Laser Print, 1999).

LAMPEJOS

OPERAÇÃO

Não há remédios que curem
A dor de tantas feridas
Feitas por espadas velozes
Nos combates pela vida.
Nem adianta ouvir vozes.

Aberto o meu coração
Derrama dor e lamentos
Se desmancha em sentimentos
Que nem sei para onde vão.
Todos são folhas ao vento.

Porém, em tudo que existe
A dor está sempre presente.
Não sei se a vida é que é triste
Ou se o coração da gente-
Sempre a dúvida persiste.

(Do livro A Alquimia da Vida, Editora Castanheira, Laser Print, 1999).

Wednesday, July 09, 2008

AINDA NERUDA

SI TÚ ME OLVIDAS

Pablo Neruda

Quiero que sepas
una cosa.
Tú sabes cómo es esto:
si miro
la luna de cristal, la rama roja
del lento otoño en mi ventana,
si toco
junto al fuego
la impalpable ceniza
o el arrugado cuerpo de la leña,
todo me lleva a ti,
como si todo lo que existe,
aromas, luz, metales,
fueran pequeños barcos que navegan
hacia las islas tuyas que me aguardan.
Ahora bien,
si poco a poco dejas de quererme
dejaré de quererte poco a poco.
Si de pronto
me olvidas
no me busques,
que ya te habré olvidado.
Si consideras largo y loco
el viento de banderas
que pasa por mi vida
y te decides
a dejarme a la orilla
del corazón en que tengo raíces,
piensa
que en ese día,
a esa hora
levantaré los brazos
y saldrán mis raíces
a buscar otra tierra.
Pero
si cada día,
cada hora
sientes que a mí estás destinada
con dulzura implacable.
Si cada día sube
una flor a tus labios a buscarme,
ay amor mío, ay mía,
en mí todo ese fuego se repite,
en mí nada se apaga ni se olvida,
mi amor se nutre de tu amor, amada,
y mientras vivas estará en tus brazos
sin salir de los míos.


Se tu me esqueces

Quero que saibasuma coisa.
Tu sabes como é isto:
se olho a lua de cristal,
as folhas vermelhas
do lento outono de minha janela,
se toco junto ao fogo
a cinza impalpável
ou o áspero corpo da lenha,
tudo me leva a ti,
como se tudo o que existe,
aromas, luzes, metais,
fossem pequenos barcos que navegam
até as tuas ilhas que me aguardam.
Agora bem,
se pouco a pouco deixas de me querer
deixarei de te querer pouco a pouco.
Se de repente me esqueces
não me procures,
que já terei te esquecido.
Se me consideras expansivo e louco
o vento de bandeiras
que passa por minha vida
e te decides
a deixar-me à margem do coração
em que tenho raízes,
pensa que nesse dia,
a essa hora
erguerei os braços
e sairão minhas raízes
em busca de outra terra.
Porém,
se a cada dia,
a cada hora sentes
que estás a mim destinada
com implacável doçura.
Se cada dia
sobe uma flor
em teus lábios a me buscar,
aí amor meu, aí minha amada,
em mim todo este fogo se repete,
em mim nada se apaga nem se esquece,
Meu amor se alimenta de teu amor, amada,
e enquanto viveres estarás em teus braços
sem sair dos meus.

Tuesday, July 08, 2008

UM POEMA DA JUVENTUDE

MEDITACIÓN BAJO LA LLUVIA
(Fragmento)
Frederico Garcia Lorca
3 de Enero de 1919

A José Mora

Ha besado la lluvia al jardín provinciano
dejando emocionantes cadencias en las hojas.
El aroma sereno de la tierra mojada
inunda el corazón de tristeza remota.

Se rasgan nubes grises en el mudo horizonte.
Sobre el agua dormida de la fuente, las gotas
se clavan, levantando claras perlas de espuma.
Fuegos fatuos que apaga el temblor de las ondas.
La pena de la tarde estremece a mi pena.
Se ha llenado el jardín de ternura monótona.
¿Todo mi sufrimiento se ha de perder, Dios mío
,como se pierde el dulce sonido de las frondas?
¿Todo el eco de estrellas que guardo sobre el alma
será luz que me ayude a luchar con mi forma?
¿Y el alma verdadera se despierta en la muerte?
¿Y esto que ahora pensamos se lo traga la sombra?
¡Oh, qué tranquilidad del jardín con la lluvia!
Todo el paisaje casto mi corazón transforma,
en un ruido de ideas humildes y apenadas
que pone en mis entrañas un batir de palomas.
Sale el sol. El jardín desangra en amarillo.
Late sobre el ambiente una pena que ahoga,
yo siento la nostalgia de mi infancia intranquila,
mi ilusión de ser grande en el amor,
las horaspasadas como ésta contemplando la lluvia
con tristeza nativa. Caperucita roja
iba por el sendero...Se fueron mis historias,
hoy medito, confuso,
ante la fuente turbia que del amor me brota.
¿Todo mi sufrimiento se ha de perder, Dios mío,
como se pierde el dulce sonido de las frondas?
Vuelve a llover.
El viento va trayendo a las sombras.


