Friday, August 31, 2012

A solução

            
Eu sou este                                                                
que te procura na escuridão
sabendo
que o esforço de te encontrar é vão,
mas, ainda assim persisto
com o otimismo incoerente
de que pode haver salvação na frente
ainda que as topadas e os buracos
me façam pensar que jamais vou me equilibrar
e meu destino é cair,
porém, por mais ferido que possa me sentir
não consigo deixar de sonhar
e de te amar.

Thursday, August 30, 2012

Ricardo Miguel Costa


DANZA CURVA                                                                   
 
Ricardo Miguel Costa

Con un cuchillo la vastedad es inmediata.
Tomar un bocado o cometer un crimen, pueden ser
dos extremos posibles para el ánimo de quien lo empuña.
Para el que mata, el corte es una danza curva
contra el cuello.
Para el hambriento, el corte contra la carne
es la bendición de su miseria.
Pero el que hunde la palabra cuchillo en un poema
corta y troza sin bendiciones ni danzas.
El poema puede ser un tajo luminoso que separa la carne
de tu alma para flotar.
Sólo en la voracidad del hambre está la inmediatez.
La vastedad; en el temor de la víctima y en el vértigo
de quien escribe.
                                 (De Danza curva, 1999).

A CURVA DA DANÇA

Com uma faca a vastidão é imediata.
Dar uma mordida ou cometer um crime, podem ser
dois extremos possíveis para o ânimo de quem empunha.
Para o que mata, o corte é uma dança curva
contra o pescoço.
Para o faminto, o corte contra a carne
é a bênção de sua miséria.
Porém, o que mergulha a palavra faca num poema
corta e troça sem bênçãos nem danças.
O poema pode ser um tacho luminoso que separa a carne
de tua alma para flutuar.
Só é a voracidade da fome este imediatismo.
A vastidão, no temor da vítima e na vertigem
de quem escreve.

Rafael Gutiérrez


ROGUEMOS QUE MAÑANA                                            

Rafael Gutiérrez

No hay remedio, compañera.
En este país
hasta las hormigas confabulan contra la alegría.
Roguemos que mañana
lluevan sobre nosotros
bestias de amnesia
para quedar, ahora sí, soterrados todos
bajo
          un
                  alud
                            de
                                    bruma
de la que nunca, oh efímeros, debimos haber salido.

Roguemos que amanhã
Não há remédio, companheira.
Neste país
até as formigas confabulam contra a alegria.
Roguemos que amanhã
Chovam sobre nós
bestas de amnésia
para ficarmos, agora sim, soterrados todos
sob
           uma
                   avalanche
                             de
                                     névoa
da qual nunca, oh efêmeros, deveríamos ter saído.

Igor Barreto




EL ÁRBOL DE MANGO

Igor Barreto
“Para venir a poseerlo todo,
 no quieras poseer algo en nada”.
San Juan de la Cruz
El árbol de mango
es inmortal
y no necesita de lo humano.
Forma umbríos claros
en lo denso del monte
y ahí perdura.
La palma
podrá sostener al mundo,
pero el mango
ha aceptado
la oscura llamada del bien.
Porque no quería tener
algo en nada
se ha ido:
más allá de las dunas azules,
entre madroños y píritus
de negra espina.
Allí
donde dos ríos se unen
como semblantes de soledad.

A mangueira

"Para vir a possuir tudo,
  Não queiras possuir algo de nada. "
San Juan de la Cruz

A mangueira
é imortal
e não necessita da humanidade.
Forma clarões
na mata densa
e ali permanece.
A palma
pode sustentar o mundo,
porém, a manga
há aceitado
a escura chamada do bem.
Porque não queria
ter algo em nada
se foi:
mais além das dunas azuis
entre morangos e passáros
de negra espinha.

onde os rios se unem
como semblantes de solidão.

