Tuesday, December 31, 2013

Mistura fina


A vida são meus sonhos.
Sonhos simples: acordar em dias de não querer nada
e fazer amor nas manhãs, nas tardes,  nas madrugadas...
Comer uma refeição leve, frugal
ou uma refeição  desesperada
que, de tudo provando, nada mais se almeja.
Beber..uma cerveja, um copo de vinho,
uma taça de champanha que seja
em Buenos Aires, em Praga ou Portugal,
quem sabe em Búzios,
ou mesmo em Santarém.
Se, ao teu lado, estiver bem.
e me deixar ficar feliz
com o teu olhar,
doce como alfinim,
que me faz misturar vida
e sonho, enfim.


Monday, December 30, 2013

Neruda, uma vez mais


Poema V

Pablo Neruda

Para que tú me oigas
mis palabras
se adelgazan a veces
como las huellas de las gaviotas en las playas.

Collar, cascabel ebrio
para tus manos suaves como las uvas.

Y las miro lejanas mis palabras.
Más que mías son tuyas.
Van trepando en mi viejo dolor como las yedras.

Ellas trepan así por las paredes húmedas.
Eres tú la culpable de este juego sangriento.

Ellas están huyendo de mi guarida oscura.
Todo lo llenas tú, todo lo llenas.

Antes que tú poblaron la soledad que ocupas,
y están acostumbradas más que tú a mi tristeza.

Ahora quiero que digan lo que quiero decirte
para que tú las oigas como quiero que me oigas.

El viento de la angustia aún las suele arrastrar.
Huracanes de sueños aún a veces las tumban

Escuchas otras voces en mi voz dolorida.
Llanto de viejas bocas, sangre de viejas súplicas.
Ámame, compañera. No me abandones. Sígueme.
Sígueme, compañera, en esa ola de angustia.

Pero se van tiñendo con tu amor mis palabras.
Todo lo ocupas tú, todo lo ocupas.

Voy haciendo de todas un collar infinito
para tus blancas manos, suaves como las uvas.

Poema V

Para que tu me ouças
minhas palavras
se adelgaçam às vezes
como as voltas das gaivotas nas praias .

Colar, cascavel ébrio,
para as tuas mãos suaves como as uvas .

E vejo distante as minhas palavras.
Mais do que minhas são tuas.
Vão trepando na minha velha dor como nas pedras.

Elas trepam assim pelas paredes úmidas .
És tu a culpada deste jogo sangrento.

Elas estão fugindo da minha guarida escura.
Toda cheia de tu, toda cheia.

Antes que tu povoaram a solidão que ocupas,
e elas estão mais acostumados a minha tristeza do que tu.

Agora quero que digam o que quero dizer-te
para que tu ouças como quero que tu ouças.

O vento da angústia ainda as podem arrastar.
Furacões de sonhos ainda, às vezes, podem derrubá-las,

Ouça outras vozes na minha voz dolorida.
Pranto de velhas bocas, sangue de velhas súplicas.
Ama-me, companheira. Não me deixes. Segue-me.
Segue-me, companheira, nesta onda de angústia.

Porém, se vão tingindo com o amor minhas palavras.
Todas o ocupas tu, tudo ocupas.

Vou fazendo de tudo um colar infinito
para as tuas brancas mãos, suaves como uvas.

Sunday, December 29, 2013

Pedido de ano novo


Ah! Ano novo!
Preciso que venhas pleno de alegrias
colocando açúcar na boca do meu amor
e doçura nos seus olhos
para que o mundo seja, como o nosso amor,
maior que as amarguras.

Não peço o descanso apenas,
que a luta, como a dor,
é da vida ingrediente.
Peço somente
que os frutos sejam,
como os das boas sementes,
lavradas na terra fértil e profunda,
e que nos façam felizes...
imensamente!


Ilustração: br.freepik.com 

Gonzalo Arango


La salvaje esperanza

Gonzalo Arango

Eramos dioses y nos volvieron esclavos.
Eramos hijos del Sol y nos consolaron con medallas de lata.
Eramos poetas y nos pusieron a recitar oraciones pordioseras.