Meditação sob a Chuva
(Fragmentos)

Quando a chuva beijou o jardim provinciano
Provocou emocionantes tremores nas folhas.
E o aroma sereno da terra molhada
Inundou o coração de uma tristeza remota.

Se rasgam nuvens cinzas no mudo horizonte.
Sobre a água dormida da fonte, as gotas
Se cravam, levantando claras pérolas de espumas.
Fogos fátuos que apagam o ondular das ondas.

A tristeza da tarde estremece minha pena.
Isolado o jardim de uma ternura monótona.
Todo o meu sofrimento será perdido? Deus meu,
Como se perde o doce sonata das folhagens?
Todo o eco das estrelas que guardo na alma
será a luz que me ajuda a lutar com a minha forma?
E a alma verdadeira só desperta na morte?
E isto que agora pensamos só nos traz as sombras?
Oh! Que tranqüilidade do jardim com a chuva!
Toda a paisagem pura meu coração transforma,
Num ruído de idéias humildes e dolorosas
Que me soam nas entranhas como um voar de pombas.

Sai o sol. O jardim sangra amarelo.
Pulsa sobre o ambiente como uma pena que se afoga,
Eu sinto a saudade de minha infância intranqüila,
Minha ilusão de ser grande no amor, as horas
Passadas como estas contemplando a chuva
Com uma tristeza nativa. Chapeuzinho vermelho
Ia por um caminho...
Se foram minhas histórias, hoje medito, confuso
Ante a fonte turva que do amor me brota.

Todo o meu sofrimento perdido, Deus meu,
Como se perde a doce sonata das folhagens?

Volta a chover.
O vento vai trazendo as sombras.

TRAINDO NERUDA

Soneto XLIV

Pablo Neruda

Sabrás que no te amo y que te amo
puesto que de dos modos es la vida,
la palabra es un ala del silencio,
el fuego tiene una mitad de frío.
Yo te amo para comenzar a amarte,
para recomenzar el infinito
y para no dejar de amarte nunca:
por eso no te amo todavía.
Te amo y no te amo como si tuviera
en mis manos las llaves de la dicha
y un incierto destino desdichado.
Mi amor tiene dos vidas para amarte.
Por eso te amo cuando no te amo
y por eso te amo cuando te amo.
Soneto XLIV

Saberás que não te amo e que te amo
porque de dois modos é feita a vida,
a palavra tem sua asa de silêncio,
e o fogo tem sua metade de frio.
Eu te amo para começar a te amar,
E para retomar o infinito como via
e para não deixar nunca de te amar:
Só por isto não te amo, todavia.
Te amo e não te amo como se tivesse
Nas minhas mãos as chaves da sorte
E de um incerto e infeliz destino.
Meu amor tem duas vidas para te amar.
Por isto te amo quando não te amo
E por isto te amo quando te amo.

SONHAR...DEIXE-ME SONHAR


VISÃO


Eu a vi nua
Eu a vi nua
Completamente nua
Linda, clara, alva
Como a lua
Como a lua
Eu a vi nua.


Não sei se foi um sonho
Não sei se foi uma viagem
Toda a beleza e o encanto da imagem
Que, em mim, se perpetua.

Não importa se miragem ou ilusão
Eu a vi nua
Eu a vi nua
Linda e inacessível
Como a lua
Como a lua.

Monday, July 07, 2008

UM SALMO

Psalm

George Oppen

In the small beauty of the forest
The wild deer bedding down --
That they are there!

Their eyes
Effortless, the soft lips
Nuzzle and the alien small teeth
Tear at the grass

The roots of it
Dangle from their mouths
Scattering earth in the strange woods.
They who are there.