Saturday, August 25, 2012

Elvio Romero



BRINDIS AL DESCAMPADO                                         

Elvio Romero

Y hemos de beber todavía
en esta guampa lisa de toro al descampado,
gustando una agua clara, mezcla de sangre y trino,
caña blanca y aroma de salvaje rocío,
bajo un cielo ocupado por todas las estrellas,
con el pie en el estribo, el poncho a la bandolera,
para seguir andando,
ebrios de un aire ardiente, de sol, de madrugadas
que cobijan el cofre de los sueños,
porque aún, y por un largo tiempo,
estaremos atados y enlazados a este solar purpúreo
de madera y tormenta, grito y llama,
y seguiremos brindando
-una vuelta en redondo para todos-
por la salud del Hombre,
del Hermano Radiante,
el compañero
-con un canto de guerra o de guitarra-,
por ustedes, amigos,
en esta guampa hermosa de toro, al descampado.
 de "Los valles imaginarios"
Brinde ao ar livre

E temos que beber ainda
nesta guampa lisa de touro ao ar livre,
desfrutando de uma água clara, mescla de sangue e trinado,
cana branca e aroma selvagem de orvalho,
sob um céu repleto de todas as estrelas,
com o pé no estribo, o poncho no ombro,
para continuar andando,
ébrio de ar quente, de sol, de madrugadas
que cobiçam o cofre de sonhos,
porque ainda por um largo tempo
estaremos atados e enlaçados a esta terra arroxeada
de madeira e tempestade, de grito, e lama,
e seguiremos brindando
-Uma nova rodada para todos-
pela saúde dos homens,
do irmão radiante,
o companheiro
-Com um canto de guerra ou de guitarra,
por vocês, amigos,
com esta guampa formosa de touro ao ar livre.


Friday, August 24, 2012

A espantosa pintura de Paloma Perez




Que não entendo o que Paloma Perez pinta
é uma verdade.
Embora saiba que do seu pincel
a variedade e a vida transbordem
com uma beleza que invade
o olhar mais simples
que observar sua capacidade
sofisticada de criar.
Muitas vezes, nem título coloca,
mas, sua pintura o coração toca
e acaricia de uma forma tão suave
que o espanto da tela
revela
o espanto do mundo.

Eu sempre pensei...


Eu sempre me pensei                                                 
como assim sou:
um ser que vive a se transformar
na busca inútil d'à perfeição chegar
sem a mínima chance de assim ser.
Se comportando sem o perceber
com os modos mais sutis e imperfeitos.
É verdade que vivo a vida, cá no peito,
E, no pensamento, o mundo carrego
tanto que tudo quanto nego
da forma mais veemente e exacerbada
pode, amanhã, ser a minha estrada,
desejo, busca, e bandeira empunhada.
Muitos pensam que minha vida é uma brincadeira
e veem, minha seriedade, com um espanto
de quem me ouve cantar, se alguma vez canto,
como um exercício de inutilidade.
Nem mesmo sei, se um Deus há,
ou porquê me deixou chegar a esta idade
como um menino,  na curiosidade e na infantilidade,
que não sabe o que fazer com o seu brinquedo
e, amando tanto, do amor tem medo.  

Ilustração: jesuscidadederefugio.com.br

Thursday, August 23, 2012

Ainda Boccanera


ENSAYO BREVE SOBRE LA HONESTIDAD POÉTICA

Jorge Boccanera

No es que los poetas mientan.
Es que los mentirosos
quieren hacer poesía

CARTA DEL SUICIDA

Lo poco que he vivido,
me ha hecho perder
demasiado tiempo

(De Poemas del tamaño de una naranja).

Pequeno ensaio sobre a honestidade poética

Não é que os poetas mintam.
É que os mentirosos
querem fazer poesia

Carta do suicída


O pouco que eu já experimentei,
me perdeu
demasiado longo

(A partir de poemas do tamanho de uma laranja).

Ilustração:  sonhospelovento.blogspot.com