Eramos felices y nos civilizaron.
Quién refrescará la memoria de la tribu.
Quién revivirá nuestros dioses.
Que la salvaje esperanza sea siempre tuya,
querida alma inamansable.

A selvagem esperança

Éramos deuses e nos tornaram escravos.
Éramos filhos do Sol e nos consolaram com medalhas de lata.
Éramos poetas e puseram-nos a recitar uma esmolinha pelo amor de Deus.

Éramos felizes e nos civilizaram.
Quem refrescará a memória da tribo.
Quem reviverá os nossos deuses.
Que a selvagem esperança seja sempre tua,
querida alma indomável.


Ilustração: ceuesperanca.blogspot.com 

Aline Fagundes



Acaso existía vida antes? 

Aline Fagundes

¿Acaso existía vida antes…
Que el alma levitara sobre mi cuerpo
y el olor de tu piel contagiara la mañana?

¿Habría otro aroma que me conectara más al presente?

Ese que inspiro, me inspira, y desvela la entrañada alegría,
antes en eterno poniente?

Ocaso monocromático. Nubes, insulsas gotas grises,
entraban por mi ventana.

¿Acaso existía vida antes…
Cuándo días y noches resultaban monótonos
y seudo-suficientes?

Ahora que todo un coro
de luces intensas como oro,
pintan de miel el local;
que tus besos de azahar
sellados en mi almohada,
son células de mi corazón

Hoy que canta el cardenal
con sus notas al rojo vivo
nuestro himno, convicción,
el deseo de una vida contigo.

¿Acaso la vida antes, no sería finalmente,
infinita desazón?

Acaso existia vida antes ?

Acaso existia vida antes ...
Que a alma levitasse sobre o meu corpo
e o cheiro de tua pele inundasse a manhã?

Haveria outro perfume que me ligasse mais ao presente?

Isto que me inspirou, me inspira, e revela a entranhada alegria,
antes em eterno poente?

Ocaso monocromático. Nuvens, gotas inodoras e cinza
entrando por minha janela.

Acaso existia vida antes ...
Quando os dias e as noites eram monótonas
e pseudo-suficientes?

Agora que todo um coro
de luzes intensas como o ouro,
pintam de mel o local;
que teus beijos em flor
postos no meu travesseiro,
são as células do meu coração

Hoje que canta o cardeal
Com suas notas de vermelho vivo  
o nosso hino, a convicção,
e o desejo de uma vida contigo.

Acaso a vida antes, não seria somente
um desgosto infinito?


A razão me pergunta


Se, por descuido,
eu disser que te amo,
terá sido meu coração,
que, nas suas falas mansas,
não se contém
e, imprevidente, grita
a paixão que nas veias
não consegue estancar.
Porém, minha razão,
esta  impiedosa juíza,
suave e mansa
como uma brisa,
me sentencia
que, se depois de tanto amor,
ainda duvidas
e és capaz de me deixar;
que amor é este
que, em tão pouco tempo,
não consegue perdurar?


Friday, December 27, 2013

E de novo Pablo Neruda



Si tú me olvidas

Pablo Neruda

QUIERO que sepas
una cosa.

Tú sabes cómo es esto:
si miro
la luna de cristal, la rama roja
del lento otoño en mi ventana,
si toco
junto al fuego
la impalpable ceniza
o el arrugado cuerpo de la leña,
todo me lleva a ti,
como si todo lo que existe,
aromas, luz, metales,
fueran pequeños barcos que navegan
hacia las islas tuyas que me aguardan.

Ahora bien,
si poco a poco dejas de quererme
dejaré de quererte poco a poco.

Si de pronto
me olvidas
no me busques,
que ya te habré olvidado.

Si consideras largo y loco
el viento de banderas
que pasa por mi vida
y te decides
a dejarme a la orilla
del corazón en que tengo raíces,
piensa
que en ese día,
a esa hora
levantaré los brazos
y saldrán mis raíces
a buscar otra tierra.