Their paths
Nibbled thru the fields, the leaves that shade them
Hang in the distances
Of sun

The small nouns
Crying faith
In this in which the wild deer
Startle, and stare out.


Salmo

Na pequena beleza da floresta
O selvagem cervo veio abaixo
Lá onde elas estão!

Seu olhos
Sem esforço, os macios lábios
Tremem com os pequenos dentes estranhos.
Lágrimas na grama.

As raízes dela
Atingindo sua boca
Difundindo no chão
Estranhas madeiras.
Elas que estão lá.

Seus caminhos
Riscando os campos, as folhas que os ensombrecem
Enforcando as distâncias
De sol

Os pequenos termos
Gritando fé
No local onde o cervo caiu
E assustado fita o infinito.

Saturday, July 05, 2008

DUAS POESIAS DE LETELIER

Teoría de los zapatos

Elías Letelier

Quiero pedir permiso.
¡No quiero molestar a nadie!
Olvídense de mí por un momento:
demos paso a cosas más esenciales.
Ocurre,
por ejemplo,
que siempre me han impresionado los zapatos:
son tan vanidosos como las aceitunas,
y arrogantes como las farmacias;
y aunque yo no estoy de acuerdo,
a veces parecieran que ellos son
lo único valioso que ambula por las calles.
Tiene tanta personalidad como una mueblería;
pasan por tantas partes,
ignorando tantas cosas de los caminos,
que me aterra no saber lo que piensan.
Son tan interesantes sus vidas,
que otro día,
cuando tenga más papel,
apareceré en otra página
para hablarte
de la teoría de los cordones.
¡Muchas gracias!

Silence. Montreal: The Muses Company, 1992
A teoria dos sapatos
Quero pedir permissão.
Não quero aborrecer ninguém!
Esqueça-me por um momento:
como primeiro passo as coisas mais essenciais.
Ocorre, por exemplo,
que sempre me impressionou sapatos:
são tão vaidosos como azeitonas,
e arrogantes como as farmácias;
e embora eu não concorde,
às vezes parece que eles são
a única coisa valiosa que passeia pelas ruas.
Eles têm tanta personalidade como um mobiliário;
passam por tantas partes,
ignorando tantas coisas nos caminhos,
que me aterra saber o que pensam.
Eles são tão interessantes nas suas vidas,
que, outro dia,
quando tiver mais papel,
aparecerei em outra página
para falar-te
sobre a teoria dos cordões.
Obrigado!

Silêncio. Montreal: A Companhia das Musas. 1992.



Mientras estabas durmiendo

a Monique Girard

Cuando pregunté por la noche,
alguien salió corriendo
y gritó.
Tuve miedo.
No podía encontrar tus ojos:
todo estaba cubierto de hojas secas.
Grité:
¡Tráiganme la oscuridad!
Y después que la última luciérnaga
cayera ejecutada por una sandalia de plástico,
sólo vi al humo
colgando de un alambre,
mirando al vacío con estupor.
Una manzana pasó volando
y el aire clandestino, prófugo,
me acarició imitando al rocío
y cantando trajo, cauteloso,
tus ojos que dormían junto a mí.
Silence. Montreal: The Muses Company, 1992.

Enquanto estavas dormindo

Quando perguntei pela noite,
Alguém saiu correndo e gritou.
Teve medo.
Não poderia encontrar teus olhos:
tudo estava coberto de folhas secas.
Gritei:
Tragam-me a escuridão!
E, depois que o último vaga-lume caiu
executado por uma sandália de plástico,
só viram a fumaça
pendurada por um fio,
olhando com estupor para o vazio.
Uma maçã passou voando
e o ar clandestino, evasivo,
me acariciou imitando o orvalho
e cantando trouxe, cauteloso,
teus olhos que dormiam do meu lado.

UMA POETISA CHILENA

Sentencia

Alejandra Ziebrecht

Como un condenado
a muerte
se aísla tu recuerdo
tan humano
el tan constante
se me olvida a veces
cuando quiero dibujarlo
gritarlo en un bar
hacerlo diatriba
En algún lugar de mi memoria
(terrorista arrepentido)
me traiciona
empuña mis heridas
enrodado
insurrecto
roba alas al calendario
como si no bastase este sol a media asta
la calle bordada de esqueletos
y este cigarrillo interminable
con que enfrento
tu lento caminar
al paredón.
ENROMPECAIDA, “Entredicho” Pp. 23, 1995


A Sentença

Tal como
uma condenação
a morte
A sua memória isolada
tão humana
e tão constante
Eu esqueço às vezes
quando quero desenhá-lo
gritá-lo no bar
fazer diatribes.
Em algum lugar minha memória
(terrorista arrependido)
Me trai
empunhando minhas feridas
enredado
rebelde
roubando asas do calendário
como se não bastasse este sol a meia haste
a rua bordada de esqueletos
e este interminável cigarro
com que enfrento
seu lento caminhar
para o paredão.

UM POETA CHILENO

Confesiones más o menos espontâneas

Thomas Harris

Tengo el vientre tibio
como todas las mujeres vivas.
Tengo, aúnlos pechos erguidos
y llenos de pulpa y jugo,
como los chupones del bosque.
pero no se te ocurra chupar,
no tragues,
mi leche está envenenada.
Ayer nomás tuve contacto carnal con
el Can.

Confissões mais ou menos espontâneas

Tenho a barriga quente
como todas as mulheres vivas.
Tenho, ainda
Os seios erguidos e plenos de polpa
e de suco, como açaizeiros da floresta.
Porém, não pretendas chupar,
Nem engolir,
Meu leite está envenenado.
Ainda ontem tive um contato sexual
com satanás.

Wednesday, July 02, 2008

TRÊS POEMAS DE MEMET

La influencia de las cosas

José Maria Memet


Una sociedad del pensamiento
debiera notar
que todos están muertos.

A influência das coisas

Uma sociedade do pensamento
deveria notar
que todos estão mortos.


Epílogo

Ya entiendo, no hay problema,
todos caminan hacia el pasado.
Es por eso que no veía a nadie
mientras avanzaba.

Epílogo

Já entendo, não há problema,
todos caminham até o passado.
É por isto que não vi ninguém
enquanto avançava.

OUTRA POESIA DE JULIA

Yo misma fui mi ruta

Julia de Burgos

Yo quise ser como los hombres quisieron que yo fuese:
un intento de vida;
un juego al escondite con mi ser.
Pero yo estaba hecha de presentes,
y mis pies planos sobre la tierra promisor
ano resistían caminar hacia atrás,
y seguían adelante, adelante,
burlando las cenizas para alcanzar el beso
de los senderos nuevos.
A cada paso adelantado en mi ruta hacia el frente
rasgaba mis espaldas el aleteo desesperado
de los troncos viejos.

Pero la rama estaba desprendida para siempre,
y a cada nuevo azote la mirada mía
se separaba más y más y más de los lejanos
horizontes aprendidos;
y mi rostro iba tomando la expresión que le venía de adentro,
la expresión definida que asomaba un sentimiento
de liberación íntima;
un sentimiento que surgía
del equilibrio sostenido entre mi vida
y la verdad del beso de los senderos nuevos.

Ya definido mi rumbo en el presente,
me sentí brote de todos los suelos de la tierra,
de los suelos sin historia,
de los suelos sin porvenir,
del suelo siempre suelo sin orillas
de todos los hombres y de todas las épocas.

Y fui toda en mí como fue en mí la vida...

Yo quise ser como los hombres quisieron que yo fuese:
un intento de vida;
un juego al escondite con mi ser.
Pero yo estaba hecha de presentes;
cuando ya los heraldos me anunciaban
en el regio desfile de los troncos viejos,
se me torció el deseo de seguir a los hombres,
y el homenaje se quedó esperándome.


Eu mesma fiz minha rota


Eu quis ser como os homens queriam que eu fosse:
uma tentativa de vida;
um jogo de esconder-me de mim mesma.
Porém, eu estava cheia de presentes,
E meus pés postos sobre a terra promissora
não relutavam em caminhar atrás,
e continuavam em frente, em frente,
contornando as cinzas para alcançar o beijo dos novos caminhos.

A cada passo dado no meu caminho em frente
rasgava meus ombros na passagem
desesperada por velhos troncos.
Porém, os galhos estavam desprendidos para sempre,
e a cada novo açoite nos meus olhos me separava
cada vez mais e mais e mais distante do horizontes conhecidos;
e meu rosto foi tomando a expressão que vinha do interior,
a expressão definida que assomava
do sentimento de uma liberação intima;
Um sentimento que surgia
Do equilíbrio sustentado entre a minha vida
e da verdade dos beijos dos novos caminhos.