Pero
si cada día,
cada hora
sientes que a mí estás destinada
con dulzura implacable.
Si cada día sube
una flor a tus labios a buscarme,
ay amor mío, ay mía,
en mí todo ese fuego se repite,
en mí nada se apaga ni se olvida,
mi amor se nutre de tu amor, amada,
y mientras vivas estará en tus brazos
sin salir de los míos.

Se tu me esqueces

Quero que saibas
uma coisa.

Tu sabes como é isto:
se olho
a lua de cristal, o ramo vermelho
do lento outono na minha janela,
se toco
junto ao fogo
a impalpável cinza
ou o enrugado corpo da lenha,
tudo me leva a ti,
como se tudo o que existe,
aromas , luz , metais,
fossem pequenos barcos que navegam
em direção às ilhas tuas que me aguardam.

Agora bem,
se pouco a pouco deixas de querer-me  
deixarei de querer-te pouco a pouco.

Se de repente
me esqueces
não me busques,
que já te terei esquecido.

Se consideras longo e louco
o vento de bandeiras
que passa por minha vida
e te decides
por me deixar na fronteira
do coração em que tenho raízes,
pensa
neste dia,
então,
que levantarei os braços
e deixarei as minhas raízes
a procurar outra terra .

Porém,
se a cada dia ,
a cada hora em hora
sentes que a mim estais destinada
com doçura implacável .
Se cada dia que passa
com uma flor em teus lábios buscar-me,
ah meu amor, ah minha vida,
em mim todo este fogo se repete ,
em mim nada é extinguido ou esquecido,
meu amor se alimenta do teu amor , amada,
e enquanto tu viveres ele estará em teus braços
sem sair dos meus.


Ilustração: xocolade.blogspot.com 

Don Pablo, pois não...


Amor

Pablo Neruda

Mujer, yo hubiera sido tu hijo, por beberte
la leche de los senos como de un manantial,
por mirarte y sentirte a mi lado y tenerte
en la risa de oro y la voz de cristal.
Por sentirte en mis venas como Dios en los ríos
y adorarte en los tristes huesos de polvo y cal,
porque tu ser pasara sin pena al lado mío
y saliera en la estrofa -limpio de todo mal-.

Cómo sabría amarte, mujer, cómo sabría
amarte, amarte como nadie supo jamás!
Morir y todavía
amarte más.
Y todavía
amarte más
y más.

Amor

Mulher, eu teria sido o teu filho para beber-te
o leite dos seios como de  uma fonte,
para olhar-te e sentir-te ao meu lado e ter-te
no riso de ouro e na voz de cristal.
Para sentir-te em minhas veias como Deus nos rios
e adorar-te nos tristes ossos de pó e cal,
porque teu ser passará sem dor ao lado meu
e saiu na estrofe-limpo de todo o mal.

Como sabia amar-te, mulher, como sabia
amar-te, amar-te como ninguém soube jamais!
Morrer e todavia
amar-te mais.
E todavia
amar-te mais
e muito mais.


Ilustração: wallfoy.com

Wednesday, December 25, 2013

León de Greiff

Mi Pobre Amor Se Está Yendo...               

 León de Greiff

Mi pobre amor se está yendo...
yo me quedaré llorando...
La lluvia, leve, cayendo;
una nube, allá, glisando...

Mi pobre amor se está yendo.

Lejos, muy lejos!, soñando
la dulce amada, y tejiendo
su ilusión, me va matando...
Mi pobre amor se está yendo...

¿Qué pasa, que nada entiendo?
Qué pena se va a acercando?

La lluvia, leve, cayendo...
Una nube, allá, glisando...
La dulce amada tejiendo
su ilusión, que voy matando!

Mi pobre amor se está yendo...
Yo me quedaré llorando!

Meu pobre amor está indo embora

Meu pobre amor está indo embora ...
chorando eu vou ficar ...
A chuva leve, caindo;
uma nuvem, além, deslizando...

Meu pobre amor está indo embora.

Longe, muito longe! Sonhando
a doce amada tecendo
a ilusão, que vou matando ...
Meu pobre amor está indo embora...

O que se passa que nada entendo?
E a pena vai se acercando?

A chuva, leve, caindo ...
Uma nuvem, além, deslizando ...
A doce amada tecendo
sua ilusão que vou matando!

Meu pobre amor está indo embora ...
Eu ficarei chorando!


Natal



Escrevo este poema para dizer que é natal.
Um natal de alegrias pequenas,
De um desejo de estar distante,
De um tempo sonolento e inquietante
Que nem parece ser de natal.
É verdade que os natais não são os mesmos
E nem sei mais como devem ser.
Sei somente que é um natal triste
Em que tenho saudades de você!


Tuesday, December 24, 2013

Ana Inés Bonnin Armstrong



Si Yo No Pido Tanto!

Ana Inés Bonnin Armstrong


¡Si yo no pido tanto!
Amor es lo que pido.
Briznas de amor para esta sed del mundo,
tan grande y tan sumisa.
Un diminuto amor, pero constante,
que dé su mano al que su mano tienda,
que limpie las miradas y los ojos
llene de dulcedumbre.
Algo de amor en esos corazones
que no aman a los niños,
que son capaces de cegar a un pájaro,
de aplastar las hormigas.
Algo de amor; apenas un murmullo
de amor en cada pecho de criatura
hacia todos los seres,
hacia todas las cosas.

¡Si yo no pido tanto!
Briznas de amor para esta sed del mundo.

Se eu não te peço tanto!

Se eu não te peço tanto!
Amor é o que te peço.
Chuvas de amor para a sede deste mundo,
tão grande e tão submissa.
Um amor pequeno, mas, constante,
que dê sua mão para o que para sua mão tenda,
que limpe os olhares e o olhar
plenos de doçura.
Um pouco de amor nos corações
dos que não amam as crianças,
dos que são capazes de cegar um pássaro,
de esmagar as formigas.
Um pouco de amor, apenas um sussurro
de amor em cada peito de criatura
para todos os seres,
para todas as coisas.

Se eu não te peço tanto!
Chuvas de amor para a sede deste mundo.



Tovléz




Tovléz 

Que voy hacer contigo amor?
amarte y respetarte
hasta que la muerte me haga olvidarte?
o tendre que resignarme
a quererte un despues de que deje de respirar?
estoy destinado a llorar
por ti, por lo que no fue
por lo que siempre soñe.

Que vou fazer contigo, meu amor?
Amar-te e respeitar-te
até que a morte me faça te esquecer?
ou terei que resignar-me
a te amar mesmo depois que parar de respirar?
Estou destinado a chorar
por ti, pelo que  não fui

pelo  que sempre sonhei.

Manuel Altolaguirre



Fin de Un Amor

Manuel Altolaguirre

No sé si es que cumplió ya su destino,
si alcanzó perfección o si acabado
este amor a su límite ha llegado
sin dar un paso más en su camino.

Aún le miro subir, de donde vino,
a la alta cumbre donde ha terminado
su penosa ascensión. Tal ha quedado
estático un amor tan peregrino.

No me resigno a dar la despedida
a tal altivo y firme sentimiento
que tanto impulso y luz diera a mi vida.

No es su culminación lo que lamento,
su culminar no causa la partida,
la causará, tal vez, su acabamiento.


Fim de um amor

Não sei se ele cumpriu já seu destino,
se alcançou a perfeição ou acabado
este amor ao seu limite há chegado
sem dar mais um passo em seu caminho.

Até o olhar subir, de onde veio,
do mais alto lugar onde há terminado
sua penosa ascensão. Assim tem ficado
estático como um amor tão peregrino.

Não me resigno a dar uma despedida
a tão orgulhoso e forte sentimento
que tanto ímpulso e luz deu à minha vida.

Não é da conclusão o que lamento,
seu auge não é a causa da partida,
o causará, talvez, seu acabamento.