Já definidos meus rumos no presente,
eu me senti brotar de todos os cantos da terra,
de solos sem história, de solos sem futuro,
de solos, sempre solos, sem fronteiras
de todos os homens e de todas as épocas.

E fui toda eu como fui em minha vida....

Eu quis ser como os homens queriam que eu fosse:
uma tentativa de vida;
um jogo de esconder-me de mim mesma.
Porém, eu estava cheia de presentes,
e quando os arautos me anunciaram
o desfile real dos velhos troncos,
eu resisti ao desejo de continuar a seguir os homens,
e a homenagem ficou lá me esperando.

Tuesday, July 01, 2008

UMA GRANDE POETISA DE PORTO RICO




Julia de Burgos

Este corazón mío, tan abierto y tan simple,
es ya casi una fuente debajo de mi llanto.

Es un dolor sentado más allá de la muerte.
Un dolor esperando... esperando... esperando...

Todas las horas pasan con la muerte en los hombros.
Yo sola sigo quieta con mi sombra en los brazos.
No me cesa en los ojos de golpear el crepúsculo,
ni me tumba la vida como un árbol cansado.
Este corazón mío, que ni él mismo se oye,
que ni él mismo se siente de tan mudo y tan largo.
¡Cuántas veces lo he visto por las sendas inútiles
recogiendo espejismos, como un lago estrellado!
Es un dolor sentado más allá de la muerte,
dolor hecho de espigas y sueños desbandados.
Creyéndome gaviota, verme partido el vuelo,
dándome a las estrellas, encontrarme en los charcos.¡
Yo que siempre creí desnudarme la angustia
con solo echar mi alma a girar con los astros!¡
Oh mi dolor, sentado más allá de la muerte!
¡Este corazón mío, tan abierto y tan largo!

Poema da intima agonia

Este coração meu tão aberto e tão simples,
é já quase uma fonte debaixo do meu pranto.
É uma dor sentida além da morte.
Uma dor esperando ... esperando ... esperando ...
Todos as horas passam com a morte sobre os ombros.
E só sigo quieto com a sombra ainda nos braços.
Não me cessa os olhos de golpear o crepúsculo,
Nem meu túmulo a vida como uma árvore cansada.
Este coração meu, que nem mesmo se ouve,
que nem ele mesmo se sente tão mudo e tão largo.
Tantas vezes o vejo por caminhos inúteis
recolhendo centelhas como num lago estrelado!
É uma dor sentida além da morte,
dor de espigas secas e sonhos debulhados.
Crendo-me gaivota com o vôo impedido,
Sonhando com estrelas, caindo nos pântanos.
Eu que sempre acreditei derrubar minha angústia
Fazendo minha alma girar com os astros!
Oh minha dor, sentida além da morte!
Este coração tão aberto e tão largo!

A GRANDE DAMA DA POESIA PARAGUAIA

Invención de la muerte

Josefina Plá

Esa sombra
La veréis alargarse cada vez como un agua vertida
sin remedio
como un manto cayendo despacio de sus hombros
como si fuese él mismo arrepentido que quisiera
volver sobre sus pasos
-reptil de limpia muerte sin cadáver-

La veréis ahilar su arroyo
sobre un suelo
por siempre horizontal a la aventura
Y será también la única
que dormirá con él reconciliada
con la sombra total
de que se desgajó
enemiga de todos los espejos un día.

A Invenção da morte

Esta sombra
A vereis alargar-se cada vez mais como uma água vertida
Sem remédio
Como um manto caindo devagar sobre seus ombros
Como se fosse ele mesmo arrependido que quisesse
Voltar sobre seus passos
-réptil de uma morte limpa sem cadáver-

A vereis aninhar suas lágrimas
Sobre um solo
Para sempre horizontal à aventura

E será a única vez
Que dormirá com ela reconciliada
Com a sombra total
Da qual se despedaçou
Inimiga de todos os espelhos um dia.

DESPEDAÇADOS

O que era mistério, doçura, desejo
se revelou, com um beijo,
constante tentação,
porém, o tempo,
cruel carrasco da beleza,
a liberdade do prazer
prendeu na jaula do cotidiano
e a glória dos grandes momentos
se tornou apenas a repetição sistemática
da mesma peça, igual, estática.
E agora o que foi delícia
É só monotonia.
E o que era sublime,
banal;
E o que era sonho,
só desilusão.
E o todo do que fomos
são só partes
de um quebra-cabeças
sem possibilidades
de ser resolvido.