Ilustração: msdailylove.blogspot.com 

Saturday, December 21, 2013

Calma aparente


A felicidade deve vir das coisas simples...
Da água, dos barcos, das árvores, da paisagem
Das coisas que falam da tranqüilidade e da viagem
De como as folhas verdes acabam secas pelo chão.
Sinto-me um ser distante de ilusões e de tua mão
Que procuro para que nunca me deixes.
Quero apenas pescar uns peixes,
Beber com a moderação, o que for possível,
E alimentar o sonho do impossível
E numa tarde assim ser tão humano
Que o amor pareça ser o confortável fim
Do mundo que me parece tão insano
Com todo este desejo que arde em mim
E ter que viver do meu amor tão distante...

Ilustração: www.ilmeteo.it 

Autore: "tetolo 77" per iLMeteo

Thursday, December 19, 2013

Roberto Sosa












Esta luz que suscribo

Roberto Sosa

Esto que suscribo
nace
de mis viajes a las inmovilidades del pasado. De la seducción
que me causa la ondulación del fuego
igual
que a los primeros hombres que lo vieron y lo sometieron
a la mansedumbre de una lámpara. De la fuente
en donde la muerte encontró el secreto de su eterna juventud.
De conmoverme
por los cortísimos gritos decapitados
que emiten los animales endebles a medio morir.
Del amor consumado.
desde la misma lástima, me viene.
Del hielo que circula por las oscuridades
que ciertas personas echan por la boca sobre mi nombre. Del centro
del escarnio y de la indignación. Desde la circunstancia
de mi gran compromiso, vive como es posible
esta luz que suscribo.

Esta luz que subscrevo

Isto que subscrevo
nasce
de minhas viagens à imobilidade do passado. Da sedução
que me causa a ondulação do fogo
igual
a que os primeiros homens que a viram e o submeteram
a mansidão de uma lâmpada. Da fonte
onde a morte encontrou o segredo da sua eterna juventude.
De comover-me
pelos curtíssimos gritos decapitados
que emitem os animais fracos próximos de morrer.
Do amor consumado.
a partir da mesma pena, que de mim vem.
Do gelo que circula pela escuridão
que certas pessoas jogam pela boca sobre o meu nome. Do centro
de desprezo e de indignação. A partir do fato
de que meu grande compromisso, vive como é possível
esta luz que subscrevo.


Ilustração: maramaldaun.blogspot.com 

Alfonsina Storni


La caricia perdida

Alfonsina Storni

Se me va de los dedos la caricia sin causa,
se me va de los dedos... En el viento, al pasar,
la caricia que vaga sin destino ni objeto,
la caricia perdida ¿quién la recogerá?

Pude amar esta noche con piedad infinita,
pude amar al primero que acertara a llegar.
Nadie llega. Están solos los floridos senderos.
La caricia perdida, rodará... rodará...

Si en los ojos te besan esta noche, viajero,
si estremece las ramas un dulce suspirar,
si te oprime los dedos una mano pequeña
que te toma y te deja, que te logra y se va.

Si no ves esa mano, ni esa boca que besa,
si es el aire quien teje la ilusión de besar,
oh, viajero, que tienes como el cielo los ojos,
en el viento fundida, ¿me reconocerás?

A carícia perdida

Se escapam dos dedos a carícia sem causa,
se me escapam dos dedos ... No vento, ao passar,
a caricia que vaga sem destino ou objeto,
a caricia perdida quem a recolherá?

Posso amar esta noite com piedade infinita,
posso amar ao primeiro que conseguir chegar.
Ninguém chega. Estão sós as trilhas floridas.
A carícia perdida, rodará ... rodará ...

Se nos olhos te beijam esta noite, viajante,
se estremecem nos galhos um doce suspirar,
se te pressiona os dedos uma mão pequena
que te toma e te deixa, que te engana e vai.

Se não vês esta mão, nem esta boca que te beija,
se o ar é quem tece a ilusão de te beijar
oh, viajante, que tens, como o céu, olhos
no vento, misturado, me  reconhecerás?